— Bel, cadê a tia Lenira? — Fiquei curiosa, observando todos ao redor.

— Num sei, num vi ela em lugar nenhum. Vamo comer alguma coisa? Essa ceia tá demorando demais.

Fomos até onde um dos tios estava tostando carne na churrasqueira enquanto bebia uma cerveja atrás da outra. Outros homens da família o rodeavam, bebendo e rindo também. As mulheres deles trouxeram os pães de alho minutos depois e também começaram a fazer parte da conversa. Bel e eu só pegamos um pratinho cada uma e saímos.

Em outros tempos, meu pai estaria com eles, mas o álcool não era mais parte essencial de suas relações com as pessoas. Ele estava do outro lado do terreiro, ao redor de uma pequena árvore. Estava com um pisca-pisca, algodão e bolas de natal que havia comprado na cidade em mãos. Junto com Jaime e Dudu, ele começou a enfeitar uma planta que vovó cultivava em um vaso, chamada árvore da felicidade.

— Coisa a coisa no coiso, menino! — Meu pai resmungava com Jaime quando nos aproximamos — Num vê que eu tô ocupado?

— Mas é pra coisar o quê, pai?

— Esse coiso aí ó! — Apontou para a extensão que Dudu estava tentando jogar pela janela para ligar na tomada da sala. — O pisca-pisca aí, menino! Num entendeu?

— Ah, o coiso! Entendi.

Quando eles terminaram de armar tudo, parei ao lado do meu pai e fiquei observando a primeira árvore de natal da nossa família. Estava engraçada, nada parecida com as que eu via na televisão, mas estranhamente preferia aquela a qualquer outra. As crianças ao redor, curiosas e empolgadas, também pareciam gostar tanto quanto eu.

— É a primeira vez que a gente se reúne pro natal. — Falei para meu pai, um pouco emocionada com tudo — A gente podia fazer mais isso.

— Eu ia gostar. — Bel comentou animada — Mas num sei se todo mundo reúne de novo aqui na casa da vó.

— Uai, a gente pode fazer lá em casa. — Meu pai sorriu, também animado com a ideia — A gente nunca reúne, mas pode começar a reunir.

— Eu vou adorar. — Confessei, sorrindo, cheia de esperanças para os anos que viriam.

Ouvir aquilo foi como notar as mudanças intensas da minha família. Em outras ocasiões, isso nem seria discutido. Todos nós estávamos diferentes naquela época. Eram outros tempos e tudo parecia transitar para um período mais ameno, mais acolhedor e alegre.

— Óia só, Zé! — Minha tia Ana, que estava chegando com o marido, passou por nós com um pavê lindo em mãos — Ficou bonito o meu pavê?

— Uai, bonito demais, — meu pai sorriu para minha tia — mas é pavê ou pacumê?

Enquanto os adultos por perto riram, vi uma meia dúzia de primos adolescentes revirarem os olhos com a piada.

— Mas essas festa de natal pode acabar em pobrema. — Meu pai fez uma cara séria para os meus tios — Cês num tem noção do perigo que é.

— Por causa da chuva? — Um dos homens olhou para o céu — Tá meio nublado, né? Mas acho que só deve cair amanhã.

— Não, num tô falando de chuva.

— Então qual o problema, seu Zé?

— É esse monte de parente junto. Teve uma vez que a dona Maria Gaiteira deu uma festa igual essa na casa dela. De noite, quando ela deu vontade de mijar e foi no banheiro, deu de cara com o noivo da fia dela mijando. Ele guardou o negócio rápido dentro das calcas, mas deu pra véia ver. Era tão grande a Maria Gaiteira quase gritou. Só que, ainda por cima, tinha uma tatuagem nele. Tava escrito "buco" no negócio do rapaz.

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