Capítulo 43

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←Dia 21→

  Acordar com o barulho dos passarinhos ou da chuva é bom, mas acordar com o barulho do mar e de um violão, é ótimo! Ando pelo corredor pequeno até chegar à beira da escada, daqui de cima vejo Vicente sobre uma espreguiçadeira sentado tocando um violão, veste calções verdes e está descalço e sem blusa. Desço a escada calma e atravesso a pequena sala para chegar ao lado de fora da varanda.
  — Não sabia que tocava — Vicente sorri a me ver e tira os óculos de sol amarelo dos olhos.
  — Bom dia — sorri para ele e sento à sua frente.
  — Bom dia — fecho meus olhos pela claridade ainda. Tenho sono e não nego, ainda pareço cansada e desejo a cama, meu corpo todo emana preguiça.
  — Toco apenas para me distrair um pouco. Mas não faço com tanta frequência como gostaria — rapidamente me lembro do piano que vi em sua casa em uma das portas de curiosidade minha.    — Me ajuda a relaxar. — Eu não nego que gostaria de aprender, mas tenho certeza que tocar algum instrumento requer uma boa coordenação motora e isso eu não tenho muito. Quando consigo abrir meus olhos por completo consigo analisar a bela vista que é aqui de dia, as árvores e flores são tão vivas quanto na cidade, o céu é livre de poluição nem parece que estamos em uma parte de Londres e sim numa floresta sem fábricas e carros para distribuir o mau para a natureza. A praia que Vicente me trouxe, na verdade, é bem para o interior, e acima de tudo agradável demais. Deixo de admirar a vista para olhar para meu tornozelo, hematomas por todo lado em roxo e azul, meu corpo não está diferente e ainda sinto como dói.

  Vicente e eu fizemos nosso café com ele a falar que passou parte da adolescência dele aqui, Jade é escritora e gostava de estar por esses lados para escrever seus livros, agora sei de onde vem o amor de Vicente por leitura, também reparei que em todo lugar da casa há algum livro, à cozinha mesmo sendo lugar da comida tem uma pequena prateleira de leitura, todos de receitas, ainda sim, livros.

  Tomo um banho gelado, reparo em muito dos hematomas e arranhões distribuídos pelo meu corpo, à pele parece tão sem vida que temo estar doente. Pego uma inspiração profunda desligando o registro, enrolo meu corpo com a enorme toalha que me chega abaixo dos joelhos e me olho no espelho, a que ponto chega uma pessoa obsessiva? O que ela mais poderia fazer para ter Vicente em seus braços mesmo contra a vontade dele? Como ela conseguiria ser feliz vendo a pessoa que ama infeliz? Resolvo deixar esses pensamentos de lado, pois, Vicente me convidou para um passeio na praia e preciso me arrumar. Saio da casa de banho encontrando o quarto vazio, saio do mesmo para ir ao armário pegar uma peça de praia. Separo um vestido amarelo com flores brancas e um chapéu, mas o que eu não acho são minhas peças íntimas, apenas biquínis. Olhando para todo o closet eu me lembro que quem arrumou minha mala foi Vicente e isso tem cara de que foi pensado e não esquecimento. Envergonhada eu visto o biquíni e o vestido, e saio do armário com meu chapéu já em direção à sala.
  — Esqueceu minhas calcinhas? — digo no topo da escada vendo que mexe no celular, se vira para mim rápido e me olha com sobrancelhas arqueadas.
  — Esqueci? — semicerrando meus olhos para ele, ando devagar para seu encontro, Vicente se levanta e fica à minha frente fazendo com que minha cabeça se levante para o olhar. — Você nem precisa delas mesmo — um sorriso sapeca desenha em seus lábios e sinto minhas bochechas queimarem, deposita um beijo meia-lua em mim e segura minha mão. — Vamos tomar sorvete, ver o mar e pegar um sol — o sigo calma assim como seus passos, se preocupa em andar lento por causa da minha fratura.

  Descemos a rua toda até chegar numa enorme escadaria, Vicente disse que desceria comigo no colo já que reclamo de andarmos tanto, mas fiz questão de descer eu mesma, mesmo com ele reclamando atrás de mim que ficaria com o pé inchado, de fato ficaria, mas vergonha eu não passo em descer no seu colo. À música aqui é alegre e mais audível que lá encima na casa, os casais dançam alegres ao som de música latina enquanto crianças brincam de um lado para o outro. Sorrio com a imagem relaxante e Vicente me puxa com ele para sentamos em uma única mesa vazia, parece que já estava reservada para nós, somente esperando para que sentamos. Ponho os óculos de sol e o chapéu, e Vicente traz sorvete para tomamos, sorri para ele, mas estava incomodada com os olhares. Não gosto e nunca gostei do modo que as pessoas nos olham como se fossemos aberrações, tento não ligar como faz a tomar seu sorvete e apreciar a bela vista, mas é impossível não ficar incomodada. Olho para as bolas de sorvetes de diferentes sabores e admiro a vista me saboreando.
  — Ei — olho para o homem e tira meu chapéu e meus óculos, na sua mão tem uma substância branca que denomino ser protetor solar.

  Enquanto passa em minhas bochechas e pelo rosto pequenas gostas olho em seus olhos, estão amarelos pelo sol, o castanho não é tão presente, mesmo assim é bonito. Seus lábios estão mais rosas pelo contato com o sol, e sua pele já está a ficar vermelha. Retribuo o favor passando no seu rosto uma quantidade boa do protetor e continuamos a comer, apesar do dia ensolarado o vento está forte e quente ao mesmo tempo, passo tão poucos minutos embaixo do sol, mas já imploro por sombra, não sei como as pessoas aguentam ficar tanto tempo exposto, Vicente então ainda está sentado na mesa a pegar bronzeado, estou mais para dentro do estabelecimento que parece o único lugar fresco pelas geladeiras.
  — Você quer algo moça? — olho para o homem no balcão e sorrio.
  — Não obrigada. Estou só fugindo um pouco do sol — o homem solta uma pequena gargalhada.
  — Tome aceite esse sorvete, é por conta da casa — olho para o sorvete redondo de morando, é tentador, mas não aceito.
  — Obrigada mesmo. Estou satis... — paro de falar quando percebo seu toque em minha mão de um modo nada agradável, rapidamente tiro minha mão de seu alcance.
  — Vamos lá, não e nada de errado aceitar um sorvete.
  — Mas ela disse que não quer — a voz mais grave de Vicente é ouvida e o homem o olha enquanto eu vou para trás do corpo alto. Meu coração está acelerado, esse homem queria tentar alguma coisa comigo, más intensões na cara de pau, me pergunto quantas mulheres aqui deve ter sofrido seu abuso.
  — Tudo bem, se a moça não quer — Vicente não se rende as palavras bondosas do homem. Segura minha mão nunca deixando de o olhar e me leva com ele para fora novamente.
  — Ele fez algo com você? — me olhou de baixo para cima procurando algum vestígio de mais hematomas do que já tenho.
  — Não... ele não fez nada — gaguejo nas palavras e me olha.
  — O que aquele homem fez é um abuso Fransky. Deveríamos o denunciar por isso, você é de menor e mesmo não sendo, outras mulheres podem ter passado por isso — não olha para mim, mas sim para o homem por trás do vidro a limpar o balcão. Olho para minha mão onde passou a sua em um gesto obsceno.
  — Vamos esquecer tá legal? — Vicente suspira e passa a mão nos cabelos.
  — Mas não deveríamos — me olha e me sento, não quero que isso estrague nossa viagem ou nosso dia.

  Aviso⚠️
  Não se esqueçam que só porque um homem te tocou ou te forçou a fazer algo que é abuso. Palavras também são consideradas abuso sexual, ainda mais se você é de menor. Não deixem que isso passe a limpo, não deixem de buscar ajuda, simples palavras se tornam ações!

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Meia NoiteWhere stories live. Discover now