Romance XLV ou do Padre Rolim

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De Vila Rica ao Tejuco,


lá vai carta, lá vem carta.


Prendem o padre ou não prendem?


Dificílima caçada!


Uns dizem que já vai longe,


pelo alto da serra brava;


outros, que só sai de noite,


fugindo, de casa em casa.


Se perguntam por que o prendem,


todos dão resposta vaga:


por ter arrombado a mesa


de um juiz, em certa devassa;


por extravio de pedras


por causa de uma mulata;


por causa de uma donzela;


por uma mulher casada.


De Vila Rica ao Tejuco,


parte carta, volta carta..


- Algumas, não chegam nunca;


nenhuma é bastante clara...


Soldados surdos e cegos,


enfim, cercaram-lhe a casa.


Pulando cercas e muros,


já bem longe o padre andava.


Nos seus colchões remexidos,


não se pôde encontrar nada,


que escondera as coisas todas


- em que mesa? armário? caixa?


teto? parede? alicerce?
com que amigo? com que amada?


De Vila Rica ao Tejuco,


sobe carta, desce carta.


(O padre na sua choça,


construída dentro da mata,


deixando passar o tempo,


deixando crescer a barba,


separado deste mundo


pela taipa de taquara!)


Não há rancho que projeta,


quando é tempo de desgraça.


Ao que mais foge da sorte,


sempre algum soldado o agarra:


lá vai pela estrada a fora,


lá vai, pela íngreme estrada,


o padre Rolim, que sempre


tivera vida bizarra.


Sete pecados consigo


sorridente carregava.


Se setenta e sete houvera,


do mesma modo os levara.


Por escândalos de amores,


sacerdote se ordenara.


Só Deus sabia os limites


entre seu corpo e sua alma!


Era um padre de aventuras


que, tendo ou não tendo barba,


conforme o que houvesse em frente,


mudava sempre de cara.


Padre de maçonaria


que sonhava e conspirava,


cuja história fabulosa


corria cada comarca...


Padre amável e guloso
que ao louro poeta Gonzaga


mandava caixas do Serro


com docinho de mangaba...

Romance da inconfidência (Completo)Hikayelerin yaşadığı yer. Şimdi keşfedin