Capítulo 28

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A avó terminou de costurar a boneca que prometeu no dia anterior no qual comemorou nove anos. Os olhos eram botões pretos de camisa. O cabelo amarelo foi retirado de uma peruca dela e pintado com tinta. O vestido era um pedaço de lençol.
Balançava os braços e as mãos, pulava perto da avó, pisou no pé dela, gritou. Soltou a boneca, a pequena Dorina se assustou, pediu desculpa e juntou as mãos. A boneca caiu perto de seu pé esquerdo, pegou, jogou para cima, beijou. A avó bateu com a mão fechada em sua cabeça. As lágrimas instantaneamente surgiram. Agarrou sua mão, gritou para retornar as lágrimas aos olhos.
A madeira das escadas simulavam trovões. O pai carregava uma coisa preta e marrom na mão esquerda. Presa a uma alça estava uma outra coisa preta, mas essa é grande. O avó descia a escada lentamente, carregava a coisa preta igual àquela das costas do pai. O último parou na porta e olhou as duas, ordenou que não saíssem. Bateu a porta.
Abraçou as coxas da avó. Ela passava a mão suavemente dentro de sua cabeleira, dizia para se acalmar. Se agachou, os narizes quase se tocavam, viu os dentes brancos e ouviu:
— A realidade te trarás benefícios, tua tenra idade não será empecilho. — Tirou os fios perto de seu olho. — Iremos para fora, verás como verdadeiramente são nossos homens.
Agarrou-lhe a mão, sentiu a pressão. Não queria reclamar com a avó, apenas resmungava, não deixou a boneca cair.
Uma carroça estava parada no lado esquerdo da casa recém construída. Agacharam, Dorina viu o vestido com terra, lamentou, levantou, sofreu outro tapa.
Um homem conversava com os dois chefes da família. Uma coisa preta maior que a deles estava em sua mão, balançava algumas vezes e argumentava. A menina nasceu com uma boa visão e memória. A fisionomia do homem alto de fios grisalhos e braços robustos estava tranquila e serena.
Ouviu a voz do avô. Suas bochechas e pescoço estavam rosados. Seu pai o segura pelo antebraço. Atravessou a cerca e se aproximou do estranho, os tórax estavam praticamente ajuntados.
O pai movia a cabeça, provavelmente batia a testa contra o estranho, que o empurrou. Argumentou em seu tom, a pequena não conseguiu ouvi-lo. Donato puxou sua pequena coisa preta, apontou nos olhos do homem alto. Ele não reagiu, continuou falando, o tom tornou-se agudo. Bateu na coisa preta com a mão para tirar o objeto de seu olho.
Houve um som que desconhecia. O pescoço do pai foi agarrado pelo estranho. Donato segurou seus punhos, os joelhos tocaram o solo, a cabeça repousou em sua barriga.
Segurou a perna direita da avó, pediu, pediu, pediu e pediu para sair. Andaram para a porta, lentamente. A avó parou, disse para olhar para os homens. O pai olhava para ela, as narinas estavam dilatadas, o rosto estava sujo de poeira. Ele se aproximava lentamente.
Colocou a mão no chamado rabo de cavalo da filha. Sentiu seus fios passarem pelos dedos dele. Agarrou suas costelas, flutuou, sentiu cócegas, fechou as pálpebras. Ao abrir, o pai falou:
— Não é um gajo, porém, não esconderei o mundo de ti. Deve ver atos de honra e força, mostrarei o destino de biltres e mordazes. Não será matadora, minha filha, porém, deve conhecer a punição.
Ouviu tosse e agitação do homem caído. Viu água vermelha escorrendo, a camisa estava molhada na região da costela.
O avô gargalhava, a coisa preta que segurava soltava fumaça, tornou-se sua parceira de dança. Donato a pôs no chão. Viu ele chutar o estranho, depois apontou a sua coisa preta nele. Ordenou que ela pressionasse as mãos no ouvido com força. Dorina obedeceu, mas não forçou. O mesmo barulho estranho. Gritou, o ar continuou saindo de sua boca.
Viu o buraco no peito, parecia uma lagoa vermelha. O estranho mexeu os lábios, não saiam palavras. Se aproximou, colocou o ouvido esquerdo em sua boca. O ar fazia cocegas. Levantou, ele não se mexia. Subiu suas sobrancelhas, soltou a boneca, que molhou na poça viscosa.
Donato apertou seus ombros. Dorina ergueu o pescoço, queria perguntar:
— Ele não fala, diga para ele levantar e limpar essa água suja.
— Miúda, este boi castrado não levantará, ele agora é nada, é resto. — O pai pegou a boneca do chão. — Olhe esta cor, olhe a água, é sangue, é o fim. Tua boneca está com a vida deste homem.
Pressionou a boneca no peito. O pai andou com o braço esquerdo no ombro do avô, ambos riram. Olhou para a boneca, depois para o estranho, lacrimejou.

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