Sirena - Ivan Rakitić

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“Para afogar essa tristeza
Eu vou encontrar uma sereia
Imaginando aqueles beijos seus
Porque eu não tenho aqueles beijos seus”

Quando o sol tocou seu rosto naquela manhã ensolarada, Ivan Rakitić praguejou mentalmente, se odiando por um momento depois de ter esquecido novamente sua cortina aberta

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Quando o sol tocou seu rosto naquela manhã ensolarada, Ivan Rakitić praguejou mentalmente, se odiando por um momento depois de ter esquecido novamente sua cortina aberta. Todo mundo sabia que ele amava olhar pela grande porta de vidro em frente sua cama, o sol refletido no mar que se tornava alaranjado no final do dia quando se escondia no horizonte, ele amava Barcelona, mais do que um dia poderia imaginar, ali era o lugar que gostaria estar, não existia nenhum outro lugar melhor que aquela cidade, nem na Croácia, menos ainda na Suíça, a Espanha era sua casa.
Sua cabeça estava pesada, tinha extrapolado na bebida na noite anterior, ele estava triste e nem mesmo a visão da praia em sua frente melhorava seu astral, ele só queria estar feliz outra vez, porque precisava ser tão difícil? E ele encontrava sua remissão, em cada copo de whisky que virava seco em sua boca, descendo de forma ardente em sua garganta, aquele sabor ainda parecia doce se fosse comparado com o que sentia nos últimos dias, Rachel tinha ido embora e ele ficou sozinho na cidade que amava, mas de que adiantava se ele estava infeliz agora? Todo seu sucesso, seus amigos, até mesmo seu dinheiro, nada daquilo era importante, se ao seu lado na cama apenas o cheiro da esposa tinha sobrado, pela casa não estava mais com as gargalhadas animadas das filhas, cada um de seus passos ecoavam infinitamente pela casa, ele passava muito tempo sozinho com seus pensamentos, parecia que iria enlouquecer se não colocasse um final naquela situação.
A muito custo saiu da cama e procurou pelos comprimidos de aspirina para já evitar a dor de cabeça que já começava a dar as caras, hoje não iria curar a ressaca com mais bebida, tinha outros planos. Ele decidiu encarar o chuveiro gelado, felizmente a cidade espanhola vivia o alto verão e as temperaturas eram altas, ainda assim seu corpo inteiro se arrepiou ao sentir o jato gelado em suas costas, ele colocou a cabeça inteira ali e deixou que a água caísse de forma dura em seu corpo, sentindo-a escorrer por seu nariz e encontrando o chão em seguida, Rakitić ficou ali por muito tempo, sem nem mesmo se mexer, apenas pensando se era sua culpa, mas ele não conseguia encontrar nada.
Ao longe ouve seu celular tocando, ele considera não atendê-lo, porém a pessoa insiste outra vez e ele enrola uma toalha na cintura e sai pingando do chuveiro, indo pegar o aparelho em seu criado mudo, sorrindo ao ver o nome de Sergi Roberto juntamente com uma foto de ambos na tela.
- Finalmente, achei que estava me ignorando.
- Estava no banho. – Ele diz sem importância.
- Já têm planos pra hoje?
- Na verdade, não. – Ele faz uma pausa longa. – Só ia sair por aí atoa.
- Então você não tinha planos, porque você vai sair comigo. – Diz de forma autoritária. – Coral foi fotografar em algum lugar que eu não tô lembrando agora e eu estou de bobeira.
- Você é um péssimo marido. – Rakitić pondera se aquele poderia ter sido seu erro.
- Bom, talvez, mas isso não importa.
- O que você tem em mente? – O rapaz se senta na cama.
- Podíamos ir no aquário, o que acha? Ouvi falar que está tendo alguma coisa com sereias. – Diz de forma muito animada.
- É verdade, estava planejando ir com as meninas, assim que começassem as férias.
- Raki, não sabia, tudo bem? – O espanhol soa preocupado.
- Fica tranquilo, tá tudo bem. – Mesmo que não estivesse, ele jamais seria capaz de dizer algo que estragasse a empolgação do amigo. – A gente com certeza precisa ir.
- Está falando sério? – Ele quase grita. – Vou comprar nossos ingressos, não quero correr o risco de não entrar, já pensou que merda? Não vamos pensar nisso. – Rakitić apenas riu.
- Depois te pago então.
- Não precisa, você paga o almoço. – Diz de forma divertida, eles estavam sempre pagando alguma coisa um para o outro. – Já comprei. Esteja pronto daqui a pouco, vou apenas me trocar e sair.
- Estarei esperando, pronto dessa vez. – Ele faz uma referência a sempre se atrasar quando marcava um compromisso.
- Duvido.
- Já fiz o mais demorado. – Ele pondera um pouco. – Não, uma das partes mais demoradas.
- Está bem Ivan, pare de falar e vai se arrumar, se não vou te deixar pra trás.
- Sim senhora mãe! – Ele diz de forma debochada e desliga a ligação antes que Sergi pense em dizer qualquer outra coisa.
Para o camisa 4 do clube catalão, seria estranho ir para um local sem as filhas, a verdade era que tudo estava esquisito sem elas, mesmo assim ele procurou alguma coisa para vestir que fosse confortável o suficiente para andar durante todo o dia, pois tinha certeza que Sergi Roberto não iria andar apenas por poucas horas, o outro jogador parecia uma criança quando se tratava desse tipo de coisa.
Rakitić ouviu a campainha e sabia que o amigo havia chegado e ele ainda não estava pronto, faltava arrumar o cabelo, então pegou sua pomada de cabelo, o celular e as chaves da casa e correu para a sala e abriu a porta sorridente.
- Eu sabia que você não ia estar pronto. – Sergi coloca a mão na cintura.
- Vamos logo. – Ivan empurra o outro para fora.
- Com o cabelo desse jeito? – O jovem parece surpreso.
- Algum problema? Porque você nem penteia esse ninho que você chama de cabelo. – Ele provoca e joga a pomada para cima. – Eu vou arrumar no carro.
- Tudo bem então, meu carro já tá acostumando com isso a Coral sempre vai se arrumando para os lugares. – Rakitić apenas revira os olhos e tranca a porta do apartamento.
**
Sergi Roberto praticamente corria pelos corredores do aquário sem se importar em observar os peixes ali, o que irritava um pouco o amigo.
- Sergi, dá pra ir mais devagar, eu não tô nem conseguindo ver os peixes. – Reclama.
- Pra que? Você já viu isso mil vezes, precisamos ver o número das sereias, que começa em sete minutos. – Ele puxa Rakitić pelo braço e o loiro só pode acompanhar.
- Eu não tô acreditando que você me fez sair só pra ver “sereias”. Você sabe que são só mulheres, certo?
- Aí por favor, quantos anos você acha que eu tenho?
- Agindo assim? Uns cinco e é uma menina ainda. – Sergi olha sério pra ele e revira os olhos.
- Eu juro, nunca mais vou te chamar pra sair.
- Ótimo.
Eles praticamente correram por todo o local, já que o show aconteceria do outro lado do aquário, o lugar tinha algumas pessoas já, mas nada que fosse impossível de chegar próximo ao tanque que as mulheres estariam dentro de três minutos. Ivan Rakitić não conseguia entender o motivo do amigo estar tão animado com a apresentação, ele achava divertido esses shows, por isso sempre levava as filhas, mas não porque ele necessariamente gostava daquele tipo de coisa.
- Sergi, você por acaso está interessado em uma sereia? – O espanhol solta uma gargalhada.
- Claro que não, eu sou um cara bem casado. – Ele ri mais uma vez. – A minha prima é uma das sereias, ela disse que usa uma calda azul, pro caso de ficar muito longe e não conseguir ver o seu rosto.
- Mesmo assim, isso foi no mínimo suspeito.
- Tá bom, a amiga dela é muito sua fã. Eu pensei sei lá, você poderia conhecê-la, sem compromisso.
- Faz umas semanas que Rachel foi embora e você quer me arrumar um rabo de saia.
- Raki, não tem nada demais nisso, você é um cara solteiro e ela só é sua fã, não quer dizer que vocês precisam transar.
- Nesse caso você está certo. – Ele pondera as informações. – Mesmo assim, não vou chamar ninguém pra sair.
- Você não vai, eu já chamei.
- Não acredito, você está forçando a barra pro meu lado.
- Você vai gostar dela. – Ele prefere não responder, afinal, achava aquela ideia ridícula demais, Sergi estava sendo muito insensível.
Rakitić não conseguiu despregar os olhos da sereia de calda esverdeada, acompanhava cada um de seus movimentos, como alguém poderia fazer cada movimento tão perfeitamente? Mas aquela mulher conseguia, até às bolhas pareciam subir de forma ensaiada. Se alguém perguntasse que mais estaria acontecendo naquele tanque, ele seria completamente incapaz de dizer, nem mesmo quais cores tinham as caldas das outras mulheres, ele estava encantado com a pele morena da sereia.
- Você está babando. – Sergi empurra seu ombro tirando Rakitić de seu devaneio.
- Claro que não, estava concentrado apenas. – O outro ri.
- Claro que sim. – Dá de ombros. – Quer ir tirar foto com elas?
- Não. – Diz com cara de poucos amigos. – Você estragou todo o meu passeio.
- Eu sei que você ainda vai me agradecer por isso. – Novamente o croata não responde.
Sergi, logo que terminou a apresentação o arrastou para fora dali, iriam para o restaurante do lugar, ali não era a melhor escolha que ele poderia ter feito, mas era a única chance de fazer aquele encontro funcionar, afinal as duas estavam no horário de trabalho. Para a surpresa de Ivan Rakitić, era a sereia morena, ele até se assustou num primeiro momento, parecia uma brincadeira, ele considerou procurar pelas câmeras escondidas.
- A Laura você já conhece. – Sergi aponta para a prima e Rakitić sorri para ela, eles haviam se conhecido no casamento. – E essa é a Melinda, esse é o Raki, mas isso você sabe.
- Prazer, Rakitić. – Melinda lança um largo sorriso para o jogador.
- O prazer é todo meu. – Sergi Roberto segura o riso. – Parabéns pela apresentação, você está ótima. – Sorri. – E pode me chamar de Ivan.
- Obrigada Ivan. – Ela diz o nome dele.
- E o que você achou de mim? – Laura pergunta de forma provocante.
- Estava ótima. – Diz sem olhar para a mulher e já direciona seu olhar para a morena outra vez. – Me conta de você.
- Eu tenho 26 anos, trabalho aqui têm uns bons anos, minha família é do Irã, mas olhando pra mim, dá pra perceber que eu venho daquela região. – Ela ri. – Mas eu nasci aqui em Barcelona, minha mãe veio grávida.
- Bem que eu achei que você era árabe mesmo.
- Sergi! Eles são persas, todo mundo sabe disso. – Rakitić corrige o amigo.
- Ah, eu não sabia. – Diz na defensiva.
- E você é... – Ele não sabe como formular a frase.
- Virgem? – Ela diz rapidamente.
- Não ia perguntar isso, ia perguntar sobre a religião. – Ele diz envergonhado.
- Ah, levando em conta o meu trabalho, não. Lá as mulheres vão presas só por mostrar o cabelo, imagina.
- Acho que eu prefiro não. – Ele fica pensativo e não diz nada por um tempo.
- Não.
- O que? – Ele fica confuso com a fala e a mulher apenas ergue a sobrancelha. – Ah! – Diz após perceber que era a resposta para a própria pergunta que ela tinha feito.
- Parece que a gente ficou sobrando aqui. – Ivan Rakitić nem mesmo olha para o amigo e continua a prestar atenção na mulher.
**
“Eu acordei novamente em outro quarto
Procurando pelo que sobrou do meu coração
Eu gostaria de outro beijo para me apaixonar
Saia do caminho e esqueça você.”

Quando ele acordou na manhã seguinte, depois de ter passado a tarde no aquário, podendo então ter o tempo disponível para poder ver todos os peixes que quisesse enquanto esperava que Melinda saísse do trabalho, para que eles pudessem se conhecer mais, o jogador havia ficado encantado com a mulher, ela era cativante. Sergi estava certo, ele iria agradecer um dia.
Ele havia tido uma grande noite, Melinda era sensacional na cama, mas seu coração ainda pensava em Rachel, contudo ele tomaria uma decisão, tinha que seguir seu caminho e Melinda estava ali, onde Rachel havia deixado um buraco.

Coletânea de Contos - Jogadores de futebol. Where stories live. Discover now