Capítulo 18

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As lágrimas invadiam meus olhos descontroladamente turvando minha visão na estrada. O caminho mais parecia um borrão na minha frente e eu agradecia aos céus por não estar passando nenhum carro àquela hora.

Não sabia ao certo para onde estava indo, apenas peguei a estrada oposta a fazenda, lá seria o último lugar no qual eu queria estar. Pelo menos não naquele momento. Eu só queria ficar sozinha.

Um raio despencou ali perto iluminando o céu e o estrondo do trovão que o seguiu me causou calafrios. Por segurança, Achei melhor parar a picape em algum lugar. Já tinha muito tempo que eu não dirigia. — Desde que minha mãe era viva na verdade, quando ela insistiu que seria bom uma de nós poder dirigir no caso de uma emergência. Nunca precisei, ela se foi antes mesmo de poder voltar pra casa — Além do mais, aquela caminhonete não era apta para ser usada em uma tempestade.

Parei o carro no primeiro espaço aberto que vi no acostamento, na esperança de ficar em paz com meus pensamentos, pelo menos até o tempo acalmar.

Mas o destino é cruel demais para permitir que eu ficasse em paz. A placa de Meadows Park bem à minha frente estava ali para provar isso.

Desci do carro quando as primeiras gotas de chuva começaram a cair. Tirei os sapatos de salto e joguei pela janela do carona. Eu não precisaria deles aonde eu iria.

Por mais que o parque tivesse um horário de funcionamento para os visitantes, os portões da propriedade estavam sempre abertos. O Ruggero me falou isso na primeira vez que estive alí.

Ruggero.

A Lembrança dele e do dia em que me levou alí, e me pediu em namoro voltou com um soco e meu estômago.

A chuva engrossou e se misturou com as lágrimas em meu rosto. Os cachos do meu cabelo feitos por tia Antonella mais cedo, agora não passavam de uma cascata molhada caída sobre minhas costas descobertas pelo decote do vestido.

Ah o vestido…

Estragado pela chuva e com lama por toda a barra.

A maquiagem não deveria estar muito diferente. Eu estava um caos.

Sem pensar duas vezes, atravessei os portões e percorri o caminho já conhecido até o campo de flores amarelas. A chuva aumentava cada vez mais e se não fossem os postes de luz espalhados por dentro do parque seria impossível enxergar um palmo à frente.

Quando alcancei o campo tentei correr, mas o peso do tecido molhado colado ao meu corpo não permitiu, me fazendo cair no meio do caminho. Não tive forças para levantar, Apenas me sentei e abracei minhas próprias pernas, me permitindo chorar ainda mais.

Chorei por Ruggero, chorei por nosso relacionamento que iria por água abaixo, chorei por mim, chorei por sempre perder as coisas boas na minha vida.

Não sei ao certo quanto tempo fiquei alí mas contei a chuva parar e recomeçar três vezes. Na última vez que ela parou, senti algo quente e macio ser jogado sobre meus ombros.

— O que faz aqui criança? Vem, você precisa se secar e se esquentar ou vai pegar um resfriado.

Me levantei de forma automática e a acompanhei pelo caminho de volta e depois em direção a casa modesta situada nos fundos da propriedade. Assim que entramos, ela puxou uma cadeira e me colocou sentada.

— Vou pegar toalhas secas para você.

Em menos de um minuto ela voltou com os braços cheios de toalhas e um vestido.

— Trouxe uma roupa seca para você também. Não é nada do que vocês costumam usar mas acho que serve. Pode trocar-se aqui mesmo, o Richard está viajando e só volta na próxima semana.

Tirei a manta que ainda estava por cima e peguei o que ela me alcançava.

— Obrigado Senhora Duchaine, mas não quero lhe dar trabalho — Respondi com apenas um fio de voz escapando da minha garganta. — O carro da minha madrinha está lá fora, é só a chuva acalmar novamente que eu vou para casa.

— Não é trabalho nenhum menina. Antonella é uma amiga minha, e apesar de ela ter parado de vir aqui, qualquer um que seja importante para ela é importante para mim também. Então se seque e se troque que vou ligar para ela e avisar que está aqui. Essa tempestade não está com jeito que vai parar, é melhor você não ir a lugar nenhum.

No estado em que eu estava achei melhor aceitar a proposta dela.

Segundos depois ela sumiu do meu campo de visão. Em meio ao barulho da chuva que voltava a cair ferozmente do lado de fora, pude ouvir sua voz conversando com alguém. Provavelmente com minha madrinha ao telefone.

Um tempo depois ela voltou com uma bandeja e um prato fumegante de sopa e colocou na minha frente.

— Pronto, isso também vai ajudar a lhe esquentar.

— Obrigada Senhora Duchaine. — Agradeci mais uma vez.

— Imagine. E pode me chamar de Elissa. Ser chamada de senhora faz com que eu me sinta uma velha — O sorriso amistoso que ela me direcionava me fez sorrir de volta.  De fato ela não deveria se sentir velha. Apesar de provavelmente ter mais idade que a tia Antonella, as rugas em volta dos olhos mal eram percebidas e ela ainda tinha um ar jovial muito presente — E vejo que o vestido lhe serviu direitinho — Apontou.

Olhei para baixo admirando o caimento do tecido que eu havia colocado enquanto ela estava na cozinha. O vestido era um evasê simples de mangas longas, na cor azul e com estampa de pequenas Margaridas. Era muito bonito e delicado, apesar de provavelmente ser antigo.

— Ele é lindo, obrigada por me emprestar. Prometo lhe devolver limpo e passado.

— Não se preocupe com isso querida, ele já não me serve mais. Eu o usava quando tinha a sua idade e a sua cintura. Se quiser pode ficar com ele.

— Eu adoraria, obrigada.

Comecei a comer a sopa, e o caldo quente desceu pela minha garganta levando consigo todo o frio que ainda restava em meu corpo. Mas apesar de ter a certeza de que seu sabor estava divino, para mim ele não passava disso, um caldo quente.  Eu não conseguia sentir gosto de nada além do amargo estacionado na minha boca.

— Agora me conte criança, o que fazia no meio do campo nessa chuva? Pela forma como o menino Rugge chamou por você quando Antonella repetiu seu nome ao telefone, acredito que ele tem algo a ver com isso, estou certa?

— Certíssima — Respondi.

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A Seu Lado - RuggarolOnde as histórias ganham vida. Descobre agora