Capítulo 52

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Minhas mãos estavam suadas. Passei todo o tempo as esfregando na calça, tentando ser o mais discreta possível ao fazer isso. Evitei olhar para ele, mas sua voz sempre soava, pois era parte vital daquele projeto. 

— O trabalho tá sendo muito elogiado, mas quero que cês tomem cuidado. — Nico alertava as mulheres — Sei que se preocupam com as crianças, mas cês tão aqui pra ajudar nas denúncias e pra dar um pouco de esperança. Não entrem além da conta nos territórios que não conhecem e que são da justiça. E qualquer sinal de perigo, me avisem. Se cês errar ou se acertar, não importa, a gente tá junto. Eu tô orgulhoso demais de cada uma aqui. — Seu sorriso irradiou, comprovando suas últimas palavras.

Para não olhar demais para ele, tentei me concentrar em Isabel, que coordenava o grupo e também era parte essencial de tudo aquilo. A cada vez que ouvia seu riso ou ouvia suas palavras, me dava uma intensa emoção e um nó se formava em minha garganta por prender o choro. Lembrava de toda a dor que ela havia passado e só desejava que continuasse sorrindo daquela forma por toda a vida.

— A gente num pode esquecer de se cuidar. — Bel avisava, apontando o dedo para elas — Quem aqui não tiver em dia com os tratamento de saúde, vai tomar um puxão se oreia, viu? A gente tem que tá bem pra fazer as coisa direito. E cês sabe que qualquer coisa que precisar, eu tô aqui. Nós sai pra tomar uma e solta o que tiver fazendo mal na mesa do bar. Ninguém aqui tá sozinha, não!

Os risos eram a melhor parte. Ver aquelas pessoas rindo, aquelas que eu sabia que tinham uma história tão triste, renovava cada fibra do meu ser. Aquele presente que minha prima havia me dado era um verdadeiro combo de esperança e de fé. Era muito mais fácil ter forças para lutar ao entender que não estava sozinha naquela guerra.

Nico, no entanto, me causava algo diferente. Tentei negar o tempo todo o quanto era delicioso ouvi-lo falar. Sua maturidade me emocionava, as orientações que dava para as mulheres, a forma como se dispunha a ouvir e informar, enfim, tudo me causava intensa admiração. Mais difícil ainda era negar o quanto seus detalhes mexiam comigo. Observava sua mandíbula e seu pomo de adão se moverem quando engolia, observava o sorriso largo e bonito que dava quando alguém dizia algo engraçado e também como ficava sério, com uma expressão raivosa, quando algo grave era explanado. No fim das contas, tudo nele mexia comigo como nunca.

"Para de olhar, Catarina, pelo amor de Deus!" Meu pensamento me repreendia. "Ele vai notar, se é que já não notou, sua pastasma!"

Tentei me segurar ao máximo, mas se havia algo difícil naquela hora era não olhar para ele. Era uma imagem muito forte e intensa a que me passava. Mil e uma borboletas voavam em meu estômago a cada vez que nossos olhos se encontravam, por isso mantive a atenção em meus pés o quanto pude.

"E se eu espiar só um cadinho?" Pensava, inquieta e curiosa "Será que ele tá noivo? Ou casou?"

Ergui um pouco o olhar e observei suas mãos. Estavam sem aliança.

"É, parece que não." Sorri, mas depois desfiz o sorriso e me irritei comigo mesma. "E que diferença faz, ô pamonha? Pode ver com o zói e lamber com a testa!"

Ao mesmo tempo que não conseguia deixar de observá-lo, sentia que ele nem se importava comigo. Nico estava muito tranquilo, ou pelo menos era o que aparentava. Não o vi olhar em minha direção em nenhum momento. Me ignorou completamente, o que me fez pensar que aquele reencontro afetava unicamente a mim. Era provável que houvesse superado tudo, o que me deixava destruída e ao mesmo tempo aliviada. Não queria lhe fazer nenhum mal com minha presença. 

"Assim que eu voltar pra minha vida normal, esse encontro não vai ter sido nada." Mentalizei essa ideia e consegui nela um pouco de alívio.

Tentei pensar que não era porque Nico me chamava atenção que significava alguma coisa. Ele estava atraente, para dizer o mínimo, e não era apenas pela aparência, mas também pelo porte, pela forma como falava e pelo grande ser humano que havia se tornado. Era normal que meus olhos ficassem presos nele. Qualquer mulher poderia ficar daquele jeito. Não queria dizer nada demais, certo?

Bem Me QuerWhere stories live. Discover now