Capítulo 31

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   Vicente havia ido acompanhar todos e eu fiquei a pensar tudo sobre sua cama, nem tive tempo de relaxar e me sentir um pouco relaxada, a sua voz me fez levantar rapidamente em um quase grito.
   — Até quando você vai querer domar minha vida? — sua voz saiu ainda mais rouca escapando agressivamente pela sua garganta, eu não queria estar na pele de Jéssica, esse momento eu estaria aos prantos com maiores das certezas.
   — Me largou por uma pi...
   — Eu não te larguei! — tudo foi dito pausadamente, do modo que a fizesse entender. — Não aja como se tudo isso está acontecendo no passado, você estragou tudo e não tem volta Jéssica! Você está entendendo? Não tem volta! — sento no último degrau vendo Vicente dizer isso na sua cara. — Somos desconhecidos, pois a pessoa que eu conhecia não está mais aqui — percebo como isso a afetou. Sua mãe então não está aqui e me pergunto o porquê. — Me deixe viver minha vida.
   — Mas...
   — Mas nada Jéssica! Não tem nada a ser dito, você me mostrou como é sem caráter, e continua mostrando agora, aceita que nem todos irão cair aos seus pés, você pode ser bonita, mas não tem coração! — Jéssica parece triste, não sei se é parte da encenação, mas parece realmente triste. Às palavras de Vicente são cruéis, no entanto, é a verdade e a verdade dói, mas não doeu mais do que o coração quebrado que Jéssica deixou, dava para perceber que a mesma foi importante para ele por um tempo, um longo tempo talvez. Olhando os dois a discutir me pergunto o que meros dias são perto de anos com ela? Como ele diz sentir algo por mim, em poucos dias?
Saindo dos meus devaneios inseguros eu percebo que ela me olha. Olhos vermelhos e dedos das mãos em nós brancos de raiva enquanto aperta sua bolsa, agressivamente limpa as lágrimas dos seus olhos e passa por Vicente que tem suas mãos na cintura e sua veia da testa ressaltada, olha para o sol que já se põe, um dia todo agoniante em pensamentos e agora um quebra cabeça com tudo. Posso dizer que não me sinto culpada sabendo de quem é a culpa, mas eu me sinto. Quando a porta bate Vicente relaxa em um longo suspiro, afasta seus cabelos e se senta, Clarice aparece logo em seguida e oferece a nós um lanche, por mais que horas antes eu estava faminta eu perdi a fome, Vicente também rejeita o lanche e a moça deixa sobre a mesa de centro. Antes que saia ele a chama.
   — Obrigado por tudo — não ouço parte da conversa, sei que agradece pelo que disse por nós, mas algo me vem à mente. Clarice disse que nunca apoiaria nada entre eu e Vicente, fala a verdade ou mente? A última frase que ouvi da boca de Vicente foi sobre o armário, o que realmente tinha naquele armário? Se Jéssica quisesse o ferir mesmo usaria o quarto do corredor, por que ela não fez isso? Não conheceu?
   — Fransky! — arregalo meus olhos seguidos da voz alterada de Vicente e olho para Madame nos meus pés.
   — Sim? Disse algo? — me olha atento.
   — Disse que foi muito esperta sobre dizer que trabalha aqui — engulo em seco só de lembrar como todos me olhavam, imaginei que aquilo fosse nosso fim.
   — Obrigada — olho meus dedos e ouço suas botas, para a minha frente e o olho.
   — O que há? — torço meus lábios e meus olhos descem até suas calças, tudo para não olhar seus olhos.
   — Estou a pensar, apenas — sinto suas mãos por baixo dos meus braços e me ergue para cima sem nenhum esforço — se eles perguntassem dos meus pais? Se quisessem ir ver eles? — olho em seus olhos e me coloca em pé. Passa por mim e percebo que estava sentada nos degraus, fico a olhar o nada. Penso em pegar o lanche, mas minha mão é puxada logo em seguida.

   Vicente me guia a seu quarto e lá onde estávamos a minutos antes o armário já está fechado, Clarice já fez seu trabalho, rápido e eficaz. Vicente se senta a cama e me puxa para seu colo.
   — Eu tive medo de perder você — sua voz saiu baixo como um segredo.
   — Eu tive medo de te levarem para longe, de não te ver mais. Por minha culpa — Vicente me afasta dele e tem suas sobrancelhas franzidas.
   — Não foi sua culpa, foi culpa de Jéssica, não se culpe por nada. Eu disse que não iria voltar para aquele lugar, eu sou um homem de palavra. — Posso colocar isso na minha vasta lista do que ele é.
   — E peculiar também — sorri e o mesmo também — insaciável — o olho nos olhos e o mesmo ainda tem seu sorriso malicioso desenhado nos belos traços que são seu rosto. — Vicente — pauso a minha pergunta a analisar o que eu quero mesmo saber. Podemos deixar isso para outro dia, pois hoje já foi ruim demais, mas... — se Jéssica quer mesmo você longe de mim. Por que ela não mostrou o seu quarto secreto? — pareceu analisar minha pergunta. Mas não demorou para respondê-la.
   — Jéssica não o conheceu — meus olhos se abrem — me mudei para cá depois que terminamos. Não sei como ela descobriu meu endereço, aquele quarto já estava lá quando cheguei. Eu só fiz uns ajustes — olho seus olhos. Está explicado por que é a primeira vez que o vi no clube. Sorri e Vicente me puxou para perto.

   Mais tarde eu acordo no meu quarto. Não sei que horas são, me lembro da conversa com Vicente, me sento a cama a olhar o móvel ao lado, o relógio marca uma da manhã, olho para mim e percebo que estou vestida com sua blusa, não me lembro de ter me vestido. Calço minhas sandálias e abro a porta, percebo que a de Vicente está meio aberta, mas ao entrar o quarto está vazio. Confusa eu passo pelo corredor escuro e desço os degraus devagar. Está sentado a olhar a cidade se escurecendo aos poucos, tem um copo de bebida e veste boxers, acabou de acordar de um pesadelo ou mal dormiu? Me aproximo do mesmo e o abraço por trás, seu corpo se arrepia com meu toque, mas não se move.
   — Essa hora há quinze dias você estaria a vir para cá comigo — sorri com isso, me lembro como estava assustada com minha própria escolha, e ontem mesmo eu estava fazendo de tudo para não ir para longe dele.
   — Você conta os dias e as horas? — me sento em seu colo e sinto que me prende a si.
   — Cada segundo — olho para seus olhos, quase não se vê o castanho, parece morto, parece triste.
   — O que há? — afasto seus cabelos do rosto e seus olhos se fecham, em surpresa o mesmo se levanta e me levanta junto. Minhas pernas prendem em sua cintura e sinto seu corpo andar, subimos a escada e o olho. Sem tempo algum, seus lábios se chocaram com os meus e iniciamos um beijo feroz. Sou deitada em uma cama e os beijos descem para meu pescoço, seguro em seus cabelos, mas minhas mãos são pegas pelas suas e presas com certa força acima da minha cabeça, me olha nos olhos e parece ofegante.
   — Apenas me deixe te tocar.

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Meia NoiteWhere stories live. Discover now