Capítulo 12

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O sol  já tinha ido embora quando o senhor Duchaine nos deixou em frente aos portões da fazenda. Nosso horário de chegar já tinha passado há uma hora atrás. Ruggero pegou nossas mochilas e corremos para casa, torcendo para que tia Antonella não tivesse dado por nossa falta.

A porta da cozinha não era uma opção já que ela estava sempre lá fazendo seus queijos caseiros. Corremos então para a porta da frente, porém antes mesmo de alcançarmos a varanda a porta foi aberta e a figura de uma mulher muito zangada apareceu nos encarando.

Paramos assustados e eu soltei a mão de Ruggero rapidamente. Com a colher de pau em mãos ela apontou pra gente e depois para dentro de casa.

— Você dois, entrem!

Sem pensar duas vezes apressamos nosso passo e passamos por ela entrando na casa. O medo de que ela nos batesse com aquela colher foi grande, levando em consideração que a cena era igual de quando a gente era criança e a nossa mãe já esperava a gente na porta de casa com o chinelo e inevitávelmente apanhávamos na passada. Eu pelo menos passei ilesa, já Ruggero que entrou depois de mim exclamou um "Ai". Quando me virei ele esfregava a parte de trás da cabeça.

Me sentei no sofá ao lado de Rugge enquando minha tia parava em pé na nossa frente. Braços cruzados em frente ao peito e a cara fechada nos encarando.

Ao contrário do que imaginei, ela não perguntou onde estávamos. Como se já soubesse de tudo.

— Qual era o acordo Ruggero?

— Leva-la depois da escola…

— E qual a parte disso você não entendeu?

— Foi mal mãe, mas depois da escola ia ficar muito tarde e nós não iríamos ter a luz do sol.

— Quando me ligou no almoço eu deixei bem claro o que você podia fazer! Quando o diretor me ligou avisando que já tinha liberado vocês, minha vontade era de ir atrás e te dar uma surra seu "filhote de italiano"! Tinha que ter logo isso do seu pai? A teimosia?

Sem entender nada, eu fiquei alí parada olhando de um para o outro. Achei que seria uma conversa mas o diálogo deles mostrou o contrário.

— Me desculpa mãe, mas eu não podia esperar…

Andando de um lado para o outro, ela parecia pensar em algo até que parou novamente e fez a pergunta que me fez entender que ela realmente já sabia de tudo.

— Ela aceitou?

Sorrindo abertamente, Ruggero pegou minha mão e entrelaçou com a sua.

— Sim — Falou orgulhoso.

— Então já sei o castigo de vocês… Estão proíbidos de namorar até a próxima semana!

— O QUE? — Gritamos os dois juntos.

— Não pode fazer isso! É a minha vida! — Me coloquei em pé de frente para ela.

— E essa é minha casa!

— Não é opção minha estar aqui!

— Eu sei o que é melhor pra você Karol!

— Não! Você não sabe! — Sequei as lágrimas que escorriam pelo meu rosto com as costas das mãos e senti Ruggero se colocar em pé também atrás de mim e segurar meus ombros — Ninguém sabe o que é melhor pra mim! Os ultimos tres anos da minha vida eu me dediquei a cuidar da minha mãe enquanto a leucemia a levava pouco a pouco de mim e ninguém, nem mesmo VOCÊ se preocupou em saber o que era melhor pra mim! Eu só tinha 14 anos  e tive que cuidar dela sozinha. Aos 16 eu já nem dormia mais em casa, minhas noites eram no hospital segurando a mão dela quando as doses de morfina não eram suficientes para aliviar a dor. Eu quase repeti de ano se não fosse pela ajuda da unica amiga que me restou. Aos 17 eu perdi a unica família que eu tinha e tive que vir morar com pessoas que eu mal conhecia! Não pense que eu estou reclamando porque não, eu agradeço muito por você ter me dado um lar, mas não venha me dizer que sabe o que é melhor pra mim porque não sabe!

Sem conseguir ficar alí por mais um segundo, corri em direção ao unico lugar que faria eu me sentir melhor. Antes de atravessar a porta da cozinha, ainda escutei Ruggero me chamar, mas o ignorei e continuei correndo.

O céu parecia de acordo com meu estado de espírito. Enquanto a tarde feliz que eu tive me apresentou um céu azul incrível, a noite me dava nuvens espessas que engoliram as estrelas que eu gostava de admirar quase todas as noites.

Escutei passos à minha direita mas continuei olhando para o céu nublado. Um trovão brilhou no céu causando seu típico barulho assustador segundos depois.

— Não quero conversar agora Ruggero.

— Ainda bem que é com ele que não quer conversar.

Virei para olha-la e tia Antonella sentava cautelosamente ao meu lado.

— Também não quero falar com a senhora.

— Que pena porque eu trouxe bolo de chocolate com morangos, e eu tenho quase certeza que é o seu preferido.

— Não pode me comprar com bolo.

— É verdade, não posso. Mas posso querer agradar minha afilhada depois de ter feito uma coisa muito feia.

Me sentei no feno e ainda sem a olhar nos olhos peguei o prato de suas mãos. O bolo estava incrívelmente delicioso e meu primeiro pensamento foi que eu deveria parar de aceitar perdão em troca de doce.

— Sabe Karol, você está certa… Passou por muitas coisas que uma menina da sua idade não deveria passar, e eu sinto muito mesmo por não ter estado lá. Mas você sabe que sua mãe não quis que ninguém soubesse da doença dela. Quando você me ligou naquela manhã pra avisar que ela tinha partido eu fiquei sem entender nada. Carolina sempre foi uma mulher forte e saudável e descobrir que a havia perdido me tirou o chão. Nós sempre fomos muito amigas mas tinha alguns anos que não nos falávamos e eu nem entendia o porque. Não me conformo dela ter escondido isso de mim. — Depositei o garfo no prato e notei pelo canto do olho quando ela secou uma lágrima — Quando tínhamos doze anos e minha mãe faleceu, eu tive que vir morar com uma tia aqui em Green Valey, mas antes de eu me mudar fizemos uma promessa de nunca esquecer uma da outra. A coleção de cartas que tenho no meu armário é a prova de que a promessa não foi quebrada. — Sorri me lembrando das cinco caixas de sapatos que encontrei embaixo da cama da minha mãe igualmente recheadas de cartas — Quando nos casamos uma foi a madrinha de casamento da outra. E quando vocês nasceram, nem eu nem ela tivemos dúvidas de quem seria a madrinha. Nós planejamos o namoro de vocês desde que ainda estavam no berçário e me dói saber que ela não está aqui para ver vocês juntos. Me desculpe se eu exagerei no castigo, sei que a culpa não foi sua, conheço o filho que tenho.

Coloquei meu prato de lado e a abracei. Choramos as duas abraçadas uma na outra sem falar nada. Cada qual com a suas memórias, mas ambas com a lembrança de uma Carolina feliz e sorridente como ela sempre foi até o ultimo dia de vida, quando partiu ainda durante o sono.

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Gente, me desculpem por estar demorando para atualizar, é pq ta me faltando tempo mesmo.

E eu espero que estejam gostando dessa fanfic.

E... podem continuar comentando e dando a opnião de vcs pq eu amooo ❤

A Seu Lado - RuggarolOnde as histórias ganham vida. Descobre agora