Capítulo 30

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        Mesmo sem intenção, acabei me sentindo abandonada. Eu sabia que Ruggero não estava fazendo de propósito, ele estava preocupado com o filho dele que Leslie estava carregando em seu ventre, mas a sensação de perda foi inevitável.

        – Chegamos menina – Senhor Hill avisou ao estacionar em frente ao portão da nossa fazenda.

        Tirei minha atenção dos infinitos campos verdes que mirei o caminho inteiro da minha janela e o olhei lhe direcionando um sorriso agradecido sem mostrar os dentes.

        Para minha sorte ele não havia ido embora ainda quando saí do hospital e gentilmente me ofereceu carona de volta.

         Jonah Hill era nosso vizinho de cerca e eu tinha certeza que tinha uma queda por minha madrinha. Há tempos que notei que ele arrasta uma asa para ela sempre que estão juntos. Só não entendia porque ela ainda não havia dado uma oportunidade para ele, será que só ela não percebia?

        – Obrigada senhor Hill – Tirei o cinto e abri a porta para descer – Desculpe o incômodo.

        – Não tem incômodo não Karol, sempre que precisar é só chamar.

        Fechei a porta e assenti através da janela. Assim que atravessei o portão e fechei ele devidamente, ele arrancou com o carro e seguiu caminho até a sua fazenda.

        A casa parecia grande demais quando entrei. Sozinha entre aquelas paredes, fiquei sem saber o que fazer. Tentei ler um livro para distrair minha atenção mas nada era capaz de acalmar a ansiedade que eu sentia a cada hora que passava.

       Em algum momento acabei cochilando no sofá da sala com o livro em meus braços. Acordei sobressaltada quando ouvi barulho de pneus do lado de fora. Corri para abrir a porta esperando que meu namorado viesse ao meu encontro, mas só quem desceu foi tia Antonella que ao me ver parada no batente da porta me direcionou um olhar pesaroso.

        – Leslie vai ficar em observação essa noite e ele vai ficar lá com ela, amanhã pela manhã vou buscar os dois – Explicou.

        Em silêncio, apenas olhei para baixo e balancei a cabeça demonstrando que havia entendido. E eu realmente entendi. Leslie nunca mais sairia da nossa vida.

***


        As semanas que se seguiram não foram muito diferentes desse dia. De alguma forma a minha relação com Ruggero estava indo ladeira abaixo, mesmo que nos esforçássemos para mante-la.

        Acontece que aparentemente a única pessoa que enxergava o motivo disso, era eu.

         Leslie atrapalhava cada tentativa nossa de sair, não importa onde planejássemos ir, lá estava ela, com uma tontura inesperada para fazer Ruggero carregá-la no colo para algum lugar, fazendo-o decidir ficar em casa para cuidá-la.

        Se decidíamos ficar em casa, ver um filme ou simplesmente nos beijar no sofá da sala, lá estava ela com algum desejo de grávida fazendo-o sair, pois nunca era algo que tínhamos em casa.

        A cada movimento no seu jogo, ela se sentia mais vitoriosa. Mesmo sem falar nada, eu percebia pelo seu olhar o quanto lhe agradava nos ver assim. O sorrisinho sempre que conseguia fazer Ruggero se afastar de mim estava sempre presente em seus lábios para que somente eu percebesse.

        Apesar das minhas tentativas de expô-la, ninguém, nem mesmo minha tia acreditava. A alegação era que eu estava vendo coisa por estar com ciúme.

        Chegou um momento que comecei a desistir. Não aceitava mais os convites para passeios, Não sentava mais com ele na escola quando ele ia, já que faltava muitas vezes para ficar com ela quando estava “passando mal”. Comecei a ficar reclusa em meu quarto, estudando, lendo ou fazendo qualquer coisa que pudesse usar de desculpa para não sair.

        A cada tentativa de Ruggero, e a cada negativa minha, eu percebia o brilho se apagando cada vez mais em seus olhos. Eu percebia essa mesma mudança quando me olhava no espelho.

        Nossa relação esfriava cada dia mais. Nossos carinhos não passavam de breves selinhos, um abraço aqui e ali, ou andar de mãos dadas quando chegávamos na escola e ele me levava até minha sala. Aquele fogo que nos consumia no início do nosso relacionamento aos poucos estava se apagando.

         O mês do meu aniversário chegou, e mesmo contra a minha vontade, tia Antonella fez questão que ele fosse comemorado. Como a data caiu em um domingo, concordamos ao menos que fosse algo pequeno e planejamos então um almoço para poucos convidados. Apenas meus amigos da escola viriam, assim como Mary e Jeff com as meninas, A senhora Cece da livraria, a qual eu havia criado amizade durante minhas idas ao local e o Senhor Hill. Não poderia deixar o pretendente da minha tia de fora, mesmo não o conhecendo muito bem.

        Naquele dia acordei cedo para ajudar tia Antonella a preparar tudo. Faríamos um churrasco no quintal, e eu havia feito um bolo de chocolate para cantarmos parabéns após o almoço

        Ruggero, na noite anterior quando virou a meia-noite bateu na minha porta, e foi o primeiro a me abraçar e me dar feliz aniversário. Em seguida me entregou uma caixa de presente que continha um vestido que eu fiz questão de colocar na manhã seguinte para a comemoração. Ele era feito de veludo cor de vinho com mangas longas, a saia mais solta da cintura para baixo e um decote quadrado e discreto realçava o meu colo. Meus cabelos optei por trançá-los lateralmente deixando-os sobre o ombro. Me sentia bonita e feliz quando deixei meu quarto em direção à cozinha.

         Quando adentrei o cômodo, minha madrinha logo veio em minha direção, limpando as mãos no avental e me puxou para um abraço apertado. Senti-me emotiva com seu carinho e senti uma lágrima solitária correr pela minha bochecha.

        – Parabéns querida. Espero que tenha um dia muito agradável hoje.
Nos afastamos e ela percebeu minha emoção, entendendo o motivo sem que eu precisasse citá-lo.

        – Sei que você a queria aqui hoje – Afagou meus ombros com carinho – Mas tenha a certeza que onde quer que esteja, ela está muito feliz vendo a mulher linda que está se tornando.

        – Obrigada tia. Eu vou ficar bem, são apenas momentos um pouco mais difíceis que outros. Eu sinto tanta falta dela que dói – Confessei. Lágrimas involuntárias escorriam por meu rosto e eu nem fazia questão de secá-las – Mas sei que minha mãe estará bem se eu também.

        – Com toda a certeza! Agora venha, vamos tomar café porque temos muitas coisas ainda para ajeitar até a hora do almoço.

A Seu Lado - RuggarolWhere stories live. Discover now