Capítulo 23

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   Começamos a separar o que iríamos usar para cozinhar, Vicente não me disse o que iria fazer, mas vendo os ingredientes julgo que não é uma comida fácil.
   — O que iremos comer? — me olha e sorri, tira de dentro de uma última sacola que estava dentro da geladeira, um peixe. Arregalo meus olhos, pois nunca preparei nada com peixe.
   — Não precisa me olhar assustada eu sei preparar peixe — sorri em alívio.
   — Acho que hoje não irei só ajudar. Vou aprender também.

   Começamos a fazer tudo junto, enquanto Vicente me ensina a preparar o peixe eu havia deixado as verduras no fogo em água para ferver, era incrível o modo que explicava ainda mais por levar para o lado da brincadeira eu conseguia entender ainda melhor. Quando o peixe já estava no ponto Vicente pôs no forno com as verduras e enquanto não fica pronto está preparando um molho, a música que toca na rádio acabou e não voltou mais, corro para a sala querendo saber o que aconteceu e a bateria havia se ido, voltando à cozinha Vicente bebe alguma bebida em uma taça enquanto olha para a maravilhosa visão de Paris. Continuo a preparar um pão para acompanhar o molho com o peixe, está sério e pensa em algo que o intriga, não sei se o pensamento é bom, mas enquanto eu me viro em dois para não deixar o peixe queimar e nem deixar o molho passar do ponto, o mesmo parece em outro mundo.

   Havia subido para pegar uma sandália depois de ter sido repreendida, enquanto procuro o calçado pelo quarto eu sinto o maravilhoso cheiro do molho francês que acompanharia a nossa refeição, eu nunca comi peixe e confesso que tenho ótimas expectativas já que muitas pessoas falam que é bom confesso que tenho uma lista do que ainda não comi, do que não devo comer e do que devo experimentar durante minha vida, peixe está sendo riscado da lista hoje! Descendo pude ver que Vicente já havia posto o peixe sobre a mesa, observo que não está em nenhum lugar na sala, na cozinha também não se encontra, então também levo os pães até a sala de jantar e ali vi que saí de uma porta, eu ainda nem havia percebido a mesma ali, mas presumo ser a dispensa já que tem alguns ingredientes na mão.
   — Irei fazer algumas coisas rápidas para passamos à noite a assistir — se aproxima de mim e para a minha frente. — Já que hoje é dia de convites, que tal uma noite de cinema a sós? — dizendo assim me faz soltar uma gargalhada baixa em vergonha, observo todo ambiente antes de olhar em seus olhos.
   — Mas estamos a sós, não estamos? — Vicente parece analisar minha pergunta e arregala seus olhos.
   — Talvez não! E se o antigo morador morreu? Se ele nos fizer companhia? — meus olhos se arregalam enquanto seguro os ingredientes para ajudá-lo.
   — Se ele existe foi com ele que estava falando ontem à noite? — Vicente solta uma gargalhada falsa e sem humor e faz careta.
   — És engraçadinha, não? — sorri por ter palavras sem sentido gravada na minha mente, aliás, as palavras soltas da boca de Vicente pela noite pouco se entendia, mas eu não me importo, é confortante e às vezes um pouco irritante, mas tenho a curiosidade de falar alguma coisa e ele responder. Sorrio com meu próprio pensamento e o ajudo a preparar alguma coisa rápida para comemos depois. Fazíamos rápido para a comida na sala de jantar não esfriar, mas Vicente teve a liberdade de me jogar farinha.
   — Meu Deus! Meu vestido! — olho para o pano rosa cheio de pó branco enquanto ouço sua risada, nunca percebi ser descontraído e brincalhão, uma risada realmente cheia de liberdade, sem ser presa em um ato de seduzir, era apenas ele, livre! Então pego e o jogo mais farinha vendo que seu sorriso se foi tomando conta de um semblante frio a olhar-se pelo vidro do micro-ondas seu cabelo todo sujo enquanto eu ria e tinha meus olhos semicerrados quase nem vendo seu rosto. — Por sua culpa terei que me arrumar novamente.
   — Não gostei deste vestido mesmo, está provocador demais para apenas um jantar — reviro meus olhos a sorrir e passo pelo mesmo, mas antes que eu complete o meu percurso sinto meus braços serem puxados e olho bem no fundo dos seus olhos como olha nos meus.
   — Uma coisa que eu não te disse, mas odeio que revire os olhos para mim — saiu tão rouca e baixa, dizia realmente aquilo só para mim, me olha nos olhos como se quisesse que eu gravasse aquilo, e com certeza eu lembraria do seu olhar enquanto me dizia. — Isso é um ato de desprezo, e eu não gosto de sentir como se fosse desprezado — há pouco estava a rir, agora parecia que meu ato inocente havia o lembrado de algo horrível, algo que odiava e era presente o ódio.
   — Me desculpe, não irá se repetir — Vicente não olha nos meus olhos, olha um ponto específico no meu vestido, logo percebo o desconforto no meu braço, olho para o mesmo que agora olha suas mãos.
   — Desculpe, não deveria ter agido assim, esqueça, vamos curtir, sim? — confuso, mas compreensivo, sorri querendo esquecer como ele mesmo disse.
   — Vamos nos trocar, a comida logo esfriará — acena e me puxa com ele para o mesmo destino, o quarto.

   Mesmo eu dizendo que iria esquecer o que ele havia feito, nada me saia da mente que o "apenas" era algo enorme, que feriu Vicente e deixou cicatrizes que não fecharam ainda, me faz pensar que simples ações que o lembra do passado, mexe na ferida aberta e isso com certeza doí. Enquanto a água cai no banheiro eu troco de vestido, na verdade, ficou tão frio de repente que troquei o vestido curto por um longo e sofisticado, não acho ruim, o que era para ser um simples jantar se transformou em algo tão grande quanto eu pensei, teria até cinema! Desço as escadas a ouvir os saltos, apago as luzes deixando só alguns pontos em detalhes iluminados e preparo a mesa, as velas foram acesas e as botas foram ouvidas, Vicente parou no fim da escada e me olhou, sorri assim como ele, estávamos adequados para um jantar à altura. Me depositou um beijo no pescoço passando um tempo ali a me provocar, logo me olhou nos olhos sérios.
   — Está linda! — reprimo um sorriso com meus dentes a prender meus lábios e também o analiso.
   — Está lindo! — repito o gesto e se posiciona a tirar a cadeira para mim, assim que me sento passou pela mesa a se sentar a minha frente e iniciamos o nosso jantar.

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Meia NoiteWhere stories live. Discover now