to be destroyed ✥ 2son

By mrs_lunna

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son heung-min nunca foi alguém muito agraciado na vida- órfão, pobre, sem trabalho e com uma filha que precis... More

parte i
parte ii
parte iii
part iv
parte v
parte vi
parte vii
parte viii
parte ix
parte x
parte xi
parte xii
parte xiii
parte xiv
parte xv
parte xvi
parte xvii
parte xviii
parte xx
parte xxi
parte xxii
parte xxiii
parte xxiv
parte xxv - epílogo
extra i
extra ii
extra - iii

parte xix

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By mrs_lunna


olá!!! como vocês estão?

surpreendentemente eu estou tendo dias de férias muito ocupados então o capítulo só foi finalizado agora, mas tudo está bem quando termina bem!!! eu agradeço mt pelo carinho e leituras no capítulo passado, é sempre muito bom ver o que estão achando (juro que vou responder em breve kkkkk)! espero que gostem desse capítulo e se precisarem falar comigo estou sempre disponível no twitter (@Lunna_Mrs)!

tenham uma ótima leitura, vejo vocês no próximo capítulo ♥♥


◢✥◣


o coração de heung-min batia acelerado nos seus ouvidos.

enquanto apoiava richarlison e praticamente o arrastava até o portão de emerson se sentia desesperado, tanto que o ar as vezes chegava a faltar. parecia que estava vivendo uma repetição da morte de richy de novo, não sabia o que estava acontecendo, não sabia o que fazer, não sabia como ajudar- totalmente incapaz de fazer algo que não fosse olhar. não tinha nada que son odiasse mais que esse sentimento de impotência.

a rua que levava até a casa do brasileiro parecia ter dobrado de tamanho, quanto mais andavam mais ele se sentia distante. do seu lado, haeun carregava os desenhos dela, se esforçando para fazer suas perninhas curtas acompanharem o ritmo apressado do pai, seu rosto mostrava toda a preocupação que ela deveria estar sentido em relação ao estado do mais velho. son odiava que ela estivesse exposta a esse tipo de situação, mas, novamente não podia fazer nada - incapacidade.

richarlison parecia estar um pouco alheio a tudo ao seu redor, ofegante e pálido, parecia a beira da inconsciência. a ideia dele desmaiar era aterrorizante porque não sabia se tinha condições de carregá-lo com o braço no estado que estava. seus olhos marejaram com o pânico que estava lhe consumindo rapidamente; tudo tinha que dar certo. segurou-o mais forte pela cintura e firmou seu braço que estava ao redor do seu pescoço, se esforçando para conseguir chegar antes de algo pior acontecer.

"haeun," ele a chamou assim que viu o nome 'royal' pintado no portão preto. "você consegue correr e bater com muita força no portão?"

a menina apertou mais os desenhos contra o peito e assentiu, correndo na direção do portão. engoliu em seco e desviou o olhar para o brasileiro ao seu lado. ele estava com os olhos fechados, se apoiando contra seu corpo enquanto tentava regular a própria respiração sem muito sucesso. não fazia ideia do que poderia estar acontecendo com ele, mas parecia tão doloroso e agonizante que sentiu seu peito apertar. não sabia dizer se aquilo era mera empatia com uma pessoa que estava passando mal ou se era alguma projeção dos seus sentimentos por richy - eles não são iguais, son, repetiu algumas vezes para si mesmo, se forçando a colocar a cabeça no lugar, não é o momento para pensar nessas coisas.

haeun ainda estava batendo no portão quando emerson apareceu, ele estava de pijama ainda, apesar de não parecer recém-acordado. son percebeu a confusão nos olhos dele ao ver a menina desaparecer quando ergueu os olhos e viu richarlison quase desmaiado nos braços do coreano. ele arquejou e correu na sua direção, rapidamente tirando o peso do seu corpo e o ajudando a entrar dentro de casa. emerson sempre foi um homem forte e carregou sem muito esforço o amigo pela casa.

ele fez um sinal silencioso para que os dois o acompanhassem e, sem saber o que mais fazer, son guiou haeun pra dentro e trancou o portão atrás de si. emerson levou o brasileiro até o seu quarto no andar debaixo e o posicionou bem na cama. richarlison se contorcia na cama, lágrimas escapando dos seus olhos enquanto em vão buscava algum tipo de alívio. apesar de obviamente preocupado, emerson parecia acostumado com a situação, vasculhou pelas gavetas até encontrar uma caixinha com seringas e um líquido estranho, cuidadosamente se sentou ao lado do rapaz e murmurou algo para ele, incentivando-o a ficar parado. quando não teve resposta, olhou para son com um pedido silencioso de ajuda.

o coreano assentiu de imediato e quase correu até a cama, ajudando a imobilizar seu braço para emerson levantar a manga do seu moletom e inserir a agulha, toda a área daquele braço estava marcada por outras aplicações e heung-min sentiu seu peito pesar- o que raios estava acontecendo com ele? talvez fosse egoísmo da sua parte admitir que não tinha nem considerado o estado que o brasileiro estava depois de acordar do coma, na sua mente, ele estava bem e só aproveitando a mais nova liberdade que tinha conquistado, mas não se deu ao trabalho de se preocupar de considerar outra possibilidade.

alguns minutos depois que o conteúdo da seringa estava no seu corpo, richarlison relaxou de uma vez, toda tensão e expressão de dor desaparecendo e sua respiração aos poucos voltava ao normal. era como se todo aquele desespero nunca tivesse acontecido.

"vem." sussurrou e se levantou devagar da cama indo em direção a porta. olhou o rapaz deitado na cama e mordeu os lábios, precisou se forçar a desviar sua atenção de volta para emerson e o acompanhar.

haeun acompanhou tudo da porta, ainda abraçada as folhas de desenho, e son suspirou. não gostava de tê-la vendo esse tipo de coisa, se fosse por ele a pouparia de tudo de ruim, infelizmente, não era poderoso o bastante pra isso. emerson fechou a porta do quarto e caminhou até a sala, se jogando no sofá cheio de almofadas e cobertores fofos com um suspiro cansado.

"ah, charlinho teimoso!" balançou a cabeça e se sentou melhor no assento, cruzando as pernas e puxando um dos travesseiros para si. "obrigado pela ajuda, son, ele provavelmente deu um trabalho, né? sempre digo pra ele ficar em casa."

heung-min riu sem muito humor, ajudando haeun a sentar-se no sofá enquanto ainda estava com os braços ocupados. quando ela se acomodou no assento, sentou-se também, as milhares de perguntas estavam vagando pela sua mente, mas separou a mais simples primeiro.

"o que... o que aconteceu com ele?"

"ah, isso." emerson suspirou como se temesse que essa pergunta fosse feita. "depois que ele acordou do coma teve vários problemas de saúde. os remédios que usaram pra manter ele desacordado acabou deixando o corpo dele viciado, estamos tentando lidar com os sintomas da retirada, mas é complicado ainda."

"e ele vai demorar muito pra melhorar?"

"ah son, essa é a versão dele com muitas melhoras." sorriu fraco, olhando para o teto por alguns segundos, provavelmente se perdendo em memórias. "você não ia querer ver ele na primeira semana, foi desde alucinações até enjoos, pesadelos, não conseguia comer, mal conseguia andar, totalmente desorientado. era um pesadelo vê-lo assim e não ter como ajudar."

heung-min assentiu, apesar de não ter visto pessoalmente tudo que ele descreveu, sabia que emerson não era de exagerar ou ser dramático. olhou na direção do quarto discretamente, sentia um peso no peito só de saber o que richarlison estava passando, ele provavelmente era uma das últimas pessoas que que mereciam aquilo tudo.

"eu realmente sinto muito por ele." era sincero, torcia para que emerson percebesse isso.

umas das coisas que se perguntava era como o mecânico estaria reagindo a tudo isso, afinal perdeu o amigo uma vez, recebeu um andróide dele, descobriu todas as loucuras que fizeram com ele por dois anos e agora perdeu esse andróide e recuperou o amigo de novo. não deveria ser fácil viver esse caos tão de perto e permanecer firme como ele.

"o richy falso... vai ficar bem então?" haeun murmurou, fingindo soar desinteressada enquanto brincava com as folhas no seu colo. emerson riu e se aproximou dela o bastante para bagunçar os cabelos dela.

"vai sim, haeun," confirmou com o máximo de segurança possível, o bastante para até son se sentir mais aliviado. "inclusive não vai me dar um abraço? eu senti sua falta!"

aquilo arrancou um sorriso genuíno da menina, que empurrou seus desenhos para o colo do pai e pulou do sofá, indo direto para os braços abertos do brasileiro. ele a segurou firme e se deitou com ela, os balançando de um lado para o outro, fazendo-a gargalhar. son assistiu a cena com o coração um pouco mais leve.

"também senti saudades, eme!" ela se sentou sobre o torso dele, arrancando um grunhido meio sem ar do mais velho.

"vocês dois fizeram muita falta pra todo mundo aqui." ajustou a menina e se inclinou um pouco para poder olhar na direção de son também. o coreano mordeu os lábios, sentindo o nó na garganta apertar um pouco. "espero que saibam que nossas portas estão sempre abertas pra vocês, independente do que aconteça. são como se fossem da nossa família também."

ouvir aquilo, como alguém que viveu a maior parte da vida sozinho, era como remédio para cicatrizes antigas que nunca foram realmente esquecidas. pertencer a algo, a alguém, era raro e dependia muito do quão sortudo alguém é. nunca se viu como alguém de sorte, mas desde que haeun entrou na sua vida ele tem experimentado de pequenos milagres e grandes mudanças na sua vida monótona e repetitiva. mais uma vez era grato pela filha que tinha, não podia se imaginar sem ela.

"obrigado, emerson." agradeceu e torceu para soar tão sincero quanto se sentia, sem a ajuda deles provavelmente teria uma vida muito mais complicada em tottenham com haeun.

"vocês, hm, querem ficar pra jantar?" a pergunta veio depois de uns minutos de silêncio, ele parecia até sem jeito, o que era raro vindo de emerson. apesar de feliz pelo convite, realmente não planejava aceitar. ficar ali era um pouco sufocante quando lembrava que richy costumava ficar por ali também.

todos os lugares que ele passou algum tempo ainda pareciam segurar as vagas memórias e influências que ele exerceu, era como tocar na ferida. son sabia que talvez fosse melhor voltar para casa e tentar esquecer de tudo, foi um dia agitado com o sumiço de haeun, a situação com richarlison e sem contar com a presença dele a um quarto de distância. racionalmente, as coisas eram mais fáceis de digerir, mas seus sentimentos ainda lhe engoliam vivo, temia o que poderia fazer ou dizer se estivesse exposto por muito tempo a ele.

quando abriu a boca para responder, o barulho do portão abrindo chamou a atenção de todos. da sala, conseguiam ver os irmãos cho chegando juntos, conversando algo entre si sem sequer perceber a presença de son e haeun ali até entrarem no cômodo e darem de cara com eles. pôde ver o choque pintado nos seus rostos enquanto desviavam o olhar de um para o outro como se não acreditassem no que estavam vendo.

"eu estou sonhando? eu to vendo mesmo minha princesinha aqui na minha sala?" kyung-min soltou um arquejo de surpresa e jogou a sua mochila no chão, ela parecia cansada do trabalho, mas ainda se esforçou para animar haeun. a menina pareceu mais alegre ao ver a mulher lhe recepcionando de braços abertos e imediatamente se jogou em cima dela. "ah, eu senti tanta saudades desse abração que só você dá!"

"eu também senti saudades unnie."

gue-sung se sentou ao seu lado, deixando a mochila no chão perto do sofá e o empurrou de leve com o ombro, um sorriso pequeno, mas cheio de preocupação.

"oi, hyung, como você tá?" a pergunta era simples, mas sincera. heung-min precisou respirar fundo antes de responder sem desmanchar todo na frente de todos.

"eu vou ficar bem, e vocês como estão?" sabia que devia ser estranho pra eles perderem richy também, tinham ficado bons amigos e o andróide sempre tinha coisas boas para comentar dos irmãos quando estavam juntos. ele se perguntava como estavam lidando com a presença de um novo richarlison ali, por que diferente de son, nenhum deles tinha como fugir e se isolar dele.

"ah, bem também eu acho." ele deu de ombros e brincou com suas próprias mãos. "melhor do que antes."

son assentiu, mas não respondeu mais nada, não sabia o que seria uma boa resposta num momento como aquele. haeun estava rindo pela primeira vez naquelas últimas semanas graças as cócegas e gracinhas de kyung-min e emerson, toda a cena trazia um senso de familiaridade e conforto que ele nem se deu conta que sentia falta. seus olhos marejaram ao perceber que, talvez, não estivesse mais tão sozinho quanto imaginou.

o barulho de uma porta abrindo fez todos os olhares se voltarem para o brasileiro saindo devagarzinho do quarto. ele parecia cansado, se apoiando na parede para não cair, mas não aparentava estar sentindo dor e aquilo aliviou heung-min um pouco. richarlison passou os olhos pelo grupo aglomerado na sala de estar e mordiscou os lábios, nervoso.

"uh... eu estou atrapalhando? eu posso voltar, desculpe." fez menção de retornar ao quarto e emerson quase pulou pra fora do sofá, tropeçando no tapete enquanto se apressava para se aproximar mais dele.

"que nada, charlinho!" o sorriso do mecânico era radiante enquanto o ajudava a caminhar com mais facilidade até o sofá. "os cho acabaram de chegar e eu estava convidando haeun e son pra ficarem pra jantar." ele o inteirou da conversa e com cuidado o deixou sentado no meio do sofá, afastando os cobertores bagunçados e as almofadas.

"ah, eu não recomendaria recusar, o emerson estava organizando as coisas pra uma feijoada," ele sorriu, se acomodando melhor no assento e puxando uma das almofadas para si. "é um prato bem comum no distrito brasil, acho que nunca vi fazerem pelo lado dos distritos daqui, em londres e liverpool tenho certeza que não."

"o eme realmente cozinha bem comidas brasileiras, mas peca nas tradicionais daqui." guesung comentou do seu lugar, fingindo estar sussurrando para heung-min o segredo do século.

"é porque tottenham tem umas comidas muito mer-" ele se interrompeu, olhou para haeun e limpou a garganta. "muito mal temperadas. não tem gosto mesmo, estou sendo fiel a receita!"

de alguma forma aquilo começou a se tornar uma pequena discussão entre os três donos da casa sobre as habilidades culinárias do brasileiro. son não costumava comer fora de casa então não tinha propriedade nenhuma para falar sobre o tópico, então se manteve calado, assistindo tudo como se estivesse acompanhando um programa. haeun às vezes era consultada para verem sua opinião. richarlison olhou na sua direção em algum momento e seus olhos se cruzaram, ele sustentou um pequeno sorriso, meio incerto de si mesmo e son não soube o que fazer além de acenar minimamente com a cabeça.

"appa," a voz de haeun lhe tirou dos seus pensamentos e o trouxe de volta para realidade. "vamos jantar aqui?"

son já tinha a sua resposta na ponta da língua, pretendia recusar tudo e ir embora dali, provavelmente se condenando a sufocar na sua própria solidão por mais algum tempo até ser forçado a fingir que tudo estava bem. mas na voz da filha tinha toda a esperança de quebrar aquele ciclo vicioso que viviam nos últimos dias- e percebeu aí que mais uma vez foi egoísta e esqueceu que não estava afundando sozinho.

"você quer ficar?" decidiu perguntar ao invés de responder como planejado. a menina se aconchegou mais entre suas pernas e abraçou sua cintura, espiando por cima do ombro a conversa acalorada dos três.

"eu senti saudade deles, queria ficar mais um pouco," murmurou, tão baixo que son quase não ouviu. "mas se você for ficar triste, appa, podemos ir embora."

aquilo doeu de uma maneira que não saberia pôr em palavras. haeun se sacrificando por ele era algo que não queria, deveria ser sempre o contrário - se há a necessidade de algum sacrifício, ele deveria fazer isso, não sua filha de seis anos. forçou um sorriso e balançou a cabeça, segurando seu rosto e a enchendo de beijinhos. talvez nunca encontrasse motivação em si mesmo para continuar a vida, mas haeun precisava de um pai confiável para cuidar dela e ele preferiria morrer do que deixá-la sem isso.

"não, meu anjo, se você quer ficar eu também quero, não precisa se preocupar com o appa, tudo bem?" beijou o topo da sua cabeça e passou a mão pelos seus cabelos, tentando deixá-lo um pouco mais arrumado depois da bagunça que as brincadeiras de kyung-min e emerson fizeram. "quando você quiser ir embora só me dizer, combinado?" ele estendeu o dedo mindinho e ela sorriu, enrolando seu dedo gordinho no dele e selando a pequena promessa.

"combinado!" vê-la se sentindo mais animada era o bastante para ele. "o appa falou que vamos ficar pra jantar!" anunciou para os outros, correndo na direção deles. emerson o olhou com um sorriso gigante e segurou a menina num abraço empolgado.

"eu vou fazer a melhor feijoada deste distrito pra minha convidada de honra!"

todos acabaram rindo da cena e emerson se dispôs a tagarelar sobre como faria um jantar maravilhoso e como haeun amaria a comida de seu distrito natal. son apenas assistiu tudo do seu lugar, torcendo para que a sua ansiedade e melancolia não se tornasse um balde de água fria na recém-encontrada alegria da casa.

sentiu uma mão tocar seu ombro e ergueu os olhos, kyung-min estava na sua frente com um pequeno sorriso. seu cabelo tinha crescido mais um pouco desde a última vez que a viu e se perguntou se fazia tanto tempo assim. ele não sentia que tinha se passado tudo isso porque todas as suas feridas ainda estavam recentes demais, o tempo não parecia nem ter sido o suficiente para parar o sangramento constantemente quem dirá aliviar.

"oi, heung-min." como sempre, a mulher portava uma expressão doce e cuidadosa, um pequeno sorriso nos lábios e exalava o mais puro conforto. "podemos subir por um minuto?" a pergunta lhe pegou de surpresa e franziu o cenho confuso.

"subir?"

"sim, queria conversar um pouco."

abriu a boca para perguntar mais detalhes ou se aquilo tudo era mesmo necessário, mas ela começou a andar antes de ouvir uma resposta. son respirou fundo e se levantou, seguindo-a sob os olhares curiosos do restante dos amigos da sala. as escadas eram de metal, mas curtas, facilmente se chegava ao andar superior onde ficavam os quartos de gue-sung e a irmã, foi bem improvisado para acolher os dois na casa, mas funcionou bem.

não lembrava de ter entrado no quarto de algum deles antes, com exceção do quarto de emerson. o espaço não era enorme, mas era o suficiente para ter uma cama, um guarda-roupas e uma mesinha embaixo da janela que dava a vista para o centro comercial de tottenham. kyung-min mantinha o espaço bem organizado, tudo em seus lugares e limpo, son sentiu vergonha do estado que estava a sua casa em comparação com a dela. em cima da mesinha, que deveria ser de estudos, tinha um livro e vários cadernos com anotações também, ali era o único lugar menos organizado, parecia ter sido usado recentemente.

ela apontou para a sua cama num pedido silencioso para que se sentasse e sem questionar, o fez. não sabia exatamente o porquê de estar ali, imaginava que fosse ser sobre algo relacionado a richy, ou sobre como ele estava sendo irresponsável ou sobre como deveria lidar melhor com a própria vida. honestamente não estava preparado para nenhuma dessas conversas, estava tão sem chão que precisava de mais tempo para juntar as bases novamente.

brincou com as próprias mãos, tentando aliviar a tensão e ansiedade que ameaçava borbulhar de dentro dele e explodir, ainda tentava formular uma defesa para as suas próprias decisões quando sentiu um par de braços lhe envolver. foi tão súbito que ele se assustou um pouco, kyung-min tinha se sentado ao seu lado e o abraçava forte, inclinando seu corpo para sua cabeça repousar no ombro dela enquanto as mãos dela subiam e desciam por suas costas gentilmente.

"eu sei como se sente." ela sussurrou antes que ele questionasse, não esperava ouvir a voz dela tão embargada e pronta pra chorar daquele jeito. por um instante, se perguntou quem deveria confortar quem.

"kyung-min...?"

"eu também perdi alguém," ela começou, fungando baixinho enquanto o apertava mais forte. "meu marido morreu enquanto trabalhava como mercenário anos atrás, então, heung-min, saiba que eu entendo você." ele arregalou os olhos com a revelação, mas mal teve tempo de pensar sobre o assunto, o nó na sua garganta voltou rapidamente e ele engasgou com um soluço. "eu entendo completamente a sua dor, meu amigo, eu sei que ela é enorme." ela deu alguns tapinhas leves nas suas costas e apoiou sua cabeça na dele. "você pode chorar, ninguém vai te ver agora."

aquilo era tudo o que precisava ouvir para deixar todos os seus muros caírem. son chorou como uma criança, sendo confortado continuamente por kyung-min, seja por palavras doces, afagos na cabeça ou apenas um ombro disponível. foi a primeira vez que pôde finalmente se sentir aliviado ao chorar, sempre que fazia isso era escondido de haeun e nunca diminuía o peso e a dor, só parecia piorar.

não fazia ideia de quanto tempo ficou ali, apenas chorando sem dizer uma palavra, praticamente vomitando seus sentimentos acumulados das últimas semanas, mas ninguém bateu na porta ou o chamou, nem mesmo haeun. parecia um acordo silencioso para deixá-lo finalmente sofrer seu luto de maneira livre, sem ter que se preocupar com mais ninguém além de si mesmo.

quando seus soluços passaram a ser meros fungados e o fluxo constante de lágrimas diminuiu, kyung-min o soltou, enxugando as próprias lágrimas. os dois se olharam naquele estado meio deprimente e soltaram uma pequena risada, não tinha nada de engraçado, mas a compreensão mútua fazia a situação se tornar um pouco mais leve.

"eu realmente sinto muito, sonny," ela disse depois que se sentiram um pouco mais seguros que não voltariam a chorar na primeira palavra. agora os dois estavam apenas sentados lado a lado. "a perda do richy doeu muito em nós também. honestamente," a mulher suspirou e se levantou da cama apenas para pegar uma maletinha branca de dentro do guarda-roupas e se sentou de volta na cama. "desde que o emerson falou que a hotspurs tinha capturado ele nos preparamos para o pior. é meio pessimista, eu sei."

"não... vocês fizeram o certo, eu sabia que as chances de tudo dar certo eram mínimas, mas mesmo assim..." passou as mãos pelo rosto, frustração explodindo no seu peito só de lembrar. devia ter feito mais, devia ter sido mais rápido, mais ágil, talvez se tivesse tomado outras decisões ele ainda teria seu richy ali.

"eu não falo isso pra você se culpar, son." ela segurou seu braço com cuidado e ergueu a manga da blusa, fazendo careta ao ver o estado do ferimento mal cuidado no seu braço. a mulher fez um som de reprovação e visivelmente engoliu a bronca que estava prestes a dar. "se eu tiver que ser bem sincera o richy não era o único que eu pensei que não voltaria." ela sabia que ele tinha entendido o que quis dizer, mas mesmo assim continuou. "enquanto eu cuidava da haeun eu só implorava, acima de tudo, que você voltasse inteiro, que nenhum de nós precisasse dar a notícia que ela não iria mais voltar pra casa porque não teria ninguém lá."

a enfermeira mexeu na caixinha, pegando um algodão e molhando num líquido para limpar o sangue que tinha se acumulado ali. son mordeu os lábios e desviou os olhos. tocar no assunto da invasão a hotspurs ainda era um tópico sensível para ele, tudo muito fresco em sua memória. sabia, racionalmente, que estava se colocando em perigo quando propôs a kane a invasão, mas tudo o que corria na sua mente era que precisava salvar richy e ele era uma prioridade que, naquele momento, estava acima de si mesmo.

foi um ato de loucura, egoísmo talvez, porque durante boa parte da missão ele não considerou que haeun estava lhe esperando voltar, que ela poderia ter ficado sem pai, precisando morar com pessoas que não eram sua família por boa parte da vida como ele viveu, só pensava o quanto seriam felizes todos juntos novamente - e quase colocou tudo a perder.

"eu não vou dizer que não entendo suas motivações," kyung-min continuou ao terminar a limpeza da área do tiro e pegar uma agulha fina e linha para fechar a ferida aberta com alguns pontos. "quer dizer, graças a tudo isso você conseguiu até trazer o richarlison de volta. perder quem a gente ama nos faz cometer umas loucuras, meu amigo, e você fez o máximo que pôde. só espero que tome mais cuidado a partir de agora, pelo menos por haeun."

assentiu com um suspiro e soltou um gemido baixinho quando ela começou a sutura. era uma sensação desconfortável, apesar de familiar. preferiu não falar enquanto ela estava focada em prevenir que seu braço caísse, não queria causar mais problema do que já estava causando. todo o processo durou longos minutos na sua mente, mas não deveria ter passado mais de quinze.

"eu não sabia que tinha sido casada." mudou o assunto quando ela começou a enfaixar o seu braço, bem melhor que a bagunça que ele fazia sozinho. ela sorriu um pouco, trazendo umas memórias para fora do baú.

"não durou muito. eu tinha uns vinte e quatro, vinte e cinco anos. foi bem antes de conhecer o emerson. costumava ser só eu, gue-sung e ele, um mercenário de mão cheia inclusive, vivia me dando preocupação." ela riu sozinha de alguma lembrança e son conseguia ver que apesar da nostalgia e perda foi muito feliz. "nos conhecemos aqui em tottenham, mas nenhum de nós era daqui, tínhamos planos de construir uma vida juntos, mas infelizmente ele morreu numa missão, não acho que chegamos a completar dois anos de casamento." ela finalizou curativo e suspirou. "eu nem pude enterrar o corpo dele."

"sinto muito, kyung-min, eu não fazia ideia." estava genuinamente triste por ela, a mulher era uma das pessoas mais incríveis que conheceu e merecia ter tido uma vida longa com a pessoa que amava ao seu lado.

"não se preocupe, já faz tempo isso." ela guardou as coisas e caminhou até o guarda-roupas para pôr tudo no seu lugar.

"kyung-min," a enfermeira se virou para o olhar quando ouviu-o a chamar. son brincou com os próprios dedos, sentindo as lágrimas queimarem seus olhos de novo. "essa dor... ela passa um dia?"

"oh, meu amigo," ela se sentou ao seu lado e segurou suas mãos, nada além de compreensão em seus olhos. "o meu luto nunca passou, já fazem cinco anos sem ele e eu tenho certeza que carregarei isso pra sempre comigo, mas a minha vida não parou no luto. eu ainda tenho o gyunie comigo, agora eu tenho o emerson também, você e a haeun, até o richarlison também faz parte." o sorriso empático nunca saiu dos seus lábios e ela soltou uma mão da dele e enxugou uma lágrima teimosa que escorria pelo rosto do coreano. "a dor da perda nunca vai desaparecer, pra isso você teria que esquecer."

"e o que eu faço?"

"você continua vivendo," deu de ombros, trazendo-o para mais perto. "você cuida de si mesmo, você cuida da haeun, aos poucos tudo volta aos eixos e você vai entender que a dor vai fazer parte, mas não te engole mais. você encontra pequenas alegrias em outras coisas, até mesmo nas lembranças. elas machucam, mas são registros que você aprende a apreciar também. somos humanos, sonny e isso faz parte de nós. se pudéssemos só arrancar aquilo que dói viraríamos andróides."

heung-min respirou fundo e assentiu, pelo visto não teria nenhuma solução mágica para os seus problemas, mas se sentia mais seguro sabendo que tinha alguém como kyung-min ao seu lado para lhe dar suporte.

"que tal descermos, hm? eme já deve estar querendo nos mostrar a tal feijoada dele." riu ela, beijando a sua testa e arrumando seu cabelo com os dedos. son aceitou de bom grado o ato e colocou suas emoções sob controle de novo.

"ah, eu não perguntei, mas qual era o nome do seu marido?"

kyung-min sorriu enquanto abria a porta para eles saírem, parecia ainda afogada em nostalgia.

"cristian romero."


-


o passado dos cho não era muito comentado, provavelmente ninguém além deles mesmos e emerson devia saber muito do que aconteceu com os irmãos. tudo o que son sabia até agora era que eram coreanos, viviam com o brasileiro por alguns anos já, seus trabalhos e, agora, que kyung-min já foi casada com romero.

a lembrança do andróide fazia seu sangue borbulhar ainda, apesar de sua mente racional gritar que ele não era culpado de nada, apenas outra vítima daquela loucura toda. enquanto desciam para a cozinha, não teve coragem de falar o que sabia. se o cristian dela fosse o mesmo cuti que conheceu as coisas poderiam ficar mais complicadas do que gostaria. honestamente era difícil saber que fim romero tomou depois que se separaram, se ainda estava vivo ou foi desligado e jogado por aí pela hotspurs. decidiu deixar aquele assunto quieto por hora e tentaria falar com emerson, talvez o mecânico soubesse de algo.

haeun estava sentada no chão com uma folha de papel e alguns lápis coloridos fazendo seus velhos desenhos feios. gue-sung era o seu modelo do momento, ele estava sentado na sua frente, pernas cruzadas e um sorriso pequeno nos lábios, seus cabelos estavam uma bagunça e richarlison fazia questão de soltar piadas para tirar sua concentração da pose fixa que a menina impôs. emerson estava na cozinha, finalizando o jantar usando um avental preto todo decorado com desenhos a mão - meio tortos e horríveis, mas son apreciou a tentativa.

kyung-min lhe empurrou para a cozinha e tirou uns pratos do armário para colocá-los na sua mão. ficou perdido de início no que deveria fazer com aquilo até ela apontar para a mesa e perceber que deveria ajudar com a organização da mesa de jantar. se apressou para começar a pôr tudo no lugar, feliz de ter uma distração manual e não se preocupar com seus próprios pensamentos por um momento.

"a comida tá pronta, galera!" emerson gritou ao desligar o fogão e segurar firme a panela grande para a colocar no centro da mesa. son se apressou para finalizar de organizar tudo enquanto todos corriam para a cozinha.

haeun foi a primeira a chegar, imediatamente subindo na cadeira. son não tinha como pôr em palavras o quão aliviado ele estava de ver ela animada pra comer, os últimos dias tinham sido verdadeiras batalhas para a menina comer pelo menos uma ou duas refeições por dia, precisava se relembrar sempre que progresso era progresso e aquela situação tinha que ser temporária, não aguentaria ver sua filha doente por não ter comido como deveria. vê-la ali na mesa com disposição era como tirar um peso enorme dos seus ombros. ele se sentou ao seu lado e esperou os outros.

kyung-min trouxe uma garrafa de água e colocou junto da panela antes se sentar na sua frente. gue-sung veio logo em seguida e se sentou ao lado dela, murmurando algo no seu ouvido que ela apenas concordou. emerson tirou as luvas térmicas e ficou na porta da cozinha esperando richarlison se aproximar, os passos dele eram mais lentos, mas firmes o bastante para não precisar depender da ajuda das paredes para se mover. só ali son percebeu que realmente ele tinha dificuldades para se mover, lembrou-se do que emerson comentou sobre sua recuperação e se perguntou o quão pior ele deveria estar no início. o dono da casa ajudou richarlison a se sentar numa cadeira ao lado de gue-sung antes de se sentar também, sorrindo tão largo que poderia iluminar o bairro inteiro.

"bom, amigos e família, vamos aproveitar nosso jantar brasileiro hoje!" anunciou, colocando a concha preta dentro da panela e retirando uma porção para richarlison antes de deixar o restante do grupo se servir.

son foi o segundo a pegar a concha, colocando para haeun antes de por sua própria porção. aquela era uma comida que nunca viu antes, bem escura e com pedaços de carne e feijões. ouviu richy um dia comentar que feijões eram cultivados exclusivamente no distrito brasil graças aos costumes importados da terra, onde o grão era a base da alimentação diária da população. particularmente nunca tinha provado, mas ouvia apenas coisas positivas do andróide- amaria comer aquilo pela primeira vez ao lado dele.

"uau, emerson!" richarlison exclamou, colocando uma mão na frente da boca enquanto mastigava. "que gosto de casa, meus olhos até encheram de lágrimas, maluco!"

"eu disse que eu era bom no que fazia!" deu uma cotovelada fraca no amigo, mas chegou a parecer tímido com o elogio. ele foi o último a se servir, esperando todos provarem primeiro com um olhar de pura curiosidade para saber a opinião deles.

heung-min se pegou distraído olhando richarlison, no entanto. ele comia devagar, parecendo esperar um tempo para poder pôr outra colher na boca, mas seus olhos brilhavam em empolgação por ver e provar de uma comida familiar. por ser um andróide, richy não podia comer e nem sentia fome, só muita vontade de comer uns docinhos de vez em quando, então sempre se perguntou como seria a imagem dele comendo. era bobo e insignificante no grande esquema das coisas, mas lhe trouxe um pouco de conforto poder ver essa cena pessoalmente.

"son, não vai provar?" emerson chamou sua atenção e ele piscou, olhando ao seu redor e percebendo que todos o encaravam confusos. tinha ficado tão absorto em seus próprios pensamentos que mal notou que não tinha começado a comer.

"desculpa, eu me distraí!" explicou-se rápido, pegando a colher e enchendo-a da tal feijoada e levando a boca. ele não sabia que sabor esperar daquilo, mas era muito bom, inúmeros temperos explodiram na sua boca e as texturas diferentes eram agradáveis de sentir. finalmente entendeu o porquê richy sempre defendeu a culinária do distrito brasil. "nossa, isso é muito bom! você leva jeito mesmo."

"ah, você exagera!" emerson balançou uma das mãos e voltou a comer, agora mais aliviado e satisfeito que seu prato tinha agradado a maioria.

haeun comia bem também, se sujando toda com o molho escuro, inclusive a roupa, que provavelmente seria péssimo para sair na lavagem. despediu-se mentalmente da blusa clara dela, seria a última vez que iria ser usada em público.

conversas paralelas inundaram a mesa enquanto comiam, aquele grupo junto fazia um barulho terrível, mas sua filha sempre ria quando acontecia algo que ela entendia- diferente do que imaginou, aquele momento foi acolhedor, reconfortante e tudo que estava precisando.


-


a noite havia chegado e a sala de emerson estava quase toda envolta na escuridão e no silêncio.

son cuidadosamente se levantou do sofá, ajustando a cabeça de haeun num travesseiro para evitar que ela acordasse e desviou dos corpos adormecidos de gue-sung e emerson, eles estavam no chão agarrados um no outro e a cabeça mal apoiada nas almofadas, kyung-min estava cochilando no sofá também, desligada do mundo. os créditos do filme rolavam no velho projetor, ignorado por todos que dormiram na metade do filme depois de vários pratos de feijoada. não estava tão tarde, mas o cansaço do dia deveria ter deixado todos exaustos.

o coreano foi o único que não conseguiu pegar no sono e preferiu aproveitar o momento para sair da sala apertada e ir para o lado de fora. sentou-se no quintal e encarou o céu estrelado, fazia um tempo que não se sentia assim. honestamente estava um pouco mais leve depois da conversa com kyung-min e da melhora significativa no humor de haeun, não sabia se aquilo iria perdurar, mas mesmo que não, sentia que podia lidar com tudo um pouco melhor.

estava frio do lado de fora, não tinha um casaco bom e nem cobertores, mas decidiu não voltar e correr o risco de acordá-los. todos pareciam tão confortáveis, não sabia nem como ia voltar pra casa daquele jeito. se encostou na parede e respirou fundo, fechando os olhos. a dor não tinha desaparecido, continuava ali, pulsando dentro do seu peito e fazendo tudo sangrar, mas sabia que não podia ser engolido pra sempre por isso. talvez não resolvesse todas as suas questões da noite pro dia, sequer queria algo assim, mas já conseguia ter um pouco mais de esperança dali pra frente.

precisava priorizar cuidar de haeun, ter a certeza que ela vai crescer e se transformar numa mulher incrível, que vai ser feliz e levar uma vida infinitamente melhor que a sua. meio hesitante, precisava admitir que tinha que se cuidar também, inúmeras vezes richy lhe disse 'como espera cuidar da haeun até ela ficar adulta se você parece que vai morrer semana que vem? tem que se manter saudável!' como se ele fosse uma criança. sorriu fraco com a memória e enxugou uma lágrima teimosa. era impossível não sentir saudades dele.

"ah, me desculpe!" a voz familiar de richarlison ecoou pelo quintal quando ele colocou a cabeça para fora. heung-min arregalou os olhos ao vê-lo ali, ele tinha ido pro quarto assim que todos decidiram que veriam um filme no projetor velho de emerson, todos acharam que ele estava se sentindo mal e foi dormir. "não sabia que tinha alguém acordado ainda." sua voz estava baixinha para não alertar os outros. son estava tão surpreso que nem soube o que falar, apenas ficou o encarando por longos segundos vergonhosos até richarlison limpar a garganta e se mexer de um lado para o outro. "se você se incomoda eu posso ir embora..."

"não!" exclamou, um pouco alto demais, sentiu suas bochechas queimarem com sua inabilidade de funcionar bem na frente dele, se afastou um pouco para lado e fez um sinal estabanado para o espaço que deixou. "pode ficar se quiser."

richarlison fez um som de concordância e lentamente se aproximou, sentando-se ao seu lado. engraçado como o coração de heung-min parecia ser idiota e se pegava o confundindo com seu richy. em momentos como aquele era fácil se deixar levar por uma fantasia onde nunca tinha o perdido e ele estava bem ali do seu lado principalmente quando tudo neles era idêntico.

o silêncio entre eles não era exatamente acolhedor, mas son também não sabia como quebrá-lo. talvez devesse perguntar algo sobre como estava indo a recuperação? ou então sobre o que sentia agora que estava livre do coma? ou os planos que tinha para o futuro? talvez algo do passado? nenhuma das ideias parecia boa, mas estava tão desconfortável com o silêncio que precisava falar qualquer coisa para não ser engolido pela ansiedade que se instalava no seu peito.

"uh, eu... eu achei que tinha ido dormir no quarto." richarlison virou-se para olhá-lo quando começou a falar, apesar do tom baixo, sua voz estava soando alta demais aos seus próprios ouvidos. era um péssimo tópico para quebrar o gelo, mas achou melhor que relembrá-lo do passado ou continuar naquele silêncio pesado.

"ah não, eu não estou com sono." o brasileiro puxou os joelhos para mais perto e os abraçou, apoiando o queixo sobre eles. aquilo, no entanto, deixou son mais confuso que antes.

"então por que não ficou na sala com todo mundo?"

a pergunta não soou errada aos seus ouvidos, era uma dúvida genuína. emerson tinha ficado até cabisbaixo quando o rapaz anunciou que iria para o quarto, se ele não estava doente nem dormido então...?

"eu não quis atrapalhar."

"o que? por que você atrapalharia?" richarlison suspirou pesado, parecendo ter se dado conta que falou mais do que devia. não tinha cara de que explicaria a situação, mas son não o deixaria fugir assim do assunto. "por que você acha isso?" insistiu, virando o corpo para vê-lo melhor.

"olha, eu sou muito agradecido a todos vocês, tudo bem? você foi um dos que foram lá pessoalmente me tirar da hotspurs, arriscou e perdeu muito no processo e eu sou grato. emerson parou a vida dele pra cuidar de mim mesmo quando eu estava alucinando e sendo um peso na vida dele, os cho também tem me tratado muito bem e sendo pacientes comigo, até você é uma pessoa muito legal, sua filha também, mas..." ele se interrompeu, mordeu os lábios e desviou os olhos para as plantas de plástico meio mal cuidadas do quintal. "mas eu sei que não sou eu que vocês queriam que estivesse aqui."

o desabafo lhe pegou de surpresa.

por algum motivo, não esperava que richarlison se sentisse daquela forma. no entanto, quando olhava as coisas por um ângulo que não era só o seu dava pra entender. tudo e todos ao seu redor tinham se adaptados para acolher richy, o andróide, no fundo ninguém ainda estava preparado para richarlison, o humano. apesar da boa vontade que todos tinham, era impossível fingir que ele não era um desconhecido familiar, em partes todos o conheciam e tinham memórias o envolvendo, mas ele não estava nem sabia de nenhuma.

devia ser desesperador estar no meio de uma situação como essa e não ter nem como simplesmente sair porque dependia de emerson e dos cho para conseguir sobreviver no estado atual. son desviou os olhos, se sentindo culpado de alguma forma. em nenhum momento parou para cogitar como richarlison deveria se sentir no meio disso tudo- saindo de um coma forçado e jogado no meio de estranhos que eram próximos de uma versão sua que ele nunca conheceu e sem nem saber o que aconteceu nos últimos meses.

era um sentimento parecido com o que sentiu quando ouviu a história de richy pela primeira vez, um andróide criado contra a sua própria vontade sem saber que destino seu eu original teve ou o que aconteceu para tentarem destruí-lo daquele jeito.

"eu sinto muito." se desculpou, sincero, sem saber o que mais podia fazer. ao seu lado, richarlison deixou escapar uma risada fraca, mas não era exatamente de humor.

"não precisa se desculpar por isso, eu não culpo ninguém. eu entendo que todos passaram mais tempo com o andróide, é normal que a situação esteja assim e eu sei que me ver e perceber que não somos a mesma pessoa só dificulta tudo." ele se inclinou para trás e deixou sua cabeça encostar na parede. "é só... meio estranho aceitar que eu sou o 'richy falso', todos pareciam ser muito felizes com ele, sabe? parece que minha chegada acabou atrapalhando tudo-" richarlison se interrompeu, parecendo ter caído em si percebido o que tinha saído da sua boca. se endireitou e, apressado começou a se levantar. "desculpa! finge que não ouviu isso!"

"o que? espera-"

"se puder também não comentar nada disso com ninguém, eu agradeço." cambaleou um pouco, sequer prestando atenção no que son tentava falar. praticamente se arrastou pelos poucos passos que o separava da porta e antes que o coreano conseguisse abrir a boca ele continuou. "e todos ficaram muito felizes de ter você aqui, espero que possa voltar mais vezes."

aquilo foi tudo que disse antes de se apressar para dentro de casa de novo. distante, son ouviu o barulho suave da porta fechando e depois apenas silêncio. heung-min passou as mãos pelo cabelo, grunhindo baixinho. as palavras de richarlison giravam na sua mente e ele se sentia cada vez pior por não ter exercido bom senso e notado isso antes, apesar de achar que não fosse o único que não tinha percebido.

encarou o céu como se fosse receber uma resposta das estrelas. ele se perguntava se tudo se encaminharia para o rumo certo se cumprisse logo sua promessa de falar tudo e entregasse o vídeo para ele. ainda se sentia incerto e assustado com o que aconteceria depois- richarlison assistiria, saberia e aí? o que ele deveria fazer? o que deveria dizer para richarlison? como ele reagiria?

"talvez você devesse se preocupar com sua própria vida primeiro, son heung-min." murmurou para si, encostando novamente a cabeça na parede e fechou os olhos.

no fim, independente do resultado que teria, percebeu que não tinha como fugir, precisava confiar que richy sabia o que estava fazendo quando lhe pediu aquilo.


◢✥◣


o metal do portão preto era gelado contra seus dedos enquanto batia.

partes da tinta que formavam o nome 'royal' estavam começando a descascar nas bordas e precisaria em breve de uma nova camada de pintura. parou de bater e esperou, sabendo que provavelmente tinha que esperar um pouco para ser atendido. tentou forçar a ansiedade para fora do seu peito, se relembrando várias e várias vezes o que tinha que fazer ali, garantindo para si mesmo que faria tudo rápido e de uma vez.

o som de passos pode ser ouvido do outro lado e son lutou contra todos os instintos e vontade de fugir dali. as trancas foram abertas e parte do portão deslizou para o lado, mostrando richarlison num moletom duas vezes maior que ele e uma bermuda preta, seu rosto estava um pouco inchado e parecia ter acabado de acordar de um cochilo. son sabia que se o abraçasse e enfiasse seu rosto na dobra do pescoço, afundando nos braços e na roupa macias ficaria confortável. respirando fundo, ele empurrou aquele pensamento pra longe e o cumprimentou com um aceno de cabeça.

"uh, oi?" richarlison estava confuso, as sobrancelhas franzidas não escondiam nada. olhou ao seu redor por um minuto e logo se voltou para o coreano de novo. "emerson não está, ele foi trabalhar na casa de um cliente..."

"tudo bem," interrompeu, mordendo os lábios e erguendo a caixinha preta que tinha em mãos na direção dele. "eu só vim te entregar isso."

richarlison hesitou um pouco antes de aceitar, olhando em todas as direções em busca de algo que pudesse indicar a natureza do objeto nas suas mãos.

"o que é isso?"

heung-min sorriu fraco e deu um passo para trás.

"é o cumprimento da minha promessa."


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