Quando A Vida Acontece - Vol 3

By MariMonteiro1

1K 426 93

Crescer nunca foi fácil, mesmo que já se seja adulto. Ella e Allison estão de volta, a primeira tentando resg... More

Prólogo
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Capítulo 36
Capítulo 37
Capítulo 38
Capítulo 39
Capítulo 40

Capítulo 21

25 10 1
By MariMonteiro1

Allison precisava tomar algumas providências no dia seguinte. A primeira era um remédio para dor de cabeça e alguns galões de água. A segunda era se livrar de Hunter.

-Pô, Allie, parece que tem uma banda de metal tocando na minha cabeça - Ele resmungou.

-Bem-feito. Qual foi o trato? Você não dorme aqui. Você nunca dorme aqui – Ela respondeu, o sacudindo.

-Eu apaguei e você também.

-Mas agora eu acordei e você também. Vaza, Hunter.

Allison dividia os caras com quem fazia sexo em algumas categorias: Havia os que ela não sabia nada a respeito, ficava apaixonadinha, lamentava por ele sumir no dia seguinte, nunca dava certo; Era a essa categoria que Luca havia pertencido um dia. Havia os pintos amigos, normalmente não tão amigos assim, com quem ela tinha liberdade suficiente para mandar desaparecer antes que o dia amanhecesse; Hunter era um desses. E havia a categoria dos melhores amigos, aqueles que tinha tanto medo de perder que o peito doía e a garganta fechava, e aí cometia o desatino de dormir com eles e acabava perdendo-os mesmo. Desse tipo, só houve o Dylan.

-Não ganho nem um café da manhã? - Hunter se sentou na cama e esfregou o rosto.

-Mas é muita folga! - Allison respondeu, se vestindo. - Usa o meu corpinho e ainda quer que eu cozinhe pra você?

-Você cozinha bem pra cacete, Allie.

-Eu sei. Se você sair da minha cama em cinco minutos, eu te faço um waffle, mas só isso.

-Não ganho nem um mel no waffle?

-Aí você paga por fora.

Allison, agora de calça de moletom e cropped, o que era uma calça de moletom e uma cropped a mais do que ela estivera vestindo há poucos minutos, abriu a porta e foi para a cozinha. Bebeu água com a sensação de que todas as suas células encarquilhadas pela desidratação voltavam a se expandir e começou a fazer o waffle pensando que era por isso que ela não se casava, era o cúmulo, acordar de ressaca e ainda ter de fazer café da manhã para marmanjo, mesmo que na realidade ela fosse fazer café para si própria e dar a Hunter uma pequena parte.

-Tem queijo na massa? - Hunter saiu do banheiro e se sentou em um dos bancos que ficavam em frente à bancada que separava a cozinha da sala.

-Sério, vou começar a te cobrar. E é claro que tem queijo na massa. Que tipo de pessoa você acha que eu sou?

Hunter pegou um waffle do prato e o colocou na boca.

-Você devia cobrar mesmo por isso, Allie. Devia ter seu próprio restaurante – Ele disse, com a boca cheia.

-Já que você faz gastronomia, quando é que vai ser a sua vez de cozinhar?

-Não posso, minha culinária é refinada demais.

-Tá me chamando de grossa?

Hunter riu e não teve tempo de responder, pois o interfone tocou. Havia esquecido que tinha marcado com a Sophia de manhã, pois mais tarde tinha combinado de refazer o longo caminho até a Malu e aprender a fazer empadas. O único problema era a amiga ver Hunter tão cedo na sua casa. Não que Sophia ligasse, pois entrou falando:

-Menina! O viking!

-Eu não disse? Eu prometi pegada, eu entreguei pegada – Allison falou, feliz. Depois parou e pensou: - Você ficou com ele, né?

-Fiquei! Deu certo! Nada na minha vida dá tão certo tão rápido! Você disse que ele era gato, ele era gato. Gostei dele, ele gostou de mim. Você prometeu pegada, ele tinha uma puta pegada.

-Tem, eu sei – Allison sorriu, satisfeita consigo mesma.

-Ei! Vocês vão falar de homem comigo aqui?

-Você devia ter saído há uns quarenta minutos. Então, sim – Allison respondeu.

-Ok – Ele pegou mais um waffle. – Se sair agora, ainda pego o café da manhã do Frank. Tchau, galera.

-Quem é Frank? - Sophia perguntou.

-Alguém com café da manhã. Mas me conta. Vocês só ficaram ou rolou...?

-Rolou tanta putaria, amiga! Mas tanta! - Sophia pegou um waffle e se sentou no lugar onde Hunter estivera para relatar todos os detalhes sórdidos.

-Mas assim, fica desapegada, viu? - Allison advertiu. - No momento ele anda meio focado em ser pai. E antes disso o foco dele também não era namoro.

-Ai, ele é pai... - Sophia suspirou, desmaiando sobre o balcão. - É o meu primeiro pai. É preciso muito amor no coração pra isso, Allie. Será que não sobra nada...

-Nada. Acredite, eu já tentei.

Sophia ergueu os ombros com ar de dúvida, como quem preferia se dar mal pelas próprias pernas, e parecia bastante chateada até que Allison mudou para o assunto que realmente havia levado a amiga ali.

-Eu mandei fazer um aventalzinho pra você, pro dia do aniversário das gêmeas. Espere um minuto.

Allison trouxe um avental roma preto com dois bolsos. Ela também havia comprado um dólmã para si mesma. Sophia o experimentou e olhou o GrandMacey gravado na lateral.

-Ah, está tão lindo! E a lista de comidas, já está pronta?

Allison abriu o celular e começou a ler.

-Empanadas? - Sophia perguntou, na dúvida.

-Não, empadas.

-São como empanadas?

-Não, são uma comida brasileira que as gêmeas adoram. A Malu prometeu me ensinar a fazer. Vou lá hoje aprender.

Os olhos de Sophia imediatamente arregalaram:

-Eu devia ir também, né? Já que vou te ajudar?

-Ai, caralho, o que eu fui fazer? Você virou eu do início do ano, e eu era uma péssima pessoa pra ser, Sophia.

-Só estou curiosa para saber como é a casa sem toda aquela decoração - Explicou, como uma péssima mentirosa.

-x-x-x-

Já Baby acordou bem mais tarde, com a voz da filha no corredor. Ela fechou os olhos contra a dor de cabeça e soltou um gemido baixo. Havia comprimidos no armário do banheiro da suíte, ou ao menos era o que ela achava, pois nunca havia feito uso deles. Mas, por algum motivo, ultimamente as coisas vinham saindo do controle. Ela, que raramente ficava bêbada desde antes de Millie nascer, havia passado do ponto dois dias seguidos. E as brigas com Zach? Credo, o que significavam todas aquelas brigas com Zach?

Baby rolou para fora da cama enquanto Millie, ainda do lado de fora da porta, relatava tudo o que tinha feito naquelas poucas horas, que o café da dida tinha muffins, que Viv, Bella e o papai Victor iam entrar em um avião para ir para muito longe e emendou com mais alguma coisa que Baby não escutou. Ela colocou dois analgésicos na boca e os engoliu com uma água mineral que estava ao lado da cama. Mais preparada para enfrentar a vida, abriu a porta.

-Mamãe! - Millie abraçou a sua perna, e Baby sentiu o gritinho da filha no centro da sua dor de cabeça.

-Oi, garota. Como foi na casa da dida?

Millie repetiu toda a história enquanto Zach, encostado no aparador, tomava café em uma caneca e observava as duas. Baby levantou os olhos para ele e sorriu. O canto da sua boca mexeu um pouco, no limite de um sorriso de má vontade.

-Quero mais festa – Millie disse, pulando pela sala. - Mais festa! Mais festa!

-Acho que a de ontem já estava de bom tamanho – Baby falou, cada "mais festa" mandando uma ferroada de dor diretamente para o seu cérebro. Ela se levantou e deu um selinho em Zach: - Bom dia.

-Bom dia – Ele respondeu. Baby tentava sentir o terreno, mas não conseguia. Ele estava chateado? Indiferente? No seu humor normal?

-Tem café?

-Tem, na cozinha.

Primeiro, Baby bebeu mais um pouco de água. Depois, se serviu de café sem açúcar. Embora a vantagem da cafeína, no seu caso, sempre tivesse sido mais psicológica que qualquer outra coisa, ela necessitava de todo o apoio que pudesse conseguir. Quando voltou para a sala, Millie estava trazendo os seus brinquedos com a ajuda do Zach.

-Seguinte – Ele disse. - Hoje fiquei de almoçar com a minha irmã. Imagino que você não queira ir?

-Com a Grace? - Baby levou um susto. Na sua mente, ela havia deixado de existir quando saiu do apartamento deles.

-É a única que eu tenho – Ele não conseguiu controlar o sorriso. - Queria levar a Millie, mas você pode ficar e dormir mais um pouco, se quiser.

-Por que você não me disse que a gente tinha esse almoço? - Baby perguntou, intrigada.

-Porque não tínhamos. Ela ligou hoje de manhã e aí eu tive a ideia. Quer ir?

"Nunca nem me pergunte uma coisa dessas", Baby pensou, mas teve o bom senso de não o dizer em voz alta.

-A gente não precisava conversar e tal? - Ela quis saber.

-Certeza. Mas, se esperamos até agora, dá para almoçar primeiro.

Dava. E aí ela teria tempo para se curar da ressaca, porque DR com uma bigorna sobre a cabeça não dava. Zach era um cara incrível até quando estava chateado com ela. Havia lhe dado uma tarde com a casa em silêncio, exatamente o que ela precisava para se recuperar.

Enquanto Baby fechava as cortinas e se arrastava de volta para a cama, Grace ficava muito feliz em ver Millie e vice-versa. Ela deu à sobrinha uma Matrioska (Que era da própria Grace, mas ela achou que Millie se divertiria mais), e a menina passou o almoço tirando bonecas uma de dentro da outra e enfileirando na mesa, e depois as guardando novamente. Aproveitando a distração, Grace se lamuriou por não ter ido à festa.

-A maior festa de Halloween de Londres, eu cheia de contatos e não fui convidada.

-Não era a maior festa de Halloween de Londres.

-Era a maior que eu poderia ir – Ela disse, enrolando seu macarrão no garfo. - Por que mesmo estou proibida de ver a família da sua mulher?

-Você não está proibida, Gracie. E você nem falou que queria ir.

-Porque só soube quando foi tarde demais.

Verdade seja dita, Zach gostaria mesmo que Grace tivesse ido. Ele normalmente transitava pelo reduto da Baby, e isso não o incomodava. Mas, na noite passada, havia sido diferente. Foi a primeira vez desde que ele e Baby estavam oficialmente juntos em que se sentiu sobrando, o que não fazia sentido, pois a família dela costumava ser bastante acolhedora.

Por outro lado, se Grace visse Baby fumando um baseado com Victor no terraço do loft, ela falaria pelos próximos vinte anos.

-Adivinhe. Acho que tenho um emprego – Grace falou.

-Sério? De verdade?

-De verdade. Vou ser recepcionista em um prédio para idosos. Coisa super chique.

-É? O que você tem de fazer?

-Basicamente ficar na portaria sorrindo e atender o telefone, como uma telefonista glorificada. Como artista, merecia um emprego com mais criatividade, mas esse pelo menos vai pagar as minhas contas e me tirar das suas costas.

-Gracie, posso ajudar sempre que você precisar – Zach apertou a mão dela.

-É, mas isso te causa problemas com aquela pessoa – Ela falou, sem querer citar nomes na frente da Millie.

-Mais um problema, menos um problema, não faz diferença - Ele falou, mais para si mesmo, mas Grace até largou o garfo e se sentou na beira da cadeira em expectativa:

-É? Que problemas?

-Não importa, Gracie. Mas aquela história que você falou, sobre eu não ser o pai – Ele apontou discretamente para Millie, que fazia suas bonecas conversarem umas com as outras. - Talvez você tivesse razão.

-Talvez, não. Eu tinha... Aliás, eu tenho razão.

-Se alguma coisa acontecer entre mim e a mãe dela - Mais uma vez, ele não completou. - ...eu perco o contato com a Millie.

-Você pode pedir paternidade socioafetiva.

-O que é isso?

-O que você faz, só que com registro na certidão de nascimento.

-E isso anula o outro cara? - Ele perguntou, interessado.

-Não, só acrescenta você. Pelo menos segundo eu pesquisei. Procure um advogado. Mas, sabe, essa iniciativa devia ter partido dela. Ela te deve isso.

Zach estava bem mais tranquilo no caminho de volta para casa, depois daquela conversa. Millie entrou no apartamento correndo na frente, e Baby, com os cabelos molhados de um banho recém tomado, a pegou no colo e a encheu de beijos. Millie mostrou a boneca Matrioska.

-Quem te deu, Millie? Foi o papai?

-Não, foi a tia Gracie. Olha – E começou a tirar as bonecas de dentro umas das outras para mostrar como funcionava.

-A tia Gracie, é? - Baby levantou os olhos para Zach. - Ela arrumou um emprego?

-Na verdade, sim – Ele respondeu. - Como recepcionista em um condomínio para idosos. Começa amanhã.

-Que bom pra ela. E pra gente – Ela riu, de bom humor.

Era difícil brigar com a Baby de bom humor, porque ela ficava divertida e doce. Também era difícil brigar com a Baby de mau humor, porque ela ficava um demônio. O problema era que, ao alterar humores, muita coisa havia se passado e acumulado, e eles terminaram completando um ano juntos com a sensação de que eram tão inexperientes como no primeiro dia.

-x-x-x-

-Com quantas coisas dá para experimentar! - Allison falou, empolgada, enquanto ela, Malu e Sophia comiam empadas na cozinha.

-As tradicionais são frango, queijo, camarão e palmito, embora eu não recomende nem camarão e nem palmito em festa de criança - Malu explicou. - Camarão, muita gente é alérgica e, quanto ao palmito, ninguém gosta. Mas dá para tentar com qualquer coisa mesmo.

-Chocolate? - Sophia arriscou.

-Sim! Recomendo tentar qualquer coisa com chocolate.

Quando Allison e Sophia chegaram à casa da Malu naquela tarde, não havia um único resquício da festa, muito menos da decoração elaboradíssima da noite anterior. Era como se absolutamente nada tivesse se passado. O almoço de domingo havia sido cancelado para que cada um pudesse se recuperar na sua própria casa e do seu próprio jeito, e o lar da Malu estava anormalmente calmo, parecendo que não tinha mais ninguém ali além do pequeno grupo na cozinha.

Para tristeza de Sophia.

-Com o tempo você pode ir me ensinando mais coisas, né, Malu? Para eu poder diversificar meu cardápio? - Allison perguntou, empolgada.

-Claro! Eu não me lembro de muitas coisas, porque estou aqui há quarenta anos e a minha mãe era meio tirana, mas o que eu souber, pode deixar que eu te ensino.

-Oi – Elas ouviram uma voz masculina atrás delas e se viraram, Sophia mais rápido que todo mundo. Luca entrou na cozinha com Noah no colo, e a amiga de Allison voou para ele.

-Que bebezinho mais lindo! Nossa, como ele é bonito! Você já viu, Allie? Já viu como ele é fofo?

Foi tão exagerado que chegou a ser cômico.

-Posso pegar no colo? Posso? Ele estranha?

-Não, pode pegar – Luca respondeu, pensando que era verdade que Noah não estranhava ninguém, mas ele nunca havia ido com alguém tão descompensado. - Opa, é empada?

-Sua mãe está nos ensinando para o nosso buffet – Allison falou, animada. - Aliás, trouxe o avental e o dólmã para você ver como ficou com a logo que você criou. Achei incrível.

-Você que criou a logo, Luca?

-Foi ele, sim, Malu. Olhe só! - Allison tirou os objetos de uma sacola que havia levado e, dali a pouco, Sophia estava dizendo.

-Adorei a logo. Ficou perfeita. É bem a ideia e a essência do buffet. Parabéns, Luca.

Ele olhou para ela, divertido e um pouco surpreso, e agradeceu enquanto pegava uma mamadeira e começava a prepará-la.

-Ficou muito bom, Allie - Ele disse. - E putz, você vai fazer empada. Não tem como dar errado.

-Eu estou ajudando a Allie – Sophia falou, ainda com Noah no colo.

Allison estava começando a sentir vergonha.

-Você então já tem tudo, Allie? - Malu perguntou.

-Já. Tenho o cardápio, a logo, as roupas, vou buscar os cartões amanhã, os insumos, só vou deixar para comprar mais perto os ingredientes frescos, como as frutas e os legumes. Estou bem nervosa. Por favor, não diga isso para a Angie. Para ela, diga que estou plena e plácida.

-Pode deixar – Malu riu. - Mas vai dar tudo certo. Você tem muito talento.

Quando elas resolveram ir embora, Malu falou que Luca as levaria. Que Noah ia adorar o passeio e era "muito longe para aquelas meninas voltarem sozinhas".

-Nossa, Malu, imagina! - Allison falou, enquanto Sophia morria de felicidade.

-Eu levo de boa – Luca respondeu, ainda devorando as empadas que restavam sobre a ilha. - O Noah vai gostar mesmo de dar uma volta.

Para a tristeza de Sophia, Luca a deixou em casa primeiro. E, para o seu desconsolo infinito, ele passou um bom tempo de papo com a Allison em frente ao prédio dela, com Noah adormecido pelo movimento do carro.

-Imagino que aquela história de querer se apaixonar antes de morrer não vai rolar com a Sophia.

Luca riu:

-Ela é gente boa.

-Ela é super gente boa. Não tire hoje como parâmetro, ela estava meio abestalhada – Allison brincou. Depois ficou séria e falou: - Viking, sabe aquela história de que seus pais eram melhores amigos?

-Sei – Ele disse, olhando a rua à frente.

-Como eles sabiam que ia dar certo? Que eles ainda iam estar juntos depois de tanto tempo?

-Acho que eles não sabiam, Allie. Acho que ninguém sabe. Você só espera. Deve ser assim que funciona, eu sou o cara mais ignorante no mundo nessa área.

-Você acha que eles vão ficar juntos pra sempre?

-Haha Normalmente as pessoas acham que os pais não vão se separar – Ele disse. - Mas eu penso da seguinte forma: O que importa não é o desfecho, é a viagem, entende?

-Pfff, claro que não! - Allison riu. - Uma vez fui à Paris antes de começar a faculdade, e juro que a semana que passei lá foi muito melhor que as cinco horas que fiquei amassada dentro do carro, minha amiga Liv contando um monte de histórias repetidas e a irmã dela comendo salgadinho e enchendo o banco de farelo.

-Você entendeu o que eu quis dizer, Allie. Você só não está preparada pra aceitar – Ele disse, enigmático.

-x-x-x-

Baby fechou a porta do quarto de Millie e foi para o escritório, onde Zach estava ao computador. Ela se sentou no sofá-cama que haviam comprado para hóspedes antes de saberem que Grace faria dele praticamente sua casa. Ela já estava com a roupa de dormir, com a calça de pijama e uma regata, mesmo que tivesse dormido praticamente o dia todo e estivesse completamente sem sono.

-Valeu por hoje – Ela falou. - Eu estava precisando dar aquela descansada.

-Tranquilo – Ele respondeu, sem tirar os olhos da tela.

-Estou atrapalhando?

-Não, tô só relendo.

-Você não costuma trabalhar domingo à noite.

Zach girou na cadeira para ficar de frente para Baby.

-Tô atrasado. Tenho que entregar dois capítulos até o fim da semana.

-É? - Ela perguntou, espantada. - Você tá sempre tão relaxado. Não sabia que rolava esse tipo de pressão.

-Cara – Zach deu uma risada curta e sem humor e acabou não continuando a frase. Ele voltou para o computador e Baby ficou confusa, pensando o que ela havia feito daquela vez.

-Sério, Zach, por que você tá sempre bravo comigo?

-Eu não tô sempre bravo com você - Zach resmungou. - Mas porra, a gente tá junto há um ano e você não sabe como o meu trabalho funciona.

-Eu sei que não é pornografia – Ela falou, com a voz cantada.

-Parabéns, Baby.

Ela suspirou, cansada. Estava exausta de brigar e toparia qualquer negócio para que seu relacionamento com Zach voltasse ao que era antes. Parecia que, desde que resolveram morar juntos, haviam desencadeado uma maldição. Alex tinha perguntado por que eles não se casavam, que diziam que era pecado, que ela foi morar com o Mick antes de casar e por isso ficou pirada, não, já era pirada antes, etecétera e tal. Talvez Alex estivesse certa.

-Me explique tudo. Eu estou interessada.

Zach olhou para ela de lado e voltou sua atenção para o computador.

-Sério, me explique como funciona! - Ela insistiu.

Ele sorriu e passou os próximos quinze minutos explicando para a Baby como era todo o processo editorial na Inglaterra, que aquele cara com quem ela quase colidira bêbada na festa da editora era o seu agente, o responsável por ligar para ele de cinco em cinco minutos e ficar o apressando quando ele tinha coisas muito interessantes para fazer, como passar o dia com ela e com a Millie, por exemplo.

-Passar o dia com a gente é mesmo muito legal – Baby disse, a cabeça descansando sobre os braços na escrivaninha do Zach. Ele começou a fazer um cafuné distraído nos seus cabelos.

-Só que a gente precisa estabelecer algumas coisas.

-Como o quê?

-Lembra quando a gente conversou na festa da família da Millie? Que você disse que eu era o pai na prática?

-Aham – Ela respondeu, com os olhos fechados.

-Então, Baby. Se o Victor te consulta sobre a Millie dormir lá e me ignora, eu não sou o pai na prática. Se eu digo que estou na dúvida e vocês tomam uma decisão de qualquer maneira sem ouvir o que eu tenho a dizer, eu não sou o pai na prática. Não tô tentando tomar o lugar do Victor, mas quero saber qual é, de fato, o meu papel nessa história. Se eu sou só o pai quando o Victor está presente ou não.

Baby abriu os olhos e endireitou o corpo.

-Você é o pai o tempo todo. A Millie te chama assim.

-A Millie me chama assim porque vê as outras crianças chamando os pais na creche, Baby. Eu sei que eu passo o dia com ela, que tenho um relacionamento ótimo com ela e tal. Mas aí o Victor chega, eu sou excluído.

-É por causa da Viv. Ela ama aquela garota.

-Por você também, Baby – Ele interrompeu.

Baby ficou olhando para Zach, pasma:

-Você está com ciúmes?

-Isso não tem nada a ver com ciúmes.

-Porque eu te falei que o Victor não tem papel nenhum na minha vida – Ela se defendeu.

-Eu acredito. Mas aí ele chega e tudo é decidido entre vocês dois. Vocês dois decidem que a Millie vai dormir lá, aí eu vou botar a Millie na cama, saio e vocês dois estão fumando um beck e fazendo piada com a porta da passarela e, se não fosse pelo Tommy, eu não saberia até agora sobre o que vocês estavam falando.

-Desculpa. Não foi minha intenção - Baby falou, os olhos baixos.

-Não é só sua culpa. A gente não definiu isso – Ele disse, apaziguador. - A gente foi com a corrente e não parou para pensar em coisas importantes.

-É, mas eu pisei na bola. A gente vai conversar as decisões sobre a Millie, sim. É o certo. Te chamei para fazer parte dessa família e você faz parte. Me desculpa se te dei a sensação em algum momento de ser excluído, porque você não é. Você é parte essencial da gente.

-É?

-Claro que é. Falei bonito, né?

-Pra cacete.

-Você podia dar um jeito de inserir isso no seu livro.

-Vou fazer isso, assim que terminar a putaria – Ele riu.

Continue Reading

You'll Also Like

35.8K 1.8K 8
Versão completa do livro em breve na Amazon 🏆 Vencedor do Prêmio Wattys 2021 🏆 A busca pela perfeição e o aumento da população mundial a níveis crí...
56.4K 5.1K 69
Essa mina rouba minha brisa, Acelera o meu coração...
2.1M 174K 107
Os irmãos Lambertt estão a procura de uma mulher que possa suprir o fetiche em comum entre eles. Anna esta no lugar errado na hora errada, e assim qu...
1.1M 157K 93
Trilogia COMPLETA ⚠ ATENÇÃO! Este é o segundo livro da trilogia A RESISTÊNCIA, a sinopse pode conter spoilers. Após descobrir que Emily faz parte da...