Capítulo 12

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Ele precisa fechar os olhos, a realidade o deixa preocupado com as pessoas ao seu redor, enxerga escurecido, as pernas tremem. O vento está intenso, consegue reconhecer o cheiro da água e do sal, o odor está impregnado em seu espírito após navegar pelo gigante azul. Seu corpo quer se aproximar, anda para frente permanecendo com os olhos fechados. Abre os braços, recebe a reconfortante brisa marinha portuguesa. Os pés estão na borda, só mais um passo para revê-lo. Alguém segura seu pulso.
Agora precisa abrir os olhos. Duas pequenas mãos estão tentando segurá-lo e apertá-lo, acaricia o cabelo ruivo.
Vão em direção do local em que realmente deveriam estar. O amigo solicitou sua presença lhe prometendo uma solução. Sonhara com aquela ocasião, esperava que fosse definitiva, porém, os acontecimentos recentes ainda prendiam seu raciocínio em volta da razão da violência contra eles.
Avista Belarmino e um homem que não conhece, hesita o passo seguinte. Ilda põe as mãos em suas nádegas e o empurra. O amigo o percebe e sinaliza para que venha. Ele o apresenta a Gabriel Lima, noto que ele não usa a farda do dia anterior. Está sério, o aperto de mãos é curto e firme, machuca seus dedos. A cabeça está inquieta, suor escorre pela têmpora, Patro não consegue sentir confiança, algo no homem não o agrada.
Gabriel Lima tira de seu bolso dois papéis amassados semelhantes a contratos. Belarmino recebe com um sorriso, Patro o pega sem olhá-lo. Logo após a entrega, ele lhes explica o que deverão fazer:
— Estes bilhetes te identificarão ao meu conhecido. Realizo muitos favores para pessoas humildes que não conseguem sair do país, são favores de caminhos duplos, concederei exceções para os dois porque tenho respeito por ti, Belarmino.
— O Criador do Ser sorri para ti. Mas e a pequena? Esqueceu-se dela.
— Os dois são os tutores dela, não será necessário um bilhete.
— A quem devemos procurar? — diz Patro.
— Procurem pelo amigo Abel Tomás, é um marinheiro experiente, sabe o que deve ser feito. Revelo que teu modo de fazer as pessoas entrarem a bordo, é, incomum e desconfortável.
— Até mesmo para uma miúda? — grita Patro.
— Rápido. Eles zarpam amanhã pela manhã para a terra estrangeira da Coroa. Belarmino, escolha um local, irei com uma carroça de minha propriedade para facilitar tua ida ao navio.
Ilda soluça, lágrimas tímidas escorrem. Patro pega sua mão e anda, depois agradece a Gabriel Lima elevando a voz.
Há uma pessoa na qual ele não para de pensar. A face é muito jovial. Os cabelos são castanho-escuros. A lembrança destaca o hálito ruim. Magérrima, alta e provocante, em sua opinião. Ela colhe frutas, maçãs, peras e ameixas. Frequentava aquela plantação, aquela casa, é onde queria ir.
A garota está cansada após a andança, as solas dos pés ardem, para abruptamente. Patro olha para ela tentando esconder a irritação. Pisa firme no chão enquanto mantém seus braços esticados e erguidos na direção dele.
Respira fundo, então sorri para a criança. A pousa em cima de seus ombros, seus joelhos cedem brevemente, retoma o equilíbrio em razão do susto. Anda devagar, o coração acelera, os trapézios descendentes ardem, o peso carregado o evita andar em linha reta. Agora quer tirá-la de cima, ao mesmo tempo em que escuta as risadas e sente a agitação das pequenas pernas. Ri para tentar esquecer o incômodo.
Prossegue com as costas curvadas. Crianças jogam pequenas pedras atrás dele, sente raiva, mas não consegue virar. Tem que decidir se vai dar uma bronca ou andar com Ilda em cima de si.
Não está tão longe, faltam vinte metros para chegar ao destino. Patro manda que Ilda fale para que eles parem, ela balança o braço direito ao mesmo tempo em que xinga os garotos. A discussão começa, palavras ofensivas são ditas. A pequena continua falando contundentemente. Patro ouve muitos palavrões inéditos, diz para se calar, ela não quis, diz que está obedecendo sua ordem. Ele grita, ela não para, então corre, não são seguidos.
Uma moça o chama em tom nervoso. Ela cospe ao falar. Os incisos centrais separados na frente faz com que sua face fique mais intimidante. Segura uma cesta cheia de legumes, toca em seu braço direito com suas unhas longas.
Patro a reconhece imediatamente. A mulher sorri e os olhos lacrimejam. Conversam sobre o passado no caminho. Chegam até a casa dela rapidamente, está cheia de pessoas, uma delas tenta agradar a Ilda com abraços e carícias no cabelo, é a mãe de Inácia, a amiga de Patro.
A garota o olha esperando que a tire dos braços da mulher, o cheiro da idosa a incomoda, ela tenta se desvencilhar, mas não tem forças para se soltar.
Inácia o leva até a cozinha, o pai dela está assando um peixe pequeno. Ele abraça Patro, está incrédulo ao vê-lo, achava que ele estivera morto a alguns dias, pede para que se sente.
Patro se acomoda, Inácia lhe serve água, ela coloca seu assento próximo ao dele. Não esconde a felicidade de reencontrá-lo, sua mão com calos repousa sobre a coxa esquerda de Patro, ele fica corado. O pai se vira, Inácia tira a mão rapidamente. Ele avisa que deseja sua presença e da criança para o almoço. Ele vai para a sala.
Novamente a mão direita toca em sua coxa. Sente os órgãos reprodutores tensionarem, balança a perna, não vira o pescoço na direção dela. Inácia puxa seu queixo e o faz olhá-la. Os dentes estão a mostra, as pálpebras estão esticadas, os dedos acariciam-no, junta as pernas.
— Não sabe o quanto rezei todas as orações que me ensinou. Rezei para que o Senhor pudesse trazê-lo novamente ao meu teto. Como sobreviveu?
— Cara Inácia, foi a sorte, cai no mar e nadei ao avistar um navio. Fui encontrado, depois voltei e vi o terror.
— Caiu no mar, mas o que ocorreu? Foram as pessoas do grupo violento que tu disse em outras ocasiões?
— Correto. Nos atacaram, acho que fui o único que estava no porto que conseguiu sobreviver.
— Creio que não.
— O que está dizendo? — Patro se levanta do assento.
— Falei com conhecidos. perguntei se viram algo suspeito sobre os Provedores da Nova Cruz nesta semana. Foi dito a mim por pessoas que confio que houve movimentação de pessoas com cortes no rosto segurando seis crianças sujas e com aparências tristonhas, algumas choravam, pediam ajuda. Creio que tem bicho na maçã.
Patro coloca suas mãos entre seus fios capilares. Abaixa o pescoço e o pressiona. Anda de um lado para o outro, esbarra em armários e nas panelas penduradas. Inácia se levanta, o envolve em seus longos braços, isso faz com que o provedor pare. Organiza os pensamentos, está tentando se recordar dos momentos antes do ataque dos extremistas.
Visualiza as crianças. Lembra que tocou nas cabeças de todas elas momentos antes das ameaças clamadas pelos Pólvora de Braga. Tenta se recordar de quantos foram acariciadas.
Se solta de Inácia. Refaz sua ação. Afaga a primeira criança, depois a segunda, a terceira, a quinta, a nona. A cozinha é pequena, seu ombro bate na parede. Refaz o movimento agora para a esquerda, revê a decima criança, então Xavier lhe chamou por um momento. Patro para.
— O que faz? — Inácia esconde a feição risonha com ambas as mão.
— Não me atrapalhe, peço com humildade.
Depois de ouvir o Mestre Iluminado, ele voltou para a nave da Ermida da União e ficou novamente sozinho com as crianças. Uma delas levantou o dedo indicador, novamente afagava os órfãos a partir daquele garoto.
Patro tromba na barriga do pai de sua amiga. Faltam cinco cabeças para tocar. Anda sete passos para a direita, termina, foram trinta e sete afagos.
Está se recordando da contagem de Belarmino, recorda-se que seu companheiro contou trinta e uma crianças. Ele sorri, chora, se dirige até a surpresa Inácia e a abraça.
Ela gosta, os braços dela cobrem suas costas novamente. Ela aproveita e beija seu rosto copiosamente. O pai pede que a filha pare, não é correspondido. Aplica um tapa na mesa e grita com ela, separam-se.
Com alegria, finalmente revela o motivo da visita. Pede para que Inácia lhe dê uma farta cesta de frutas. Com sorriso no rosto, solicita autorização para pegá-las, não há impedimentos. Antes de ir, segura o braço de Patro e eles vão juntos. O pai nada fala, mas não aprova.
Trinta maçãs, quarenta amoras, sessenta peras, trinta e oito laranjas e duzentas e vinte azeitonas estão organizadas na cesta. Patro imediatamente a agradece com o gesto da oração do zelo. Inácia solta a cesta e agarra as mãos dele, pergunta quando vai revê-lo. Está conflitante, quer contar, acha que não pode, não sabe se há razão para esconder o fato dela.
Sua língua quase revela. Percebe a ansiedade dela, novamente se debate, não quer vê-la chorar. Ele mente, diz que irá sair de Lisboa para outra cidade e se reunir com outros provedores. A face dela é notavelmente triste, Patro parte com a cesta, sem abraçá-la, sem beijar sua mão, Inácia nada diz.
Ilda olha o provedor e imediatamente foge dos afagos de outra parente de Inácia. Patro os cumprimenta um por um, pega a mão da garota e lhe entrega uma maçã.
A informação de Inácia o deixou esperançoso, não esqueceu nenhum dos rostos infantis. Ensinava a todos o básico da língua, a crítica de Adão do Sacramento em relação ao ensinamento e significado da religião cristã. O respeito perante os sábios de sua religião e os sábios das ruas. Era responsável por fazê-los aprenderem as orações dos Provedores da Nova Cruz. Passeava com os jovens e aconselhava-os a como se portarem discretamente e respeitosamente com as pessoas, resultando em uma corrente de respeito e simpatia.

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