Capítulo 51

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Mal pude descansar naquela tarde, por mais que quisesse. Minha prima estava com pressa e me pediu para não demorar muito ou perderia o presente. Não entendi nada, mas obedeci.

— Dá tempo de tomar um cafezin? — Eu realmente sentia falta de um bom café feito na hora depois de um dia inteiro de viagem.

— Dá, eu acho. — Bel respondeu — Mas se apressa.

Nós todos nos sentamos na mesinha da varanda e comemos broa de rapadura tomando o deliciso café daquelas terras. As xícaras esmaltadas queimavam a língua e os lábios, enquanto a broa melava os dedos. Conversávamos enquanto o cachorro, Beethoven, vigiava os garotos, esperando ganhar um pedaço do que eles comiam. Era tudo tão simples e tão delicioso.

Meu pai e meu irmão estavam muito empolgados e falavam o tempo todo sobre tudo que poderíamos fazer naquelas três semanas. Nunca, naqueles cinco anos, eu havia ficado tanto tempo com eles.

— A gente podia passear na cachoeira, Tatá. — Jaime sugeriu — Agora eu sei nadar mió que ocê.

— Precisa visitar seus padrinho tamém, minha fia. — Meu pai falou em tom de bronca enquanto levava a xícara à boca — Muito feio ficar esses ano tudo sem visitar eles.

— Mas eu sempre ligo pra eles, pai. — Terminei o café e já estava me levantando ao dizer isso.

— Num é igual. Eles ficam sentido d'ocê num ir lá. Os dois gosta tanto d'ocê.

Aquilo me deixou mal porque era verdade. Estava errada de não visitá-los, mas ao mesmo tempo não estava nem um pouco empolgada com a ideia de ver Nico, muito menos o irmão dele. Como se lesse meus pensamentos, meu pai completou:

— Se tá preocupada com o Nico, pode despreocupar. Ele num mora mais com os pais há muito tempo. Nenhum dos meninos mora.

— Não? E o Nico mora onde?

Meu pai deixou a xícara sobre a mesa, engolindo o café, então estudou meu rosto.

— Cê fala pra nós num falar dele. É pra falar agora?

Demorei um pouco a decidir.

— Não. Deixa quieto. — Saí às pressas para me arrumar.

Bel foi atrás de mim, cochichando ao meu lado:

— Te incomodaria muito ver ele, Catarina?

Me virei para ela e fiquei confusa.

— Sabe que eu num sei? Pode ser que se eu visse, nem ia sentir nada. Mas acostumei a fugir esses ano tudo. Acho mais fácil. Não saberia como agir.

— Sempre que vem visitar a cidade, ocê fica escondida aqui no rancho. Nem na minha casa cê vai, Catarina. Já é hora de andar pela cidade e viver normalmente. Ninguém vai te morder.

— É, pode ter razão.

Guardei minhas malas, tomei um banho e me arrumei rápido para sair com Isabel. Iríamos de charrete e eu estava animada para saber qual era a surpresa que ela tinha para mim. Nada iria me preparar para o que eu veria.

Estava enrolada em uma toalha, procurando o que vestir quando minha prima pegou uma blusa delicada de alças finas que estava dentro de uma das malas.

— Que linda! Veste ela, Catarina! Vai ficar bonita.

Aceitei sua dica e peguei uma calça jeans justa para usar também. Prendi meu cabelo em um rabo de cavalo por causa do calor, coloquei um relógio de pulso dourado que dona Carmem havia me dado, brincos e um colar com um pingente de flor de lis que representava a pedagogia. Fiquei observando o resultado no espelho, me sentindo bastante bonita.

Bem Me QuerOpowieści tętniące życiem. Odkryj je teraz