— Tatá! — Jaime pulou com tanta força sobre mim que caí para trás. Ele me apertou muito e chorou de soluçar — Cê voltou!

Não consegui dizer nada naquele instante, só o abracei de volta e chorei com ele. Aquele garotinho era meu grude, minha dor de cabeça, minha preocupação diária e meu cansaço, mas também era o que eu mais amava na vida. Tê-lo de novo comigo, mesmo que só por pouco tempo, já me renovava as energias.

— Como cê tá diferente! — Ele sentou na minha barriga e pegou minhas duas bochechas, esticando como uma massa de pão — Tá até mais branca. Cê passou cal na cara, Tatá?

— É que quase não tomo sol agora. — Falei entre soluços — Moro num apartamento.

— E tá mais gorda. — Jaime deu pulinhos em cima da minha barriga. Seu nariz escorria — Tá que nem eu!

Comecei mesmo a engordar, visto que não fazia mais grandes caminhadas como antes, nem andava de bicicleta e estava comendo muito melhor. Também estava indo a médicos e me cuidando, pois logo nos primeiros exames que dona Carmem me mandou fazer descobrimos que eu estava um pouco desnutrida e com algumas feridas no estômago por causa da gastrite nervosa.

— Você tá gordinho mesmo, Mosquitinho! — Apertei sua cintura fofa e tentei morder sua bochecha, arrancando risadas dele em meio às nossas lágrimas — E esses dentinhos aí? Caíram quando?

— Já caiu um monte! Tô ficando banguela que nem o vô, olha! — Ele esticou a boca para que eu visse seu sorriso sem os dois dentes da frente. Depois fungou, deixando mais lágrimas caírem. Outras minhas caíram também enquanto passava as mãos em seus bracinhos bronzeados, tentando acreditar que estávamos mesmo juntos.

Segurei seu rosto e lhe dei um beijo na bochecha.

— Eu te amo, Mosquitinho. Senti saudade.

Jaime pegou meu rosto e também me deu um beijinho. Foi tão espontâneo que me surpreendeu.

— Te amo tamém, Tatá. Senti tanta saudade que quase caí morto, durin.

— É? — Eu chorei e ri ao mesmo tempo.

— É. — Ele se levantou, secou os olhos com o pulso, pegou minha mala no chão e saiu correndo — Vem, Tatá! Vem pra casa! — Depois gritou pra lavoura — Paiê! Tatá voltou! Num é mentira! Ela é de verdade!

Mesmo eu dizendo que estava pesada, Jaime quis carregar minha mala. Segundo ele, já era um "rapaz forte e trabalhador" e que aguentava o peso. Junto dele ia o cachorro, que era o novo membro da família. Seu nome era Beethoven, como o cachorro do filme que ele tanto gostava.

— A gente achou ele aqui na estrada. — Jaime contou quando chegamos à porta da casinha — Tava magrilin e cheio de carrapato. Aí nós cuidou dele. Agora ele cuida de nós.

Era uma graça ver como Beethoven não deixava meu irmão. A cada passo que Jaime dava, o cachorro estava atrás. Também foi interessante perceber como aquela criança estava se tornando independente e segura de si. Não consegui deixar de pensar que ficar longe da nossa mãe tinha a ver com esse fato.

Meu pai desceu da lavoura todo sujo e veio correndo me abraçar. Tinha cheiro de semente madura de café, de terra e de suor. Ele também chorou, mas não deixou transparecer tanto. Só dava para notar por sua fala engasgada e por seus olhos vermelhos.

— Ô, fia, como cê tá bonita. — Ele me olhou de cima a baixo — Tá vestida que nem fia de rico. E deve tá passando bem lá, né? Até engordou! — Ele também notou.

Eu estava usando calças jeans e camiseta. Não achei que fossem roupas chiques. No entanto, se comparava com as roupas que estava acostumada a usar no passado, eram mesmo chiques. E o fato de engordar não me incomodava. Pela primeira vez estava ganhando um pouco de formas, mas pensava que fosse por estar ficando mais velha também. Meu corpo parecia estar amadurecendo muito tarde e nem iria adquirir tanto amadurecimento assim.

Bem Me QuerWhere stories live. Discover now