Enfim Halloween e um monte de crianças tocando minha campainha a noite toda me enchendo o saco, eu sempre digo que não tenho doces e nunca terei, é sério, eu até coloquei uma placa dizendo para não chamarem, mas parece que eles lêem e fazem questão de chamar só pra me tirar do sério.
Continuo aqui sentada na minha poltrona marrom confortável e enorme assistindo a qualquer coisa na TV enquanto ouço as vozes e berros das crianças irritantes lá fora, estou tentando não me irritar esperando essa noite tenebrosa passar.
Até que de novo pela quinta vez na noite ouço minha campainha tocar, respiro fundo jogando a cabeça pra trás resmungando brava, não me mexo e a campainha torna a tocar de novo, é sério?
Me levanto sem vontade alguma e me arrasto até a porta a abrindo, quando abro a porta e tenho visão completa do ser humano na minha frente só fico olhando pra ela com as sobrancelhas franzidas.
Uma garota que com certeza não é uma criança e também não parece tão nova pra ser uma adolescente vestindo um casaco surrado marrom com uma camiseta verde escuro por baixo larga, uma calça jeans preta também larga segurando um facão de plástico na mão e uma máscara de hockey com seus cabelos ruivos longos ondulados naturalmente jogados nos ombros.
— Gostosuras ou travessuras? — A garota fala quase que revirando os olhos com uma vontade invejável, ironicamente é claro, com a voz arrastada e entediada.
Olho ela de cima a baixo por mais uns segundos, se o Jason fosse essa mulher eu não iria correr nunca.
— Você não é um pouco grandinha demais pra estar pedindo doces não? — Continuo encarando ela com as sobrancelhas franzidas.
Ela me olha com os olhos semicerrados e coloca a máscara de hockey na frente do rosto.
— Se eu fosse você não negaria os doces — Ela imita uma voz grossa com um timbre mortal.
— Quantos anos você tem? — Quase rio do que ela fez, mas tento não transparecer que talvez eu tenha um pouquinho de espírito de Halloween.
— Vinte anos — Dá de ombros fazendo uma careta.
— Por que você está pegando doces se já é bem adulta? — Coloco as mãos na cintura olhando pra ela com uma sobrancelha levantada.
— É pra minha irmã, estou acompanhando ela — Aponta pra trás com o dedão. — Eu também queria conhecer minha vizinha.
Quando ouço isso me recordo que uma nova família se mudou recentemente pra casa ao lado, eu não parei pra observar bem, mas tenho certeza que vi uma garota ruiva, então é ela a nova vizinha.
— Me lembrei agora que vocês se mudaram a semana passada, né? — Pergunto e ela assente com a cabeça.
Lembro que cheguei a conversar com uma mulher de cabelos loiros de meia idade, talvez seja a mãe dela.
— Estou vendo que sua casa não tem nenhuma decoração de Halloween — Ela se inclina pros lados olhando dentro da minha casa.
— Eu não sou muito de fazer isso, acho que não gosto do Halloween — Torço os lábios.
— Quer que eu te ajude a ter espírito de Halloween ou... — Faz uma pausa e coloca a máscara novamente no rosto — Você quer sofrer as consequências?
Ela novamente faz aquela voz grossa horrorosa e dessa vez não consigo segurar o riso, ela ri junto de mim com um olhar satisfatório de que finalmente tirou um sorriso meu.
— Qual seu nome? — Pergunto sorridente.
— Sadie e o seu?
— Y/n.
— Você não respondeu minha pergunta — Sadie chega mais perto de mim, perto o suficiente pra eu sentir seu perfume muito bom meio adocicado, ela segura minha cintura levemente me colocando pro lado e passa por mim bem perto olhando meus olhos e vai pra dentro da minha casa.
— Isso é invasão domiciliar — Fico apenas paralisada na porta com as mãos levantadas.
— Eu sou o Jason posso fazer o que quiser — Ela olha pra trás rapidamente me lançando um olhar sapeca.
— Você não tem medo? — Viro em direção a ela e fecho a porta devagar.
— Tenho medo que você não tenha nenhuma decoração de Halloween nessa casa — Me encara com os braços cruzados.
Respiro fundo em desistência.
— Pra sua sorte eu tenho sim, meus pais que deixaram uma caixa pra mim, está no porão — Passo por ela indo até a porta do porão, mas viro a cabeça pra trás — Olha, você não é a primeira tentando me dar espírito de Halloween, meus pais tentaram e olha aí...
Encolho os ombros fazendo uma careta e abro a porta descendo até o porão, pego a caixa que demorou alguns segundos pra eu achar e subo novamente encontrando Sadie sentada na minha poltrona com as pernas esticadas.
— É sério? — Rio observando a cena.
— Anda, deixa eu ver — Ela levanta em um pulo vindo mexer na caixa.
E tira várias decorações aleatórias como varal de esqueletos, abóboras de plástico, lâmpadas de fantasma.
— Isso serve pra sua casa parecer mais viva — Pega a caixa da minha mão indo em direção a porta da frente e abre ela.
Sigo ela que coloca a caixa no chão na frente da minha varanda.
— Ei, me ajuda aqui segura essa ponta — Ela estica o varal de esqueletos pequenos com olhos vermelhos, pego a outra ponta e ela mexe as mãos me mandando ir pra trás. — Prende aí.
Sadie aponta pro alto e amarro o fio na madeira do telhado da varanda, ela amarra do outro lado e tenho que admitir que ficou até bonitinho esse varal.
— E esse vai aqui — Pega uma bruxinha e pendura na parede, ela aperta algo na bruxinha e ela liga um led azul nos olhos emitindo um som de risada macabra de bruxa.
— Parece você — Aponto pro bicho rindo e Sadie me olha com os olhos apertados.
— Calada — Sadie sorri fechado e eu penso como é bizarro que minha noite estava perdida, mas essa doida vestida de Jason invadir minha casa e me obrigar a pendurar enfeites de Halloween melhorou minha noite mais do que pensava e salvou meu Halloween.
— Ei, eu lembrei que tenho uma coisa — Levanto o indicador e Sadie me olha curiosa. — Já volto.
Saio andando rápido para o porão novamente, é bom que ele esteja lá mesmo.
Quando volto com o esqueleto humano enorme em mãos e Sadie vê do que se trata ela começa a rir sem parar. Coloco o esqueleto na minha frente e vou andando com ele em direção a ela, seguro a mão do esqueleto e aponto em direção a ela.
— Ei, Sadie você sabia que essa casa é amaldiçoada? por isso ela não tem Halloween — Imito uma voz meio grossa assombrada.
— Sabia não senhor esqueleto, mas fiquei sabendo que uma garota linda morava aqui — Ela ri soprado e eu sorrio fechado sem graça por trás do esqueleto.
— E o que houve com essa garota? — Mexo as mãos do esqueleto ainda imitando aquela voz.
— Morreu porque não decorou a casa no Halloween.
— Que isso, Sadie? Foi muito cruel isso — Afasto o esqueleto da frente olhando pra ela.
Ela apenas ri desviando o olhar.
— Até que esse esqueleto é bem bonitinho — Ela pega a mão do esqueleto.
— Oh, você beijaria essa boca? — Mexo o maxilar do esqueleto enquanto rio.
— Não! Mas beijaria quem está segurando ele — Seus olhos me encaram com um olhar cheio de intenção, um olhar tão penetrante meio de lado que me causa uma turbulência no coração.
Fico uns segundos encarando ela com a boca entreaberta querendo sorrir, mas sem saber exatamente o que fazer.
— Ahn... eu... é, acho melhor colocar esse esqueleto sentado aqui — Pisco várias vezes e tomo meu rumo colocando o esqueleto na cadeira.
— Essas lanternas aqui podemos por aqui dentro — Sadie passa por mim entrando de volta na casa, olho pros lados e sigo ela.
Passo pela porta e fecho, sigo Sadie que vai até a cozinha colocando as lanternas no estilo lamparinas em cima da bancada da cozinha.
— Preciso te dizer que eu realmente estou gostando de decorar essa casa, talvez eu não odeie o Halloween — Me apoio na bancada observando ela que está atrás.
— Você não odeia o Halloween, você só precisa de alguém que traga seu espírito de Halloween de volta — Sadie se apoia na bancada de frente pra mim sorrindo.
— Você está fazendo muito bem esse trabalho então — Sorrio envergonhada e abaixo o olhar observando meus dedos.
— Digamos que... — Ela dá a volta na bancada passando o dedo indicador na pedra da bancada parando na minha frente bem próximo de mim. — Eu seja uma enviada espiritual do Halloween para renascer seu espírito assombroso.
Sadie fala com um tom de voz viciante e permanece com um meio sorriso quase imperceptível me olhando intensamente.
— Deveria vir mais vezes então.
Nos encaramos por longos segundos até que o seu meio sorriso some e sua expressão se torna concentrada, ela se aproxima mais, respiro rápido e passo a língua nos lábios me aproximando mais dela, coloco a mão ao lado do seu rosto, nos aproximamos uma da outra sabendo que queremos isso agora mais que tudo.
A campainha toca fazendo um barulho alto e pulamos de susto.
— Ahn... acho que é melhor eu ir ver quem é — Tiro a mão do seu rosto me afastando.
— É claro — Ela fala baixo ajeitando o cabelo enquanto olha pra baixo.
Vou andando até a porta e abro ela encontrando uma garotinha ruiva fantasiada de algo que não consigo entender agora.
— Sadie? — A garotinha fala olhando pra trás de mim, olho pra trás e vejo Sadie que quase me atropela pra passar.
— Jacey, eu- eu já estava indo atrás de você — Sadie segura a criança pelos ombros sorrindo totalmente sem graça sem saber onde enfiar essa cara de paisagem.
— Acho melhor você cuidar da sua irmã — Começo a rir da situação já que é a única coisa que me resta.
— Jacey olha só o esqueleto da casa da y/n — Sadie aponta pro lado e a garotinha vai mexer no senhor esqueleto sentado na cadeira. — Então, eu preciso ir infelizmente — Ela olha pra mim e torce os lábios.
— Tudo bem, obrigada por me mostrar que o Halloween é mais legal do que eu achava que fosse — Sorrio fechado.
— Não te mostrei nem metade ainda — Levanta as sobrancelhas sugestiva.
Bato as mãos nas laterais das pernas e respiro fundo tomando coragem.
— Você quer fazer algo amanhã? sei lá... — Sugiro.
— Passo aqui 17h — Sadie sorri lindamente pra mim enchendo meu coração de um sentimento bom.
— Sadie, eu quero ir embora — A garotinha puxa a mão dela enquanto reclama.
— Já estamos indo — Ela passa a mão no cabelo da garotinha acalmando — Boa noite y/n, o Halloween termina agora pra mim, mas eu sugiro que você observe sua janela da esquerda porque fiquei sabendo que tem um fantasma assombrando a casa da sua vizinha — Ela aponta pra cima sorrindo de uma forma atrevida.
— Pode deixar que eu vou olhar sim — Sorrio de volta do mesmo jeito.
Sadie dá alguns passos pra trás ainda me olhando até virar, observo ela andando com sua irmã segurando a mão dela, sigo elas com os olhos até entrarem no quintal de sua casa, respiro fundo e entro em casa de volta sorrindo que nem uma imbecil.
É, eu não odeio o Halloween.
...
A Sadie tá com uma personalidade bem parecida com a da Ziggy nesse imagine
informação inútil:
btw a foto da abóbora no banner foi eu que fotografei com minha câmera 🎃