Capítulo 32

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←Dia 15→

Apenas...

   Deixo que faça o que quer quando aceno um sim para ele, rapidamente me puxa para perto e me abraça, não entendo e nem espero entender nada vindo de um homem como Vicente, mas o abraço novamente, afaga minhas costas e no topo da minha cabeça sinto sua respiração, minha cabeça está no seu peito ouvindo seus batimentos fortes, sua mão livre vaga meu corpo explorando cada canto sem nem mesmo pedir permissão, por que ele pediria sendo que sou dele? Não posso esquecer que fui comprada, e por mais que já foi dito milhões de vezes que o motivo que fui comprada não está mais em jogo, Vicente não deixa de ser um homem com fetiches, sendo clara como ele mesmo foi a quinze dias atrás, o contrato foi não tirar minha virgindade, me tocar ou usar meu corpo para algo não estava nas minhas exigências e isso é algo que não posso exigir mais.

   Me deixo levar pelos mimos, sei que agora já deve passar das uma e por mais que eu tenha tirado um cochilo minutos antes ainda sinto cansaço pelo dia de hoje, tudo está fresco na minha mente, a briga com Jéssica o medo do delegado levar Vicente e por mais que tudo diz que não é minha culpa, eu sei que parte é, não sei porquê, mas é.


   Pela manhã eu e Vicente acordamos juntos e passamos parte do nosso tempo na cama, a receber o sol da manhã, a brincar com Madame e ver o que faríamos ao longo do dia, Vicente disse que teríamos que ir ao mercado e me surpreendi no banho ao saber que estava no meu período, respiro fundo deixando meus ombros caírem, ficaria bons dias ruins. Saio e Vicente está sentado na cama, bagunçado e sem ânimo, sorri para ele que tem um sorriso preguiçoso no rosto, estou preocupada se o lençol na cama está sujo, sentiria muita vergonha se seu sorrisinho bobo e sapeca era por isso. Vicente se levantou calmo e permaneceu um bom minuto sentado à beira da cama, penteava meus cabelos que estão um emaranhados pelos dias sem pentear, os cachos nem apareciam mais. Braços me cercaram em um abraço caloroso e eu seguro sua mão que está posicionada a minha barriga. 
   — Sinto muito lhe informar, mas isso é resultado das guloseimas e não um bebê — Vicente ri da minha piada sem graça e me vira para ele.
   — Fico feliz que é doce e não uma criança — meu sorriso se vai, por um certo motivo que imagino, por mais que não seja comigo.
   — Não quer ter filhos? — Vicente me solta do abraço e tira sua calça, nem viro para trás, quero sua resposta, sei que nem todos os homens querem ter a benção que é um filho, não sei dizer se Vicente é o tipo deles, isso eu ainda não analisei.
   — Eu? Amo crianças, mas fico feliz que não tenha uma em você, porque além de você ser uma, a criança não seria minha — sorri malicioso e entra para o banheiro — eu mataria o desgraçado — diz antes de fechar à porta e fico parada, mataria?

   Desço para preparar nosso café, Madame vem comigo e canto uma música qualquer que vem à cabeça. Hoje Clarice não vem e só nos vemos semana que vem, eu e Vicente não chegamos numa conclusão do que iremos fazer hoje, mas a leve dor na minha barriga e o desconforto não me deixa confortável. Preparo um chá para dores futuras que sei se vão aparecer.

   Depois do nosso café Vicente sumiu para seu escritório e eu fiquei na sala a tomar o chá e olhar para a vidraça, o dia está lindo, perfeito para um passeio pelo parque, só em pensar em passeio minhas pernas doem, tudo isso é mais que dançar. Sinto saudades de uma única coisa da minha vida passada, de Carmela e um pouco das ordens de Madeleine, de Spancer talvez de Deborah a sempre jogar seu veneno, mas eu nunca sentirei saudades para mais do que, além disso, minha vida antes era insignificante, não tem nada de interessante para se contar, mas se um dia eu tiver filhos, contarei a eles apenas o que vivi com Vicente e talvez o meu futuro, agora me pego a pensar no que sempre tive realmente medo, do futuro, do que irei trabalhar? Não sei fazer nada e não posso contar ter um romance pra vida toda com Vicente, temos uma paixão, mas amanhã podemos não ter, o contrato vai valer e eu vou embora depois de quinze dias, do que viverei? E mesmo estando com Vicente quero fazer algo, mas o que farei? Respiro fundo deixando a xícara de lado, posso conversar com Vicente sobre algum emprego, não farei agora, pois sei o que irá dizer, está cedo demais, como Madeleine dizia, como Carmela dizia. Sei que deveria ter uma faculdade, mas sem trabalhar como ei de ter algo? Preciso do meu dinheiro, uma coisa que aprendi no clube e que eu levarei para vida — uma das poucas coisas — é que não devo depender de ninguém, apenas de mim mesma, e é isso que irei fazer, trabalhar, nem que eu limpe e lave.

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