Capítulo 29

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       O caminho de volta para casa pareceu muito mais demorado e silencioso. Ruggero e eu trocamos poucas palavras, apenas o essencial.

       A preocupação era nítida em seus olhos, e o passo apressado mostrava o quanto ele estava ansioso para chegar logo, vez ou outra ele parava para me aguardar, afinal de contas minhas pernas eram menores e mais lentas. Mas apesar de eu ter falado várias vezes que tudo bem ele ir na frente, Ruggero se recusava a me deixar para trás.

       Quando por fim chegamos em casa, uma picape preta estava estacionada próxima à entrada. Ao nos aproximarmos, a porta do motorista abriu e um de nossos vizinhos desceu nos cumprimentando com um aceno de cabeça.

        – Posso ajudar senhor Hill? – Ruggero perguntou ao se aproximar – Desculpe, a minha mãe não está e eu também já estou de saída, se puder voltar em outro momento...

       Jonah Hill, levantou a mão em frente ao corpo interrompendo Ruggero. O Homem deveria ter em torno dos seus 50 anos, mas tirando os cabelos levemente grisalhos e o rosto queimado pelo sol sua idade era apenas um numero.

       – Sua mãe me ligou – O homem se adiantou em falar – Ela pediu que eu levasse vocês para o hospital, já que ela saiu com o carro.

        – Ok – Após pensar um pouco Ruggero balançou a cabeça concordando. Suas feições e forma de agir demonstravam que ele estava atordoado com toda a situação, e eu agradecia mentalmente tia Antonella por ter mandado nosso vizinho, caso contrário Ruggero teria saído nem que fosse a pé até o hospital – Vou apenas pegar meus documentos e então podemos ir.

         Jonah assentiu e voltou a entrar no carro, enquanto eu segui meu namorado para dentro de casa e peguei minha bolsa colocando minha carteira com documentos e meu telefone dentro dela, tudo isso da forma mais rápida que consegui. Ainda assim quando saí do quarto Ruggero já estava na porta de casa me esperando.

        Trancamos tudo e entramos na picape. Ruggero na frente ao lado do Senhor Hill e eu atrás, já que ao contrário do carro da minha tia, esse era com cabine dupla.

        Demoramos pouco mais de trinta minutos até chegarmos no Hospital comunitario da cidade. No caminho, tia Antonella mandou uma mensagem avisando para encontra-la na ala obstétrica porque Leslie estava aguardando para fazer uma ultrassonografia. Quando estacionamos, saltamos do carro rapidamente e se Ruggero não tivesse segurado minha mão talvez o tivesse perdido tamanha a pressa com que caminhava.

         Rapidamente avistamos a cabeleira castanha da minha madrinha caminhando de um lado a outro no corredor e Leslie em uma cadeira de rodas escorada na parede.

         Em uma fração de segundos eu já não tinha mais a mão do meu namorado nas minhas e nem ele ao meu lado. Quando me dei conta, ele já estava agachado em frente à mãe de seu filho e era sua mão que ele segurava de forma carinhosa.

        Eu tentei, eu juro que tentei não me chatear com isso, afinal ele estava preocupado com o bebê e querendo ou não aquela garota era o seu receptáculo, mas a forma como ela mudou seu olhar para mim quando Ruggero levantou para perguntar algo para tia Antonella, me fez sentir uma irritação muito grande. Alí eu percebi que algo estava muito errado.

         – O que ela faz aqui? – Perguntou com a voz mais frágil que conseguiu fingir – Eu não quero ela aqui, ela não gosta de mim e eu não quero essa energia para o meu bebê.

        Suas mãos pousaram sobre o ventre levemente arredondado acariciando-o.

        Olhei para Ruggero que intercalava o olhar entre nós duas sem saber como reagir, então tomei a decisão por nós dois.

        – Que seja – Larguei os braços ao lado do corpo, obviamente cansada – Eu acho que o Senhor Hill ainda deve estar lá fora, eu pego uma carona.

         Girei em meus calcanhares e caminhei de volta pelo corredor. Quando estava quase no final, escutei meu nome ser chamado. Olhei para trás e consegui ler um "Me desculpa" nos lábios de Ruggero. Sem responder voltei minha atenção para o caminho outra vez, alcançando a porta do hospital.

         Uma lufada de vento acertou meu rosto gelando uma lágrima que nem percebi que havia descido.
Não faziam nem quarenta e oito horas que eu tinha decidido dar uma segunda chance para nós dois e meu coração já estava sendo partido outra vez.

         Foi então que a porta do meu quarto    aberta quando saí do banho fez sentido. Ela não pegou nada de lá, mas com toda a certeza viu o bilhete que Ruggero havia me deixado naquela manhã e arrumou um jeito de nos atrapalhar.

        Leslie era uma garota sem escrúpulos e agora eu entendia que ela era capaz de qualquer coisa para conseguir o queria, inclusive simular uma queda arriscando prejudicar o próprio filho apenas para chamar a atenção de Ruggero para sí. E o pior é que ele nem percebia a maldade no rosto daquela garota. Ninguém percebia.

A Seu Lado - RuggarolOnde as histórias ganham vida. Descobre agora