Quando A Vida Acontece - Vol 3

By MariMonteiro1

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Crescer nunca foi fácil, mesmo que já se seja adulto. Ella e Allison estão de volta, a primeira tentando resg... More

Prólogo
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Capítulo 36
Capítulo 37
Capítulo 38
Capítulo 39
Capítulo 40

Capítulo 7

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By MariMonteiro1

"Oi. Eu fiquei muito ansiosa quando você me mandou uma solicitação de amizade e tenho passado esses dias todos esperando um contato. Como ele não aconteceu, imagino que esteja tímida, talvez? Receosa?

É muito estranho, pois não sei como você é na realidade. Não sei se é introvertida, se teria medo de se aproximar ou se é audaciosa. Tenho uma imagem mental sua. Bom, na realidade, a imagem exterior é muito clara, e sei que você virou uma mulher linda e sua beleza é sucesso no mundo inteiro. Por dentro, não sei nada a seu respeito, mas imagino que esteja no mínimo curiosa sobre mim, ou não teria me adicionado.

Gostaria de dizer que, quando quiser, estou disponível para conversar sobre o que desejar"

Ella terminou de ler em voz alta. Já havia lido para si mesma umas duas vezes, o coração martelando contra as costelas, e agora levantou os olhos do tablet para o Tom, com expressão de "O que você acha?"

Ele estava sentado na poltrona do apartamento dele, ela na poltrona em frente, cercada da sua bagunça habitual: livros, textos, laptop, celular, tablet. Desde que começara o curso de administração, vivia estudando ou ameaçando estudar nos intervalos que fazia para visitar o pai e procurar a mãe. E agora uma das Mary Christabel havia entrado em contato. Por um acaso, não era aquela com cuja foto havia cismado, mas a outra, uma loira.

-A loira, é? - Ele deu um sorriso torto.

-A loira! Será que ela pinta o cabelo? Ou é uma doida que me reconheceu das revistas e está se dizendo minha mãe? Depois da mãe da Mia que se fingiu de cega para ganhar uma casa, eu não duvido de nada.

-Onde ela mora?

-Londres.

-A gente pode investigar.

Ella olhou para Tom, simplesmente maravilhada com a ideia.

-Isso! Foi exatamente a ideia que eu tive quando a mãe da Mia apareceu, e o Dave me chamando de louca! Ainda bem que você me entende, grandão! Ok, naquela época eu tinha bem mais tempo sobrando, mas ainda assim eu acho que ainda tenho os bonés...

-Espera, você quis dizer "a gente investigar"? - Ele riu. - Eu estava pensando em contratar alguém.

-E que graça tem isso? - Ella perguntou, desapontada. - É rápido e impessoal.

-Tá, e você quer a versão longa e pessoal.

Ah, sim. Porque, quanto mais longo fosse, mais tempo Ella teria para se acostumar com a ideia.

A Mary Christabel tinha razão. Ela não sabia nada a seu respeito. E Ella não sabia nada a respeito dela. Poderia nem ser uma boa pessoa, o que era bem provável, pois havia sumido completamente da vida de três crianças. Ao mesmo tempo, ela queria perguntar, precisava ter certeza.

Mia sabia que sua mãe não prestava. Podia se afastar de consciência limpa, pois lhe dera até chances demais. Ella queria o mesmo. Se reconectar com aquela mulher ou se afastar para sempre, mas por motivos reais. Sabendo de quem se tratava a pessoa que a colocara no mundo.

-E como a gente faz do seu jeito, além de usar boné? - Tom perguntou, curioso e levemente divertido.

-Também precisa de óculos escuros.

-Tenho.

-E a gente vai precisar ficar de tocaia, logo precisamos de um carro que não seja chamativo.

-Mas a gente vai ficar de tocaia onde? A gente só sabe que ela mora em Londres.

-Putz, eu sou um fracasso! - Ella falou, quando se deu conta. - É claro que não posso procurar a mulher em Londres inteira!

-Mas no perfil dela do Facebook pode ter mais informações.

-Tom, você é um gênio - Ela sorriu.

-É por isso que eu sou conhecido.

Eles descobriram através da rede social que Mary Christabel tinha uma banca de bijuterias em Camden Town. Pelas fotos que publicou no seu perfil, ela era meio metida a bruxa ou simplesmente gostava de coisas exotéricas. Não havia absolutamente nada ali que Ella usaria. Achou que isso já era um ponto negativo no teste de maternidade.

-Ok, você chega lá, ela vende mesmo bijuterias. O que a gente faz em seguida?

-Não sei.

Silêncio.

-Tom, você jura que não consegue ter nenhuma ideia?

-Não - E acrescentou: - Foi mal.

Ella não se deu por vencida e foi atrás de pessoas mais criativas. Mandou uma mensagem no celular e se levantou:

-Vamos, grandão. Vamos ver se o Tommy tem alguma sugestão.

Tommy sempre tinha mais ideias. Tom era um cara prático, Tommy pertencia ao mundo da lua. O problema é que Tom era pai do Tommy e, em comum, possuíam apenas o nome. Para piorar, Tommy achava um constrangimento sem tamanho que sua melhor amiga namorasse o seu pai, por mais que tentasse ser adulto a respeito. E, ainda assim, terminaram os quatro (pois Louis, mais uma vez, compareceu) sentados a uma mesa do bar, Louis com um vinho caro, Tommy e Ella bebendo Aperol, Tom com uma caneca de cerveja. Ella abriu o bloco de notas do celular e perguntou para a plateia:

-E então? O que preciso investigar?

-Não é melhor contratar um detetive? - Louis, outro homem prático, quis saber.

-É rápido e impessoal – Tom explicou.

-Se ela é loira mesmo ou se pinta o cabelo de loiro – Tommy disse.

-Claro! Filho, você é brilhante! - Ella exclamou, anotando. E, ao ver que Tom a olhava perplexo, ela encolheu os ombros e deu um sorriso tímido. - Piada interna. E o que mais?

-Já sei! Já sei! - Tommy exclamou, empolgado. - Veja com quem ela conversa, porque são pessoas a quem você pode perguntar sobre ela. Descobrir se ela é de Londres, se tem o seu sotaque bizarro...

-Não tenho sotaque bizarro! - Ella protestou. - Tá, não tenho mais.

-Quando eu te conheci, não entendia metade do que você dizia.

-Eu sei, ninguém entendia – Ella revirou os olhos e voltou para as suas anotações. - Cabelo loiro, sotaque, o que mais?

-Eu ia querer saber se ela se casou de novo, teve outros filhos, sei lá - Louis opinou.

-Que puta sacanagem – Tom disse.

-Puta sacanagem do caralho – Ella concordou. - Larga uma família para trás para arrumar outra?

-Não estou dizendo que foi o que aconteceu – Louis se defendeu. - Só que eu ficaria curioso para descobrir.

-Merda, agora estou curiosa também. Será que as fotos na página dela são de filhos dela? Será que eu tenho irmãos?

Ella ficou olhando a lista, tamborilando as unhas sobre a mesa, enquanto os homens ao seu redor davam um gole em suas bebidas.

-Eu tinha que pedir a ela uma prova de que é minha mãe. Documento, uma foto antiga.

-E fica ligada, Ella – Tom falou. - Há uns anos, uma prima da mãe do Eddie apareceu. A mulher era autêntica, mas estava atrás do dinheiro dele. Arrancou uma grana e sumiu de novo.

-Sério?! - Tommy falou, chocado. - Isso também é uma puta sacanagem do caralho.

-É só para você ficar esperta.

-Eu estou esperta.

E Ella sinceramente achava que estava. Que havia construído uma muralha separando seu coração daquela mulher e que nada que descobrisse a desiludiria. Não esperava nada da Mary Christabel, logo tudo de bom que acontecesse seria lucro, e tudo de ruim a deixaria na estaca zero. Podia perfeitamente funcionar se acreditasse nisso. No sábado iria à feira, a observaria de longe, veria se era loira pintada e se tinha sotaque bizarro, pediria uma prova e conversaria com ela. Só isso. Um bate-papo desinteressado.

"Mas será que eu tenho alguma ligação com essas pessoas?", Ella se perguntava mais tarde, olhando a foto da suposta família da Mary Christabel na tela.

-Ei – Tom disse, sonolento, ao seu lado.

-A luz do tablet está te incomodando? - Ela perguntou, sentindo que era puxada através de galáxias de distância.

-Não. Você não vem dormir? - Ele ajeitou o travesseiro atrás do corpo para ficar sentado.

-Eu já venho. Eu estava pensando...

-Uma coisa sempre superperigosa. É por isso que eu penso o mínimo possível.

Ella sorriu. Ela gostava e estava imensamente grata por ter o Tom ao seu lado durante a maior encruzilhada da sua vida. Passaria por ela sozinha, mas seria um caminho imensamente chato e solitário. Quando o problema foi a mãe da Mia era tão mais fácil julgar.

-Você conhece a minha família. A parte sóbria da minha família, pelo menos. Meu pai não é fácil, meu irmão é um babaca, mas nós éramos crianças, cara. Não meu pai, claro, mas ele era um marido tão ruim assim? Nós éramos tão insuportáveis que ela precisou ir embora, não porque não gostasse de ter família e filhos, mas porque não gostasse da gente?

-Ella, a gente não sabe porra nenhuma – Ele a envolveu nos seus braços e ela pensou que aquele era um lugar muito bom de estar. - E na boa, aquela mensagem que ela escreveu não pareceu ser de alguém que não gosta de você. Pareceu ser de alguém que teve outros motivos para ir embora e agora está louca para se aproximar. Não estou dizendo que são motivos nobres, mas espera.

-Tá - Ela disse, sem muita convicção.

Mas é que não havia nada mais que ela pudesse fazer.

Naquela noite, longe da cidade, Allison estava sentada em uma confortável cadeira gamer, levando a surra da vida dela e xingando criaturas que pareciam um cruzamento entre o cão do inferno e um duende.

-Eles não morrem!

-Eles sofrem pouco dano, eu falei para você distrai-los com as torres – Luca falou na maior calma, enquanto agitava um chocalho na frente de Noah.

-As torres acabaram comigo da outra vez, viking! Você quer o meu fim! Você quer me aniquilar, acha que eu não sei?! É o seu sangue nórdico sedento por morte para homenagear Thor ou Odin ou sei lá o nome da porra do seu deus.

-Eu não tenho sangue nórdico - Luca deu uma risada deliciosa. - Sou meio brasileiro, meio eslavo.

-Não foram vocês, eslavos, que dizimaram até os nazistas?

-Eles mereceram.

Allison girou na poltrona, seu personagem perecendo no meio de um círculo de animaizinhos esquisitos, com cara de brava. Luca tinha de admitir que ela ficava uma graça fingindo braveza.

-Eu desisto.

-Você desiste fácil.

-Mentira. Mas você falou que eu podia criar quem eu quisesse, eu fiz uma sacerdotisa de gelo linda e maravilhosa e que eu pensei que fosse ser a dona da porra toda, você só não me falou que ela não infligia dano nenhum e morria fácil.

-Na verdade, eu disse, sim – Ele coçou a nuca.

-E é isso que você fica fazendo com o príncipe?

-Príncipe?

-O Jake.

Luca riu.

-Você gosta de inventar apelidos.

Antes que Allison respondesse, o interfone do loft tocou. Era a mãe de Luca chamando-os para jantar. Ele pegou Noah, alguns brinquedinhos barulhentos e perguntou a Allison se ela não queria xingá-lo no caminho, pois ele estava morrendo de fome.

-Mas sim, esse é o jogo que eu fiz com o Jake – Luca explicou, enquanto eles cruzavam o quintal. Allison estava de folga no trabalho e apareceu para fazer uma visita, motivada por vontade de ver o Noah, uma inexplicável saudade daquela família e o fato da comida lá ser maravilhosa.

-E o que acontece agora?

-A gente coloca em um site para divulgar e, se der certo, a gente fica rico.

Allison parou de andar, boquiaberta. Luca deu três passos, notou que ela não o acompanhava e virou para trás:

-O que foi?

-Vocês vão ficar mais ricos? Por que pessoas ricas ficam mais ricas? Eu passo o dia anotando pedidos dos outros, pago as contas e tudo que consigo é ficar mais pobre.

-Eu não sou rico.

-Viking, você disfarça muito bem.

Ele olhou para ela de lado, fingindo estar contrariado, e ela provocou:

-Ok, pobre menino rico, e é difícil vender seu jogo?

-Pra cacete. Mas eu acredito que vai dar tudo certo. Vamos ver aonde a vida nos leva.

-Você é um viking new age – Allison comentou e Luca deu uma gargalhada, enquanto abria a porta da sala com a mão livre para ela passar.

Já estavam todos à mesa de jantar: Malu, Eddie, Lily, Mateus, Angie, Josh, as gêmeas. Victor havia voltado para os Estados Unidos após a festa da Millie e, enquanto se servia, Lily reclamava que precisava arrumar um camarote na igreja.

-Um o quê? - Várias vozes perguntaram.

-Um camarote, como em teatro. Fui dizer para a Alex que ela era uma convidada VIP, agora ela quer um camarote.

-Você explicou para ela que igreja não tem camarote? - Angie perguntou.

-Você já tentou explicar qualquer coisa para a Alex? - Josh respondeu uma pergunta com outra.

-Uma mesa de frutas.

-Oi?

-Alex quer uma mesa de frutas tropicais no camarote.

-Eu posso cortar um abacaxi e colocar em um potinho para ela beliscar durante o casamento – Malu disse. - Me passe o Noah, Luca, eu fico com ele para você jantar.

-E você, mãe?

-Eu comi pra caramba hoje. Eu, Lily e Mateus fizemos a prova do bufê.

-Estou me sentindo mal por ainda estar com fome – Mateus deu um sorriso tímido.

-Eu, não. Cada comidinha do tamanho de uma unha, mamãe - Lily respondeu.

-A gente pode botar um laço de fita em volta da Alex e dizer que um camarote de igreja é assim – Malu continuou.

-A gente pode pendurá-la em um lugar alto pelo laço de fita. Com o abacaxi em um potinho – disse Eddie.

-Por favor, só não a pendurem pelo pescoço - Disse Josh.

Após o jantar, em que várias formas de transformar a Alex em convidada especial foram debatidas, Allison pegou uma carona com Lily e Mateus até a cidade. No caminho, seu celular vibrou:

Loly: Por onde você anda?

Allison: Fui visitar o viking.

Loly: Sério? Você não via tanto o viking quando saía com ele.

Allison: Correção. Eu NÃO via o viking quando saia com ele porque ele é um cachorro com pavor de compromisso. Mas, como amigo, ele é bem decente.

Loly: Sabe quem também é um amigo muito decente?

O coração da Allison perdeu uma batida e, quando voltou, estava bem mais rápido que o normal.

Allison: Toda vez que eu falo do viking, você vai e cita seu irmão.

Loly: Na verdade, eu não citei. Foi ele que perguntou por você.

-É aqui, Allie? - Lily perguntou, encostando o carro. Allison, que não fazia ideia onde estava, levantou o rosto com o susto e deu de cara com o prédio onde morava.

-Ah, é, sim. Obrigada, Lil! Tchau. Tchau, Mateus.

Assim que saiu do carro, ainda na calçada, ela não se conteve e perguntou:

Allison: O que ele queria saber?

Loly: Como você estava. Só isso.

Sentindo-se incrivelmente enganada e decepcionada, Allison disse que precisava ir, mas perguntou se Loly não gostaria de passar no seu trabalho no dia seguinte para baterem um papo.

Loly: Sua chefe me odeia.

Allison: Você compra um chá e ela vai te adorar.

Loly: Ok. Tenho duas clientes e depois passo lá.

Mas, no dia seguinte, quem entrou no bistrô onde Allison trabalhava foi Dylan. Ela ficou apoplética vendo-o entrar e se sentar a uma mesa, pensando que aquela danada daquela patricinha lhe havia armado uma cilada. Loly havia sido tão maligna que provavelmente lhe dissera quais mesas ela atendia, pois foi uma delas que ele pegou. Allison pensou em ignorar, mas isso faria com que a gerente lhe chamasse a atenção, e só faltava, acima de tudo, arrumar problemas no trabalho por causa dele. Portanto, tirou o bloquinho e o lápis do avental e se aproximou, rainha do gelo e cheia de dignidade.

-Em que posso ajudar? Hoje recomendo o sanduíche de brie e presunto de parma. Está uma delícia.

Ele sorriu, como se não estivesse ocupando lugar no bistrô.

-Oi, Allie. Podemos conversar?

-Ah, vai ser mesmo o sanduíche? Ótima escolha – Ela anotou no bloquinho. Não era a sugestão do dia, não de verdade, mas era o item mais caro do cardápio. - E para beber?

Ele fez um ar entre o perdido e o desesperado. Não deixava de ser uma graça e, por causa disso, Allison anotou:

-Chá de camomila – Deu meia-volta e saiu.

O problema é que era um dia de pouquíssimo movimento e não era fácil ficar focando os olhos na porta do bistrô, esperando entrar alguém, enquanto sabia estar sendo observada. Ela sentia o olhar do Dylan sobre ela o tempo todo, o que tornava seus movimentos inteiramente falsos e lhe dava nos nervos. Por fim, o pedido dele ficou pronto e ela foi colocá-lo sobre a mesa dele.

-A gente não pode nem conversar mais, Allie?

-Falar de boca cheia é falta de educação.

-Allie... - Ele pediu com uma voz meio gemida.

-Eu estou trabalhando, Dylan! Você vai fazer com que eu seja despedida!

-Não tem ninguém aqui!

-Não importa. Eu não posso me sentar e conversar com clientes – Allison respondeu, torcendo para que Loly não tivesse dito que ela vivia se sentando e conversando com a amiga. Ah, mas se tivesse, ela também não se importava.

-Que horas você sai?

-Às dez.

-Eu espero.

Eram oito da noite.

Dylan se virou para a sua comida, deu uma mordida no sanduíche e tirou o celular do bolso para se distrair pelas próximas duas horas. Estava sendo um dia monótono, parado, o que normalmente significava tédio e falta de gorjetas. Allison, quando sentia que Dylan estava distraído com o celular, arriscava algumas olhadas na sua direção. Sua ligação com ele ia muito além da beleza e estava muito mais no conforto de saber que ele estava perto, do calor que isso trazia à sua alma, na paz que era saber que ele estava ali. Até que tudo isso foi abruptamente arrancado dela.

Às dez para as dez, ela se aproximou novamente de Dylan com uma notinha na mão:

-Vamos fechar.

-Ah, ok – Ele ergueu um pouco o corpo para pegar a carteira no bolso de trás da calça jeans. Pagou a conta com cartão de débito e deixou algum dinheiro.

-Só isso de gorjeta? Que pão duro.

-Hum – Ele achou até que havia sido generoso, mas entendeu que a intenção de Allison era castigá-lo, portanto deixou um pouco mais de dinheiro. Ela guardou sua gorjeta no bolso do avental e foi para os fundos se trocar.

Seu look de dia entediado de trabalho era calça jeans, moletom e tênis. Não era arrumadinha como a Daisy, mas nunca pretendeu ser como ela mesmo. Ela saiu do vestiário e Dylan estava esperando na porta da lanchonete.

-Você esperou mesmo – Ela resmungou, não querendo demonstrar que estava admirada.

-Eu falei que ia esperar.

-É, mas não devia, porque amanhã de manhã eu tenho de estar na faculdade.

-Só que você precisa ir para casa, e posso falar com você enquanto isso.

Allison não disse nada. Continuou andando, Dylan ao seu lado. Por fim, ele falou:

-Se eu fui grosso na forma de falar com você, me desculpe.

-Você foi.

-Então me desculpe.

Ela não respondeu.

-Mas não retiro o conteúdo. Me senti, sim, usado por você. Não rolou nada entre a gente, e eu não posso ficar solteiro para sempre porque você se afastou. Isso não faz sentido.

Allison parou de andar e olhou para ele:

-A Daisy, Dylan! De todas as garotas do mundo, você resolveu namorar a Daisy! Me diz se não foi para me provocar!

-Não foi para te provocar. Eu gosto da Daisy. Aconteceu, não foi planejado. Mas por causa disso você não pode ser minha amiga? Seu problema é mesmo com a Daisy ou é ciúme?

-Era só o que me faltava – Allison revirou os olhos e desceu rapidamente as escadas do metrô. Dylan foi atrás.

-Porque, de boa, Allie, o que a Daisy fez pra você além de largar uma louça suja e não gostar da sua música? A Loly não gostava da sua música.

-A Loly lavava a louça.

-Ok, você odeia uma pessoa por causa de louça?

-É... É muito importante lavar a louça quando se divide o apartamento com alguém.

-Mas vocês nem moram mais no mesmo apartamento!

Uma conversa entre os dois para que eles se acertassem lentamente se transformava em uma defesa da Daisy, o que estava tendo o efeito oposto e deixando Allison mais irritada ainda.

-A gente era amigo, Allie – Ele disse por fim. - Sinto falta disso. Do que a gente tinha.

Ela ficou muda, pois sentia muita falta também.

-E, se você não está com ciúmes, a nossa amizade não pode depender de quem a gente namora.

-Se eu namorasse alguém mau caráter, você não ia ficar puto? - Ela perguntou, se odiando por estar apelando, em uma completa falta de argumentos.

-A Daisy não é mau caráter.

Não era mesmo. O trem de Allison chegou e ela entrou, e fez sinal para que Dylan não a acompanhasse.

-Eu preciso ruminar essa história. Se você vier junto, vou acabar com mais raiva.

As portas se fecharam e Dylan ficou parado na estação, as mãos nos bolsos, olhando para ela. Allison não conseguia tirar aquela imagem da mente. Ela sabia que estava sendo irracional, mas não conseguia agir de outra forma.

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