Rivais sim, amantes também - Lucas Martinez Quarta

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Haviam coisas que não poderiam mudar, e uma delas eram aquelas relacionadas ao coração, a paixão, coisas que nunca poderíamos escolher

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Haviam coisas que não poderiam mudar, e uma delas eram aquelas relacionadas ao coração, a paixão, coisas que nunca poderíamos escolher.
Primeiro, ninguém escolhia para qual time torcer.
Segundo, ninguém escolhia para quem se apaixonar.
Terceiro, ninguém escolhia se apaixonar por um rival.
Essa era minha vida desde que pisei naquela maldita casa cheia de jogadores daquele time encapetado do River Plate.
Sinceramente, odiava minha amiga por me fazer passar por isso.
Maldito argentino com cara de anjo!
Para começar do começo, deveria voltar para a semana anterior.

"Desembarcar na Argentina, já era o começo da descia ao inferno, mesmo que fosse para ver o Super Classico, mas nada era tão ruim, que não pudesse piorar.
Era o que aconteceria nas próximas horas.
O meio da descida foi encontrar com o casal de amigos meus, também conhecidos como meus anfitriões, estava tudo ótimo, até o momento, não tinha nada de River Plate na minha frente. Então, tranquilo. Foi tranquilo até entrar na droga do carro e ver um chaveiro daquele time asqueroso no retrovisor, apenas revirei os olhos.
— Melhore essa cara, temos compromisso mais tarde. — Ela me informou.
— Bar? — Questiono.
— Nem, uma festinha lá em casa. — Ela sorriu de um jeito que me deixou preocupada.
O final da descida foi aquela festa. Cai exatamente no meio do fogo.
Antes de tudo, tomei um banho pra tirar o cansaço da viagem, depois dormi, e acordei apenas para me arrumar. Tirei todas as coisas da mala, afim de encontrar algo para a ocasião.
Paulameirense, vem aqui, rápido. — Gritei do quarto. — Solta esse gordo um pouco.
— O que foi? — Ela entrou terminando de amarrar o roupão e com uma toalha na cabeça com apenas um olho maquiado. — Espero que seja importante.
— Que roupa eu coloco? — Dou risada, ela colocou a mão na cintura e me encarou de cara feia.
— Vai assim. — Ela aponta pra mim, usava apenas calcinha e sutiã. — Nada que ninguém tenha visto antes, afinal, todo mundo já viu uma mulher vestida assim.
— Então, espero que você não tenha ciúmes, caso o seu gordo olhe pra mim. — Ela franziu o nariz considerando a ideia.
— Põe esse preto aí, vai ficar ótimo. — Apontou para o vestido jogado na cama. — Agora, vou terminar de me maquiar.
— Obrigada amiga. — Digo debochada.
Visto aquele vestido mesmo, afinal, escolher, não era uma coisa que eu soubesse lidar muito bem. Agradeci por meu cabelo ainda estar curto e que fosse fácil arruma-lo. Fiz uma maquiagem bem simples, não sabia exatamente o motivo, mas não estava empolgada com a ocasião."

Era o pressentimento de que tudo ia dar errado. E eu devia ter seguido minha intuição.

"Depois de finalmente juntar o animo para sair dali e ir para o quintal, onde a música já rolava e podia se ouvir um mar de vozes falando em espanhol. Quando me dei conta era basicamente uma reunião do elenco do time infeliz, quis voltar para o quarto e fingir que não estava ali.
— Vem Driele! — Minha amiga gritou fazendo com que todas as cabeças se virassem na minha direção, e quis me esconder e em seguida mata-la. — Vou te apresentar os meninos. — Ela deu uma gargalhada.
Grandísissima filha da puta.
— Eu te mato. — Disse, sabia que era pouco provável que alguém além dela e do gordo entendesse.
— Gente, minha amiga lindíssima, que veio pra cá assistir o jogo no final de semana.
— Aposto que para torcer pro maior da Argentina. — Um bonitinho de cabelo castanho e barba disse.
— Claro. — Ele sorriu empolgado. — O Boca Juniors. — Sua expressão mudou completamente, e naquele momento, quase me senti culpada pela pequena brincadeira.
Definitivamente, preferia aquele sorriso infantil trabalhado em seus lábios."

Agora que estava no inferno, era só abraçar o capeta.
Mas não esperava que o capeta fosse tão bonito.

Quando chegou o dia do jogo, estava completamente animada, mesmo que fosse naquele estádio chechelento. Queria estar em La Bombonera, cantando cada música a plenos pulmões. Mas teria que ficar mais calada que as portas da minha casa. A vantagem é que poderia ver Lisandro e Salvio bem de perto, quem sabe até eu conseguisse uma mísera fotinho com eles?
Era o início de um sonho.
Seguimos para o inferno, ouvia Paula falando sobre como estava sua vida, mas não conseguia prestar muita atenção, ficava pensando no resultado do jogo e naquele jogador bonitinho.
— Driele! — Olhei pra ela, e torci pra não ser uma pergunta. — O que você acha?
— Não sei, desculpa, não estava prestando atenção. — Prefiro ser sincera.
— Estava pensando no Chino, né?
— Quem é esse?
— Não faça a besta pro meu lado. — Dei de ombros.
— Por que caramba vocês chamam ele assim? — Aquilo estava me intrigando fazia um tempo.
— Não sei, os meninos chamam ele assim, então, é costume.
— Jogadores de futebol e seus apelidos estranhos. — Faço uma careta.
Deu tudo errado.
Perdemos o Super Classico, ainda tive que observar os jogadores do River Plate comemorando no meio do campo, estava destruída e tudo que eu não precisava era daquele jogador que não podia dizer o nome — também não sabia —, viesse ao meu encontro. Ele apoiou o corpo em uma das placas e me chamou.
— Vem brasileira, ninguém vai fazer nada contigo. — Ele disse sorrindo. Maldito.
— Prefiro ficar aqui. — Revirei os olhos.
— Deixa comigo, Chino. — Ela disse abraçando ele e empurrando para longe o camisa 28. — Vem amiga, eu consigo uma foto do Lisandro pra você. — Não estava levando aquilo a sério, devia ser alguma palhaçada. — É verdade, Pratto está falando com ele, veja por você mesmo. — Aponta na direção deles.
— Completamente esquisito isso. — Ainda estava cética quanto ao assunto. — Por deus, eu não confio nem um pouco em você. — Ela deu de ombros e saiu em direção ao marido, disse algo em seu ouvido. — Garota maluca. — Estava ficando um tanto incomodada com os olhares que aquela tentação dos infernos me lançava, foi como dito antes, agora que estou aqui, é melhor abraçar. Fui até ele com a minha melhor cara de poucos amigos. — Perdeu alguma coisa na minha cara?
— Sim. — Aquilo me desarmou quase por completo. — Há uma semana. — Quase todas as minhas guardas estavam abaixadas. — Uma coisa minha ficou com você.
— Driele, vem tirar sua foto com o Lisandro. — Salva pelo gongo.
— Terminamos essa conversa depois. — Digo.
Porque estava dizendo isso? Perdia completamente o senso, olhando aqueles olhos pidões.
Lisandro era o amor da minha vida mesmo, que homem lindo, como podia existir alguém com um rosto tão perfeito. Tiramos a foto rápido e não trocamos nenhuma palavra ele precisa ir para o vestiário e fiquei ali, olhando ele se afastar.
— Temos uma conversa pra terminar. — O bonitnho que eu esqueci o nome.
— Eu nem te conheço.
— Então vamos nos conhecer. Lucas Martinez. — Esticou a mão para mim.
— Driele. — Pego a mão dele, e sinto muito mais que um toque, algo parecido com um choque, uma eletricidade.
— Chino, truco na minha casa hoje? — Reconheci a voz do outro Lucas. 
— É claro, nunca perco um dia, hoje não ia ser diferente. — Ele respondeu me encarando. — Espero que você saiba jogar.
— Não sei, mas aprendo rápido.

A vantagem desse meu estágio, é poder culpar o álcool amanhã, porque não conseguia parar de olhar para o jogador do apelido estranho. Nesse momento eu só queria beija-lo quem sabe algo mais, mas ele parecia muito mais entretido com as cartas, talvez eu devesse agir.
Obrigada fernet com coca.
— Podemos conversar, depois que acabar essa partida? — Pergunto.
— Claro. — Percebi a troca de olhares rápidas entre minha amiga e o companheiro.
— Foi um dia cheio, assim que terminar, vou subir e dormir, mas vocês podem ficar a vontade. — Ela disse.
— Também vou, sintam-se em casa. — O gordo completou, isso era o que eu chamava de amigos, dando espaço.
— O que você queria falar comigo? — Ele me perguntou assim que ficamos sozinhos, dei de ombros. — Mas eu sei, o que eu queria falar contigo. — Me puxou pela cintura e colou nossos corpos, sentia a respiração dele se misturando a minha. Fui eu quem cobri a distância mínima entre nossos lábios, lento e inseguro, era bom, queria que aquele beijo fosse além, já estava toda perdida mesmo, que diferença faria? — Quer ir para minha casa? — Não iria resistir aqueles olhos e sinceramente estava querendo aquilo desde que coloquei meus olhos naquele rosto.
**
Não fui apenas ao inferno e abracei o capeta. Eu abracei, beijei e transei com ele, e queria dizer que havia sido ruim, mas nem perto disso.
Chino, parecia ter recebido um manual de instrução de meu corpo, suas mãos sabiam exatamente onde me tocar, seus lábios, sabiam o lugar que deveriam estar.
Essa seria a primeira vez que voltaria para o Brasil já planejando o meu retorno para a Argentina. A minha certeza era que quando voltasse, iria querer repetir a dose.
Agora pouco me importava se éramos rivais, éramos amantes também.

Coletânea de Contos - Jogadores de futebol. Where stories live. Discover now