08 de março - ano II após a guerra

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A cada passo eu me questionava se estava mesmo certa do que estava prestes a fazer. Já nos portões da prisão a ansiedade toma conta do meu corpo e trava meus passos. E se ele recusar? Pior. E se revelar a alguém o teor de nossa conversa? Inspiro profundamente e me forço a seguir em frente repetindo internamente as palavras que se tornaram meu mantra particular: "Você é Hinata Hyuuga, você foi capaz de superar seus medos e se tornar uma grande ninja. Você é capaz de vencer mais esse desafio". Afinal, o que ele tem a perder? Além do mais, se não quiser ajudar com certeza não sairá por ai contando sobre o que falarmos. Se bem me lembro, ele sempre foi de pouca conversa. Só tenho que ter cuidado com o que vou dizer, preciso sentir se há chances dele aceitar minha proposta antes de abrir o jogo. Uma tarefa realmente difícil. Ele aparenta ter se tornado frio como um bloco de gelo. É quase impossível prever suas reações. Terei que ser sutil e convincente. Apresentar uma perspectiva que desperte interesse. Continuo forçando meus pés a seguirem em direção ao meu destino, onde terei que depositar todas minhas esperanças em uma aliança incerta. Os guardas ficam visivelmente espantados com minha chegada. E me dirigem olhares aparvalhados quando informo a quem desejo visitar. Um deles tenta me convencer de que não é apropriado. Eu estava preparada para isso, tenho em mãos uma autorização especial do próprio Hokage, o que dá um ar oficial a minha presença naquelas instalações e evita as possíveis fofocas. Ninguém deve suspeitar das minhas verdadeiras intenções. Mantenho uma expressão apática enquanto sigo em passos lentos até as celas dos prisioneiros considerados de maior risco.

- Ora, ora, uma Hyuuga. E não uma qualquer. A princesa deles. Quem diria? – a voz sibilante de Orochimaru me anuncia antes que eu possa dizer algo. – Venha aqui querida. Deixe-me apreciar seus belos olhos. – ignoro sua provocação.

- Vim aqui para falar com Uchiha Sasuke. Em particular. – percebo quando o vulto sentado nas sombras, encostado na parede do fundo da cela ergue a cabeça. É ele. Indiferente a tudo, como tem sido nos últimos anos – Guarda. Leve o prisioneiro até a sala de interrogatório. – os olhares desconfiados dos companheiros de Sasuke, o tal time Taka, acompanham cada movimento. O último Uchiha caminha até a porta da cela sem nenhuma pressa, estica os pulsos para que as correntes de chacra sejam colocadas e nos segue como quem não se importa com coisa alguma. Isso pode ser bem mais difícil do que imaginei. Tento relembrar tudo que ensaiei inúmeras vezes antes de tomar coragem para vir aqui. Logo chegamos ao local reservado e sei que preciso me livrar do guarda. Agradeço sua ajuda e peço que se retire. Ele certamente está acreditando que é uma de minhas missões como Anbu.

- Sente-se Sasuke-san. Por favor, se acomode. Eu sou Hinata Hyuuga e gostaria de um minuto da sua atenção para...

- Eu sei quem você é. – me interrompe bruscamente - Veio me interrogar? Estão fazendo revezamento agora? Sua estratégia, por acaso, é a cordialidade? Acha que vai funcionar? – questiona com sarcasmo. Ai meu Kami, me ajude. Como começar essa conversa?

- Lie. Apesar de constar como uma visita oficial autorizada pelo Hokage, minhas razões para estar aqui são estritamente particulares e confidenciais. Tenho uma proposta a lhe fazer. Algo de extrema importância e seriedade. Algo que pode mudar nossas vidas por um tempo. Por isso, eu preciso que me ouça com a máxima atenção para que possa avaliar as vantagens do que proponho e tomar suas decisões. Será que poderíamos nos sentar para que eu possa explicar tudo com calma? – estendo a mão indicando a cadeira à minha frente e ele me ignora, me encarando em silêncio, me analisando tão friamente que estremeço. Não move um músculo sequer por um bom tempo. Minha ansiedade vai às alturas. Será que ele vai rechaçar minha oferta antes mesmo que eu a faça? Não posso permitir. De repente, sem uma palavra, puxa a cadeira que indiquei, senta, coloca as mãos abertas sobre os joelhos e volta a me encarar.

- Diga logo. E sem rodeios. Odeio quando tentam subestimar minha inteligência com joguinhos de adulação. Então seja objetiva e poupe meu tempo. – Ora bolas, como se ele tivesse muitos compromissos trancafiado numa cela. Continua arrogante mesmo em sua condição atual. Puxo o ar profundamente, e decido fazer como ele pede. Não estava preparada para esse cenário. Terei que improvisar. Talvez a melhor estratégia seja a franqueza.

Bodas de PapelWhere stories live. Discover now