Capítulo 46

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  Fiz questão de tomar outro pequeno-almoço na presença de Vicente e de seus pais, já combinamos juntos os que faremos no nosso dia, o que faremos no resto dos dias que passaremos aqui antes de voltar a Londres. Conversei muito com Jade sobre muitas coisas e uma das primeiras tarefas do dia seria sair a sós com ela, um passeio só de mulheres. Mas devo-me lembrar de que Jade é praticamente como uma mãe para mim, tem idade para isso mesmo aparentando ser nova. Seu filho mais velho tem vinte e seis anos, e eu namoro ele! Falando em filhos de Jade eu adoraria conhecer os outros irmãos de Vicente, ainda não tive a oportunidade e quero os ver, por mais que não sejam de sangue, Vicente considera todos a sua família e quem sou eu para dizer que não?

  Estou pronta para o passeio. Mas antes que eu saia do quarto Vicente adentra o mesmo. Sorri para ele do mesmo modo tênue que sorria para mim, se aproximou da minha estrutura e depositou um beijo no meu pescoço.
  — Tenho certeza que estava pensado pela demora — sorri largo mesmo envergonhada. Vicente já pegou minhas manias.
  — Realmente pensava e perdi a hora. — Afirmo percebendo que tenho sua atenção. — Pensava que queria conhecer seus irmãos — suas sobrancelhas se movem em supressa talvez e abre um sorriso.
  — Eu prometo que os verá em breve — diz nunca tirando seu sorriso.
  — Irei cobrar — pego na minha bolsa e me dirijo até à porta, antes que saia sou pega pela cintura e seu corpo encosta no meu.
  — Não precisará, sou um homem de palavra — olho por cima do ombro seu rosto próximo ao meu e viro novamente para a porta.
  — Um homem de palavra — repito.
Eu e Jade andamos pela praia, veste um vestido solto branco com pétalas vermelhas, seu chapéu cobre todo seu corpo do sol e tem um sorriso radiante. Anda num ritmo bom para mim que não me canse nem mesmo fosse pesado para meu pé. Acabamos sentando embaixo de uma grande cabana, não demorou em nos servirem com água, isso parece ser cortesia.
— Sabe, uma coisa que você deve ter percebido de Vicente é que ele é insaciável — olha além de mim e sorria largo como se tivesse dito a coisa mais feliz do mundo. — Eu sempre admirei isso dele, sabe? — me olhou por fim tirando seus óculos. — Vicente sofreu muito na infância e levou consigo a vida todas sequelas dos pesadelos vividos, mesmo assim ele se tornou alguém ambicioso. Queria chegar a lugares altos, ser uma pessoa boa e bem de vida. Roman o ajudou. Leu todos os livros que tínhamos na nossa biblioteca, pesquisou tudo o que lhe vinha à mente, passava horas e horas adquirindo conhecimentos, coisa difícil para um adolescente para ele era como plantar batatas — gargalha com o que diz. — Ele sempre foi insaciável, nunca cansou de tentar chegar aonde chegou e o que Vicente mais tem dentro de si, é amor. Ele sempre tentou dar aos outros, o que ele não teve. — Eu sei bem, acho que é isso que quis passar para mim. Amor, o que eu também não tive. — Me conte sua história Fransky — confusa eu a encaro com seus braços apoiando sua cabeça. Eu já contei tudo o que deveria contar no nosso jantar a muitos dias.
  — Como eu disse, meus pais morreram em um incêndio quando eu era pequena — bebo um pouco da água e olho meus dedos — eu fui à única que conseguiram salvar, o teto estava pronto para desabar me lembro bem. — As cenas se repetem na minha mente tão nítida que nem parece que foi há doze anos. Engulo em seco lembrando-se dos gritos de dor, isso faz minha pele se arrepiar e fecho meus olhos com força tentando não pensar nisso. — Fui levada a um orfanato e lá fiquei até os dez, havia perdido as esperanças, aliás, não adotam crianças tão velhas. Um homem, Rob, me adotou, mas tudo o que ele deveria fazer para cicatrizar a minha cicatriz nunca foi feito, não recebi amor, não recebi carinho. Virei uma adulta aos dez anos. Até Vicente me achar no clube de prostituição. — Jade acena.
  — Eu fui expulsa de casa, não tinha o que trabalhar então recorri a um clube de stripper, até achar outro trabalho. Vivi duas vidas até encontrar Roman. — Sua mão se entende até a minha e a encaro entrelaçar seus dedos nos meus. — A partir de hoje você não está sozinha. Tem a mim, Vicente, Roman. Eu sei que depois do contrato Vicente não abandonará você, não se preocupe eu te asseguro que ele te ama, ele não consegue amar pouco. Eu vejo a diferença nos olhos dele, como ele te olha não é como olhava Jéssica. Ele a amava, sim a amava. Mas parece que ele viu algo em você em especial, talvez a menina maravilhosa que é, ou até ele mesmo na sua idade. Você é especial para ele, não pense menos que isso.
Quando eu e Jade voltamos do nosso passeio no fim da tarde, nossa conversa não saía da minha mente. Eu sorria a cada palavra que disse hoje. Eu não tinha dúvidas do amor de Vicente, mas depois de hoje eu nunca irei duvidar mesmo. Não irei mais ligar para o que acontecerá depois do dia trinta, provavelmente acabará apenas o mês, não nosso relacionamento.

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