Capítulo 24

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← Dia 11→

  Quando eu e Vicente fomos dormir já era de madrugada, à noite foi ótima e realmente nada se comparava a algo planejado em casa do que algo já feito lá fora, comemos ao som de Elton John, me contou piadas sem graça e eu ainda consegui rir, me deixou beber um pouco de vinho e me ensinou a dançar música do tempo da sua avó, pisei cinquenta vezes no seu pé e ele me deixou tonta de tanto rodar no tapete da sala, no fim acabamos de pijamas a comer pão com molho francês e a beber café quase frio, Vicente ainda deixou sua xícara pela metade alegando estar cheio, mas beber café frio era horrível e tínhamos preguiça de esquentar. Assim que o filme acabou, fomos dormir a falar sobre os planos de hoje e agora eu estava em frente ao espelho a colocar uma presilha de flor a prender meus cabelos para um canto longe do meu rosto, passo um gloss de cereja e ponho brincos de pimenta na minha orelha combinando com meu vestido. Uma última olhada no espelho encontrei Vicente sentado na cama de calções pretos e t-shirt branca com sapatos de vovô, aquilo parecia ter me saído dos anos cinquenta, sorri, pois ainda estava lindo. 

   Saímos de carro está vez, como sempre não me disse para onde me levaria, mas só a viagem pela cidade era fabulosa, os apartamentos são em uma única cor, em marrom e café com leite, tudo bem decorado com árvores, pessoas a andar elegantemente nas calçadas parecia um próprio desfile por tamanha beleza. Henry parou o carro em um lugar onde havia outros parados, assim que saímos do automóvel segurou minha mão e descemos uma longa escadaria. Várias outras pessoas também desciam e subiam, os degraus estavam decorados por folhas caídas para todo lado, parecia o próprio respeito não pisar nelas. No meio dos degraus havia um corrimão que acompanha as ondas da escadaria, ao nosso redor os postes de luz são elegantes e as árvores altas e bonitas, é um lugar lindo! Paramos em uma praça, ali pediu dois cafés para nós com acompanhamento de café da manhã por conta da casa. Estou ansiosa para saber o que vão trazer, enquanto isso eu observo o movimento. Um homem sentado com um Cello sobre um banco na praça ousou a começar a tocar, seus toques são tristes e melódicos puros em lembranças passadas ou em momentos emocionantes. Aquilo o lembra um momento bom ou ruim, não sei o certo, mas são tocadas as notas com tantas emoções que eu fecho os olhos para tentar sentir. Ao abrir a luz ofusca minha visão, sorri e olho para Vicente que me olhava. Estamos a tomar café da manhã ao ar livre, a escutar uma boa música num ambiente maravilhoso.

   Pelo começo da tarde passeamos perto de um vasto rio onde casais estavam sentados em bancos perto da margem, já eu e Vicente estamos na parte de cima a olhar os casais lá embaixo a admirar de perto os barcos a passar com turistas por debaixo de pontes ou até mesmo vários pássaros pousados nessa região.
Voltamos novamente para a praça onde o senhor não estava mais, subimos os inúmeros degraus até chegar a seu carro e nos levou para outro lado da cidade, eu estou realizada em tantas coisas bonitas, não havia como ter pensamentos ruins ou até mesmo ser negativo nesse lugar. Para onde você olha tem tantas coisas belas, tantas que te descarregam da infelicidade. Eu não conseguiria ser triste em um lugar como esse.

   No parque onde paramos havia patos a andar para todo lado, tomava um sorvete enquanto Vicente me balançava no brinquedo e eu sentia a leve brisa.
   — Quando Jade vinha para cá fazer negócios junto a Roman, nossa babá sempre nos trazia aqui. — Diz atrás de mim e eu observo o grande lago onde pessoas brincam dentro de bolas gigantes e outros pedalam barcos em formatos de pato em casal.
   — Tudo aqui é muito lindo — tento o olhar, mas o que consigo é uma visão de ponta cabeça.
   — É sim! Para nós turistas — Vicente suspira — para quem mora aqui, esse lugar nem é tão belo como a primeira vez, Londres também é bela, mas estamos tão acostumados com ela que nem mesmo enxergamos mais sua beleza. — Concordo com o mesmo. — Só há uma coisa em que não ficamos enjoados em vemos todo dia.
   — O que? — descontraída balanço meus pés e meu sorvete acaba.
   — A pessoa que amamos — o olho — todo dia é como se fosse o primeiro. Nunca nos cansamos daquela pessoa, ela é como uma fogueira e todo dia colocamos lenha, mas mesmo que o fogo se apague aquela pessoa vai continuar bela para você, até que só haja cinzas e ela continue sendo bela aqui — coloca o seu dedo indicador na minha cabeça — e aqui — logo no meu coração. — Depois das cinzas não vira nada, é apenas um nada e isso também se torna um nada para você, e talvez uma nova fogueira surja e quem sabe o fogo dela não dure para sempre. Ou até você virar as cinzas dela.
   — Por que está me dizendo isso? — Vicente balança a cabeça negativamente e morde os lábios.
   — Eu não sei — baixo, calmo e sincero.

   Voltamos para casa já eram quatro horas da tarde, pensei o percurso todo se Jéssica foi a chama de Vicente e logo depois a cinza, e se agora eu sou a nova chama? Eu não quero o perder, não agora, não pelo que está me proporcionando, mas pelo que está sendo comigo, pelo que me permitiu ser com ele, não agora que eu estou começando a amá-lo mesmo isso sendo errado. Mesmo eu sabendo que depois nem exista mais nada, eu não posso negar a mim o sentimento que sinto, mas também não paro de pensar que é algo adolescente e que talvez ele não me veja como nada além de uma criança que está feliz por realizar seus sonhos e se for isso mesmo?

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