20 de junho - ano II após a guerra (parte 2)

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Desculpem a demora. Eu tentei liberar mais cedo mas as constantes atualizações de sistema no meu PC estão me atrasando em tudo.

– Isso se não for inoportuno... quer dizer... se tiver outros compromissos, algo melhor para fazer, eu entendo.

- Lie, nada é mais importante que a família. – responde acolhedora – É uma honra que me considere capaz de contribuir para sua evolução como melhor espadachim do mundo ninja. – mas que droga, Hinata, para que inflar mais a vaidade sem limites dele? Com os dois desequilibrados satisfeitos em suas criancices, a pequena conduziu a conversa por rumos amenos, pedindo para ser atualizada sobre os acontecimentos na vila em sua ausência. Terminamos de comer e ficamos um bom tempo à mesa. Isso pode ser comum para ela, contudo para nós é uma mudança radical em nossos hábitos. Nas poucas vezes em que nos sentávamos juntos para compartilhar uma refeição, permanecíamos calados. Cada um envolto nos próprios pensamentos e vigilante aos menores gestos dos demais. Logo que Hinata chegou mantivemos nosso costume por um tempo. Nem sei dizer quando fomos relaxando e incorporando essa novidade ao nosso comportamento. Só sei que agora, por mais estranho que pareça, nenhum de nós consegue abrir mão dessa convivência cotidiana. Ainda que seja barulhenta, irritante, confusa algumas vezes, se Hinata está presente nos reunimos em torno dela. Até mesmo Karin, embora eu ache que a Uzumaki nem se dê conta disso.

Após o almoço, Kabuto retorna ao orfanato e os demais voltam a seja o que for que faziam antes. Eu insisto que Hinata precisa descansar, ela insiste que quer treinar porque ajuda a pensar. Vamos para o dojô, porém dessa vez estou determinado a fazer valer minha vontade e acho que sei como conseguir meu intento. Tenho aprendido a lidar com ela usando suas próprias armas. Hinata gosta de conversar. Pode ser quase sempre quieta, no entanto quando demonstramos interesse verdadeiro em suas opiniões ela se solta. Enquanto finjo que estou preparando nossas katanas, peço que me conte suas impressões acerca da missão. Ficamos sentados no tatame, divagando por este e outros assuntos. Falamos dos estranhos resultados obtidos, das minhas suspeitas, do progresso das plantações de Juugo, até que minha recém-surgida curiosidade me leva a questionar situações que ainda me deixam intrigado.

- Eu não consigo entender quando ou como ficou tão próxima de Neji. Ele tentou te matar no exame Chunin, eu lembro disso. Como pode perdoa-lo?

- Neji nii-san direcionou a mim o ódio que sentia pelo modo injusto como os Hyuuga são divididos. Confesso que durante um tempo eu tive certo receio de que tentasse novamente, afinal eu era só uma menina, pouco entendia dos fantasmas que assombravam meu primo. E ele também não entendia direito. Só o que via quando me olhava era a dor de ter perdido o pai. Não sei se lembra, mas meu tio Hizashi foi morto enquanto me protegia de uma tentativa de sequestro.

- Hum. Certo, então a justificativa dele era a revolta. Meio sem noção descontar em uma garotinha. E como foi que se entenderam?

- Foi um caminho longo. E complicado de certa forma. Neji, assim como você, é bastante fechado. Não gosta de expor seus sentimentos e tem dificuldade para se abrir com as pessoas. Eu não me afastei. Não desisti dele. Percebia que ele se questionava intimamente e aguardei o tempo dele. Quando ele finalmente decidiu que era o momento de se acertar comigo, eu fiquei muito feliz de acolher com perdão. Meu primo é como um irmão para mim e nunca devia ter sido selado. Ele é filho do gêmeo de meu pai, se sangue pode determinar algo sobre quem somos, o dele é tão valoroso quanto o meu. E sua capacidade de liderança deveria ser reconhecida e estimada pelo nosso Clã. Não tenho nenhuma vergonha em afirmar que Neji devia ser o legítimo herdeiro do Clã. Infelizmente, nossos costumes arcaicos determinaram que tendo seu pai nascido alguns minutos depois do meu, eles seriam relegados a bouke.

- Não acha que se quebrar o selo ele pode tentar assumir o comando do clã?

- Lie. Neji é muito apegado aos costumes. Só abre mão deles para combater as injustiças. Ou se algo muito errado estiver acontecendo.

- Eu não me acho parecido com seu primo em nada. De onde tirou essa ideia?

- Não disse que são parecidos no todo, só que vocês dois tem pontos em comum. São líderes natos, um tanto autoritários e bastante reservados quando se trata dos sentimentos profundos que carregam na alma. Ambos evitam dividir suas dores ou temores com quem quer que seja. E também são avessos a expor suas alegrias. Os dois são um pouco antipáticos para quem os conheça pouco.

- Vocês plantaram no jardim justamente as rosas preferidas da minha oka-san. – mudo rapidamente de assunto embaraçado por suas palavras que me descrevem com exatidão. – Como escolheram?

- Sasuke, eu conhecia o recanto da sua mãe. – ela sorri diante do meu olhar espantado – Seu clã era muito importante para a vila. Ele tinha alianças comerciais e políticas com o meu. De que outro modo surgiria um acordo de casamento entre herdeiros? Eu já vim aqui antes acompanhar meus pais. Lembro de como gostava de ficar ali escondida, apreciando os canteiros com todas aquelas rosas lindas. – seu olhar se perde resgatando imagens do passado – Eu conheci Itachi-kun quando furei meu dedo tentando colher uma rosa. – seu sorriso é calmo, ela se refere ao meu aniki com o sufixo... então... ela não o julga?

- Não sabia que chegaram a se conhecer. Pensei que também tinha a mesma opinião dos demais sobre ele. Sabe... sobre o que ele fez... sobre ter dizimado nosso clã.

- Lie, nunca. – ela me encara e vejo a sinceridade em seu olhar -Eu sinto que Itachi-kun deve ter carregado uma dor enorme consigo pelo que foi obrigado a fazer. Eu o vejo como um herói, um que nunca reclamou para si as glórias de seus atos. E lamento que a maioria não reconheça seu valor. Eu... eu preciso te contar algo... – ela desvia o olhar, voltando a encarar algo além do horizonte – é que... é tão simples e complicado ao mesmo tempo... remexer em coisas esquecidas e... – suas frases soltas não fazem sentido e decido aguardar em silêncio para que se sinta encorajada. Seja o que for, parece ser importante. Sinto que é. Infelizmente somos interrompidos pelos gritos estridentes de Suigetsu.

- Casal! Oh, casal! – ele chega até nós esbaforido e não para de tagarelar - Fomos convidados para nos reunir aos outros no restaurante de lámen. Venham. Temos que nos arrumar logo para não atrasar. – já me preparava para recusar e mandar ele desaparecer dali quando a mão delicada de Hinata segura a minha.

- Vamos com eles, Sasuke-kun. Onegai. Mais tarde continuamos nossa conversa. – seu olhar parece implorar que eu concorde.

- Podemos ir, se realmente formos continuar depois. - quero saber o que ia me contar, quero que confie em mim acima de tudo. Não sei explicar, mas esse laço de confiança que temos é importante demais para mim.

- Suigetsu-kun pode avisar aos outros que já vamos nos arrumar. – assim que ele sai, ela sussurra ainda segurando minha mão - Eu prometo que não vou guardar segredos de você, Sasuke. Só peço que confie em mim assim como confio em você. – seu olhar é tão límpido e franco que não me resta outra alternativa a não ser consentir. Não tenho direito de exigir que me fale do passado quando eu mesmo não faço isso. Só me resta esperar e torcer para que cumpra sua palavra como sempre tem feito.

Me arrumar para sair socialmente não é algo que eu esteja acostumado ou tenha grande interesse. Geralmente só troco uma roupa limpa. No entanto, desde que casei com Hinata me sinto compelido a ter um pouco mais de cuidado com minha aparência. Ela nunca reclamou de como me visto, contudo não quero figurar como um maltrapilho. Não quando caminho acompanhado de minha esposa atraindo todos os olhares da vila. Sua beleza natural e graciosidade são as de uma princesa, sem sombra de dúvida. Percebo os olhares de admiração que atrai, sem sequer notar. E começo a perceber que isso algumas vezes me incomoda. Não gosto dos olhares de cobiça que alguns homens lançam. Por Kami, ela é casada! É desrespeitoso. Pensar que quando nosso contrato chegar ao fim esses abutres estarão livres para suas investidas me desagrada. Eles não a merecem. Nenhum deles. Tento me lembrar que nem mesmo eu a mereço. Chegamos ao Ichiraku e somos engolidos pela confusão típica desses encontros. Aceitei o primeiro copo de saquê para tentar relaxar em meio aquela barulheira irritante. Em seguida vieram outros, para me conter diante das provocações direcionadas a mim e a Hinata. Já estávamos ali a bastante tempo, tínhamos jantado e as bebidas continuavam sendo servidas, quando Ino resolve se insinuar descaradamente para o tal Sai. Ao que parece o propósito é provocar Hinata, que observa condescendente aquele comportamento ridículo. 

(Continua)

Eu vou terminar até quarta, prometo. E vou tentar postar mais cedo. Até lá!

Beijos da Nica!

Bodas de PapelWhere stories live. Discover now