Get Me Out

By ownthe-night

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Nos últimos dois anos tudo o que eu mais queria era não ter que ir àquele manicômio todos os meses para visit... More

Shadows
Loud Thoughts
Unplanned Changes
Church Bells and Phone Calls
Acknowledging Madness
Dream up, Dash off
Catalyst
Highways, Neighborhoods and Lies
Everything I Want, Everything I Need
Antidepressants and Sense of Humor
Taped Confessions
I Dont Want You To Leave
Wait Outside
Forget the Shelves, See the Irony
Brittle it Shakes
Karma
Take Shelter
One love, one house; No shirts, no blouse
Strung out, a Little bit Hazy (part II)
Telekinesis
When did We Grow Old?
Concilium
Tic-Tac
In the Clear Yet? Good.
Rewind
I didn't mean to fall in love tonight
Over (part I)
Red Liquors and Silver Keys
Wednesdays
Hi
Until You Come Back Home
Write it down
Caos, herself

Dazed and Kinda Lonely (part I)

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By ownthe-night

Eu sou um paradoxo.

Eu quero ser feliz, mas eu constantemente me pego pensando nas coisas que me deixam triste. Eu sou preguiçosa, e de uma forma muito curiosa, eu também tenho ambição. Eu não gosto de mim mesma, mas eu também me amo. Eu digo que não me importo, mas não há um dia que passe sem que eu pense naquela coisa "insignificante". Eu almejo atenção, mas a rejeito na primeira oportunidade que posso. Eu sou uma contradição ambulante. Se eu não conseguir me entender, ninguém vai.

~~

Dor.

Foi a primeira coisa que senti no momento em que eu abri meus olhos na manhã seguinte. Minha garganta queimava como brasa e minha cabeça latejava. O som do vento contínuo batendo contra minha janela era a única coisa que se fazia ouvir no cômodo pequeno, e apesar da quantidade excessiva de cobertores, a cama se encontrava fria. Vazia, sem vida.

Depois de tudo o que havia acontecido, eu realmente não esperava acordar na primeira manhã, em um cenário como esse.

Não deveria ser assim. Não era pra ser assim.

Levantei na ponta dos dedos e caminhei até a porta. Por algum motivo uma onda de receio e ansiedade tomou conta do meu corpo. A maçaneta parecia queimar meus dedos e o abrupto feixe de luz que se fez visível, me fez piscar os olhos.

Ela não pareceu notar a minha presença quando eu caminhei pela sala e a vi ao lado de Taylor no sofá. Ou talvez ela tenha me visto e apenas decidiu me ignorar. De qualquer forma, ela teve sucesso em ambos os casos. Minha irmã foi a primeira a notar o olhar caótico que eu direcionava a elas.

"Hey! Bom dia, dorminhoca!" Ela fala em um tom divertido enquanto fazia malabares com o controle remoto em mãos.

Ignorei o bom humor excessivo da caçula e lancei um olhar questionador à Camila. Ela parecia me ler de cima abaixo, mas não demonstrava sinal algum de que iria falar alguma coisa. Os olhos completamente vazios, sem emoção alguma. Inertes. Não piscava ou movia um músculo sequer embaixo do edredom quadriculado que dividia com Taylor no sofá.

Então era apenas eu, com dor, parada no meio da sala, o olhar vidrado ao dela, e me sentindo a pior pessoa do mundo. Engoli seco no momento em que ela inclinou a cabeça para o lado como quem diz o que você ainda tá fazendo aqui?

Cristo, ela estava me julgando. Na minha própria casa. E com razão.

O contraste do clima de ontem para hoje era absurdo. A frieza e melancolia eram completamente palpáveis no ar, e eu não a culpava por estar agindo assim. Afinal de contas, depois da idiotice que eu havia feito na noite passada, eu definitivamente não conseguia imaginá-la fazendo outra coisa a não ser se auto proteger.

E era irônico perceber que Taylor não fazia a menor ideia do que estava acontecendo ao seu redor. A constante troca de olhares entre Camila e eu permanecia completamente desconhecida para ela, e o par de olhos verdes agora estavam fixos na televisão da parede oposta. Não era ridículo? Minha irmã estava no mundo das nuvens enquanto a mulher da minha vida e eu discutíamos mentalmente através de olhares.

Quando eu era menor, eu costumava ouvir de meus pais que sempre irá existir um determinado período na sua vida onde você odeie tudo e todos, e especialmente você mesmo. Nenhuma das suas ações parece condizer com os princípios que você dizia ter, e a cada vez que você toma uma nova decisão, acaba se arrependendo instantaneamente. Era exatamente assim que eu me sentia no momento.

Eu me odiava.

"Bom dia", falei para ninguém em particular.

Pude sentir o olhar dela queimando buracos nas minhas costas enquanto eu me dirigia à cozinha. Ao me sentar em um dos banquinhos altos em frente à bancada da ilha, percebi a caixa da pizza de ontem aberta sobre a pia. Um riso sem humor ecoou em minha mente, e por um segundo eu me perguntei em que momento as coisas começaram a dar errado em um intervalo de menos de 24 horas.

Você é perfeita.

Eu te amo.

É incrível como as coisas nunca saem como o planejado.

~~

Depois de tomar meu café em tempo record, e praticamente queimar ainda mais a minha garganta dolorida, eu decidi vestir algo apropriado para o clima gélido e mandei uma mensagem de texto para Dinah.

Estou saindo de casa para pegar meu carro. Preciso falar com você. -L

Quando avistei meu táxi encostando em frente ao meu prédio, pela janela do meu quarto, eu não avisei que sairia de casa. E ao aparecer no corredor completamente vestida e com minha bolsa pendurada sobre o ombro, Taylor já havia entendido que eu pretendia passar o dia fora.

Ela definitivamente já deve ter sacado o clima pesado entre Camila e eu, e sem dúvidas não seria maluca em fazer perguntas adicionais às extremamente necessárias. Quando eu girei a chave na maçaneta e olhei para trás, Camila me encarava do sofá com uma expressão confusa no rosto. Que merda você está fazendo agora, eu lia.

A verdade era que, nem eu sabia.

[..]

Ir até Briarcliff sentada no banco de trás de um carro completamente desconhecido era uma das sensações mais estranhas que eu já havia sentido na vida. O caminho, minhas emoções, meus pensamentos. Tudo era diferente. Sem contar o quão bizarro era o fato de eu estar indo para a clínica para resolver outras coisas, ao invés de visitar Camila. Que agora estava na minha casa, sob minha guarda e atualmente querendo o meu fígado em uma bandeja prateada.

Quando paramos em frente ao portão, entreguei o dinheiro para o motorista e pulei rapidamente para fora do carro. Gordon, que ficava encarregado de tomar conta da entrada e saída de visitantes, saiu aos pulos de dentro da casinha e arregalou os olhos ao me ver.

Observei o táxi se afastar antes de castigar meus olhos e ter de encarar a figura deprimente do outro lado do portão.

"Srta. Jauregui?" Ele pergunta se aproximando.

"E aí, Gordon", me aproximei a grade endireitando meu cabelo. Parei em frente a entrada esperando que ele abrisse passagem e franzi o cenho ao perceber que a figura permanecia estática. "Você não vai abrir o portão?"

"Eu recebi ordens pra não deixar você entrar."

Engoli seco.

"O quê?"

"Eu recebi ordens pra não permitir a sua entrada. Me desculpe."

"O monsenhor fez isso, não? Oh meu Deus..." Levei a ponta dos dedos até as têmporas, minha dor de cabeça parecia voltar três vezes pior. "Gordon, meu carro está estacionado aí há dias, e eu só preciso pegá-lo. Eu juro que não vai demorar e—"

"Ordens são ordens, Srta. Jauregui", a voz carregada de superioridade.

"Gordon, eu... Quer saber? Esquece", girei os calcanhares sobre o gramado úmido e pesquei o celular de minha bolsa.

Procurei rapidamente pelo número recente e levei o aparelho até o ouvido. Ao olhar de esguelha para o lado, rolei os olhos ao perceber que o homem ainda me cuidava. Eu não precisei nem dizer alô quando a voz familiar ecoou na linha.

"Eu já sei o que está acontecendo. Apenas jogue a chave pelo portão que eu levo o seu carro até a saída."

A ligação ficou muda em seguida.

"Você pretende ficar aí o dia todo?" Gordon indaga.

"Eu não vou causar problemas, mas também não pretendo montar um acampamento aqui na frente", inclinei a cabeça rindo.

"Eu acho que a Srta. Já causou problemas o suficiente", ele pondera.

Eu estava prestes a rebater o comentário quando uma voz conhecida ecoa pelo pátio e interrompe minha linha de raciocínio.

"HEY!" A figura descia a escadaria da entrada aos pulos, praticamente tropeçando nos últimos degraus. Pela primeira vez no dia, eu fui capaz de colocar um sorriso genuíno no rosto. "As chaves!" Ela grita se aproximando.

Retirei o chaveiro do bolso e joguei por cima da grade. Ri mentalmente ao vê-la pegar o objeto no ar com facilidade e murmurar "idiota" para a figura masculina que nos observava atentamente.

"Sabe", falei enquanto observava Dinah se afastar e ir em direção ao meu carro estacionado do outro lado do lote. "Pra um simples porteiro, até que você anda sabendo demais, não?"

Ele dá de ombros enfiando as duas mãos nos bolsos. Torce o nariz ao ver o quão séria eu estava sendo.

"Eu escuto coisas. Não é minha culpa."

"Da última vez que eu chequei, o portão ficava um pouco afastado da clínica", uni as sobrancelhas. "É curioso você escutar coisas que são faladas e discutidas um tanto quanto... Longe."

"É curioso você visitar uma pessoa que mal conhece e levá-la pra sua casa como se tudo que estivesse acontecendo não passasse de uma grande piada. Quer dizer, quem imaginaria que a sua casa também está virando um hospício."

Quando você acha que sabe até onde a petulância de certas pessoas vai, você conhece um porteiro como Gordon e passa a reavaliar sua vida inteira.

Balancei a cabeça rindo.

"Já que você se acha tão esperto e dono da verdade, deixa eu te falar uma coisa. Eu tenho uma amiga chamada Allyson Brooke", ri baixinho. "Se você anda bisbilhotando as coisas do jeito certo, já sabe quem ela é. De qualquer forma, ela é uma advogada, sabe? Minha advogada, aliás. E sei lá, eu já tenho alguns processos pessoais sendo cuidados por ela... Talvez ela não vá se importar em colocar mais um por danos morais na lista."

"Eu não tenho medo de você", ele rebate.

"E você acha que eu tenho? Querido, você pode se achar esperto ou coisa do tipo, mas adivinhe? Você não é. Você diz que a minha casa está virando um hospício? Oh, adivinhe novamente: É culpa sua. Se você passasse mais tempo tomando conta da merda desse portão ao invés de cuidar da vida alheia, não teria deixado Camila fugir, ela consequentemente não teria sido atropelada por outro idiota, e tudo estaria nos conformes como deveria estar."

O homem averte os olhos me fazendo grunhir irritada. Ele era do tipo que, quando ouvia a primeira dose de verdade na vida, ignorava o ato como se não fosse absolutamente nada.

Meu carro entrou em minha visão periférica e pela primeira vez em meses eu o vi caminhar com vontade e disposição para abrir a entrada. Talvez ele realmente quisesse que eu fosse embora, pensei. Dinah parou o veículo a poucos metros da saída e abriu a porta estalando os dedos para chamar minha atenção. Antes que eu entendesse o que ela estava prestes a fazer, a enfermeira contornou o veículo e abriu a porta do carona.

"Você não pode sair em hora de trabalho", o porteiro interferiu.

"O monsenhor falou que ela não podia entrar. Não que eu não podia sair", ela ri.

O olhar que Gordon lançou para nós foi impagável. Eu realmente não deveria aparecer aqui de novo depois disso.

"Pra onde vamos?" Indaguei assim que liguei a ignição.

"Apenas estacione lá na frente", ela aponta para o acostamento da estradinha. Não dava meros cinquenta metros do portão de entrada da clínica. "Eu sei que você não veio aqui só pra pegar o carro."

"É tão óbvio assim?" Ri sem humor.

"Você está triste. Sim, é bem óbvio."

"Eu nem sei por onde começar", falei apoiando a testa no volante.

"Por que, querida?"

"Eu não sei... É... É tanta coisa."

"É a Mila?" Ela pergunta baixinho. Coloca a mão em meu ombro depois de perceber meu silêncio – ou falta de palavras, nesse caso. "O que está acontecendo?"

"Nós tínhamos saído do hospital... E pela primeira vez em muito tempo, as coisas estavam indo bem, sabe? Ally estava lá em casa também. Nós conversamos... Rimos. Era tudo perfeito."

"Então qual é o problema?" Ela soou incrivelmente confusa agora.

"Depois que Ally foi embora e Taylor foi dormir, Camila e eu ficamos na sala por mais um tempinho. Até que pouco tempo depois, ela resolveu que queria tomar banho."

"Pera aí, não me diga que vocês brigaram por causa disso", Dinah ri.

Levantei a cabeça minimamente enquanto puxava o ar com força para dentro dos pulmões. Por algum motivo, o mero fato de tocar no assunto já me causava isso.

"Os detalhes não importam, mas ela basicamente disse que me amava."

Silêncio.

"Huh..."

"Você pode perguntar, Dinah", rolei os olhos.

"O que você disse?"

"Nada."

"Como assim nada?"

"Eu não respondi nada. Eu não conseguia falar, eu literalmente travei naquela hora. Foi como se aquelas três palavras tivessem ativado o modo congelar no meu cérebro."

"Oh meu Deus..."

"E ela chorou depois... Minha parte emotiva diz que ela provavelmente entrou em estado de choque, mas eu gosto de pensar que ela se arrependeu depois de falar aquilo."

"Lauren, você é uma idiota." Ela fala irritada. "Por que raios ela se arrependeria?"

"Porque eu não falei nada! Dinah, eu literalmente fiquei em silêncio como se estivesse vendo um fantasma na minha frente. Hoje de manhã ela mal olhava na minha cara."

"Você precisa concertar isso. Lauren, ela vai ficar na sua casa por semanas, vocês não podem ficar nesse clima por todo esse tempo."

"Ok, esperta. Como eu vou fazer isso?"

"Você sabe como fazer."

"Não, eu não sei."

"Você gosta dela, não? Quer dizer, você realmente deve ter alguma coisa aí dentro. Até porque eu não saio por aí, salvando estranhos de manicômios como se fosse a coisa mais natural do mundo."

"Não foi intencional", ponderei. "Só... Aconteceu."

"Hora certa, momento certo, e lugar certo. Realmente. Vocês duas foram feitas uma pra outra! Pelo amor de Deus, como você pode ser tão cega e não enxergar isso?"

"Porque eu literalmente não enxergo. Eu não sei o que pensar."

"Lauren, quando Camila estava internada, ela não calava a boca sobre você um só segundo. O sorriso que ela tinha no rosto quando você aparecia naquela porta... Era raro. Só você tinha esse efeito nela. É bem claro o quanto ela gosta e se importa com você."

Aquilo me quebrou por dentro.

"Ela falava de mim?"

"O tempo inteiro! Cristo, tinha dias que eu chegava a odiar o seu nome, porque era literalmente só o que ela falava", a enfermeira ri.

"Qual é o meu problema então? Por que eu não consigo processar tudo isso?"

"Você pode até dizer que não sabe, mas eu tenho certeza que você tem as respostas aí dentro."

"Desde quando você é a filósofa da história?"

"Desde que minha amiga virou uma idiota e decidiu bancar a estátua enquanto o amor da vida dela dizia eu te amo."

Balancei a cabeça rindo.

"Aparentemente."

"Promete que vai concertar essa bagunça?"

"Eu não controlo isso, querida", brinquei sorrindo ao lembrar da frase familiar.

"Tentar, pelo menos. Promete?"

Assenti entrelaçando minha mão direita na dela.

"Obrigada."

"Me agradeça lá na frente, com um convite pra que eu seja a madrinha do casamento."

"Você é impossível", falei rindo. "Como Beth está?" Indaguei.

Ela franze o cenho diante da súbita troca de assunto.

"Bem. Um pouco chateada por não ter Mila por perto, mas bem. Por que pergunta?"

"Camila anda preocupada com ela e eu acabei me oferecendo para vir aqui e checar a menina. Claramente eu não esperava ser banida de entrar aqui."

"Diga à ela que Beth ela está bem. E quanto a você ser banida daqui, você sabe que pode ligar pra mim, não?"

"É, eu sei."

"Ótimo. E eu poderia passar o dia inteiro falando com você sobre mil coisas, mas eu tenho trabalho a fazer e o fofoqueiro de plantão ali na entrada já deve ter avisado alguém que eu saí da clínica."

"Tudo bem."

"Fica bem, ok?" Ela dá um beijo estalado em minha bochecha e abre a porta. "E não me decepcione."

"Eu não vou."

Baixei o vidro após ela bater a porta.

"Me liga."

Eu definitivamente ligaria.

[..]

Ao chegar em casa, eu fui recepcionada por uma caçula bufando de raiva e de braços cruzados.

"Você pode, por favor, explicar o que está acontecendo?!" Ela sussurra me empurrando contra a parede, o indicador apontado para o meu rosto.

"Ela está aí?" Perguntei debilmente.

"Não, Lauren. Ela fugiu. Liga pra polícia", Taylor rola os olhos. "Qual é o seu problema, garota?!"

"Eu não sei do que você tá falando", escaneei a sala por trás dela. "Onde ela está?"

"No meu quarto. Provavelmente chorando."

"Oh..."

"Você não vai me falar o que tá acontecendo? Toda vez que eu pergunto o porquê de ela estar assim, ela muda de assunto ou diz que não é nada."

"Nós tivemos uma briga", falei.

"Briga?"

"Você é surda?" Bufei. "Sim, uma briga."

"Mas porquê? O que aconteceu?"

"É complicado."

"Ah, não. Não mesmo, eu já tô cansada de bancar a idiota que anda de um lado pro outro sem saber o que tá acontecendo."

"Taylor—"

"Shh!! Bora! Começa a falar."

"É mais complexo do que você imagina..."

"Lauren Michelle Jauregui, eu juro por Deus que se você não me falar o porquê da minha melhor amiga estar encharcando meu travesseiro, eu vou socar você."

Suspirei fundo. Era incrível como o drama estava cravado no DNA da minha família.

"Ela disse que me amava e eu não consegui formular uma resposta coerente a tempo. É por isso", respondi sem rodeios.

"O quê?"

"Você quer que eu repita?"

"Por que você não respondeu nada?"

"Por que você não cuida da sua vida e me deixa ir falar com ela?" Rolei os olhos.

"Mas ela não quer falar com você."

"Eu também não queria ter que passar por isso justo no primeiro dia em que ela fica na minha casa, mas aqui estamos, não é mesmo?"

"Eu tô falando sério, Lauren."

"Eu também tô Taylor", falei seguindo em direção ao corredor.

Isso já estava passando dos limites e eu estava mais do que disposta a acabar com esse drama todo.

Ao parar na frente do quarto de Taylor, bati de leve na madeira e girei a maçaneta em seguida. A imagem dela encolhida e chorando me fez lembrar da primeira vez que eu a vi no Kings Park após a tentativa falha de escapar da dose de tranquilizantes. Nunca, em toda a minha vida, eu imaginava que essa cena se repetiria, muito menos na minha própria casa.

"Camila?" Chamei baixinho fechando a porta atrás de mim.

Algo no meu subconsciente me alertava para eu manter a distância e iniciar o assunto com cautela.

"Vai embora", ela murmura. A voz completamente abafada pelo travesseiro.

"Camz, eu quero conversar."

"Que bom pra você. Sua irmã anda bem confusa ultimamente. Por que você não vai lá na sala e explica o que você fez ontem à noite?"

Engoli seco.

"Eu meio que já fiz isso."

Ela gira o corpo lentamente sobre o colchão, apoia as costas na cabeceira e me encara.

"Então?"

"Então o quê?" Indago.

"Você disse que queria conversar", a voz quebrada, os olhos vermelhos. Me doía por dentro em saber que ela havia passado as últimas horas chorando.

"Eu queria pedir desculpas", falei. "Por ontem."

"Uau", um risinho sem humor algum escapa pelos lábios finos. Meu corpo treme diante da reação.

"Camila—"

"Por quê desculpa? Você não fez nada... Ou falou nada, nesse caso."

Silêncio.

"Eu não sei."

"Você não sabe? Lauren, você tem alguma noção do quão patético isso tudo é?"

"Eu sei, mas—"

"Não", ela me corta. "Cristo, não. Você não sabe como anda a minha cabeça ultimamente. A confusão... Lauren, eu não consigo nem descrever pra você o que eu tô sentindo agora. Há dois meses atrás, a melhor parte do meu dia era quando Taylor e eu passávamos horas a fio jogando conversa fora nos dormitórios. Rindo, sendo normal. Mas aí ela apresentou claros sinais de melhora e os médicos deram a alta.

No mesmo dia em que eu não tive a oportunidade de me despedir, eu fui presenteada com uma dose extra de remédios. Você apareceu do nada, perdida e tão assustada quanto eu. Mostrou interesse, se preocupou e por algum motivo completamente desconhecido por mim, fez questão de ficar e conversar. Quando você foi embora, eu fiquei pensando: Que tipo de pessoa faz isso?

E quando você voltou... Naquele momento eu soube que você era diferente. Que você de fato se importava e iria me tirar de lá. Dias depois eu tive aquele surto e fui transferida. E por Deus, você não sabe o medo que eu tive em não te ver de novo. A sensação era... Era como se fosse várias facas atravessando o meu peito, sabe? Doía muito mais do que qualquer castigo que eu já sofri durante todo aquele tempo internada.

Mas aí você voltou. De novo. Você foi até Briarcliff procurando por mim. Quase teve um colapso nervoso quando me viu no lobby. E sabe, eu leio. Muito. Era raro eu não passar na biblioteca pelo menos uma vez por dia. Na maioria dos romances que eu li, os autores sempre falavam sobre aquela tal sensação de borboletas no estômago. Toda vez que eu lia aquilo, eu ria. Achava bobagem. Até que a pulseira surgiu, junto com minha irmã, e a perda do processo, seguida da promessa que você continuaria tentando.

E você tentou.

Deus, você tentou de tudo, e me dói em saber o quão envolvida você já estava na minha vida. As intenções foram as melhores, você não precisa nem me dizer, porque eu sei. E depois de todas essas coisas, eu cheguei à conclusão de que, uma pessoa que faz o que você fez precisa amar muito a outra. Então eu admiti. Em voz alta, na sua frente e na pior hora possível.

Se importa pra você, deixe eles saberem. Já ouviu esse ditado?" Ela indaga.

Minha visão, já praticamente embaçada, não me permitia vê-la com clareza. Mas eu tinha certeza que ela sabia.

"Não", falei baixinho.

"Depois de ontem eu cheguei à conclusão que eles nem sempre precisam saber."

"Camz—"

"Eu não quero que você tenha pena de mim. Claramente eu entendi isso da forma mais errada possível. O que é bem confuso porque até onde eu me lembre, você não parecia estar relutando quando me beijou na clínica ou em todas outras vezes, incluindo ontem à noite."

"Eu..."

"Você pode me explicar isso?"

"Eu não sei", respondi sentindo a primeira lágrima escorrer pela minha bochecha.

"Você não sabe?" Ela repete. "Lauren, você me salvou de todas as formas que uma pessoa pode salvar a outra e a sua resposta é eu não sei?"

"Você me salvou primeiro."

Camila ri.

"É... Mas isso ainda não responde a minha pergunta."

"Eu me importo. Isso não é o suficiente?"

"É claro que é", outro riso. "Mas nós duas sabemos que não é a completa verdade."

A linha tênue de silêncio que se estendeu após aquilo fez a ideia mais ridícula que eu já tive em toda a minha vida dar pulos em minha mente.

"Me leia", falei. "Se você quer saber como eu me sinto, apenas... Me leia."

"Você acha que eu já não tentei?"

"Tente de novo."

"Sabe o que eu vejo quando eu tento entender o que se passa na sua mente?" Fiz que não com a cabeça. "Medo."

"Eu não tenho medo."

"Oh sim, querida. Você tem. Eu não faço a menor ideia do tipo de relacionamento que você teve antes de me conhecer, mas ele claramente deixou marcas permanentes."

"Eu..."

"Do que você tem medo?"

"Eu não sei, Camila."

"Por que toda aquela empatia? Foi pena?"

"O quê?"

"A cena da enfermeira tentando me furar com aquela agulha foi demais pra você? Foi a pena? Compaixão, talvez?"

"Camila, eu não fiz isso por pena", minha respiração estava começando a me deixar ofegante. Meu corpo inteiro rejeitando cada palavra que eu ouvia.

"Então me ajuda! Me ajuda a entender qual é a merda do seu problema, que você simplesmente não consegue processar absolutamente nada do que eu falo. Primeiro o silêncio, e agora você vem pedir desculpas. Tipo, qual é o seu problema?! É pedir demais uma explicação pra tudo isso? Um mero pedacinho do porquê você fez tudo o que fez?"

Eu não conseguia falar absolutamente nada. A conversa estava saindo completamente diferente do que eu imaginava e estava lentamente se transformando em um grande monólogo. Ela não tinha culpa alguma em se sentir assim.

"Eu não sou um brinquedo, Lauren", o murmúrio quase inaudível. "Eu não sou uma boneca que você compra, leva pra casa e joga em um canto quando está cansada de brincar."

"Camila..."

"Eu não estou pedindo que você diga que me ama de volta, eu só quero um porquê."

Era tudo em círculos. Ela continuava a fazer a mesma pergunta de várias formas diferentes e a minha resposta era sempre a mesma:

"Eu não sei."

Depois de segundos de silêncio ela resolveu mudar a réplica.

"Tudo bem."

Era como se ela pudesse ler meus pensamentos. Ironicamente.

"Tudo bem?"

"Eu acho que gritar ou te apressar não vai adiantar", ela limpa as lágrimas acumuladas no canto dos olhos. "Então sim. Tudo bem. Você não precisa saber a resposta agora."

Apesar da clareza com que ela havia falado, eu tinha a sensação de que havia um "mas" oculto.

"Então o que acontece agora? E nós?"

Camila ri. A luta evidente contra o choro.

"Me deixa usar a sua frase favorita de hoje: Eu não sei."


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