Capítulo 13

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As nuvens escuras e carregadas no céu pareciam ser um prenuncio do que estava por vir.

Pra começar o dia tia Antonella acordou gripada, o que atrasou toda nossa rotina já que tivemos que preparar nosso próprio café. Não que não pudessemos fazer isso, mas durante a semana ela normalmente nos deixava descansar por mais meia hora.

A corrida para pegar o onibus as seis da manhã também não foi agradável. Ruggero até levou minha mochila para que eu fosse mais rápido, mas minha estatura pequena não ajudava. A cada cinco passos que ele dava correndo, tinha que parar para me esperar.

Por sorte conseguimos chegar no ponto no exato instante em que o onibus estava passando. Um minuto a mais e teríamos que voltar para casa e pedir para uma Antonella muito doente e irritada nos levar.

— Você está horrível — Falei assim que conseguimos sentar no nosso lugar.

Ainda tentando recuperar o fôlego, Ruggero estreitou os olhos e me encarou. Um sorrisinho se formou no canto de sua boca enquanto me analisava de cima a baixo.

— E a senhorita acha que está a mesma princesa que saiu de casa?

Passei a mão pelo rosto e empurrei os cabelo que  já começavam a grudar na minha testa por causa do suor. A umidade nos fios indicava que eu não tinha o que fazer para salvar a não ser prende-los. Com toda a certeza a pouca maquiagem que eu havia aplicado naquela manhã antes de sair do quarto não existia mais.

Olhei para a cabeça de Rugge e não pude evitar a risada.

— Pelo menos eu não saí arrastando as árvores pelo caminho — Estiquei meu braço e retirei as pequenas folhinhas que haviam se prendido no cabelo dele.

Continuamos a rir do nosso desastre e Rugge me abraçou passando seu rosto suado no meu. No timing perfeito em que ele desceu sua boca na minha para me beijar. Um resmungo soou ao nosso lado.

— Que nojo — Escutei antes de levantar a cabeça e identificar de quem era a voz.

— Algum problema Mc'Cullers? — Rugge apertou minha mão enquanto a encarava.

— Vocês! — Ela falou sem nem hesitar — É nojento primos se agarrando!

Ruggero se levantou ficando cara-a-cara com ela. Depois de alguns segundos se encarando ele virou para os poucos alunos que já estavam em seus lugares e olhavam a cena curiosos. Seu peito subia e descia rapidamente e seus punhos estavam cerrados ao lado do corpo.

— Eu vou falar só uma vez e espero que seja suficiente para que todos entendam, a Karol NÃO É minha prima, ela é afilhada da minha mãe e apenas isso, não temos nenhum vínculo sanguíneo! Se ouvir mais alguma merda dessas não esperem que eu responda com palavras.

Ao finalizar sentou novamente ao meu lado e virou de costas para o corredor dirigindo sua atenção somente a mim. Por trás de sua cabeça vi Leslie sair bufando para a traseira do onibus, provavelmente para se sentar no seu lugar.

Segurei o rosto tensionado do meu namorado em minhas mãos e encostei sua testa na minha. O movimento pareceu acalma-lo de alguma forma.

Pelo resto do caminho permanecemos em silêncio. Nossas palavras eram trocadas em forma de carinhos, através das nossas mãos juntas, do meu rosto escorado em seu ombro e do jeito que nos olhávamos vez ou outra trocando sorrisos.

Descemos do onibus de mãos dadas e como o previsto muitos olhares se voltaram para nós dois. Ignorando a tudo e a todos entramos na escola. Rugge me acompanhou até meu armário e depois caminhamos até a sala de aula. Nos despedimos com um beijo no rosto e eu entrei sentando ao lado de Valentina que como sempre tinha chegado primeiro por ter ido de carona com o pai.

— Quer me contar algo? — Lançou as palavras logo que sentei

— Depende se você vai me matar ou me abraçar.

— Quem vai matar quem? — Carolina se sentou na mesa atrás de Valu.

— A Valentina — Expliquei — Ela quer que eu conte sobre o Ruggero, mas estou com medo de ser assassinada.

— Ah eu quero saber também! Valentina não ouse tocar nela até ela nos contar tudo!

— Okay… mas dependendo do que vier eu ainda posso te matar!

Revirei os olhos para minha amiga loira e não pude deixar de rir com a sua observação. Nos cinco minutos que tínhamos sobrando antes do professor entrar na sala consegui resumir todos os acontecimentos do dia anterior desde o momento em que "fugimos" da escola na hora do almoço.

— Eu quero um namorado assim pra mim! — Carolina resmungou.

— Você já tem o Agus garota!  — Valu a repreendeu.

— Eu sei, mas ele me pediu em namoro na traseira da picape do pai dele enquanto nós…

— Por favor Lina… — Fiz minha melhor cara de nojo e cobri sua boca com a palma da mão — Nos poupe dos detalhes.

— Está bem, mas eu só estou dizendo que não foi romantico, enquanto o seu foi incrível! Me deixem invejar! — Lina colocou a mão sobre o peito fingindo estar ofendida.

— Só tenho a dizer que se você estiver feliz eu também estou amiga — Foi a vez de Valu opinar. Olhei para seus olhos azuis e vi sinceridade espelhada neles — Mas se ele te magoar eu corto o que ele tem no meio das pernas e dou para as vacas comerem!

— Eu não duvidaria Kah, essa garota do campo sabe usar um facão! — Lina interveio novamente.

Nos encaramos por dois breves segundos antes de caírmos na risada. Logo depois o professor entrou na sala exigindo silêncio.

As aulas seguintes eu não tinha a companhia das minhas amigas nem a de Rugge, então me concentrei em prestar atenção ao que era ensinado. Quando o sinal do almoço tocou, corri para guardar meus livros no armário antes de ir para o refeitório. Algumas risadinhas soaram atrás de mim seguidas de cochichos e mais risadas. Fechei meu armário com força e olhei para o grupo de garotas que me encaravam agora tentando segurar o riso.

Tentei ignorar ao passar por elas. Eu juro que realmente tentei. Mas a palavra "vadia" saindo da boca de uma delas não passou despercebida.

Meu instinto realmente gritou "Não responde", mas meu orgulho tinha um timbre muito mais alto e chegava mais rápido aos meus ouvidos. E foi assim que o "Invejosa" escorregou por entre meus lábios. E talvez brevemente eu descobriria que era melhor ter ficado quieta.

[...]

O refeitório estava lotado. Peguei meu almoço e procurei Rugge em meio a multidão. Fui acha-lo sentado à mesa com meus amigos.

Quando acomodei minha bandeja a seu lado e me sentei, ele aproximou o rosto do meu ouvido com uma cara assustada.

— Você acha que sua amiga tem algum instinto assassino?

Virei minha atenção para Valentina e ela o encarava séria enquanto cortava uma banana com a faca de plástico disponibilizada pela cantina.

— Ah com toda a certeza ela tem — Afirmei. Observei quando Rugge arregalou os olhos e desceu as mãos protegendo as partes baixas. — Mas não se preocupe, a não ser que você tenha a intenção de me magoar ela é inofensiva.

Quando pensei que o clima ficaria menos tenso. Alguém inventou de abrir a boca na mesa ao lado da nossa.

— Nossa, que delícia… imagina só como deve ser bom ter uma vadia dessa toda noite na sua cama. Eu também daria um jeito de inventar um namoro se eu tivesse uma gostosa dessas debaixo do mesmo teto que eu!

Tão rápido quanto o flash dos trovões do lado de fora, Ruggero se levantou e pegou Mason pela gola da camisa. O barulho ensurdecedor que seguiu seu movimento contrastou com a cena do garoto sendo jogado. Eu só estava na dúvida se o som que escutei foi do próprio trovão ou do corpo de Mason se chocando no chão. Então tive a certeza de que as nuvens carregadas daquela manhã realmente eram o prenuncio do que estava por vir.

A Seu Lado - RuggarolWhere stories live. Discover now