26 de maio - ano II após a guerra (parte final)

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Voltei. Vamos de DR? Como um sujeito que nem entende o próprio ciúme se enfia em uma DR? Desse jeito...

- Porque acha isso Sasuke? Não confia na minha capacidade? – retruca com um olhar ressabiado.

- Confio claro. Mas é que ainda nem completou um mês que estava convalescendo nesse quarto. É arriscado demais. Pode não estar completamente recuperada. – tento convencê-la.

- Somos ninjas. Corremos risco todos os dias, até quando dormimos. – ela contrapõe sorridente, feliz demais para quem vai encarar o desconhecido sozinha. Sei que sua alegria é parte da sua necessidade em ser reconhecida pelo seu valor e que devo apoiá-la. Quero fazer isso... mas não consigo. Me aflige pensar que ela pode não voltar, que essa pode ser nossa última conversa. Saio de onde estou e vou me sentar próximo a ela para tentar dissuadi-la de ir.

- Olha, nós treinamos juntos, sei que é forte. Uma ninja exemplar. Só acho que não precisa provar nada a ninguém. Não precisa sair por ai se aventurando sozinha em missões suicidas em busca de reconhecimento. E se isso for mesmo tão importante, eu posso atestar seu valor para quem quer que seja. Eu só peço que... – tento me aproximar e ela se afasta, ficando de pé na minha frente.

- Não continue Sasuke. – sem sufixo, pronto, está chateada - Tem noção do quanto me magoa sua falta de confiança. Eu. Sou. Uma. Ninja. – fala pausadamente com falsa mansidão, sem nunca desviar o olhar ou baixar a cabeça. – Missões é o que fazemos. Essa é nossa função em nossa sociedade. Se eu quero me aprimorar é por mim. Se treino bastante é para meu crescimento pessoal. Já devia ter percebido que não vivo mais em função do que pensam os outros nem em busca de fama. – Parece que apertei o botão errado e despertei uma fera. Seu olhar está carregado de mágoa e desapontamento. Seu queixo empinado me desafia. - Eu acreditei que dentre todas as pessoas, você seria quem melhor me entenderia.

- Eu tento. Eu tento entender, mas você não facilita. – me levanto também e quando ela vai me contradizer estendo a mão aberta na frente de sua face para fazê-la calar. Seus olhos faíscam sua raiva. Para compensar nossa diferença de altura, sua postura se torna ainda mais altiva. A princesa ofendida e o ogro furioso. Porque ela não reage assim com os outros? Porque não enfrentou Ino com essa mesma disposição? Vê-la me encarando como a um oponente me faz perder totalmente a razão – Seu primo me jogou na cara que seu pai teria te impedido. E quer saber? Ele está certo. Como seu marido eu devia ter me oposto na hora que a velha peituda começou com a maluquice. Isso deve ser coisa da idade. Está senil. Mas eu não estou. Ainda há tempo. Posso te proibir de sair em missão. Posso ir até o Kakashi tarado e mandar ele arrumar alguém para colocar no seu lugar. Posso... – já não estou dizendo coisa com coisa. Nem eu mesmo entendo a bagunça que chacoalha minha mente, despejando palavras descabidas.

- Para Sasuke! Onegai para!– ela pede em tom um pouco mais alto – Não estou te reconhecendo. – nem eu estou me reconhecendo. Nem eu estou, querida esposa. Meu descontrole é tamanho que sinto todo meu corpo tremer. – Porque está fazendo isso comigo? – pergunta com uma voz entristecida enquanto uma lágrima solitária escorre por sua bochecha.

- PORQUE EU NÃO QUERO QUE VOCÊ MORRA! MERDA HINATA! É TÃO DIFÍCIL ENTENDER ISSO? – berro como um alucinado. Quando vejo outra lágrima, e outra, e outra, me arrependo imediatamente. Passo a mãos nos cabelos, inspiro com força e tento me recompor. Me aproximo receoso de assustá-la, contudo dessa vez ela não se afasta. Passo os polegares abaixo de seus olhos para secar as gotas insistentes que ainda escapam. – Gomen Hinata! Gomen! – ela me surpreende se atirando em meus braços. Retribuo o abraço tentando consolar a nós dois nesse aperto. Sua cabeça está afundada em meu peito. – Me perdoa, eu não devia ter gritado. E nem falado tanta besteira. É que... eu... – um suspiro dolorido escapa de meus lábios. Depois do que fiz é justo que ela saiba como me sinto. Só não consigo olhar em seus olhos, então mantenho meus braços firmes em torno de seu corpo trêmulo pelos soluços baixos de seu choro – Hinata, eu vi toda minha família morta aqui nessa casa e nas ruas desse clã. Eu era só um menino e essa imagem nunca saiu da minha cabeça. Por anos a fio tive pesadelos terríveis com as cenas daquela noite. Toda essa casa é manchada com o sangue dos meus pais. Por mais que ela seja reformada e pintada, a mancha permanece. Depois eu piorei tudo matando meu irmão e manchando minhas mãos. Pensei que tinha matado minha própria capacidade de me importar. No entanto, quando te vi naquela cama de hospital, pálida, sem conseguir respirar direito e ferida com estava, percebi que estava enganado. Descobri que eu me importo e muito. Não quero que o seu sangue seja mais uma mancha nem nessa casa, nem em minhas mãos e muito menos em minha consciência. Consegue entender?

Bodas de PapelDonde viven las historias. Descúbrelo ahora