O Monotono Diario de Isaac [BETA]

13 de Setembro, 2018 - Quinta (22h34)

Ainda bem que foi ela que falou com ele, porque eu com certeza não teria pensado nisso. Acabaria abrindo a boca e deixando ele preocupado e ansioso por chegar logo.

Enfim. Enquanto esperávamos, terminamos de atender os clientes que ainda estavam olhando os vasos, e depois fechamos o portão. Os agentes do Conselho Tutelar esperaram numas cadeiras que o Jonas ofereceu a eles, e nesse meio tempo ninguém conversou – até os velórios que presenciei durante meu bico no cemitério eram mais animados (é sério). A Jack explicou que era tia do Lucas e pediu mais informações, mas eles disseram que só explicariam a questão para o pai da criança.

Passou quase meia hora até que o Nicolas chegasse, e achei que eu não era a melhor pessoa para recepcioná-lo. A sensibilidade da Jaqueline em horas como essa é tudo o que eu não tenho, então fiquei no meu canto, só fantasiando várias maneiras de fazer a Sônia pagar por isso. Enquanto eu via os gêmeos conversando na calçada, antes de falar com os agentes, a cara do Nicolas foi do espanto para a raiva, e depois para a desolação... Quando ele cruzou meu portão para falar com os agentes, que se levantaram, tinha uma determinação fria no olhar dele e ao mesmo tempo cansaço.

Assim que ele mostrou a carta de motorista para provar quem era, finalmente recebeu a explicação exata sobre a acusação da Sônia, sobre ele não dar as condições necessárias para o sustendo deles (pensão), e de estar pervertendo o Lucas através de um relacionamento impróprio e promíscuo com outro homem.

Olha, eu sei que já falei antes, mas tenho que repetir: aquela mulher é doente! Completamente louca e do-en-te! Se a situação não fosse tão ruim, eu teria dado risada da cara deles e pedido para investigarem onde a puta estava gastando o dinheiro da pensão. Mas, enfim. Nessa questão eu era só um espectador inútil, e se eu falasse algo poderia acabar piorando a situação já ruim dos Belson. Tanto eu quanto o Jonas ficamos meio de lado, só ouvindo a conversa enquanto o Nicolas explicava que pagava um valor suficiente para que eles se mantivessem, o que foi confirmado pela Jaqueline. Quando os agentes pediram provas, ele usou o celular para procurar os depósitos bancários que fez à Sônia nos últimos meses. E pela cara que os agentes fizeram, parecia que estava tudo em ordem. A moça de terno olhou pro colega e comentou algo sobre a Sônia ter acusado um valor bem menor, e a Jack disse que aquilo não era verdade.

"Você pode enviar pra gente os comprovantes dos últimos 24 meses? Acho que vamos ter que investigar isso". E o Nicolas garantiu que entregaria, e aproveitou para comentar que ele suspeitava que o dinheiro estava sendo usado para comprar drogas ilícitas. Nessa hora, percebi que os agentes se olharam (como eu queria saber o que estavam pensando). Até que finalmente chegaram na outra questão das acusações:

"É verdade que está se relacionando com outro homem?"

Essa pergunta disparou meu coração de uma forma tão dolorosa que achei que fosse perder os sentidos lá mesmo. Olhei para a nuca dele, esperando. Em várias situações, o Nicolas assumiu namorar comigo (tipo com os velhos amigos e os colegas da faculdade – sem falar que ele não tem vergonha de andar de mãos dadas comigo em público). Mas quando a coisa envolvia de alguma forma a Sônia, ele sempre foi cauteloso. Tipo aquela Festa Junina na escolinha do Lucas, quando ele me apresentou como amigo. E como dessa vez o Pinguinho estava envolvido, eu tinha certeza que ele usaria a mesma estratégia, dizendo que a Sônia provavelmente interpretou mal a amizade da gente, etc. Até abaixei a cabeça para que meu choque não ficasse tão evidente no momento em que a resposta viesse.

Quando o Nicolas falou, estava com a voz mais baixa que o normal: "É verdade, sim... E tem algum problema quanto a isso?".

Amiga... Ele não me rejeitou... Diante do Conselho Tutelar, que estava nos acusando de coisas absurdas, ele me assumiu! Virou para trás, onde eu estava, e me chamou para o lado dele. Tive que reunir forças nas pernas para que se movessem, pois pareciam fortes como gelatina, e leves como chumbo.