Get Me Out

By ownthe-night

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Nos últimos dois anos tudo o que eu mais queria era não ter que ir àquele manicômio todos os meses para visit... More

Shadows
Loud Thoughts
Unplanned Changes
Church Bells and Phone Calls
Acknowledging Madness
Dream up, Dash off
Catalyst
Highways, Neighborhoods and Lies
Everything I Want, Everything I Need
Antidepressants and Sense of Humor
Taped Confessions
I Dont Want You To Leave
Wait Outside
Forget the Shelves, See the Irony
Brittle it Shakes
Karma
One love, one house; No shirts, no blouse
Dazed and Kinda Lonely (part I)
Strung out, a Little bit Hazy (part II)
Telekinesis
When did We Grow Old?
Concilium
Tic-Tac
In the Clear Yet? Good.
Rewind
I didn't mean to fall in love tonight
Over (part I)
Red Liquors and Silver Keys
Wednesdays
Hi
Until You Come Back Home
Write it down
Caos, herself

Take Shelter

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By ownthe-night

Ecos. O vai e vem de pessoas caminhando de um lado para o outro na sala de espera do hospital estava me levando à loucura. A televisão ligada transmitia algum programa culinário que eu realmente não dava a mínima, e a cada vez que um médico aparecia na porta com uma prancheta em mãos, o meu corpo inteiro gelava.

“Eu comprei um lanche”, a voz de Ally surgiu no portal da sala e eu levantei minimamente os olhos para observá-la.

“Mas eu disse que eu não queria nada.”

“Você precisa comer, Lauren”, ela diz sentando ao meu lado enquanto estendia um pacotinho de bolachas salgadas e uma lata de refrigerante na minha direção.

“Ally, eu não—”

“Já fazem quase três horas. Eles provavelmente vão ter que fazer mais exames ainda e isso consequentemente vai fazer com que nós fiquemos mais tempo ainda aqui. Por isso eu preciso que você coma a droga dessa bolacha e tome a porcaria desse refrigerante pra não desmaiar de fome.”

Rolei os olhos. Eu sabia que Dinah seria a primeira a telefonar para a texana assim que a ambulância saísse da clínica. Meia hora depois de Camila ser levada para uma bateria de exames – e por que não, algo cirúrgico –, a advogada apareceu completamente transtornada no lobby do hospital.

Duas horas e quarenta e três minutos esperando alguém dar notícias dela. Era esse o tempo exato que eu estava esperando uma única pessoa chamar pelo meu nome na sala de espera e me explicar qual era a situação atual de Camila. Duas horas e quarenta e três minutos. Eu contei eles. Não era tão divertido.

“Você vai comer ou não?” Ally pergunta novamente.

Respirei fundo tentando controlar meus nervos.

“Só o refrigerante já está bom”, falei pegando a lata da mão dela.

“Sua irmã ligou”, ela diz recostando o corpo contra a cadeira acolchoada. Meus olhos seguem o movimento.

“O quê? Quando?”

“Eu estava tentando pegar uma barra de chocolate da máquina de doces e o meu celular começou a tocar”, a advogada abre lentamente o pacote que tinha em mãos e em seguida levanta a cabeça para me encarar. “Acontece que se você não selecionar o que quer da máquina em menos de trinta segundos, ela come o seu dinheiro.”

Franzi o cenho.

“Quatro dólares na lata do lixo, dá pra acreditar?” Ela rola os olhos e leva uma bolacha até a boca.

“O que ela queria?” Indaguei curiosa.

“Bom, tecnicamente ela ligou apenas pra avisar que Violet ainda estava dormindo.”

“Ok. E...?”

“Digamos que ela resolveu passar o tempo usando o seu notebook e casualmente viu que você havia recebido um e-mail do seu pai.”

Engoli seco. Eu não tinha notícias dele há quase dois meses.

“Às quatro da manhã de uma terça feira?”

“Yeap. Aparentemente você foi multada”, ela ri. “Duas vezes, aliás.”

“O quê?”

“Eu sei que eu não devo me meter em assuntos de família, mas você realmente achou que fosse uma boa ideia comprar o seu carro no nome dele? Tipo, quantos anos você tem? Cinco?”

“Eu não tô entendend—”

“Lembra daquela vez que você praticamente fez seu carro voar até Briarcliff quando descobriu que ela tinha sido transferida?”

Oh.

“Merda”, murmurei. Ally riu.

“Ele provavelmente deve ter recebido a multa por esses dias.”

“Uau, isso não poderia ter aparecido em uma hora melhor.”

Ela coloca a mão em minhas costas e dá alguns tapinhas enquanto se controlava para não rir do timing da situação.

“Você pode lidar com isso depois, querida.”

Forcei um sorriso e abri a lata.

“Lauren Jauregui”, escutei meu nome ser chamado. Meu coração errou uma sequência de batidas quando eu percebi que havia um médico parado no portal da sala.

“Eu!” Gritei levantando da cadeira e deixei a lata para trás. “Aqui!” Corri em direção ao funcionário. “Camila Cabello, certo? Como ela está?”

O doutor ri do meu nervosismo e por meio segundo eu desejei estapeá-lo por zombar da minha atual condição psicológica.

“Você é amiga da paciente?” Ele pergunta enquanto verificava a prancheta que tinha em mãos.

“Sim. Sim, sim, eu sou. Ela está bem?”

“Você pode me acompanhar, por favor?” O homem me oferece um sorriso enquanto clicava sem parar a caneta prateada. Eu só tive tempo de olhar para trás e receber um olhar de aprovação de Ally.

“Sim. Sim, eu posso.”

Caminhamos em silêncio por um longo corredor. Havia portas em todas as direções, médicos e enfermeiros andando às pressas de um lado para o outro e o barulho incessante de um telefone cortava as vozes aleatórias que podiam ser ouvidas uma vez ou outra.

O jaleco branco e perfeitamente desamarrotado que ele vestia contrastava com minhas roupas ainda úmidas e manchadas de sangue inocente.

“Ela está bem?” Perguntei aflita.

Poucos metros depois, nós paramos em frente à uma porta. O médico, ainda em total silêncio, girou a maçaneta e me permitiu entrar para que eu visse com os meus próprios olhos a pessoa pelo qual eu tanto perguntava.

Meu peito ardia toda vez que eu puxava o ar para os pulmões e minhas mãos pareciam pedras de gelo. O barulho da porta fechando atrás de mim me fez voltar a realidade e finalmente deixar a ficha cair.

“Eu preciso dizer, sua amiga aqui é extremamente sortuda”, ele começa. “O impacto do carro poderia ter causado estragos de proporções gigantescas, mas por pouco, muito pouco, tudo o que ela adquiriu foi uma bela cicatriz na testa, algumas escoriações no abdômen e uma fratura leve no tornozelo esquerdo.”

“O quê?”

“Camila está bem, Lauren”, o médico sorri.

Arregalei os olhos vendo a figura inerte em minha frente. O bipe da máquina era a única coisa que podia ser ouvido na sala, e meus olhos examinavam cada centímetro dela.

“Quer dizer que ela não vai precisar de... Cirurgia ou algo assim?”

“De forma alguma. A única coisa que ela realmente precisa agora é de repouso absoluto.”

Me aproximei da maca com cuidado e entrelacei os dedos de minha mão nos dela. O arrepio causado pelo singelo toque me fez sorrir.

“Ela está dormindo?” Indaguei observando a expressão serena que havia no rosto delicado.

“Quando Camila chegou aqui ela estava desmaiada devido à exposição prolongada ao frio e exaustão. Durante uma bateria de exames ela chegou a acordar, mas era nítido o nível de estresse que ela se encontrava”, o homem explicou calmamente e eu apenas assenti.

“Então vocês entubaram ela?”

“Ahn... Não. Nós apenas aplicamos uma dose de tranquilizantes e administramos alguns analgésicos para dor. Se meus cálculos estiverem corretos, ela só deve acordar pela tarde.”

“Ok. Sem problemas.”

“Eu soube que ela escapou de uma clínica psiquiátrica ontem à noite”, ele aborda o assunto com cautela e se aproxima de mim. “É verdade?”

Engoli seco avertendo meus olhos dele.

“É... E aparentemente não deu muito certo.”

“Talvez tenha”, ele fala. “Lauren, como médico eu preciso ser honesto. Ela teve uma sorte gigantesca em vir parar aqui. Os inúmeros contratempos que poderiam ocorrer durante o desaparecimento dela... Eu sinceramente não sei nem como ela sobreviveu ao relento por um dia inteiro.”

Permaneci em silêncio. Talvez – em uma hipótese muito distante –, o médico poderia ter razão. Eu tinha todos os motivos do mundo para acreditar nele, porque convenhamos, estava congelando lá fora e tudo o que Camila usava era apenas uma blusa de algodão fino e um casaco de lã barata. Não precisava ser um expert pra saber que as chances dela do lado de fora da clínica eram mínimas.

Mas novamente, havia uma vírgula na história toda. Era de Camila que falávamos. Não uma mulher qualquer, mas sim de uma verdadeira sobrevivente. O instinto de lutar pela própria vida era algo que estava no DNA dela e eu sabia muito bem disso desde o primeiro minuto em que eu a vi.

“É, talvez”, falei sorrindo.

“Eu vou deixar vocês a sós”, ele diz se afastando. “Se precisar de algum auxílio com alguma enfermeira, é só apertar aquele botão azul do lado da máquina.”

Assenti o vendo fechar a porta atrás de si.

Observei meus arredores antes de sentar com cuidado na beira da maca. A frieza e a tonalidade azulada que eu havia visto no carro daquele estranho em meio a toda aquela chuva, agora eram substituídos por bochechas rosadas e pele aquentada.

Eu não tinha certeza se o que o médico havia falado era, de fato, verdade, e se ela realmente iria ficar com aquela cicatriz, mas, por um lado eu fiquei contente em ouvir aquilo.

Cicatrizes geralmente te fazem lembrar o quão forte você é.

~~

Já passava das duas e meia da tarde e Camila ainda não havia acordado. Eu entendia perfeitamente o quão exausta ela deveria estar depois de ter passado por aquele turbilhão de coisas em um só dia, mas eu não conseguia conter minha ansiedade em vê-la acordar.

“Você está horrível”, ouvi Taylor murmurar enquanto entrava na sala.

Ally e ela haviam combinado de fazer turnos para ficar de olho em mim até que Camila acordasse, e eu não poderia ficar mais grata por ter pessoas como as duas ao meu lado em horas como essas.

“Não é a primeira vez que eu escuto isso, mas... Ok”, falei sorrindo.

“Como você está?” Ela indaga se aproximando da maca.

“Dor nas costas. É uma pena eu só ter tido coragem de pedir um cobertor para uma enfermeira depois de cinco horas me contorcendo de frio.”

Taylor ri vendo eu esticar as pernas para fora da cadeira embaixo da manta rosa que eu havia pego emprestado.

“Então... Eu soube do e-mail.”

“Oh...”

“Ele parecia brabo?”

“É difícil dizer. Porque além das duas multas em um único dia, você simplesmente pediu demissão do seu emprego sem ao menos avisar ninguém.”

“Taylor, minhas economias não são poucas. Eu realmente não preciso da ajuda dele e da—”

“Eu sei”, ela me corta. “Eu sei disso. O problema é que ele não sabe.”

“Eu... Eu ligo quando eu tiver tempo.”

“Faça isso. Aliás, você deveria ir pra casa”, ela sugere.

“De jeito nenhum.”

“Não, é sério. Você passou o resto da madrugada e a manhã inteira comendo porcarias daquela máquina na recepção. Vá pra casa, tome um banho e coma algo decente. Eu tenho certeza que ela ainda vai estar dormindo quando você voltar.”

“Taylor, eu n—”

“Tem um táxi esperando você lá embaixo. Eu já paguei adiantado, então eu realmente espero que você vá.”

Rolei os olhos e estalei a língua.

“Você não fez isso.”

“Oh sim, eu fiz. É desse jeito que você quer que a sua namorada te veja?”

“Oh meu Deus...”

“Vá pra casa, faça o que eu disse, tome algumas aspirinas e depois volte aqui. Não é nada demais.”

“Ela não é minha namorada.”

Taylor ri.

“É... Claro que não.”

Averti meus olhos da figura em minha frente e olhei para a mulher ainda dormindo na cama.

“Ok, e se ela acordar e eu não estiver aqui?”

“Nós vamos ficar bem.”

Respirei fundo levantando lentamente da cadeira.

“Ally está lá em casa, então não se assuste se você encontrar a sala virada de cabeça pra baixo e um bebê chorando a plenos pulmões.”

Fechei os olhos tentando imagina a cena.

“Eu realmente amo aquela criança”, falei rindo. “Você me liga se ela acordar?”

“Ligo”, ela assente. “Você sabe que sim.”

Caminhei até a maca e depositei um beijo estalado na testa de Camila.

“Eu já volto, meu amor.”

Taylor franziu o cenho soltando um suspiro irritado. “Você sabe que ela não consegue te ouvir, certo?”

“E eu espero que você tenha uma ótima tarde com a chata da minha irmã até eu voltar”, continuei. “Fique bem, anjo.”

“Eu também te amo, Lauren”, a caçula murmura tentando conter o riso. “Agora vai logo.”

Me afastei das duas e caminhei até a porta sem olhar para trás. Eu realmente esperava voltar em tempo de vê-la abrir os olhos.

~~

“Ally?” Fechei a porta escaneando meu apartamento à procura da advogada.

O cheiro inconfundível de talco infantil pairava na sala, e por um segundo eu imaginei como seria ter um bebê para tomar conta.

“Hey!” Ela aparece no corredor com a filha nos braços e caminha rapidamente em minha direção. “Querida, oh meu Deus, como você está?”

Sorri em ver a cena. O braço direito da texana se enrosca em meu pescoço em uma tentativa atrapalhada de um abraço e Violet ri com a careta que eu fiz.

“Cansada”, falei simples. Ela se afasta endireitando a garotinha no colo e assente.

“Eu imagino. Taylor deve ter te mandado pra casa, não?”

“Ela disse que eu estava horrível e precisava comer algo decente. Isso responde a sua pergunta?”

Ally ri.

“Eu não sabia onde ficavam as coisas, então eu só consegui preparar um macarrão com um molho pronto que já estava na geladeira. Está bom pra você?”

“É perfeito.”

“Ok, então agora você trate de tirar essa roupa e vá tomar um banho.”

“Certo”, sorri indo a passos largos para o banheiro.

“Ah!” Ela grita e eu me viro imediatamente. “Dinah ligou. Ela disse eu você pode buscar seu carro quando quiser.”

Arregalei os olhos lembrando dos eventos da noite passada.

“Você tinha esquecido, não?” Ally perguntou rindo.

“Talvez.”

“Apenas vá tomar seu banho. Depois nós resolvemos isso, ok?”

[..]

Por mais que eu detestasse admitir, minha irmã estava coberta de razão: A água escaldante do chuveiro literalmente renovou minhas energias.

Apesar dos vinte minutos embaixo da água apenas terem causado efeitos benevolentes ao meu humor, eu não pude deixar de lembrar da cena de Camila sendo carregada por Austin na escadaria da clínica. O desespero que me aturdiu durante a viagem até o hospital e a espera de quase três horas na recepção. Os flashbacks iam e voltavam como se fossem um filme, e a leve dor de cabeça que eu já sentia há algumas horas pareceu se intensificar apenas com a lembrança.

O destino dela era praticamente incerto depois de todos esses eventos, e eu não fazia a menor ideia do que iria acontecer quando Alejandro descobrisse a tentativa de escape. Ele poderia transferi-la para outro lugar – um ainda pior, dependendo do julgamento hostil que ele tinha –, sem contar a confusão que isso tudo poderia causar em Sofia.

A lista de coisas que poderiam acontecer nas próximas horas era infinita, e a possibilidade de Camila ficar ainda mais longe de mim em um futuro próximo me causava pânico.

Depois de mais um tempo, eu finalmente saí de baixo do chuveiro e me enxuguei o mais rápido possível. Eu ainda precisava secar meu cabelo, vestir algo quente e comer o macarrão que Ally havia preparado antes que Camila acordasse.

“Como estão as coisas por lá?” A advogada pergunta enquanto me observava correr de um lado para o outro em frente ao meu roupeiro à procura de algo para vestir.

“Ahn... Nada mudou na verdade. Depois que você foi embora eu fiquei lá por mais algumas horas antes de sair e comer alguma coisa.”

“O médico disse algo sobre engessar a perna?” Ela une as sobrancelhas vendo minha crise de ansiedade e aponta para a blusa preta dobrada ao lado do meu travesseiro.

“Ele não disse nada sobre isso, mas é bem provável que ela vá precisar imobilizar o local. Eu não sei... Não faço a menor ideia de como funciona esses lances de fraturas”, falei enquanto vestia a peça às pressas.

“Você acha que ela iria se recuperar bem na clínica?”

Puxei a calça jeans que estava pendurada no cabide ao pé da janela e franzi o cenho diante da pergunta.

“O que quer dizer?”

Ally cruza os braços e me fita com um olhar preocupado.

“Eu quero dizer que... Sei lá... Eu não estou desmerecendo o trabalho de Dinah ou de nenhum funcionário de Briarcliff, até porque na época em que Luke faleceu não havia essa nova direção e organização que há hoje lá, mas... Eu não sei, talvez ela não tenha uma recuperação completa se não for assistida de perto 24 horas por dia, entende?”

“Você está insinuando o quê?”

“Que apesar das circunstâncias estarem sendo extremamente irônicas nos últimos dias, talvez essa seja a oportunidade perfeita para que você consiga a guarda dela.”

Abotoei e fechei o zíper de minha calça. Soltei um riso fraco enquanto desenrolava a toalha de meu cabelo.

“Você é engraçada, Allyson.”

“Eu não sou!” A voz exasperada chama minha atenção. “Lauren, isso pode ser algo! Ela pode ficar sob a sua guarda até que se recupere por completo!”

“Sabe, nas últimas semanas eu aprendi várias coisas, e uma delas foi: diminua suas expectativas. Então eu prefiro ouvir isso da boca de um médico do que criar esperanças e ter elas esmagadas no segundo em que eu colocar os pés naquele hospital.”

“Lauren...”

“Você pode esquentar meu macarrão por favor?” Tentei mudar de assunto. Aquilo tudo já estava afetando meu juízo.

A figura desaparece da porta e ruma até a cozinha. O relógio estava quase marcando quatro da tarde e o meu tempo parecia estar se esgotando cada vez mais.

Eu tinha plena consciência de que Taylor havia prometido ligar caso Camila acordasse, mas eu sabia que ela nem sempre cumpria certas coisas quando minha saúde mental estava envolvida.

Sequei meu cabelo em poucos minutos e apliquei uma camada de pó para esconder minhas fraquezas. Tentar ignorar a palidez e as olheiras profundas que o meu reflexo denunciava no espelho era uma coisa, mas lidar com elas, era outra bem diferente.

O macarrão de Ally estava fantástico – ou era apenas eu morrendo de fome. De qualquer forma, eu fiquei grata por sair de casa com algo agradável no estômago. Minhas coisas já estavam na porta e eu estava prestes a sair quando a texana segurou meu pulso e me encarou da mesma forma que havia me encarado minutos atrás em meu quarto.

Era a forma silenciosa que ela usava para trazer um assunto de volta à mesa.

“Você sabe que é uma possibilidade, não sabe?”

“Ally, eu não—”

“Sabe ou não sabe, Lauren?”

Mordi o lábio desviando meus olhos dos dela. Era incrível o poder de persuasão que aqueles olhos tinham.

“Sim”, falei. “Sim, eu sei.”

“Ótimo”, ela solta meu braço e gira a chave na maçaneta abrindo a porta para que eu saísse. “Vá buscar sua garota.”

Balancei a cabeça tentando anular as últimas palavras proferidas, mas tudo o que eu recebi foi um aperto delicado em meu ombro e o silêncio total da parte dela.

“Até mais, Ally”, falei antes de fechar a porta atrás de mim.

Ela não respondeu.

~~

Ao chegar na recepção do hospital eu tive a infame inconveniência de encontrar Austin sentado em um dos assentos ao lado do balcão de atendimento. A expressão arrasada em seu rosto quase me deu motivos o suficiente para rir internamente.

Tentei ir direto até o quarto onde Camila se encontrava, mas infelizmente ele me viu passar e praticamente deu um grito ao processar minha presença no local.

“Hey! Lauren!”

Meu corpo se contorceu de desgosto ao ver a figura se aproximando de mim. A expressão esperançosa de que pudesse se redimir com Camila e as mesmas roupas de ontem que ele ainda usava estavam à beira do ridículo.

“Hey... Austin”, tentei manter a calma. Apenas a presença dele já fazia meu sangue borbulhar de raiva.

“Eu soube o que aconteceu... Eu... Eu sinto muito. O médico me explicou a situação atual dela e eu estou disposto a fazer qualquer coisa pra ajudar.”

“Parece que você já fez bastante, não acha?” Indaguei cruzando os braços.

Por um segundo eu tive a impressão de que ele havia se irritado com minhas palavras.

“Olha, eu sei que você ainda está brava comigo pelo que aconteceu, mas... Erros acontecem. Acidentes acontecem o tempo inteiro, e nem sempre há um culpad—”

“O que te faz pensar que eu vou te perdoar? Cristo, o médico mesmo falou que foi praticamente um milagre ela ter saído do acidente com apenas um tornozelo quebrado e um corte na testa.”

“Eu sei, eu entendo completamente, mas... Eu preciso me desculpar. Ela precisa saber o quão arrependido eu estou por tudo o que aconteceu, ela precisa—”

“Você não sabia nem o nome dela há um dia atrás”, uni as sobrancelhas. “Eu digo a ela o quão arrependido você está e nós ficamos quites”, propus. “Está bom assim?”

Não havia possibilidade alguma de eu deixar ele entrar no quarto e vê-la naquele estado.

“Lauren...”

“É isso ou nada, cara. Você não acha que já causou problemas demais aqui?”

“Ela precisa saber.”

“Olha, eu vou ser honesta com você. Ela nem acordou ainda e vai demorar um bom tempo até que isso aconteça. Por que você não senta aqui e espera? Quando as coisas estiverem melhores eu vejo o que eu posso fazer por você, ok?”

Ele assente e volta a sentar em um dos bancos. Respirei fundo e fui até o quarto onde ela estava, me certificando constantemente durante o caminho de que ele não me seguisse.

Taylor pareceu surpresa ao me ver.

“Ela já acordou?” Perguntei fechando a porta.

“Mais ou menos”, ela faz uma careta erguendo o rosto em direção à maca. “Ela começou a falar umas coisas sem sentido há alguns minutos, mas eu acho que é apenas os efeitos colaterais.”

“Ela está grogue?” Ri baixinho.

“É, deve ser isso. Ela não abriu os olhos ainda, mas deve acordar a qualquer momento”, sorri ao ouvir as palavras. “E aliás, você está bem melhor.”

Balancei a cabeça rindo.

“É, eu tenho o meu charme.”

“Ok, menos”, ela ri. “Como foi com Ally?”

“Ela me preparou um macarrão e se certificou de confundir meu juízo antes que eu saísse de casa”, falei retirando meu casaco e pendurando a peça em um dos ganchos acoplados à parede.

“Como assim?”

“Ela disse que há uma possibilidade de eu me tornar guarda provisória de Camila até que ela melhore.”

“Mas... Daqui ela não vai pra clínica?” Taylor se mexe inquieta na cadeira. Os olhos arregalados diante da possibilidade.

“Foi o que eu pensei. Mas se o médico solicitar cuidado extra ou seja lá qual seja o termo que ele possa usar, isso significa que eu vou poder levar ela pra casa e ficar com ela até segunda ordem. Quer dizer, Jesus Cristo, isso é a coisa mais insana que eu podia ouvir!”

“Ela pode ter razão, sabe?” Taylor diz.

“Ah, não”, engoli seco. “Por favor, não me diga que você acredita nisso também.”

“Lauren, o médico nem precisa solicitar isso. Você mesma pode dizer que não se sente segura deixando ela nas mãos dos funcionários da clínica.”

“E Dinah? O que ela vai falar quando souber que eu disse isso?”

“Você realmente está preocupada com o que ela vai falar? Deus, eu poderia te dar um tapa agora e eu nem sentiria remorso depois.”

Fiquei em silêncio tentando processar o que estava acontecendo.

“Austin está aqui”, falei de repente.

“Quem?”

“O cara que atropelou Camila. Ele está na recepção esperando ela acordar, e quer porque quer se desculpar pelo que aconteceu.”

Taylor soltou um riso fraco.

“Ele vai entrar aqui?”

“Bem, não é o plano, mas se ele entrar não há muito o que fazer.”

Caminhei até a maca e sentei no espaço mínimo ao lado do corpo imóvel.

“Eu não sei você, mas... Não seria a pior coisa do mundo levá-la pra casa”, minha irmã falou enquanto observava eu acariciar o rosto de Camila.

“Seria perfeito.”

Justo quando eu estava prestes a mover uma mecha da franja rebelde para o lado, Camila moveu minimamente o rosto e murmurou algo ilegível a meus ouvidos. No mesmo instante eu arregalei meus olhos e percebi que Taylor também havia visto.

“Camila?” Falei baixinho.

Outra vez, algo ilegível escapou pelos lábios dela.

Meu coração parecia querer sair para fora do peito devido à ansiedade pelo momento. Segundos depois os olhos finalmente se abrem e o castanho finalmente se fez visto. O canto da boca delicada se curvou em um sorriso e antes que eu pudesse perceber, minha visão já estava embaçada devido ao choro incontível.

“Hey...”

As órbitas se arregalaram por um instante, provavelmente se acostumando com a claridade do local, e a mão coberta de fios e agulhas passeou pelo cobertor até encontrar a minha. O enlaço firme e o contato urgente fizeram meu estômago formar nós.

“Eu...” Ela balbucia com a voz completamente rouca. Por pouco não passava por algo indecifrável. “Eu senti... Eu senti sua falta.”

Levei minha mão livre até o rosto para enxugar minhas lágrimas. Meu sorriso era tão grande que eu sentia minhas bochechas doerem.

“Eu também senti sua falta, meu amor”, ergui a mão enlaçada à minha depositando incontáveis beijos na pele macia. Não era como se os fios fossem atrapalhar algo. Já existiram grades e portões, e nenhum deles impediu coisa alguma.

“Onde eu...”

“No hospital, querida”, falei antes que ela tentasse terminar a frase. “Minha irmã está aqui também”, apontei para a esquerda e Camila seguiu meu dedo indicador. O sorriso se alastrou pelo rosto ao reconhecer Taylor na cadeira ao lado.

Por um segundo eu fiquei confusa ao vê-la separar o enlaço de nossas mãos, mas pouco tempo depois eu entendi o que ela estava tentando fazer.

“Você quer sentar?” Indaguei a vendo se contorcer na tentativa de erguer a cabeça do travesseiro.

Ela assente parecendo levemente irritada por não ter controle completo dos movimentos. Desci da cama em um pulo e apoiei minha mão direita nas costas dela. Um sorriso satisfeito brincou nos lábios assim que eu apertei o botão lateral que fazia a parte superior da maca se elevar.

“Melhor assim?” Arrumei o travesseiro recebendo um sorriso ainda maior como resposta.

“Deus, vocês são tão fofas juntas”, ouvi Taylor murmurar do outro lado da maca.

Camila riu batendo a palma da mão no espaço vazio que eu ocupava anteriormente.

“Vem cá”, ela falou baixinho.

Meu corpo inteiro se arrepiou quando meu peso fez o colchão ceder e as mãos – nem tão frágeis dessa vez –, puxaram o cobertor para cima de mim e enlaçaram minha cintura.

 “Eu não quero que você fique com frio”, a escuto falar.

“Parece justo”, sorri enterrando meu rosto em seu pescoço.

Okay...” Minha irmã levantou da cadeira e caminhou até a porta. “Eu vou dar um espaço à vocês. Só não... Façam nada demais até eu voltar”, ela ri antes de abandonar o quarto.

“Você está bem?” Perguntei à Camila assim que Taylor saiu.

“Melhor agora.”

As borboletas em meu estômago estavam me matando lentamente. Os arrepios e o transe em que eu entrava toda vez que ela falava qualquer coisa... Era surreal demais.

“Você me deu um susto e tanto.”

“Eu sei”, ela pausa. “Desculpa por isso.”

“Eu não quero que você pense que eu estou braba com você, mas... Cristo. Camila, você quase me matou de susto quando eu descobri que você havia fugido.”

“Eu não estava pensando... Eu não conseguia raciocinar.”

“O que te levou a fazer isso?” Perguntei depositando um beijo na têmpora dela. “Eu prometo não brigar. Eu só... Eu só quero entender.”

Ela se mexe inquieta ao meu lado e gira o corpo ficando de frente para mim. Até com um esparadrapo na testa e inúmeros fios presos ao peito, ela conseguia ficar mais linda que qualquer pessoa que eu já havia visto.

“Eu fiquei tão desesperada em saber que aquilo era o fim... Em saber que não haveria outra alternativa a não ser ficar lá pro resto da vida. Quer dizer, eu sempre soube que eu iria ficar lá até os meus últimos dias, mas depois que eu te conheci... Eu não sei explicar, mas você me deu esperanças, sabe? E depois de tudo, acabar ouvindo que o meu próprio pai reforçou a palavra de que eu iria ficar lá e ponto final... Aquilo me corroeu por dentro de uma forma que eu jamais imaginei que fosse acontecer. E te ver chorando... Lauren, te ver chorando foi o equivalente a sentir uma faca contra o meu peito. Eu não conseguia suportar aquilo”, a voz abaixando gradativamente até chegar ao nível de um sussurro. “Eu só... Eu sinto muito que isso tudo teve que acontecer.”

“Eu sei”, ofereci um sorriso. “Eu sei disso.”

“Você está linda, pra variar”, ela rola os olhos e ri baixinho.

“Não... Até com a perna enfaixada e o cabelo mais bagunçado do mundo você ganharia.”

“Você é muito boba, sabia?”

O riso nunca abandonando os lábios. Nem mesmo quando os meus se conectaram aos dela em um rápido selinho roubado.

“Eu gosto de você, Camila”, a encarei.

“Eu também gosto de você, Lauren.”

“Não... Não daquele jeito. Tipo, eu realmente gosto de você.”

Ela ri.

“Eu sei.”

Eu estava prestes a rebater quando a porta se abre revelando uma figura médica diferente.

“Eu espero não estar interrompendo nada”, o médico fala forçando um sorriso ao ver a posição comprometedora em que Camila e eu nos encontrávamos. O fato de que dessa vez se tratava de um estagiário – provavelmente no segundo ano de residência –, deixava a cena ainda mais cômica.

“Ahn... De forma alguma, doutor”, ela responde me fazendo corar.

“Ok, certo. Camila, você sabe o que aconteceu, não?”

“Eu fugi de uma instituição psiquiátrica e falhei miseravelmente sendo atropelada por um carro no caminho. Sim, eu sei exatamente o que aconteceu.”

O médico permaneceu imóvel por alguns segundos. A boca semiaberta e os olhos fixados na figura deitada ao meu lado, provavelmente em choque pelo que havia acabado de ouvir.

“Sim”, ele finalmente fala depois de alguns segundos em total silêncio. “Foi exatamente isso que aconteceu. Você pode me dizer quais foram as lesões que você adquiriu durante o acidente? Estamos tentando ver se você está sofrendo com danos na memória ou algo assim.”

“Meu corpo está bem dolorido, mas por alguma razão o meu tornozelo está doendo mais. Então eu vou chutar que eu provavelmente fraturei essa porcaria na hora da colisão.”

O modo cômico que ela relatava algo tão trágico, era apenas uma vírgula nos inúmeros contextos em que ela dava o toque final com seu humor seco. Não pude conter o riso e acabei reprimindo uma gargalhada contra o travesseiro. Camila me lançou um olhar brincalhão como resposta.

“Uau, ok”, o médico parecia aturdido com o extremo bom humor da paciente. “Depois dessa eu creio que você também já saiba o seu estado clínico, não?”

“Pra falar a verdade eu só sei o básico. Tipo, o tornozelo foi bem fácil de adivinhar.”

“Nós te damos alguns analgésicos para dor, mas os efeitos já devem estar passando, então antes de você ir embora nós vamos te receitar mais alguns.”

“Sem problemas.”

“E eu tenho outra coisa pra falar, mas eu não sei exatamente se essa é a melhor hora.”

“Eu vou morrer?” Camila indaga fazendo o homem arregalar os olhos.

“Não. De maneira alguma.”

“Então você pode falar agora.”

“Ahn... Certo. Sua estadia, nós não—”

“Camila!”

O estrondo da maçaneta batendo contra a parede e a porta abrindo em uma velocidade absurda me fizeram levantar da cama e enlaçar o corpo de Camila como reflexo.

“Ele me obrigou”, Taylor tentava justificar a presença abrupta do homem na sala. “Eu fui pegar a droga de um refrigerante na máquina e esse psicopata me seguiu!”

“Camila”, a figura se aproximou da cama e eu podia sentir o corpo ao meu lado tencionar apenas com a presença do estranho. Ela podia lembrar do acidente, mas ela definitivamente não lembrava do autor do desastre.

“Eu manteria a distância se fosse você”, falei o encarando.

“Quem é ele?” Ouvi Camila perguntar em um fio de voz. O médico observava a interação com os olhos arregalados e permanecia estático como uma pedra.

“Austin”, falei com desdém. “Esse é o responsável pelo... Pelo seu acidente.”

“Oh...”

“Eu não faço a menor ideia do que elas já falaram de mim pra você, mas eu vim aqui porque eu quero me desculpar”, ele fala fechando os poucos centímetros que nos separavam.

“Eu não... Eu não sei o que dizer...” Ela balbucia em meu ouvido. O olhar de Austin fitava Camila como se ela fosse uma garrafa d’água em meio ao deserto e quando avertia os olhos em minha direção, me fuzilava como se eu fosse uma ameaça.

O que era ótimo, porque eu realmente desejava que ele me visse daquela forma.

“Você não precisa dizer nada, querida. Se você quiser eu posso chamar os seguranças e eu tiro ele daqui em dois toques.”

Uma linha tênue entre pavor e piedade traçaram os olhos castanhos em minha frente. Ela era boa demais para me deixar expulsá-lo do quarto sem mais nem menos.

“Austin, certo?” Ela oferece um sorriso caloroso em direção ao homem. “Escuta, eu nem sabia que você era o responsável pelo acidente, mas... Tá tudo bem. Sem ressentimentos. De verdade, eu estou bem agora.”

“Mesmo?”

“É... Eu estou bem, rodeada de amigas, pessoas que se importam comigo... Não há por que se preocupar.”

“Viu?” Soltei um riso debochado. “Você pode ir embora agora.”

“Na verdade eu vou me retirar e vocês podem conversar”, o médico fala se afastando e indo em direção à porta.

“Oh, de maneira alguma!” Austin interfere me fazendo rolar os olhos. “Por favor, continue de onde parou. E caso não se importem, eu gostaria de ficar. É o mínimo que eu posso fazer.”

Observei a interação dos dois com repulsa. Camila ainda parecia nervosa com a presença do homem na sala e eu não tirava sua razão.

“Certo...” O funcionário encara a prancheta tentando lembrar onde havia parado. “Oh, sim! Sua estadia. Nós recebemos uma ligação de uma das funcionárias da clínica onde você estava internada, e ela conversou por um bom tempo com o seu médico por telefone. Depois de insistir que você deveria receber um tratamento extra na sua recuperação, a equipe médica chegou à conclusão que você não pode voltar à clínica até ter os movimentos completos do tornozelo esquerdo.”

Os olhos de Camila se arregalaram ao ouvir a notícia. Meu coração batia tão forte que dava a impressão de eu recém ter saído de uma montanha russa com três loops.

“Isso significa duas coisas: Você pode permanecer no hospital até voltar a andar, ou pode escolher alguém de confiança que possa cuidar de você até que as coisas voltem ao normal.”

O fato de que a definição de normal era voltar para aquele fim de mundo, me indignava mais do que tudo. O sorriso de orelha a orelha estampado no rosto da mulher ao meu lado valia muito mais do que aquilo.

Normal.

Que piada de mal gosto.

“Você quer dizer que eu não vou voltar pra lá?” Ela pergunta ligeiramente trêmula.

“Até que seu tornozelo melhore e você recobre todas as funções motoras, sim. Isso pode levar de semanas até meses, dependendo do cuidado extra que você receber.”

Seria muito egoísta da minha parte desejar mentalmente que Camila mancasse pro resto da vida? Quer dizer, se isso acontecesse ela iria ficar comigo por um bom tempo, não?

“Mas eu não vou voltar pra lá até que meu pé fique bom, certo?”

“Tecnicamente, sim.”

“Você pode ficar comigo”, Austin sugere.

No momento em que eu o escutei falar aquilo, eu literalmente me imaginei em um sitcom onde tudo o que ele falasse era seguido de uma trilha de risadas sarcásticas. Que ridículo.

“Na verdade a funcionária que sugeriu esse procedimento recomendou a Srta. Jauregui para assumir a guarda provisória de Camila”, o médico interfere. Isso definitivamente tinha o dedo de Ally no meio.

“Não, não... Oh, eu faria isso com o maior prazer! Camila, você seria—”

“Será que você pode parar, nem que seja por um minuto, com essa coisa toda de auto perdão? Ela já disse que tá tudo bem, você não precisa levar ela pra casa pra provar nada”, Taylor fala irritada.

“Por favor”, ele ignora o ataque de raiva de minha irmã e encara Camila.

“Camila, a escolha é sua”, o funcionário oferece um sorriso ao ver a situação em que ela se encontrava.

“Eu sei que você está arrependido, e sinceramente, eu acredito em você. Mas eu conheço Lauren há mais tempo e não faria o menor sentido eu passar esse tempo na sua casa e não na dela.”

“Eu entendo”, ele sorri.

“Então o que vai ser, Camila?”

“Lauren”, ela fala beijando minha bochecha. “Lauren vai ser minha guardiã no período da minha recuperação.”

“Certo. Eu vou buscar a papelada pra que vocês assinem”, o médico assente rumando em direção à porta.

“Você deveria ir”, Camila fala para Austin.

“É... Eu acho que meu papel não poderia ficar mais ridículo aqui”, ele tinha razão, mas eu era educada demais para concordar em voz alta. “Eu vou deixar meu número com a recepcionista, caso você... Queira conversar ou algo assim.”

“Tudo bem”, ela parecia genuinamente desinteressada.

“Até mais, Camila.”

Minha irmã que permanecia em pé ao lado da porta, tratou de batê-la com todas as forças possíveis no segundo em que Austin havia saído. Depois disso eu tive a leve impressão de que ela também não parecia gostar muito da figura.

“Nós realmente devemos chamar o segurança pra ficar de olho nele”, Taylor diz caminhando até a cadeira.

“O que era aquilo afinal? Porque raios eu iria querer o número dele?”

“Oh, tadinho. Ele só queria ser seu amigo”, debochei.

“Eu até te bateria se você não fosse minha guardiã”, ela rola os olhos e afunda o rosto em meu pescoço.

Guardiã.

A palavra ainda não parecia fazer sentido em minha cabeça. Nada parecia clicar ou condizer com absolutamente nada depois que o médico saiu da sala. Guardiã. Eu realmente deveria ter dado créditos ao que Ally havia falado.

Camila não iria voltar à clínica tão cedo e o próximo destino depois do hospital seria o meu apartamento. Era surreal, ilógico, absurdo demais para alguém como eu simplesmente acreditar e lidar com aquilo.

“Posso pedir uma coisa?” A escuto perguntar ao meu lado.

“O que você quiser.”

“Eu posso comer chocolate no café da manhã?”

Sorri ao ouvir o pedido. Talvez não seria tão complicado e complexo quanto eu pensava. Talvez aquelas semanas fossem ser as melhores da minha vida. Talvez, depois de tanta injustiça, eu finalmente iria ter a satisfação de aproveitar e acordar ao lado dela sem me preocupar se estávamos sendo vigiadas ou separadas por uma grade de ferro. E talvez a palavra talvez fosse a coisa mais próxima que tínhamos da palavra provável.

Ela iria passar os feriados de fim de ano ao meu lado. Eu iria deixá-la comer quantas barras de chocolate ela quisesse, e os programas matinais de televisão não iriam ser entediantes porque eu simplesmente sabia que ela iria fazer um comentário sarcástico a cada dois minutos e tornar seja lá o que for que estivermos assistindo, dez vezes mais engraçado.

Nós iríamos sentar no balcão da cozinha às três da manhã e falaríamos sobre o universo, e passaríamos tardes a fio embaixo das cobertas vendo a neve se acumular do lado de fora da janela.

Em nove anos Camila estava indo para o primeiro lugar que poderia chamar de casa, e trinta e quatro dias depois de conhecê-la, eu estava mais do que ok com isso.

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