Romance XXXV ou do suspiroso Alferes

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Terra de tantas lagoas!
Terra de tantas colinas!
No fundo das águas podres,
o turvo reino das febres...
“Ah! se eu me apanhasse em Minas...”
Nos palácios, vãos fidalgos.
Santos vãos, pelas esquinas.
Pelas portas e janelas,
as bocas murmuradoras..
Ah! se eu me apanhasse em Minas...”
Rios inchados de chuva
serra fusca de neblinas...
Quem tivera uma canoa,
quem correra, quem remara...
“Ah! se eu me apanhasse em Minas...”
(Que vens tu fazer, Alferes,
com tuas loucas doutrinas?
Todos querem liberdade,
mas quem por ela trabalha?)
“Ah! se eu me apanhasse em Minas...”
(O humano resgate custa
pesadas carnificinas!
Quem morre, para dar vida?
Quem quer arriscar seu sangue?)
“Ah! se eu me apanhasse em Minas...”
Minas das altas montanhas,
das infinitas campinas...
Quem galopara essas léguas!
Quem batera àquelas portas!
“Ah! se eu me apanhasse em Minas...”
Mas os traidores labutam
nas funestas oficinas:
vão e vêm as sentinelas,
passam cartas de denúncia..
“Ah! se eu me apanhasse em Minas...”
(E tudo é tão diferente
do que em saudade imaginas!
Onde estão os teus amigos?
Quem te ampara? Quem te salva,
mesmo em Minas? mesmo em Minas?)

Romance da inconfidência (Completo)Where stories live. Discover now