O Monotono Diario de Isaac [B...

By LyanKLevian

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SINOPSE: Isaac Rodrigues, um jovem de 20 anos, foge da casa dos pais e vai morar num casarão de uma cidade de... More

Apresentação
24.04.18 - Terça
25.04.18 - Quarta
26.04.18 - Quinta
28.04.18 - Sábado (manhã)
28.04.18 - Sábado (noite)
29.04.18 - Domingo (manhã)
29.04.18 - Domingo (noite)
30.04.18 - Segunda
02.05.18 - Quarta (manhã)
02.05.18 - Quarta (noite)
03.05.18 - Quinta
04.05.18 - Sexta (noite - 20h)
04.05.18 - Sexta (noite - 22h)
06.05.18 - Domingo
08.05.18 - Terça
09.05.18 - Quarta
10.05.18 - Quinta (manhã)
10.05.18 - Quinta (noite)
12.05.18 - Sábado
17.05.18 - Quinta (manhã)
17.05.18 - Quinta (noite)
18.05.18 - Sexta
19.05.18 - Sábado (manhã 1/2)
19.05.18 - Sábado (manhã 2/2)
21.05.18 - Segunda
24.05.18 - Quinta (manhã)
24.05.18 - Quinta (noite)
25.05.18 - Sexta
26.05.18 - Sábado
27.05.18 - Domingo
28.05.18 - Segunda
30.05.18 - Quarta
31.05.18 - Quinta
1.06.18 - Sexta
02.06.18 - Sábado
03.06.18 - Domingo
04.06.18 - Segunda
05.06.18 - Terça
06.06.18 - Quarta
07.06.18 - Quinta
08.06.18 - Sexta
09.06.18 - Sábado
10.06.18 - Domingo
11.06.18 - Segunda
12.06.18 - Terça (tarde)
12.06.18 - Terça (noite)
13.06.18 - Quarta
14.06.18 - Quinta
17.06.2018 - Domingo
21.06.18 - Quinta
23.06.18 - Sábado
24.06.18 - Domingo
26.06.18 - Terça
29.06.18 - Sexta
01.07.18 - Domingo
05.07.18 - Quinta
12.07.18 - Quinta
17.07.18 - Terça
19.07.18 - Quinta
23.07.18 - Segunda
24.07.18 - Terça
29.07.18 - Domingo
03.08.18 - Sexta
09.08.18 - Quinta
10.08.18 - Sexta
11.08.18 - Sábado
15.08.18 - Quarta
17.08.18 - Sexta
19.08.18 - Domingo
23.08.18 - Quinta
25.08.18 - Sábado
26.08.18 - Domingo
31.08.18 - Sexta
02.09.2018 - Domingo
04 de Setembro, 2018 - Terça
06 de Setembro, 2018 - Quinta
06 de Setembro, 2018 - Quinta
07 de Setembro, 2018 - Sexta (10h54)
07 de Setembro, 2018 - Sexta (15h36)
08 de Setembro, 2018 - Sábado (7h28)
10 de Setembro, 2018 - Segunda (22h58)
13 de Setembro, 2018 - Quinta (22h34)
13 de Setembro, 2018 - Quinta (22h46)
14 de Setembro, 2018 - Sexta (19h23)
15 de Setembro, 2018 - Sábado (18h37)
16 de Setembro, 2018 - Domingo (21h09)
17 de Setembro, 2018 - Segunda (08h23)
19 de Setembro, 2018 - Quarta (13h26)
20 de Setembro, 2018 - Quarta (11h47)
22 de Setembro, 2018 - Sábado (18h48)
23 de Setembro, 2018 - Domingo (01h27)
23 de Setembro, 2018 - Domingo (03h42)
23 de Setembro, 2018 - Domingo (6h50)
24 de Setembro, 2018 - Segunda (7h15)
24 de Setembro, 2018 - Segunda (14h57)
25 de Setembro, 2018 - Terça (2h16)
25 de Setembro, 2018 - Terça (7h47)
25 de Setembro, 2018 - Terça (20h19)
26 de Setembro, 2018 - Quarta (21h27)
28 de Setembro, 2018 - Sexta (12h04)
29 de Setembro, 2018 - Sábado (7h46)
30 de Setembro, 2018 - Domingo (22h46)
1º de Outubro, 2018 - Segunda (23h47)
04 de Outubro, 2018 - Quinta (12h07)
04 de Outubro, 2018 - Quinta (22h13)
05 de Outubro, 2018 - Sexta (19h02)
07 de Outubro, 2018 - Domingo (15h58)
07 de Outubro, 2018 - Domingo (16h01)
10 de Outubro, 2018 - Quarta (19h34)
11 de Outubro, 2018 - Quinta (14h55)
12 de Outubro, 2018 - Sexta (23h26)
13 de Outubro, 2018 - Sábado (18h21) + (18h32)
14 de Outubro, 2018 - Domingo (17h39)
17 de Outubro, 2018 - Quarta (16h46)
18 de Outubro, 2018 - Quinta (23h12)
20 de Outubro, 2018 - Sábado (20h17)
21 de Outubro, 2018 - Domingo (16h29)
22 de Outubro, 2018 - Segunda (10h57)
23 de Outubro, 2018 - Terça (23h45)
NÃO É capítulo novo
25 de Outubro, 2018 - Quinta (20h19)
27 de Outubro, 2018 - Sabado (23h21)
30 de Outubro, 2018 - Terça (21h34)
02 de Novembro, 2018 - Sexta (16h12)
4 de Novembro, 2018 - Domingo (21h43)
07 de Novembro, 2018 - Quarta (23h14)
09 de Novembro, 2018 - Sexta (21h33)
14 de Novembro, 2018 - Quarta (22h47)
16 de Novembro, 2018 - Sexta (20h56)
16 de Novembro, 2018 - Sexta (23H24)
17 de Novembro, 2018 - Sábado (00h13)
18 de Novembro, 2018 - Domingo (5h28)
18 de Novembro, 2018 - Domingo (19h31)
19 de Novembro, 2018 - Segunda (1h47)
27 de Novembro, 2018 - Terça (19h03)
28 de Novembro, 2018 - Quarta (13h15)
3 de Dezembro, 2018 - Segunda (23h41)
3 de dezembro, 2018 - Segunda-feita (parte 2)
06 de dezembro, 2018 - Quinta (20h28)
09 de dezembro, 2018 - Domingo (21h42)
11 de dezembro, 2018 - Terça (23h57)
13 de dezembro, 2018 - Quinta (16h21)
17 de dezembro, 2018 - Segunda (10h36) → 1 de 3
17 de dezembro, 2018 - Segunda (10h36) → (2 de 3)
17 de dezembro, 2018 - Segunda (10h36) → (3 de 3)
19 de dezembro, 2018 - Quarta (21h53)
22 de dezembro, 2018 - Sábado (23h49)
25 de dezembro, 2018 - Terça (22h39) → (parte 1 de 2)
25 de dezembro, 2018 - Terça (22h39) → (parte 2 de 2)
28 de dezembro, 2018 - Sexta (16h12) → (parte 1 de 2)
28 de dezembro, 2018 - Sexta (16h12) → (parte 2 de 2)
02 de janeiro, 2019 - Quarta (18h47) → (parte 1 de 3)
02 de janeiro, 2019 - Quarta (18h47) → (parte 2 de 3)
02 de janeiro, 2019 - Quarta (18h47)→ (parte 3 de 3)
06 de janeiro, 2019 - Domingo (3h47)
08 de janeiro, 2019 - Terça (16h27)
10 de janeiro, 2019 - Quinta (19h43)
11 de janeiro, 2019 - Sexta (10h26)
AVISO DE RETORNO
15 de janeiro, 2019 - Terça (21h36)
19 de janeiro, 2019 - Sábado (20h54) → PARTE 1 de 2
20 de janeiro, 2019 - Domingo (14h28)
21 de Janeiro, 2019 - Segunda (17h43)
24 de Janeiro, 2019 - Quinta (11h17)
27 de Janeiro, 2019 - Domingo (22h31)
30 de Janeiro, 2019 - Quarta (23h43)
3 de Fevereiro, 2019 - Domingo (17h33)
5 de Fevereiro, 2019 - Terça (17h25)

19 de janeiro, 2019 - Sábado (20h54) → Parte 2 de 2

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By LyanKLevian

Hey, readers! Ontem (domingo), que é o dia oficial de publicação, não tive como postar. Por isso a continuação do capítulo está vindo numa agradável manhã de segunda-feira, hehehe.

Todo mundo ama uma segunda-feira, né não? Confessa, vai... 😆

Bom, quero agradecer do fundo do coração por você estar acompanhando "O Monótono Diário de Isaac".

Em minha mente, digo que a história já está caminhando para a reta final (calma, CAMINHANDO para a reta final é diferente de ESTAR na reta final). Ainda tem mais de 20 capítulos antes de finalizar tudo, então podem ter certeza que Isaac ainda ficará conosco por uns meses.

E mesmo quando acabar, não há tristeza: é quando vem a melhor parte, pois vou revisar tudo, melhorar muitos pontos (acrescentando novidades), e fazer a versão impressa do livro, com ilustrações estilo mangá (será como as light novels que vemos no Japão).

Por conta do tamanho da história, eu provavelmente precisarei dividi-lo em 3 livros. O livro completo ficaria muito grande e caro (e isso desencoraja muitas pessoas na hora da compra).

Vocês têm noção de que temos, até o momento, mais de 394000 palavras neste diário? Isso significa que você leu, até agora, cerca de 600 páginas ao todo.

Quase um tijolo, hehehe.

Bom, seguimos em frente. Ainda há muita coisa para acontecer na vida de nosso garoto antes que ele possa dizer "enfim paz".

Boa leitura!



🍒



 (continuação do e-mail anterior)



"Tem uma igreja católica lá, não precisa se preocupar quanto a isso", falei, imaginando que seria boa parte do motivo de ela ter travado. "E você vai pra ficar só uma temporada, como se fosse umas férias. Se não gostar, você volta pra cá. Essa casa continuará sendo sempre da senhora, vó".

Ela olhou para a Jaqueline, que concordou com a cabeça para incentivar. Depois abaixou a cabeça:

"Eu pedi muito pra Deus me mostrar um caminho, mas... Não era bem isso que eu estava imaginando"

Ouvindo isso, o Nicolas abriu a boca pela primeira vez desde que chegamos lá:

"Às vezes, Deus responde nossas orações das maneiras mais inesperadas". E depois acrescentou: "Não acha?"

Ela o olhou, mas não respondeu. Me senti um pouco mal por ele, mas não falei nada. Apenas observei enquanto minha avó levantava e ia silenciosamente até o pequeno oratório. Ficou com o olhar perdido por alguns segundos, depois pegou o terço e foi para o quarto dela, fechando a porta. Suspirei. Os gêmeos me encararam.

"Hãã... Ela foi meio que... Conversar com Deus. Ela sempre fazia isso".

Falei baixo. Não queria que ela me ouvisse explicando isso aos Belson.

Ficamos quietos, e eu aproveitei os minutos de silêncio para olhar em volta. Não exatamente para matar a saudade – pois não havia nenhuma –, mas para buscar lapsos de memória num canto ou outro. A última vez que eu estive na casa de minha avó, quando ela me ajudou depois de minha gafe monstruosa, sequer tive tempo – ou estômago – para ficar observando as coisas.

Na geladeira havia um velho ímã em forma de tábua de cortar, do tamanho de meu mindinho, com feijões vermelhos e grãos de milho grudados por cima. Fiz aquilo em algum ano do jardim de infância para um dia das mães que já caiu no esquecimento. O excesso de poeira e gordura da cozinha fez com que as cores verdadeiras ficassem tão apagadas quanto minhas memórias de minha falecida mãe.

O silêncio foi um pouco constrangedor, mesmo estando entre pessoas com quem já estou acostumado a conviver. De repente, ouvimos um remexer de portas de guarda roupas, o som de coisas caindo, e minha avó chamando meu nome. Levantei correndo. Só faltava alguma coisa acontecer com ela no dia em que a estávamos resgatando... Mas ela estava bem. No chão, várias caixas velhas haviam caído de cima do guarda-roupas, de onde ela havia retirado uma mala marrom, daquelas sem rodas que só vejo em filmes dos anos noventa para baixo.

"Desde quando a senhora tem isso?"

"Não importa, me ajude aqui..."

Fui até ela e voltei as velhas caixas no lugar. Quando criança, sempre via o topo do guarda-roupas cheio de caixas de papelão, mas nunca me perguntei o que havia ali. Uma delas, que se abriu na queda, exibia no interior um conjunto de roupas todas dobradas. Reconheci algumas delas por causa de velhas fotos da família. Não falei nada, nem perguntei, pois eu já havia compreendido. Eram roupas de meu avô e de minha mãe.

"Você não..."

Comecei a falar, mas me calei. Eu ia comentar sobre o fato de as roupas nunca terem sido doadas. Um arrepio passou por minha espinha quando mudei de assunto, forçando um riso para fingir que as roupas dos mortos não haviam me incomodado: "Então você vai com a gente?"

Com todas as portas do guarda-roupa escancaradas, e guardando algumas na mala, ela respondeu meio que resmungando:

"Vou só ficar uma semana, duas no máximo. Deus falou comigo, e o moço estava certo... Deus disse que realmente ouviu minha prece..."

Notei silenciosamente que ela disse "moço" referindo-se ao Nicolas. Ela evitou dizer tanto a palavra tabu (namorado) quanto o nome dele. Ignorei e fingi não notar. Acho que devo ter engolido umas boas dezenas de sapos ontem, e tudo para não arruinar o plano que estava dando certo.

Enquanto eu a ajudava com as roupas na mala antiga, fiquei me perguntando qual raios era a forma que ela havia recebido a tal da confirmação divina. E a resposta veio num breve momento em que ela precisou ir ao banheiro, e vi sobre a cabeceira da cama a bíblia aberta numa página específica.

Minha avó costuma usar uma pequena lupa nas leituras, e vi que a lente estava sobre um trecho do segundo capítulo do livro de Jonas (não o meu primo, mas sim o cara da Bíblia que foi engolido pela baleia). Dizia assim: "Na minha angústia invoquei a Javé, e ele me atendeu. Do fundo do abismo pedi Tua ajuda, e ouviste a minha voz".

Acho que não precisa ser nenhum gênio para decifrar o mistério da aceitação repentina de minha velha avó cabeça dura afogada em fanatismos. Devo dizer que foi sorte, pois se ela tivesse aberto em qualquer outro trecho que falasse de tentações, ou de obras do Capiroto, ela certamente negaria vir conosco. Nessa hora eu meio que acreditei que havia ali, de fato, algum espírito iluminado (como diz a Jack, se referindo aos anjos) que guiou as mãos de minha avó para abrir na página correta.

Quanto aos Belson, haviam ficado na cozinha o tempo todo, já que não se sentiram à vontade para adentrarem sem permissão o quarto de uma senhora rabugenta que faz o sinal da cruz até pra colocar pimenta na comida (diz ela que coisas picantes têm um toque do Tinhoso, mas que basta abençoar para que a maldição vá embora... Nem as tias da igreja concordam com ela, de tão absurdo que é).

Quando terminamos de colocar as coisas mais importantes dela na mala, voltamos à cozinha, onde apenas a Jack aguardava.

"Hãã... Cadê o Nick?", perguntei.

"Conversando com o cara da mudança". Então ela olhou para minha avó, abrindo um sorriso daqueles feitos propositalmente para convencer: "Eu e você vamos na frente, de carro. A gente pode até fazer umas paradas no caminho pra senhora descansar. Os meninos vão ficar pra cuidar das coisas mais pesadas".

Não teve como minha avó negar. Era como um convite agradável de um passeio com a nora que ela pediu a Deus (mas que nunca vai ter).

O plano era esse: de colocarmos todas as coisas dela no caminhão de mudança sem que ela estivesse presente. Se ela ficasse, poderia mudar de ideia ao ver a casa esvaziando. Obviamente pegamos apenas as coisas dela (inclusive as caixas com roupas antigas de meus falecidos avô e mãe). Na casa da frente, que é onde meu pai mora, nem tocamos. A sorte é que minha avó não tem tantos móveis grandes. Apenas o básico do básico preenchia os poucos cômodos da casinha de fundo. Então, enquanto minha cunhada fazia a viagem com minha avó até Vale do Ocaso, eu com o Nicolas e o cara da mudança fomos agilizando o restante.

Me senti um pouco inútil em algumas coisas, já que as partes mais pesadas foram eles que levaram. O Nicolas, que havia tirado os pinos da perna recentemente, era mais prestativo que eu. Nem parecia que meses atrás ele tinha sofrido aquele acidente horrível de fratura exposta.

Tentei ajudar com o sofá de três lugares, mas não consegui dar nem três passos com aquele peso. Era como se todos os meus músculos não prestassem para nada além de me manter em pé. Fiquei então encarregado dos pormenores, como cadeiras, mesinhas de canto, e todo o restante de caixas que usamos para guardas objetos. As coisas do altar religioso eu coloquei num lugar separado, pois seria a primeira coisa que minha avó iria querer montar na Casa das Flores.

Quando eu me mudei para o Pântano dos Mosquitos, não levei quase nada, então não havia sido complicado. Foi só ontem que percebi como mudanças são cansativas. Esse processo de guardar coisas em caixas e acomodar no caminhão levou a manhã toda, e parte do período da tarde.

Teve um momento em que meu telefone tocou. Era o Jonas, que estava encarregado de vigiar meu pai. O gelo tomou conta de minhas veias, e chamei a atenção do Nicolas antes de atender, para que ele ouvisse a conversa. Atendi no viva voz:

"E aí Jack, beleza?", cumprimentou meu primo, fingindo que estava falando com a noiva. Isso era um sinal. Significava que meu pai estava com ele, ouvindo a conversa, e meu nome deveria ser evitado. "Então... Eu encontrei meu tio no caminho de casa, e trouxe ele pra um barzinho aqui. Vou demorar um pouco pra voltar pra casa, mas... Não vou demorar muito não, tá?"

Era o sinal para não enrolarmos. Perguntei:

"Por quanto tempo mais você acha que consegue enrolar ele?"

"Então, acho que daqui a uma hora mais ou menos eu devo estar saindo daqui."

"Quando isso acontecer, dá um toque pra gente, tá? Mas tenta segurar ele até que a gente dê o aviso".

"Beleza, amor, te amo".

E desligou, me dando uma sensação muito esquisita de ouvir isso vindo de meu primo, mesmo sabendo que era um fingimento. Sério, foi esquisito.

O que havia acontecido era que meu genitor alcoólatra discutiu com alguém no bar em que estava, e foi emburrado na direção de casa. O Jonas, que estava de guarda, fingiu esbarrar com ele no caminho, e o convenceu de irem para outro lugar. Se não fosse por isso, aquele nojento fedendo a pinga teria nos pego em meio à mudança, o que não seria nada bom.

Comecei a guardar os objetos de minha avó de qualquer jeito, sem me preocupar tanto com o que ia onde. A prioridade era terminarmos rápido.

A casa dos fundos foi ficando cada vez mais vazia. Os locais onde grandes móveis foram retirados tinha uma marca forte no chão e na parede, como se um fantasma de poeira estivessem assentados ali. Nossos passos geravam um pequeno eco nos cômodos. O último item que guardamos foi o filtro de água feito de barro, que estávamos usando para matar a sede de tempos em tempos. Quando esvaziei o filtro e fui ao banheiro pela última vez, olhei para o local com um estranho sentimento.

Eu não achei que me sentiria assim, mas me senti. Foi uma espécie de tristeza que se apossou de mim, como se uma parte minha estivesse adormecendo no passado, para sempre. O que me aliviava era que essa parte que adormecia era uma das que tinha as piores lembranças possíveis. Não que as lembranças tenham se apagado junto com essa mudança, não é isso. Mas senti como se aquilo fosse um marco importante na minha vida – apesar de a mudança ser de minha avó, e não minha.

Ver a casa onde cresci vazia realmente causou essa estranheza.

O Nicolas parou ao meu lado.

"Já está com saudades?", perguntou.

Dei um riso curto e respirei fundo.

"Não chega a ser saudades. È uma mistura de despedida com alívio. Tem um pouco de tristeza e alegria junto. É esquisito..."

"Talvez seja você fazendo as pazes com você mesmo". Ele se curvou para beijar minha testa toda molhada de suor. Devia estar salgado. Me virei para ele, pronto para puxá-lo para um selinho, mas ouvi a aproximação do cara da mudança, e desisti.

Quando eu estava fechando o cadeado do portão da casa, aproveitei que o homem estava distante, e sussurrei para meu namorado:

"Nick... Valeu mesmo. Nem sei como agradecer por isso. Vou compensar de alguma forma, pode ter certeza..."

"Do que está falando? Eu só dei uma ajuda pra guardar as coisas no caminhão", riu ele, acariciando meu cabelo.

"Não... Tô falando de você e a Jack terem cedido a Casa das Flores pra ela. Vocês não precisavam ter feito isso. Ainda assim..."

"Para com isso. Não precisa se preocupar em compensar de forma alguma. Você fez por mim até o impossível, Zak..."

Eu, com o cadeado do portão na mão, recebi um selinho rápido, no meio da calçada. Devo ter ficado vermelho, porque senti as orelhas ferverem. Ele riu e foi para o caminhão, se acomodar na cabine da frente.

O Nicolas não aprende. Sabe que fico sem jeito com demonstrações públicas de afeto, mas... Acho que gostei. Se não tivesse sido isso, eu certamente ficaria com clima de velório, já que "fazer por ele o impossível" implicava em coisas ruins das quais tento não ficar lembrando. No fim das contas, o beijo inesperado deu aquele pequeno choque no coração misturado com um calor no peito, dissipando minhas memórias sobre morte e sangue na estrada de terra.

Apenas quando me acomodei na cabine e ouvi o motor sendo ligado é que mandamos mensagem o Jonas, avisando que ele podia parar de se fazer de agente secreto. Uns dez minutos depois, vimos pelo retrovisor o carro dele nos acompanhando na estrada.

Durante toda a viagem minha vontade era a de abraçá-lo. Mas estávamos na cabine do caminhão de mudança junto ao motorista, então me limitei a me distrair com a paisagem, quieto, enquanto o Nicolas se animou a conversar coisas aleatórias com o caminhoneiro. Ele tem essa facilidade com as pessoas.

A certa altura da viagem, toquei meus dedos nos dele, que estavam apoiados no banco. Com minha visão periférica, percebi que ele deu uma rápida espiada, mas eu estava com o olhar fixo janela afora. Ele segurou minha mão sem que o caminhoneiro notasse. Sorri silenciosamente, entrelaçando nossos dedos, secretamente grato por ele existir.

Quando chegamos na frente da Casa das Flores, o carro dos Belson já estava lá na frente, e tanto o portãozinho quanto a porta da frente estavam aberta. A Jaqueline e minha avó estavam sentadas na varanda, conversando. Quando a parte de trás do caminhão foi aberta, minha avó colocou as mãos na boca:

"Minha Nossa Senhora, vocês pegaram tudo mesmo!"

"Só as coisas da sua casa", enfatizou Jack. "Na casa da frente eles nem tocaram. Seu filho tem tudo o que precisa lá, não precisa se preocupar".

Pela cara que minha avó estava fazendo, "não se preocupar" seria difícil naquele momento. Ela é o tipo de mãe/avó que opina em tudo em sua vida, mas dá todo o básico que precisamos para viver. Às vezes fazendo até mais do que deveria, tipo limpar a casa do filho escroto dela, que não levanta um dedo nem pra limpar os pingos de mijo que deixa na privada. E mijo de alcoólatra fede mais que o normal, já que o desgraçado bebe mais cerveja do que água.

Enfim. Descarregamos o carro e ajudamos a recolocar todas as coisas no lugar. Como a Casa das Flores é maior que a edícula onde ela morava, acabou sobrando bastante espaço. Tenho certeza que com o tempo isso vai acabar incomodando ela.

Enquanto arrumávamos tudo lá dentro, a Dona Maionese apareceu na calçada para ver o que estava acontecendo, já que a Casa das Flores é exatamente na frente da casa dela. Isso foi uma distração para minha avó, que começou a conversar com ela e fofocar sobre a própria vida, explicando sobre as ameaças do filho. Tenho certeza de que não demora uma semana para os outros vizinhos da Rua Pelicanos – que eu sequer conheço – logo estarem sabendo de detalhes sobre a minha vida.

Cheguei a pensar se essa coisa de fazê-la se mudar para lá havia sido uma boa ideia, mas a outra opção era te-la nas mãos do genitor carrasco. Minha culpa não permitiria isso.

A casa antes vazia começou a tomar forma de lar apenas quando o sol já estava quase se escondendo no horizonte. Horário curioso onde o céu se pinta de cores maravilhosas enquanto os mosquitos te rodeiam sugando sangue de lugares onde nem se sabia haver veias.

Pedimos para minha avó deixar o celular no modo avião por uns dias, ligando-o apenas em emergências – que esperamos não ocorrer. Acontece que se ela deixar o celular disponível para ligações, o desgraçado (que eu infelizmente não posso chamar de "filho da puta") vai encontrá-la, porque ela não sabe fechar o bico nem para salvar a própria vida.

No final da noite ficamos por lá, fazendo companhia a ela, e lá mesmo ajudei a Jack com a janta – sob o olhar acusador de uma senhora que acha que homem na cozinha é mais errado que fazer bolo sem bater a clara em neve. Ela ficava olhando pra mim e pra minha cunhada, às vezes encarando meu primo, mas não disse nada. Tenho certeza que minha avó apenas lamentava por eu não ser o noivo que vai subir no altar com ela. Eu sou o cunhado, que dorme com o irmão gato da noiva.

E por falar no Nicolas, tenho pra mim que ele só conseguiu ficar mais à vontade porque o Jonas e o Lucas estavam lá. Minha avó perguntou quem era a mãe do Pinguinho, e fez cara de limão azedo quando entendeu a arquitetura "destroçada" da família Belson, com uma criança crescendo sem a presença da mãe, e tendo um pai homossexual.

Ooohh, que tragédia! Um veneno para nossa sociedade. Mas tudo bem ir na missa e dar veneno pro gato, ou falar mal dos outros pelas costas. Isso é normal.

Bom, a verdade é que ela não pronunciou uma palavra sequer quando o Nicolas contou que nunca namorou a mãe do Lucas. Mas convivi com a peça desde sempre, então sei que ela pensou algo do tipo quando fez aquela cara. Mas o assunto da geração de Lucas não durou muito. Estávamos todos muito cansados, e voltamos para o Pântano dos Mosquitos. Já meu primo, resolveu ficar com ela e dormir na sala.

"Farei isso nos primeiros dias, até que ela se acostume com o lugar", disse ele.

Uma boa desculpa para estar a poucos metros da noiva, mas acredito que o Jonas realmente queria ajudar. Minha avó não é avó dele, já que ele é primo por parte de minha falecida mãe, mas como ele morava perto, ficava sempre por lá, então ela meio que acabou sendo avó dele por tabela, pois ele nunca conheceu os dele.

Hoje o dia foi tranquilo e não aconteceu muita coisa fora do padrão, já que tivemos bastante movimento na Belson's Flora. Minha avó veio para conhecer, e ficou numa cadeira a maior parte do tempo, observando o movimento ou tentando se comunicar com o Lucas, que não parava no lugar.

Em certo momento, veio a pergunta:

"Como será que ele está?"

Dei de ombros, apenas para deixá-la irritada. Ela nunca gostou dessa resposta silenciosa que mais significa "estou pouco me fodendo", do que de fato um "não sei".

Mas é verdade que não sei, ainda, como o genitor ficou. Talvez ele demore um pouco para perceber diferença, já que a casa dele não foi mexida. Apenas quando o ser desprezível precisar de alguma coisa é que ira chamá-la, e não vai ter seu desejo de reizinho de merda atendido. Certamente vai gritar, gritar, até decidir levantar a bunda do sofá e ir até os fundos para jogar alguma agressão na própria mãe que não lhe responde. SOmente nessa hora ele verá a casa toda vazia, ecoando os chamados do desgraçado.

E nessa hora, minha amiga... Ah, nessa hora eu queria ser uma pequena mosca filmando tudo. Ver a cena do bebezão que não sabem nem se lavar direito no banho, pois o nojento sempre sai de lá ainda com cheiro ruim. Queria ter uma forma de espiar ele fervendo de raiva sem entender porra nenhuma. Queria degustar esse momento em que ele percebe que até a mãe o deixou, por não suportar a presença dele.

Eu consigo sentir um pouco do que ele talvez sinta, pois foi assi que me senti a vida toda, abandonado pela própria família por eu ser quem sou.

Essa vingança com meu genitor vai ser ligeiramente insossa, pois não sentirei o gosto que pretendo. Não verei a pedra caindo na água, apenas perceberei as ondas que a queda vai gerar.

E fico aqui, apenas torcendo para que não virem tsunamis destruidores, porque já estou cansado disso.

Amiga, obrigado por mais uma vez ter a paciência de ler essas divagações. Às vezes acho que minha raiva acaba transparecendo mais do que eu pretendia. Esqueça isso, e finja que não falei nada.

Que sua noite seja tão agradável quanto o toque da brisa fresca no verão. Boa noite, irmã.




Com todo o carinho da autora:

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