Capítulo 44

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  Vicente insistiu que fossemos fazer queixa do acontecido e fizemos, mas também o fiz prometer que não iríamos deixar nosso dia estragar por isso, então aproveitou que estávamos fora da praia para passeamos um pouco pelas ruas, o interior de Londres é agradável, bem mais calmo que a cidade claramente, as casas são lindas e mesmo repetitivas sem nada de diferente, não deixo de admirá-las enquanto dirige, há árvores para todos os lados e pessoas também, aqui diferente do ambiente da cidade é mais quente, acho que é por isso que a maioria da cidade pequena em cada esquina tem um bar ou uma sorveteria, as pessoas nem fazem o esforço de estar em casa, preferem passear com o cachorro ou até mesmo com as crianças, isso me faz pensar se eu não fosse vítima de uma vida tão ruim, se eu tivesse meus pais, como teria sido a minha infância? Passearíamos no parque juntos cada um segurando a minha mão, tomaríamos sorvetes juntos e faríamos coisas de pais e filhos? Eu não sei o que é isso e por mais que Vicente me dê afeto e carinho, não é como um pai, Vicente é meu namorado, eu não descobri o que é amor de pais, cuidados de pais e nem mesmo uma vida com eles, eu pulei de criança para uma adulta, não tive vida adolescente nem amores novos para me deixar de coração partido, estou a viver com um cara que me mostrou pela primeira vez o que é amor, me dá carinho, é compreensivo e não me deixa voltar no passado, pois sempre está me entretendo, por mais que eu pulei de criança para adulta, estou podendo ser uma adolescente ao lado de um adulto, Vicente está me permitindo amar pela primeira vez, me sentir como uma adolescente a sonhar alto, mesmo quando sei que não são assim as coisas, posso sonhar em casamento, posso sonhar em filhos, mas não sei se Vicente é a pessoa, como ele mesmo disse, estaremos juntos até que o destino nos traga outra pessoa, talvez a vida nos juntou para destruímos o preconceito das pessoas contra idade e tempo, estamos juntos há poucos dias, temos amor de anos, somos afastados de idade, mas isso não mudou nada entre nós, Vicente pode ter ciúmes de outros garotos a me olhar, eu posso ter ciúmes de mulheres a o olhar, mas nós dois só temos olhos um para o outro. Tenho confiança no que falo, aliás, já me deu muitos motivos para confiar nele e em sua palavra, não quero pensar que possa tá fazendo um jogo comigo, quero viver a fase boa e se o final for ruim eu apago da minha mente, vivo apenas os momentos bons, será que eu apagaria do coração? Descobri que para amar não existe tempo, não existe idade, apenas amamos. Então vou me entregar à chance que recebi de descobrir o que é o amor, mesmo que não seja de pai, é o amor.

  Chegamos a casa e Vicente subiu para um banho, fico na cozinha a preparar um lanche a andar de um pé só, não gosto da ideia de ficar parada como ele disse e prefiro me movimentar, nem que seja igual um saci. Não comemos nada desde manhã e meu estômago ronca. O céu já está a perder sua cor, são quatro e cinquenta da tarde, as pessoas nunca se foram da praia e agora parece mais lotada do que mais cedo. Como um sanduíche enquanto estou a olhar a vista, me bate uma forte vontade de pegar fones de ouvido escutar uma boa música e ler um bom livro, parece que meu desejo é ouvido quando escuto uma música calma, não vem da praia vem de casa. Vicente aparece ao meu lado e o encaro, começa a rir de mim e sem entender eu também dou risada dele.
  — O que foi? — deixo o prato de lado e o mesmo ergue sua mão para mim, a seguro sem hesitar e me levanto com sua ajuda, me puxa para seu peito e de um lado para o outro eu sigo seus passos, não falo nada nem mesmo ele, ouço seu coração e sinto sua respiração no topo da minha cabeça, seu toque suave na minha mão e nosso corpo em sintonia, fecho meus olhos sentindo seu perfume e a sensação da sua pele fresca, relaxo por completo ouvindo atentamente a música. Às vezes não precisamos de um "eu te amo", simples gestos nos revelam o que as palavras não são capazes, um eu te amo da boca de Vicente me daria vergonha e com certeza eu iria sorrir para ele, mas isso, isso ficará guardado na minha mente, isso me fará sorrir à noite quanto eu me lembrar desse dia, isso será memorável quando eu ouvir a música novamente. Isso me fará sorrir por dias.
  — Quero que desça comigo para a praia daqui algumas horas — sua voz é calma, nem percebo em meio aos pensamentos que a música se foi, estamos apenas abraçados. — Mas precisa descansar.
  — Passei o dia sentada Vicente, nem mesmo fiz muito esforço com meu pé, e por que eu diria não? — me puxa para olhá-lo e o faço, tem um sorriso nos lábios e automaticamente eu também sorrio junto a ele, me puxa para um beijo calmo, a brisa do vento leva meus cabelos e suas mãos me prendem a seu corpo.
  — Escolha um vestido bonito — me abraça novamente e ficamos ali por mais minutos do que o esperado e novamente a música começou a tocar, nossos corpos se mexem mais calmos que antes rodando em um único lugar, nosso círculo. O sol já se posicionava para se por numa perfeita cor alaranjada, rosa e roxo no céu, lá embaixo na praia as luzes já se acendiam, divididas entre amarelo, rosa, azul e verde...

  Visto o vestido me olhando no espelho, nos meus cabelos ondulados têm uma tiara cheia de flores, meu vestido é num amarelo pastel cheio de flores laranja e branca, no meu pé fora a bota há uma sandália com brilhantes, não fiz maquiagem alguma, uso somente um gloss de morango e perfume, sorri com o resultado e saí do armário, ao mesmo tempo, Vicente saiu do quarto, veste um short preto, uma blusa vermelha com flores amarelas com botões abertos revelando uma tatuagem e havia pulseiras de flores amarelas no pulso. Puxa-me para si e deposita um beijo em meu pescoço.
  — Se eu pudesse me embebedaria do seu frasco de perfume, apenas para ter a sensação de te ter por completo.

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