Tinder - Morgan Schneiderlin

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Era um dia especial, minhas duas melhores amigas estavam vindo me visitar na casa nova, tinha me mudado recentemente para a Inglaterra com o intuito de começar uma nova vida

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Era um dia especial, minhas duas melhores amigas estavam vindo me visitar na casa nova, tinha me mudado recentemente para a Inglaterra com o intuito de começar uma nova vida.
Mudar era preciso.
Arrumava o quarto para elas, e pensava na maneira como iria abrigar também seus respectivos companheiros, o que era um pequeno problema, meu apartamento só tinha um quarto extra e duas camas de solteiro.
No fim, daria certo.
Nos conhecemos bem no início da graduação, fazíamos parte de um pequeno grupo de estudantes estrangeiros que ingressavam em uma universidade italiana, haviam estudantes de várias nacionalidades, e estávamos passando por um pequeno período de adaptação, tínhamos aulas de italiano quatro vezes por semana e as sextas eram aulas específicas de vocabulário da área, nós três éramos de cursos diferentes, Alena, iria cursar fisioterapia, Paulinha, psicologia e eu, enfermagem. Minhas preces de encontrar outras brasileiras foram ouvidas com muita eficácia, afinal, as duas patetas eram as melhores amigas que eu poderia ter.
Após o término de nossos cursos, tomamos rumos diferentes, segui na Itália até o início desse ano, Alena tinha seguido seu sonho de morar na Alemanha e Paulinha, retornado ao Brasil e depois de algum tempo, foi fazer um mestrado na Argentina. Isso era apenas um pequeno detalhe, sempre que podíamos, íamos nos visitar e dessa vez elas vinham para minha nova casa, era empolgante.
Tinha combinado de buscá-las no aeroporto, tivemos um pequeno trabalho para encontrar voos com horários próximos, mas após uma garimpada pelos sites das companhias, conseguimos, eram quarenta e cinco minutos de diferença. Os minutos que estava parada ali pareciam não ter fim, cada segundo parecia se estender horas, era ansiedade
Paulinha chegou primeiro, não contive meu sorriso ao levá-la passar pelas portas automáticas e demos um longo abraço, eram dois anos sem se ver.
- Quanto tempo! – Ela diz animada. – Está linda.
- Você também!
- Esse aqui é meu famoso namoradinho, Lucas. – Ela diz animada. – Cariño, essa é a Camila, mas pode chamar de “camisinha”. – O rapaz ri e procura algo em seu olhar. – Apenas Cá.
- Muito prazer. – Dizemos juntos.
- Cadê a Alena? Pensei que a virginiana já estaria aqui quando chegasse. – Paulinha comenta.
- O voo dela era depois do seu. – Respondo. – Depois a lesada sou eu, por ser de peixes. – Cruzo os braços.
- Não direi nada. – Ela fica olhando ansiosa para a porta.
- E como andam as coisas?
- Ótimas, tenho um emprego legal, estou fazendo Ciências Sociais, e tenho um boy gato, tudo que eu preciso. – Ela abraça o namorado.
Ficamos ali conversando sobre trivialidades até que minha outra amiga chegou.
Aí sim, foi uma verdadeira confusão, as três pulavam abraçadas e rindo de felicidade.
- Gente, meu mozão, mas vocês já sabem o nome dele e tudo mais. – Dou risada, claro que conhecíamos ele, pelo menos da televisão. – Mozão, minhas amigas, Cá e Paulinha, e aquele deve ser o Lucas, o pobre coitado que atura a surtada. – Paulinha revira os olhos e cumprimentamos o goleiro.
**
Tínhamos resolvido o problema dos quartos, Neuer sugeriu que comprássemos um colchão inflável para colocar na sala, e, quem ficasse no quarto juntasse as camas. Era simples e completamente funcional.
Minhas amigas e eu estávamos jogadas na minha cama, enquanto os dois rapazes conversavam na sala jogando vídeo game.
- Então, Senhora Pivô de Separação. – Digo olhando para Alena. – Conta essa história direito.
- Aí gente, não é assim. – Ela se senta. – Seguinte, Manu e a ratazana – Rimos, era assim que costumava se chamar a ex-mulher do jogador dentro do fandon brasileiro. –, estavam passando uns problemas no casamento fazia um tempo já, relação desgastada, essas coisas. – Olhávamos atentamente. – Daí, eu fui chamada pra fazer um teste no Bayern, prontamente aceitei, ele tava lesionado e acabamos nos esbarrando por lá, mas nem dei bola, queria um emprego, isso sim, passou um tempão, ele me achou no Instagram e me seguiu. – Deu de ombros. – Nessa altura aí, ele já tinha assinado o divórcio, porém, aparecia com a Nina nos lugares, aparência que chama, começamos a sair e daí surgiu esse boato infundado.  E não, eu não consegui um emprego no Bayern. – Ela  finge uma cara triste.
- Muito colorida, sua destruidora de lares. – Paulinha a provoca. – Adorei.
- É verdade, juro. – Ela ergue o dedinho. – E você dona Camila?
- De copo sempre cheio e coração vazio. – Cantarolo. – Acabei de me mudar, não conheço nem a cidade.
- O Tinder existe pra quê? – Paulinha questiona. – Sempre têm uns boys maravilhosos.
- Não gosto muito dessas coisas. – Digo na defensiva.
- Vai, não custa nada tentar. – Alena me encoraja.
- Tudo bem, mas não vou ter nenhum match, aguardem.
Crio um perfil rapidamente e estávamos muito concentradas nas fotos que apareciam, jogava alguns para esquerda, outros pra direita.
- Olha, esse aqui é bonito. – Alena diz me fazendo olhar com mais atenção. – Morgan Schneiderlin...
- Esse aí não é o jogador? – Paulinha pergunta.
- Deve ser fake, sem dúvida. – Digo. – Grandão ele.
- Menos que nossos namorados. – Paulinha. – Quero só ver esse encontro.
- Primeiro que ele não respondeu, segundo, aposto que deve ser um gordinho punheteiro. – Damos uma longa gargalhada. – É sério, quais as chances dele usar esse tipo de aplicativo?
- Nunca se sabe, a solidão é triste. – Como sempre, Alena muito sensata.
- Depois dessa, vou deixar esse aplicativo de lado. – Jogo o aparelho no travesseiro. – O que faremos mais tarde?
- Espero que comer, porque sinceramente já estou ficando com fome.
- Nenhuma novidade, você só pensa em comer, Paula. – Digo.
- E em outras coisas também. – Sorriu maliciosa.
- Ainda bem que você vai ficar na sala. – Ela coloca a mão sobre o peito, se fingindo de ofendida.
- Cá, seu celular vibrando. – Alena o pega. – Morgan Schneiderlin. Parece que deu match.
- Vou mandar um “e aí fake”. – Caímos na gargalhada. Leio a mensagem. – Ele quer se encontrar comigo hoje.
- Parece que temos planos para hoje. – Paulinha diz animada.
- Quem tem um encontro sou eu.
- Não perco a sua cara quando ver o gordinho punheteiro por nada nesse mundo e você Lena?
- Por nada. – Elas se levantam. – Vou avisar o mozão.
- Tudo bem. – Respondo a mensagem confirmando que iria. – Pelo menos vocês podem me salvar do pervertido.
- O cara nem esperou pra ver como seria o papo.
- Isso que é pressa de molhar o biscoito.
- Paula!! – Digo perplexa.
- Aí me deixa. – Ela ri e sai.
- De qualquer forma, não custa nada bater a gilete no box. – Alena também me deixa sozinha.
**
Estava sentada em uma mesa mais no canto do restaurante, minhas amigas algumas mesas para trás e mais centralizadas, não tinha dúvidas que elas estavam tendo um ótima visão de minha mesa. Estava me preparando para o pior, um cara feio e ruim de papo.
Sempre digo que beleza é algo relativo, minha maior preocupação era se o homem fosse chato e me conhecendo como me conheço, levantaria da mesa e o largaria ali sem nem mesmo hesitar.
Os minutos se arrastavam e nada do suposto Morgan Schneiderlin chegar. Talvez tenha sido feita de idiota, ou eu realmente sou.
Isso, realmente sou.
- Camila? – Um forte sotaque me faz levantar o olhar.
- Sim. – Pisco os olhos repetidas vezes sem acreditar que realmente Morgan Schneiderlin estava na minha frente, ele puxa a cadeira.
- Desculpe o atraso, peguei um pouco de trânsito. – Não conseguia dizer nada, estava estarrecida com a beleza estonteante do jogador francês.
- Também peguei um pouco. – Sorrio sem graça.
- Já esteve nesse restaurante? – Ele me pergunta.
- Na verdade não, faz pouco tempo que me mudei pra cá.
- Bem vinda a cidade então. – Ele me lança um sorriso encantador. – Fico feliz de poder te trazer nessa belezinha aqui. – Apenas sorrio tímida. – Vou pedir alguma coisa gente, quer olhar o menu ou deixar por minha conta?
- Você já conhece, vou confiar na sua recomendação.
- Não vai se arrepender.
Era nesse momento que gostaria de ter me sentado de frente para as duas patifes, apostava que elas estavam se divertindo com toda a situação. Queria ficar com raiva, mas minhas pernas até falhavam quando olhava para o belo rosto em minha frente. Ao que parece esse grupo tem uma sina com jogador de futebol.
Ele faz o pedido ao rapaz que anotava tudo com bastante atenção.
Atenção.
Uma coisa que não conseguia ter.
Meus pensamentos passavam para várias coisas aleatórias, que nem mesmo eu conseguia acompanhar todas aquelas coisas. Alena diria: “Você é de Peixes, minha cara Dory.”
Ri do pensamento.
- Tudo bem? – Morgan pergunta.
- Sim, eu me lembrei de uma coisa. – Ele me olha curioso. – É embaraçoso.
- Gosto dessas coisas.
- Minhas amigas, inclusive as responsáveis por eu estar aqui hoje, costumam me chamar de Dory, sabe, por causa do filme. – Sinto meu rosto queimando. – Sou bem avoada.
- Que boas amigas você tem. – Ele ri. – Você não queria estar aqui?
- Não é exatamente isso, mas eu acho que as coisas acontecem quando devem acontecer, não porque estava usando o Tinder.
- Talvez, você estivesse usando o Tinder porque isso aqui precisava acontecer. – Ele segura minha mão e sinto toda uma energia percorrer meu corpo.
- Quem sabe. – Sorrio. – Vou agradecê-las quando chegar em casa.
- Elas estão aqui, não estão? – Fico sem reação. – Porque se as duas no salão não forem elas, tem gente muito interessada no que está acontecendo aqui.
- Você me pegou! – Fico ainda mais vermelha do que eu imaginava ser possível. – Elas queriam conferir se era mesmo você.
- O que elas acharam que eu seria? – Dou de ombros.
- Alguém usando foto de jogador pra conseguir alguns encontros.
- As pessoas fazem isso? – Ele parece indignado.
- Eu não duvidaria. – Ele pondera e concorda.
Nossos pratos chegam acompanhados por uma garrafa de vinho e duas taças, o rapaz que nos tinha atendido anteriormente serve as bebidas e deixa a garrafa sobre a mesa.
Aquilo não podia terminar bem.
Morgan e eu continuamos em uma conversa animada, ele me contava algumas coisas, eu contava outras e assim nosso papo fluía naturalmente, parecia que éramos velhos conhecidos colocando o papo em dia.
Claro que sendo um encontro meu, tinha que acontecer alguma coisa trágica, como o previsto, bati acidentalmente a mão na garrafa que nem mesmo considerou a ideia de não me fazer passar essa vergonha, virando diretamente na direção do homem que estava comigo. Ele riu levantando a garrafa, sua camisa branca, agora adquiria um tom roxo pela manga longa.
- Ai, me desculpa. – Fico apavorada e tento limpar a mesa.
- Tudo bem.
- Eu sou muito desastrada, me perdoa mesmo, foi sem querer.
- Camila. – Ele segura minha mão. – Tudo bem, essas coisas acontecem.
- Aposto que preciso trabalhar um mês pra te comprar uma camisa nova, mancha de vinho é péssima pra sair. – As palavras saiam descontroladas.
- Se acalma por favor. Não tem problema, você não precisa me dar uma camisa nova, nem se preocupar se a mancha vai sair.
- Agora nunca mais você vai querer sair comigo. Estraguei tudo. Tem alguma coisa que eu possa fazer por você?
- Tem. – Ele me encara e sinto vontade de beija-lo. – Que tal me dar um beijo e esquecer isso? – Ele aguarda uma resposta que não veio, apenas investi em seus lábios sem me importar com nada mais. Lento, sem urgência, um pouco hesitante, com um leve sabor de vinho.
O vinho que manchava sua camisa.
Corto o beijo.
- Eu... Nossa...
- Se você falar da camisa outra vez, vou embora.
- Desculpa.
Depois que o meu surto com a camisa dele, continuamos o papo como se nada tivesse acontecido anteriormente.
- Estava pensando, nós podíamos ir para algum lugar mais reservado. – Schneiderlin sugere depois da sobremesa.
- Não sei, acho melhor não. – Digo, não sabia se estava no clima para isso.
- Você quem sabe. – Ele segura minha mão. – Pode pelo menos me passar seu número?
- Claro. – Digo para ele.
Aquele foi o pior primeiro encontro da minha vida, mas estava sendo o melhor.
**
Haviam se passado pouco mais de um três desde aquele trágico primeiro encontro, contudo, hoje, era um dia especial, não qualquer dia especial, era meu casamento, não só o meu casamento, mas também das minhas duas melhores amigas.
Estávamos em um castelo na França, Morgan apenas me pediu isso, queria se casar no seu país natal, iria aceitar. O local era glamouroso, a decoração todo em tons pastéis de azul e rosa, não seria uma cerimônia religiosa, afinal nós tínhamos crenças distintas.
Havia escolhido um vestido simples, com a saia apenas um pouco rodada, com bordados dourados no corpete, Alena, havia escolhido um com uma longa calda, Paulinha, um sereia com mangas longas, nossos cabelos estavam presos em coques onde os véus estavam acoplados, ríamos de tudo o que acontecia, e só nos restava pensar no que os rapazes conversavam alguns cômodos adiante.
Meus olhos se encheram de lágrimas quando avistei o amor da minha vida parado ali, trajando um belo terno branco, com um belo sorriso no rosto, minhas pernas poderiam falhar no meio do caminho, ele estava entre os outros dois rapazes, que já tinham os braços dados com suas respectivas noivas, os cinco sorriam, porém o único sorriso que me importava era o de Morgan, seus olhos brilhavam, ele secou os olhos com as costas da mão.
Já não sabia se ele chorava de emoção ou arrependimento.
Suas mãos tocaram as minhas, e foi como na primeira vez que nos tocamos naquele restaurante, eu podia ouvir toda a nossa conversa daquela noite.
- Eu Camila, nunca quis encontrar alguém pela internet, sempre achei que seria a coisa mais furada da vida, mas aqui estou, me casando com um rapaz do Tinder. – Ouvi algumas risadas. – Morgan, eu derrubei uma garrafa de vinho em você, ainda te devo uma camisa nova, mas a verdade é que eu não me importo mais, eu não me importo com mais nada, apenas que eu o amo, e quero passar o resto da minha vida com você, ter filhos, um cachorro, um gato, um peixe, o que você quiser. Eu te amo muito.
- Estamos há anos nesse dilema sobre a camisa, mas tudo que você faz é tirar todas as minhas camisas, depois usá-las. – Sinto meu rosto corar. – Mas mesmo assim, é uma cena que adoro ver, acordar de manhã e te ver despenteada, cuidar de você quando adoecer, mesmo que seja você a enfermeira, poder mimar nossos filhos. – Eu já estava chorando. – Conhecer cada lugar da nossa lista. Quero estar com você a todo tempo, porque eu te amo. – Ele também tinha os olhos marejados, não me contive.
Em um beijo lento, carinhoso, como selando uma promessa,

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