Get Me Out

By ownthe-night

469K 29.9K 30.4K

Nos últimos dois anos tudo o que eu mais queria era não ter que ir àquele manicômio todos os meses para visit... More

Shadows
Loud Thoughts
Unplanned Changes
Church Bells and Phone Calls
Acknowledging Madness
Dream up, Dash off
Catalyst
Highways, Neighborhoods and Lies
Everything I Want, Everything I Need
Antidepressants and Sense of Humor
Taped Confessions
I Dont Want You To Leave
Wait Outside
Forget the Shelves, See the Irony
Brittle it Shakes
Karma
Take Shelter
One love, one house; No shirts, no blouse
Dazed and Kinda Lonely (part I)
Strung out, a Little bit Hazy (part II)
Telekinesis
Concilium
Tic-Tac
In the Clear Yet? Good.
Rewind
I didn't mean to fall in love tonight
Over (part I)
Red Liquors and Silver Keys
Wednesdays
Hi
Until You Come Back Home
Write it down
Caos, herself

When did We Grow Old?

14.9K 821 392
By ownthe-night

Depois de voltas e mais voltas, eu entendi. Eu finalmente entendi porque duas pessoas andam de mãos dadas quando estão juntas. Por toda a minha vida eu imaginei ser algo relacionado à possessividade. "Isso é meu", "ela é minha", ou algo assim. Mas oh Deus, como eu estava errada. Não tem absolutamente nada a ver com possessividade.

É sobre manter contato.

É sobre falar sem vocalizar uma só palavra. É o “eu quero você comigo” e o “por favor, não vá”. É o sentimento com o toque. É o “eu te amo” físico.

Ela sempre segurava minha mão.

~~

“Amor...” Tentei chamar atenção da mulher inquieta ao meu lado. O par de olhos castanhos escaneava o saguão em puro fascínio e chegava a brilhar toda vez que o painel eletrônico atualizava e mostrava novos horários de embarque. Segundos depois ela vira o rosto e me lança um sorriso nervoso. “Você está bem?”

“Eu acho que sim.”

“Como está seu tornozelo?”

“Dolorido, mas sem dúvidas melhor que semana passada.”

Assenti enlaçando minha mão com a dela.

“Você está congelando”, falei fechando o espaço mínimo que havia entre nós.

Era início da tarde de uma sexta-feira gélida e eu agradeci mentalmente por termos escolhido a última terça-feira como dia para fazer compras de Natal. Sofia parecia uma criança em loja de doces quando ligamos pra ela e a convidamos para passar a tarde gastando com presentes e bobagens. As irmãs conversaram, riram e mataram a saudade desde a última vez que se viram. Uma sensação nostálgica me socou o peito quando eu tive que alertar a mais nova sobre o horário e tive que levá-la de volta pra casa a tempo antes que Sinu ou Alejandro voltassem.

A quantidade de compras que fizemos naquele dia fez com que Camila não pensasse muito sobre a despedida em si, e eu fiquei grata ao vê-la desempacotando as roupas que Taylor e eu insistimos que ela aceitasse. Não era como se eu não quisesse que ela usasse as minhas – muito pelo contrário –, mas ela ainda tinha uma longa jornada até escapar do estado anoréxico, e boa parte do que eu vestia parecia três vezes maior do que ela. Era inverno, Camila precisava de roupas justas. Ela não teve outra escolha a não ser assentir e aceitar.

Terça-feira foi um bom dia.

“Eu não estou com frio”, ela diz.

“Você quer comer alguma coisa? Eu acho que tem algumas máquinas próximas ao banheiro.”

Fiz uma careta ao vê-la negar com a cabeça.

O aviso de embarque no portão G ecoou nos alto falantes do aeroporto e as órbitas escuras se arregalaram. Aquilo me fez rir.

“Eu só estou cansada.”

A fila para a compra de passagens parecia andar mais rápido que esperávamos, e assim que minha atenção retornou para o painel eletrônico, o garoto sorridente atrás do guichê 3 chamou o casal que esperava na nossa frente. Nós éramos as próximas.

“Quer ficar com a Taylor nos bancos lá do outro lado?” Indaguei. “Talvez você consiga acalmar ela.”

“Ok”, ela diz. “E por falar nisso, o que ela tem? Hoje de manhã eu tentei falar com ela, mas ela simplesmente não conversava ou falava uma só palavra.”

“Lembra quando eu te disse que eu fiquei surpresa por ela aceitar viajar e falar com nossos pais pela primeira vez desde a internação?” Camila balançou a cabeça positivamente. “Pois é, a ficha meio que caiu e eu acho que ela se arrependeu de ter aceito. Ela não fala comigo também.”

“Oh...”

“Mas você pode tentar falar com ela. Sei lá, nem que seja pra fazer um monólogo ou algo assim. Ela precisa de alguém lá.”

“Eu vou ver o que dá pra fazer”, ela sorri e me dá um selinho rápido. “Não demora.”

“Eu não controlo isso, querida”, falei brincando e mordi o lábio inferior ao vê-la rolar os olhos.

A observei se afastar e caminhar em direção ao saguão de espera. Antes que eu pudesse me virar e prestar atenção no que acontecia em minha volta, a senhora que esperava atrás de mim na fila apontou gentilmente para o balcão, indicando que o guichê 5 havia liberado.

“Três passagens para Miami, por favor.”

~~

“Por que demora tanto?” Camila indaga. A perna direita balançando sem parar estava começando a me dar nos nervos.

“Demora o quê?”

“O avião. Taylor. O tempo. Praticamente tudo.”

“Houve um atraso com o vôo”, expliquei verificando as passagens em mão. “E Taylor deve ter se distraído com alguma coisa no caminho. Camila, pare de tremer, eu estou falando sério”, estalei a língua girando o tronco na cadeira onde estávamos sentadas.

“Eu nunca entrei em um avião”, ela confessa. As mãos tremelicando em cima das coxas me fizeram rir.

“Sabe, uma vez eu li que é mais provável você ser atingida por um raio do que morrer em um acidente aéreo.”

 As órbitas castanhas se arregalam em puro horror.

“E isso soa como algo que você quer?!” Camila exclama.

“Eu só estou dizendo que as probabilidades de acontecerem alguma coisa são tipo, mínimas. Então literalmente, não tem com o que você se preocupar.”

“Lauren... Apenas... Cale a boca. Cale a droga da boca, isso não tá ajudando.”

Mordi o lábio tentando conter o riso. Ela levanta o braço me empurrando para longe dela na cadeira e dessa vez eu não consigo me controlar.

“Camila...” Falei enlaçando meus braços ao redor da cintura fina contra a vontade dela. “Meu amor, eu só tô brincando.”

“É, eu percebi.”

Ergui o rosto para encará-la. O traço de medo ainda presente nos olhos me fizeram perceber o quão insensível eu estava sendo.

“Ok, de verdade. Nós vamos sentar uma do lado da outra. Você pode segurar a minha mão durante a viagem inteira.”

“Eu tenho medo...”

“Eu sei. Eu sei disso, e desculpa por rir”, depositei um beijo estalado na bochecha rosada. “Olhe pra mim”, pedi.

Ela baixa a cabeça, ligeiramente irritada com a situação. Segundos depois, finalmente cruzamos olhares.

“Vai ser rápido, ok? E hey, eu posso te dar algumas dicas. Já que você é tão inexperiente e está com tanto medo assim.”

“Okay...”

“Quando nós entrarmos, a aeromoça vai explicar como você vai colocar o cinto e vai dar algumas dicas de segurança. Não se preocupa, é apenas um procedimento padrão.”

Ela franze o cenho. Me lança um olhar desconfiado antes de jogar o cabelo para trás.

“E depois disso o avião vai decolar”, continuei. “Como você nunca voou, provavelmente vai ficar bem incomodada com a pressão nos ouvidos, mas isso é normal.”

“Isso não tá ajudando.”

“Você quer falar sobre outra coisa?” Propus. “Porque nós podemos.”

“Sua irmã não quis conversar comigo,” ela diz coçando a nuca. “Eu posso estar até com medo e apreensiva de pegar esse avião, mas eu também tô preocupada com ela.”

“Chris é bom com ela”, admiti. “Ele vai saber o que fazer quando nós chegarmos.”

“Mas não deveria ser assim. Taylor e eu somos melhores amigas. Eu deveria ser boa com isso, não Chris.”

“Você está com ciúmes?” Sorri. “Que bonitinho.”

“Não é ciúmes... É só... Eu sinto que ultimamente eu tenho deixado ela de lado, sabe? Eu não sei se isso faz sentido, mas é como se nós estivéssemos na mesma casa, no mesmo lugar, mas aquela conexão de antes... Eu não sei, algo mudou. Não é a mesma coisa.”

“Eu entendo. Eu sei exatamente do que você está falando.”

“Sabe?”

“Camila, antes de Taylor entrar na clínica, eu costumava conversar com ela sobre tudo. Mas com o tempo... É como você mesma disse: Algo mudou. Você passou a ser a confidente dela, e eu tive que aceitar. Claro, na época eu nem sabia que era pra você que ela contava tudo, mas o fato de ela não me contava quase nada quando eu ia visitar ela todos os meses, já me dava uma dica de que havia uma terceira pessoa. Eu só não tinha certeza.”

“Mas Chris nunca liga.”

“Isso é de antes. A conexão deles é de infância. Pra Taylor, Chris é o tipo de pessoa que ela não precisa manter contato pra poder ligar às três da manhã e desabafar. Ela só precisa discar o número dele e falar, sabe? Eles têm isso.”

“Eu só queria poder ajudar”, Camila murmura. “Mesmo com esse clima de que algo possa ter mudado. Eu ainda me preocupo.”

“Ela sabe disso, amor. Ela sabe.”

“É estranho eu me sentir substituída?” Ela ri baixinho. “Eu só queria voltar a ser a confidente dela.”

“Você é a minha confidente”, falei afundando meus dedos nos cachos escuros.

“É?”

“Aham. E eu não pretendo te trocar ou te substituir, então pode ficar tranquila.”

“Você é fofa.”

Rolei os olhos tentando não rir.

“Hey”, ouvimos uma voz familiar nos chamar. “O avião vai embarcar em vinte minutos, vamos logo.”

Encarei minha irmã com cautela ao levantar. Torci o nariz ao perceber os olhos inchados e rosto vermelho.

“Onde você estava?”

“No banheiro”, respondeu sem levantar o rosto.

Eu sabia que ela tinha passado os últimos dez minutos chorando, e me cortava o coração saber que eu não podia fazer absolutamente nada pra ajudar. Não era o meu colo ou o de Camila que ela precisava. Era o de Chris.

“Tay, você está bem?”

Ela assente minimamente e engancha os dedos na mala alta que estava aos pés de Camila. As rodinhas começam a deslizar pelo piso frio e depois disso eu não obtenho resposta alguma.

Vai ser uma longa viagem.

~~

A primeira coisa que eu fiz ao aterrissarmos em Miami foi ligar meu celular. Não pude conter um sorriso bobo ao ver as duas mensagens que meu irmão havia enviado na última hora.

Ashley e eu acabamos de chegar no aeroporto. –C

Diga a Taylor que eu sinto falta dela. Mamãe mandou abraços. –C

E diga a Camila que eu estou ansioso para conhecê-la :) –C

“Ele quer te conhecer”, comentei com a Cabello assim que passamos pelo portão de desembarque.

“Quem?” Ela indaga enquanto sofria para desenroscar o cachecol do pescoço e abrir os botões do casaco. O clima era sem dúvidas uma das coisas que eu mais gostava daqui.

“Chris.”

“Oh...”

“Ele mandou alguma mensagem?” Taylor perguntou animada enquanto puxava a mala atrás de si.

“Yeap. Mamãe mandou abraços, ele está com saudades suas e Ashley veio junto.”

 “Quem é Ashley?” Camila pergunta.

“Namorada dele”, sorri. “Cristo, onde fica o portão de desembarque?”

“Ele disse onde ia nos esperar?”

“Não... Nós estamos andando em círculos ou é impressão minha?” Encarei a placa indicando os portões B e C. “Já passamos por aqui, não?”

“Sempre perdida”, a voz grave acompanhada de um risinho fraco ecoou atrás de nós e meu coração pareceu dar um pulo.

Gritos histéricos de uma determinada caçula foram tudo o que pudemos ouvir nos dois primeiros minutos. Ashley parecia se divertir com a cena dos irmãos e me cumprimentou com um sorriso largo no rosto. Ela estava linda e tinha um brilho diferente nos olhos desde a última vez que eu a havia visto.

Para a minha surpresa, Camila não pareceu acanhada ao cumprimentá-la, e de cara as duas pareceram clicar. Seja lá o que isso signifique.

Entretanto, quando foi a vez de Chris, a pobrezinha virou um pimentão com a sequência de elogios.

“Quando Tay me falou que você era bonita, eu não esperava isso”, ele disse em um tom brincalhão.

Senti meu estômago revirar quando ela apoiou a cabeça em meu ombro e escondeu o rosto entre o meu cabelo na tentativa falha de escapar das palavras de aprovação de meu irmão.

Quando estávamos indo em direção ao estacionamento, tentei não rolar meus olhos no momento em que ele enlaçou o braço em meu pescoço e bagunçou meu cabelo do mesmo modo que ele costumava fazer quando éramos menores. Minha mão direita estava ocupada segurando minha bolsa, e a esquerda segurava com dificuldade a meia dúzia de casacos e moletons que eu havia tirado no caminho. Só me restou rir e curtir a demonstração de afeto do mais novo.

Taylor, Camila e Ashley pareciam ter uma conversa animada atrás de nós, então eu tentei não me preocupar muito.

“Ela é linda, Lauren”, o escuto falar baixinho. “De verdade, eu estou orgulhoso.”

“Orgulhoso?” Ri baixinho. “Do que você sabe, garoto?”

“Bom, você pode achar que não, mas eu costumo falar quase todas as noites com a Taylor por telefone, e bem... Ela me conta coisas.”

Engoli seco ao ouvir aquilo.

“Coisas?”

“Eu estou feliz por você, é apenas isso que eu tenho a falar.”

“Oh meu Deus...”

“Mamãe já sabe que ela vai vir?” Ele pergunta ignorando o fato de que minhas bochechas estavam tão vermelhas quanto as de Camila minutos atrás.

“Papai sabe dela... Mas dona Clara não faz ideia de que ela está vindo.”

“Ela vai gostar. Não se preocupa.”

“Você acha?”

“Yeap. Definitivamente.”

Sorri com as palavras. Nós já estávamos saindo do saguão principal, quando a ideia que eu havia tido nos últimos três dias voltou a piscar em minha mente. Eu poderia tentar, pensei. Chris jamais falaria não para aquilo.

Chris jamais falaria não para mim.

“Eu posso te pedir uma coisa?”

Passamos pelas portas automáticas. As três mulheres atrás de nós continuavam a conversar animadamente. Ele retira as chaves do bolso e estica o pescoço tentando localizar o veículo de nossos pais no meio da maré de veículos estacionados.

“Pode.”

“Você chegou ontem, certo?”

“Yeap.”

“Ok. Quando o papai te emprestou o carro... Ele falou alguma coisa sobre ir direto pra casa?”

O escuto rir ao meu lado.

“Nós não somos adolescentes, Lauren.”

“Tá, isso foi uma pergunta idiota. O que eu quero saber é se você pode pegar um táxi e levar Taylor pra casa.”

“Por que eu pegaria um táxi se Ashley e eu viemos de carro?”

“Porque você vai me emprestar o carro.”

“Eu vou?” Ele me lança um sorriso torto e eu balanço a cabeça fazendo que sim.

“Eu queria levar a Camila em um lugar antes de irmos pra casa”, admiti. “É importante.”

“E você não pode pegar um táxi?”

“Não.”

Ele parecia relutar e eu já estava começando a me arrepender de ter começado essa conversa.

“São quase cinco da tarde, o que você quer fazer agora?”

“Eu não posso falar.”

“Por que?”

“Porque eu não quero, Chris.”

“Ok.”

“Ok?”

“Eu não faço a menor ideia do que você tem em mente, mas desde que você me prometa que não vai se envolver em nenhum acidente ou arranhar aquela caminhonete... Eu não vejo o porquê de não deixar.”

Ele me joga as chaves e sorri.

“Eu já falei que você é o melhor irmão do mundo?”

[..]

“Antes de nós irmos pra minha casa, eu posso te levar em um lugar?” Indaguei baixinho enquanto abria a porta.

“Claro... Claro que pode.”

“Ok”, sorri nervosa. Inclinei a cabeça para o lado e foquei em meus dois irmãos e Ashley que conversavam animadamente ao lado de um táxi que Chris havia chamado. “Taylor, você vai ficar bem?”

Ela apenas assente e faz um coração com a mão no ar. Ri com o gesto.

“Eles não vão vir junto?” Camila pergunta assim que entramos no carro.

“Não. Agora é só eu e você.”

“Okay... E onde nós vamos?”

Mordi o lábio inferior sentindo meu estômago se contorcer. Eu estava nervosa não só pelo que eu estava prestes a fazer, mas também por medo de que ela escutasse meus pensamentos e tudo o que eu havia planejado nos últimos dias fosse por água abaixo.

Liguei a ignição e escutei o barulho das quatro portas travando. Ela me lança um olhar enigmático e ao mesmo tempo divertido. Eu não fazia ideia se ela estava tentando me ler ou não.

“Você vai gostar”, foi tudo o que eu disse.

Eu não cheguei a virar o rosto pra ver a carinha que ela havia feito após eu ter dito aquilo, mas eu escutei um risinho baixo com a mesma clareza que eu via a rua da frente. Talvez ela sabia, talvez ela não sabia.

Incógnitas. Camila era uma.

Não demorou muito até que chegássemos ao destino que eu havia escolhido há uma semana atrás em meus devaneios.

Estacionei ao lado da calçada larga e senti o olhar dela queimar sobre mim no segundo em que eu desliguei a ignição.

“Por que estamos na praia?” Ela indaga retirando o cinto.

Decidi não responder nada e apenas desci do carro contornando o mesmo para abrir a porta do outro lado.

“Lauren...”

“Você confia em mim?”

Sorri ao vê-la assentir sem hesitação alguma. O nó que havia se formado em meu estômago parecia dificultar meus movimentos, e tudo parecia se mover em câmera lenta ao meu redor.

Devido ao clima ligeiramente frio – que não chegava nem perto do gelo de Nova Iorque –, não havia praticamente ninguém na praia: Apenas um casal ou outro que caminhava preguiçosamente pela areia, nada mais que isso.

Ventava muito.

E era adorável vê-la arregalar os olhos diante da paisagem espetacular ou até mesmo quando tentava tirar o cabelo do rosto e fazia caretas quando uma nova rajada de vento colocava a franja teimosa no mesmo lugar de antes.

Decidimos sentar sob as rochas gigantes que ficavam perto de onde o carro estava. Senti meu peito doer quando eu estiquei minha mão para ajudá-la a subir e minha mente automaticamente lembrou do dia em que eu havia visto o pulso dela pela primeira vez.

Quem diria que isso teria acontecido há um mês atrás e que uma verdadeira enxurrada de coisas iriam se seguir. Quem diria que eu ia me apaixonar por ela.

O destino realmente é uma caixinha de surpresas.

“Me dê a sua mão”, pedi baixinho.

Camila coloca a mão sobre a minha e enterra o rosto em meu pescoço. O contraste da respiração quente e o vento gelado contra minha pele me fizeram tremer da cabeça aos pés.

“Por que você me trouxe aqui?”

“Porque eu quis escolher um lugar bem irônico pra fazer o que eu estou prestes a fazer.”

“E o que você está prestes a fazer?”

“Ah... Você já sabe.”

“Não”, ela levanta o rosto e me encara. “Eu sabia que você estava planejando algo, mas eu decidi não te ler nesses últimos dias por causa disso. Eu não queria estragar a sua surpresa.”

“Então—”

“Então não. Eu não faço ideia do que você vai fazer”, ela ri. “Me surpreenda, por favor.”

Por que ela era tão fofa? Por que o sorriso dela era a coisa mais viciante do mundo? Por que o som da risada dela era música aos meus ouvidos? Por que eu estava tão apaixonada ao ponto de ter a sensação de estar caminhando sobre nuvens?

“Okay...” Respirei fundo sentindo a brisa revirar meu cabelo. “Você perguntou por que eu escolhi esse lugar... Bom, antes de mais nada, eu preciso te falar que eu sou apaixonada pela praia. Eu cresci aqui. Bem aqui, onde nós estamos sentadas, foi o lugar onde eu vinha quando era adolescente pra escrever, passar o tempo e até mesmo chorar. Então é importante pra mim.”

“Você escreve?” Ela indagou surpresa. “Por que você nunca me falou isso?”

“Porque eu parei”, sorri. “Foi há muito tempo atrás. Mas quem sabe um dia eu volto.”

“Eu queria ler algo seu. Eu tenho certeza que a sua escrita é fantástica.”

“Você está fugindo do assunto”, mordi o lábio inferior. “Agora eu me perdi e não sei onde eu estava.”

“Que a praia é um lugar importante pra você...”

“Isso!” Estalei a língua rindo. “Isso. A praia é importante pra mim, assim como eu quero que ela seja importante pra você.”

“Eu não entendo...”

“Amor, você passou quase dez anos trancada em um lugar contra a sua vontade. Olhe pra onde você está agora. Olhe em volta.”

Ela sorri baixando a cabeça. Colocou a outra mão por cima da minha no instante que cruzou o olhar com o meu.

“É... Faz sentido.”

“Eu gosto do que a gente tem. Amo, pra falar a verdade. E é engraçado, porque eu nunca tive isso. Essa conexão nesse nível com alguém, sabe? É genuíno demais, Camila. E você não faz ideia do quanto eu prezo e valorizo isso que nós temos.”

“Você fala isso como se estivesse prestes a se despedir...”

“Não. Não, de forma alguma. Eu não vou me despedir de você. Eu não quero me despedir de você. Camila, isso é algo totalmente oposto de uma despedida.”

“Ok...”

“Na terça-feira, quando nós saímos pra fazer compras com a sua irmã e a Taylor, você deve ter notado que eu sumi por algumas horas...”

“Sim, eu incomodei as duas pra te ligar, mas você não atendia ou respondia nenhuma das minhas mensagens.”

“É. Bom, isso tem meio que a ver com agora.”

“Você enrola demais, meu Deus”, ela ri.

“Eu tô tentando criar um clima, ok? Faz parte do negócio.”

“É claro que faz...”

“Você já ouviu falar de uma pedra chamada Sodalita?”

“Não...”

“Eu pesquisei sobre ela na internet, e eu descobri que ela é a pedra da intuição e clarividência.”

“Oh...”

“E por uma coincidência, ela é da sua cor preferida. Violeta.”

“Como sabe que minha cor preferida é violeta?”

“Taylor me conta coisas”, balancei a cabeça.

Separei o enlaço de nossos dedos e segurei o pulso dela com delicadeza. Eu pude ver que ela pareceu ficar tensa de repente, mas logo entendeu o que eu iria fazer.

“Você é linda da cabeça aos pés e eu te amo de uma forma incondicional e inexplicável. Essas marcas, cada cicatriz que você tem aqui, foi feita antes de você me conhecer”, a fitei séria. “Camila, eu não sei o que vai acontecer quando você voltar pra clínica, mas eu não ligo. Nós vamos dar um jeito como nós sempre demos, ok?”

“Ok.”

“A partir de hoje eu não quero mais cicatrizes. Chega de marcas, chega de se machucar, chega de choro, chega de dor. Eu não quero que você sofra ou que você se coloque em uma posição onde você possa se ferir ou algo do tipo. Está me entendendo?”

Ela balança a cabeça positivamente e nesse mesmo instante eu percebo o quão dilatados os olhos castanhos estão.

Coloquei a mão em meu bolso e retirei o presente que eu havia comprado na última terça-feira, quando me afastei das meninas em um momento de pura distração das três.

“O que é isso?”

“Você já teve a sensação de não saber o que nós somos uma da outra?”

Camila não responde. O olhar interessado estava colado à pulseira dourada que eu tinha em mãos. Era muito similar à pulseira que Sofia havia me entregado no mesmo dia em que eu fui até Philadelphia. A única diferença era que, ao invés de borboletas douradas, a correntinha possuía pingentes de várias formas da pedra que eu havia citado antes.

“Já”, engoli seco. Pisquei algumas vezes antes de abrir o fecho e colocar a pulseira no pulso de Camila. “Ela é linda, Lauren.”

“Você não vai tirar ela, ok? Quando estiver na clínica ou em qualquer lugar. Por favor, não tire ela do braço.”

“Eu não vou.”

“Ok.”

“O que você quis dizer com o que nós somos uma da outra?”

“Eu tô cansada de chegar em algum lugar e te apresentar apenas como amiga. Você mesma sabe que nós somos muito mais do que isso.”

“Lauren...”

“Eu quero ter uma vida com você. Passar todos os dias do seu lado... Quero que você seja a primeira coisa que eu veja pela manhã. Entende o que eu quero dizer?”

“Sim”, ela sorri. “Sim, eu entendo.”

~~

Sabe aquela sensação de leveza? Que você pisa no chão, mas parece que não há impacto algum? A sua respiração fica leve, sua mente, suas ideias, o seu corpo. Tudo, absolutamente tudo, parece ser um mar de rosas e nada que te falem pode te abalar porque você simplesmente não liga. As bochechas doem de tanto sorrir, e você imagina mil cenários na sua cabeça, como se fosse um filme ou coisa do tipo.

Era exatamente assim que eu me sentia.

“Você vai falar o quê?”

“Eu não sei. Mas eu vou falar.”

Ela solta uma gargalhada e bate as mãos em pura animação.

“Oh meu Deus, isso vai ser intenso.”

“Você podia prever a cara que ela vai fazer. Quer dizer, você consegue?”

“Eu nunca tentei”, Camila admite. “Mas eu ainda não terminei de ler aquele livro, então... Tudo é possível.”

“Chris vai surtar, definitivamente.”

“Dinah!” Ela grita de repente. “Lauren, você precisa ligar pra ela.”

Sorri ao avistar a casa de meus pais no fim da rua.

“Eu ligo sim.”

Havia alguns vizinhos sentados na varanda da casa ao lado, e de vista eu consegui lembrar dos rostos familiares. Ao estacionar o carro, desligar a ignição e retirar o cinto, Camila colocou a mão sobre minha coxa e me ofereceu um sorriso terno.

“Eu te amo.”

E novamente, a dor nas bochechas parecia voltar com tudo. Era incrível como essas três palavras tinham um poder tão grande sobre mim.

“Eu também te amo”, me inclinei para dar um selinho, mas fui pega de surpresa por um par de lábios famintos. O arrepio que percorreu meu corpo me deixou em estado de puro êxtase, e se não fosse o desespero pela parte de Camila, eu provavelmente não teria apoiado o cotovelo no volante e consequentemente não teria apertado a buzina por acidente.

O pulo que nós duas demos no banco fez ela rir mais ainda.

Quando descemos, caminhamos de mãos dadas até a varanda e apertamos a campainha. Eu senti meu corpo inteiro tencionar quando escutei a voz de minha mãe ecoar no que provavelmente seria a cozinha. A sequência de passos cessou quando a maçaneta da porta foi girada, e a figura materna sorriu de orelha a orelha ao me ver.

“Lauren!”

O abraço apertado me fez relaxar e ter a sensação de que, apesar de tudo, isso aqui sempre seria o meu lar número um, e que independente de qualquer decisão que eu tomasse, eu teria o total e completo suporte da minha família.

Quando nos separamos, os olhos claros caíram sobre a mulher ao meu lado. Elas não se conheciam, e eu tinha quase certeza que meu pai não havia mencionado nada da nossa última conversa para ela. O que basicamente deixava minha mãe sem pistas ou dicas de quem Camila poderia ser.

“Você trouxe uma amiga!” Ela bate as mãos e sorri animada com a presença da visitante.

Ah, a ironia.

“Mãe... Essa aqui é a Camila, minha namorada.”

------

A/N: @gay_harmony :)

Continue Reading

You'll Also Like

877K 44.3K 69
"Anjos como você não podem ir para o inferno comigo." Toda confusão começa quando Alice Ferreira, filha do primeiro casamento de Abel Ferreira, vem m...
564K 29.7K 125
Nós dois não tem medo de nada Pique boladão, que se foda o mundão, hoje é eu e você Nóis foi do hotel baratinho pra 100K no mês Nóis já foi amante lo...
783K 60K 53
Daniel e Gabriel era o sonho de qualquer mulher com idealizações românticos. Ambos eram educados, bem financeiramente e extremamente bonitos, qualque...
242K 16.4K 47
Richard Rios, um homem de vinte e três anos que atualmente atua no futebol brasileiro na equipe alviverde, também conhecida como Palmeiras. Vive sua...