Capítulo 29

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← Dia 13→

  Acordo mais cedo que Vicente, estou a preparar o nosso café da manhã e hoje por incrível que pareça eu estou a me sentir cansada de tantos lugares, mas mesmo cansada eu adoraria ir a qualquer lugar que Vicente me chamar. Preparo um suco de laranja natural enquanto curto o sol que entra pela janela e deixa toda a casa com num tom amarelado, as panquecas estão prontas e a calda de chocolate também, haviam feito entregas de pão e eu comprei, avisarei Vicente que peguei seu dinheiro para pagar o jovem. Falando no homem, está a andar desleixado pela sala, se senta de frente para a vidraça que tem a maravilhosa vista da França, o sol cobre seu corpo e sua cabeça está deitada para trás sobre as costas do sofá, mexendo o açúcar no meu café paro na beira da porta a olha-lo. 
  — Bom dia? — digo suficientemente alto para que ouça, e baixo para ouvir como sai curto, e não ouço nenhuma resposta vinda da sua parte, o mesmo apenas olha para o chão, confusa se ouviu ou se está a me ignorar, pego nosso café da manhã e levo até a sua beira, me sento ao seu lado e deito minha cabeça em seu ombro puxando minhas pernas para perto de mim. — Teve pesadelo novamente? — o olho e balança a cabeça negativamente.
   — Estou preocupado apenas — apenas, aprendi que o "apenas" de Vicente sempre é muito, e o modo que realmente parece pensar nesse simples apenas, me assusta, o que será que está passando na sua mente? Se ele pensou melhor e vai desistir de mim? Eu sei que me disse coisas concretas e que eu não deveria desconfiar dele, mas se paramos para reparar tudo, o que ele ganha comigo?
   — Amanhã voltamos para casa e, se a mãe de Jéssica falou sobre nós para a polícia? Irão querer saber sobre isso, eu não tenho idade para adotar você. Se eu tivesse trinta anos ou mais sim, mas tenho vinte e seis e você dezessete, se ela falar que estamos nos relacionando posso ser preso, você é menor de idade — agora sou eu a olhar para o nada, Vicente está certo, eu posso trazer problemas para ele, e não tem outro modo de ultrapassamos isso, ele não tem papel de adoção, não posso dizer que sou sua irmã, nossos nomes são diferentes, somos diferentes demais.
   — Irá me devolver para Rob? — engulo em seco só de pensar no homem. Meu queixo é erguido e pela primeira vez hoje posso ver seus olhos, estão amarelos pelo sol, seus cílios se tornaram loiros e a imagem dos seus cabelos secos e bagunçados é fofo, eu não quero deixar de ter essa visão toda manhã.
   — Eu te disse que você nunca mais irá ver aquele homem, você não vai voltar para aquele buraco. Eu não vou deixar Jéssica e sua mãe acabarem com minha vida, elas estão juntas nisso, querem comandar a mim, eu não sou uma marionete, eu não a quero, eu não as conheço mais, elas não irão dominar minha vida de longe, se eu quiser caso com você amanhã e elas não poderão fazer nada. Mas você não volta, seu lugar é comigo, você é minha e ninguém irá tirar você de mim — ouvir Vicente dizer aquilo poderia ser o meu momento de alegria, mas o seu semblante envolvido de ódio e determinação me fez ficar séria, seu maxilar está cerrado e seus lábios presos numa linha reta e fina. — Você me entendeu Fransky? — aceno que sim e o mesmo se levanta.
   — Vicente — para a me olhar esperando que eu diga — peguei dinheiro da sua carteira para o pão, espero que não se importe — seus ombros relaxam e acena que sim indo a caminho da escada me dando as costas, observo a comida e me sento em pernas de borboletas, como a pensar em cada palavra que me disse, não gosto de pensar que somos muito precipitados, às vezes gosto de pensar que Vicente tem dezenove anos e que somos apenas dois adolescentes se amando rápido demais e fazendo planos, sei que o que disse sobre casamento era apenas um exemplo, mas já temos um afeto um pelo outro rápido demais, eu posso estar prejudicando ele e mesmo assim quer que eu fique. Aí me lembro de que ele tem vinte e seis e eu dezessete, o que ele está fazendo?
   — Eu tenho uma ideia — olho para seu ser já arrumado e me pergunto quanto tempo eu passei a pensar e comer. Senta-se ao meu lado e suspira segurando o copo de suco de laranja que pus para ele antes de conversamos tudo aquilo.

   À tarde passamos a assistir filmes de comédia e a comer, Vicente fez questão de ir ao mercado comprar algumas besteiras e alguns preparativos para o jantar, foi divertido e muito bom ter a vista e a sua companhia, está relaxado e sem suas roupas formais, por um dia eu vi seus cabelos bagunçados, seus pés descalços e ele vestido de calções curtos demais para seu tamanho. Preparamos uma torta juntos e tomamos vinho, dançamos ao som de Elvis Presley e ainda mais Vicente derrubou vinho no meu vestido. O resto da tarde e à noite foram ótimas, só de pensar que amanhã iríamos embora e encarar uma armação que Jéssica deve ter preparado me deixa pensativa. Olhando para fora a sentir minha pele arrepiar com seu toque eu repenso o nosso plano, espero que dê certo.
   — Eu não queria ir — ouço sua risada baixa e rouca entre meu pescoço e logo uma mordida é depositada ali.
   — Eu também não. — Me viro de frente para o mesmo que analisa meu corpo apenas com a lingerie — faltam dezessete dias para o fim do nosso contrato.
   — Eu pensava que na altura desse jogo um simples papel não valesse — sorri brincando com os botões da sua blusa.
   — O papel não, mas ainda irei provar que sou um bom jogador — sorri com isso e Vicente me puxa para perto, me deixa um beijo calmo nos lábios antes de vira-se de costas e eu deslizar sua blusa por cima dos meus cabelos, o acompanho para terminar de preparar o nosso jantar. Faltam dezessete dias, como o tempo voa.

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Meia NoiteWhere stories live. Discover now