Romance LXV ou dos maldizentes

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Ouves no papel a pena?
Agora, acumula embargos
à sentença que o condena
o que outrora, em altos cargos,
pelo mais breve conceito
as rendas do Real Erário
apenas do porto larga,
revertia em seu proveito.
- Assim o destino é vário!
Grande fim para habitantes
de um país imaginário,
que falam por consoantes
- E usam nomes fingidos.
(Aquilo havia mistério
nas letras dos apelidos...)
- Tanto ler o Voltério...
- E se não fosse o ladino
capitão Joaquim Silvério!
- Assim é vário, o destino:
negro, porém, é o desterro,
e há de arranjar palavreado
com que se lhe escuse o erro.
- Tanto impou de namorado!
E agora, quando se mira
vê-se um mísero coitado...
(como lá diz numa lira... )
- Se nas águas se mirasse,
veria ralo o cabelo
- Um par de esporas, somente.
e murcha e pálida, a face.
- Falta-lhe aquele desvelo
da sua pastora terna...
- Deveria socorrê-lo..
-... a quem dará glória eterna!...
- Ai, que ricos libertinos!
Tudo era Inglaterra e França,
e, em redor, versos latinos...
- lá se lhes foi a esperança!
- Mas segue com seus embargos.
(Quem porfia, sempre alcança...)
- Os argumentos são largos.
- Que tem luzes, ninguém nega,
- Mas são coisas da Fortuna,
que bem se sabe ser cega...
- Não lhe sendo a hora oportuna,
perder-se-á tudo que alega.

Romance da inconfidência (Completo)Where stories live. Discover now