Capítulo 16

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←Dia 07→

   O dia com Vicente foi ótimo, pensei que não teria nada para fazer, mas logo o homem me pegou para preparar o almoço com ele e fazer jogos à tarde, foi divertido e me fez pensar como Jéssica perdeu uma ótima pessoa, não sei se estou sendo ingênua ou algo do tipo, mas, eu nunca vivi nada do que estou vivendo e realmente agora estou vivendo tudo isso sem medo. Não sei se poderia me magoar por algo ou sofrer, mas agora coloquei na minha cabeça que fui comprada não só para satisfazer prazeres, nas sim preencher um vazio. Vicente é misterioso, por mais que seus olhos revelem coisas sobre ele, há certos pontos que apenas ele poderia revelar.

   Agora eu olho o guarda roupas com milhares de roupas que provavelmente foram compradas para mim, não sei o que vestir e olhar para fora da janela me fez descobrir que a noite está bela para um vestido. Diferente de hoje de manhã o dia se tornou quente, mas eu não sabia o que vestir.
   — Vicente — bato na sua porta e o mesmo logo abre, vejo que já está se aprontando — me dá uma dica, por favor! — o mesmo gargalha por minha súplica e dá um sorriso frágil no final a olhar meus olhos. — Eu não sei o que vestir, pois não sei aonde iremos.
   — Vista algo casual, confortável, iremos a um lugar cheio de pessoas — analiso o que me diz e suspiro.
   — Obrigada — volto ao meu quarto separando um vestido preto com geometrias coloridas como desenhos, uma sapatilha amarela e um prendedor de cabelo da mesma cor, me visto e prendo meus cabelos num rabo de cavalo baixo, não faço maquiagem alguma só um batom vermelho, me olho no espelho, está melhor que nada e no padrão que me disse.

   Assim que saio do quarto bato em seu corpo, está de calças marrons e blusa branca, não veste nenhuma blusa de frio fina, usa botas e sem saltos dessa vez, agora ele é só um homem, não um homem peculiar. Segura minha mão e nossos perfumes se misturam em uma harmonia perfeita, enjoada e intensa. As luzes da sala estão acesas e se apagam quando saímos, desta vez pegamos o elevador para o hall, me pergunto se não iríamos de carro e se o lugar é perto, temo eu, ele me apresentar a mais alguém.

   Na rua andamos calados, a mão de Vicente está fria, diferente da minha quente, que vai se esfriando conforme o tempo e a temperatura da sua, como não pegamos o carro deduz que o lugar era perto ou que Vicente quer curtir essa noite comigo, o que acho único sendo que passa o dia todo comigo, mas são meros detalhes que aprecio, não dizemos nada, meramente admiramos a beleza da noite e nossas próprias companhias, eu sorrio conforme o vento vai e vem e nossas mãos balançam, logo os olhos de Vicente me olham e mantenho contato visual, assim minha visão volta para a estrada é quando viramos a esquina e eu ouço um falatório abundante, música a tocar em instrumentos e uma feira de luzes amareladas penduradas em varais, sorri com a visão e olhei para Vicente.
   — É lindo! — meu sorriso fica mais largo conforme chegamos perto e adentramos o local, barracas iluminadas com lamparinas antigas, todas em acordo com o tema retro do local, há barracas de tudo, jogos, artesanato, roupas, plantas, é realmente tudo simples e bonito.
   — Isso aqui é mil vezes melhor que um restaurante luxuoso com comidas caras — olhando ele a dizer isso coloco na minha lista que prefere coisas assim, simples e com grande significado, é alguém que também repara nos meros detalhes. — Ou você prefere a comida do restaurante invés de uns churros? — me olha sorrindo e meus olhos saltam ao ouvir a palavra churros.
   — Onde? — olho todos os lados ouvindo sua risada rouca e logo sou guiada por ele a algum lugar.

   Passamos à noite a ver coisas, jogar jogos a nos desafiamos a ver quem seria melhor, ganhei um urso de pelúcia de Vicente por ser um ótimo atirador de armas de água, comemos muito e também comprou um mini cacto para mim. Andamos agora pelo fim da feira maravilhosa, ao luar e o frio, vejo sua pele se arrepiar e me aproximo do mesmo a agarrar seu braço e deitar no mesmo enquanto andamos.
   — Quando perguntou do meu sonho — começa e o olho, parece pensativo.
   — Não estou forçando você a dizer, ok? Pode ser no seu tempo, ou se quiser esqueço — paro a sua frente — há coisas que nem sempre devem ser ditas, mesmo que não nos machuque mais. — Vejo seu sorriso e segura meu urso de minha mão o colocando em seu outro braço e segurando agora minha mão vazia.
   — Quando eu era pequeno eu e meus pais nos mudamos para uma cidade afastada de Londres, meu pai recebeu uma proposta boa de emprego, mas as horas extras que ele tinha que fazer se transformaram em noites de bebidas e chegadas em casa embriagado, o que antes era uma família inabalável se tornou uma rocha prestes a se partir em milhões de pedaços. Lembro-me bem de ter cinco anos quando nos mudamos, e isso durou até os meus oito anos, quando ele matou minha mãe em uma briga — olho para o homem ao meu lado vendo como seu semblante se tornou sombrio e talvez o mesmo olhar que eu vi no parque hoje mais cedo eu vi agora, carregado de coisas negativas. — Em três anos apanhei dele, vi minha mãe apanhar para me defender e passamos fome por não ter dinheiro, o que meu pai ganhava servia para alimentar seu vício. — Engulo em seco enquanto percebo que já estamos fora da feira e a andar pelas ruas frias. — Então vaguei pelas ruas, foi quando Jade e Roman me acharam, foi quando descobri novamente o que era amor, nunca esqueci minha verdadeira mãe, já meu pai, foi diagnosticado como louco e vive em um manicômio, eu nunca tive coragem de o visitar, contudo, ele nem deve lembrar de mim. Depois de um tempo morando com Jade e Roman veio o primeiro filho, o segundo, o terceiro e o quarto, ganhei quatro irmãos, mas mesmo assim quem tomou conta da empresa de Roman quando quis parar tudo para dar atenção a Jade e as crianças, foi eu. Aprendi como ser um ótimo homem com ele, nunca pisando ou humilhando alguém por ter mais dinheiro, ou tratando as pessoas mal, o que a minha ignorância ia mudar ou piorar no mundo? No final vamos para o mesmo lugar. Ele me disse isso quando bati em um garoto na escola por me irritar, por eu ser um rico a estudar no colégio público, nunca entendi o porquê daquele moleque implicar comigo. No entanto, eu nunca esqueci das palavras de Roman, eu tinha dezessete anos e levo isso para mim até hoje. — Paramos no elevador e olhei para ele.
   — Seus irmãos não ficaram com ciúmes? Querendo ou não você não é filho de Roman. — Vicente acena um não e sorri para mim.
   — Nenhum deles gostam do trabalho que sigo, sabe? Vender empresas, alugar empresas, alugar prédios ou até mesmo ter empresas. Gostam de viajar, aventuras, de trabalhar com a natureza, pontos turísticos, dois dos meus irmãos ainda estudam então talvez futuramente uma boa parte do negócio seja deles. — Abano minha cabeça em concordância e saímos do elevador para ir direto a porta de casa, estou cansada e tudo o que quero é a minha cama.

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Meia NoiteWhere stories live. Discover now