48 Horas

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Logo que o galo cantou, Ana Terra levantou (já que não havia dormido sequer um minuto, apenas aguardava uma hora razoável para levantar). Lavou-se e penteou os cabelos com os dedos. De botas, calça e chapéu, celou Miçanga e saiu em direção à choupana de Rose.

Alguns quilômetros de distância, Rose passava o café da maneira mais silenciosa possível, porém foi o próprio aroma da bebida que despertou o jovem hóspede de seu sono cansado.

Luiz Felipe nunca havia dormido em uma esteira de palha antes, mas o cansaço misturado ao alívio de não ficar ao relento o fizeram dormir como se estivesse numa cama de plumas. Apesar de um pouco dolorido, levantou bem disposto e com o coração imensamente grato. Não conseguia colocar em palavras o quanto o gesto daquela senhora desconhecida lhe tocara. Generosidade imaculada, talvez até um pouco ingênua ou inocente por colocar um homem estranho, mesmo que bem apessoado como ele, debaixo do mesmo teto.

Levantou e recolheu os sapatos que estavam ao lado da cama improvisada no chão. Ainda descalço, aproximou- se de Rose para sauda-la enquanto passava o café.

Num movimento rápido, Rose empunha a espingarda que Luís Filipe nem mesmo havia notado que estava com ela. Numa mão a mulher vertia a água quente no coador de pano, na outra impunha uma arma apoiando o cabo nos quadris. "Nem tão ingênua e muito menos inocente" - pensou Luiz Filipe, levantando as mãos num reflexo.

Rose baixa a arma e dá atenção exclusiva ao café.
- Não chegar em silêncio. Querer levar um tiro?

- Desculpe-me, eu não quis lhe assustar. Eu só estava pensando em como agradecê-la.

- Agradecer não. Pagar. Você dizer que poderia pagar.

- Ah sim. Claro. - desconcertado, o rapaz retorna à sua cama improvisada. Em um dos calçados, ele remove a palmilha interna e abre um pqno compartimento de onde tira alguns réis e entrega a senhora que recolhe o dinheiro e o guarda dentro de bolso no avental que usa sobre o vestido.

Ela serve o café numa caneca e entrega para Luiz Filipe, que bebe sôfrego e se senta numa banqueta perto de onde está sua mala. Vai bebendo aos poucos o restante do líquido enquanto observa o pequeno cômodo que não pôde olhar na noite anterior pela falta de iluminação e excessiva pressa em se deitar.

Simples e rústico. Havia apenas uma mesa e uma cadeira de madeira e a banqueta em que ele estava sentado. Na mesa dispunham-se pilhas de pequenas caixas de madeira, vidros de vários tamanhos contendo toda espécie de líquido e ramos de ervas secas. As ervas também se espalhavam pelas paredes, amarradas em barbantes como que em varais. Debaixo da cadeira dormia um coelho. Talvez por esse motivo Luiz tenha achando melhor se sentar na banqueta. Não sentia-se bem tirando o conforto e tranquilidade do animal. Reparou no pelo marrom e cinza que se camuflava perfeitamente ao chão de terra batida e mobília rústica.

Rose lhe trás uma jarra com água e uma bacia para que se lave, arruma um cantindo encima da mesa para e sai em seguida. Poucos minutos depois, Ana Terra chega à casa de Rose. Observa da porta enquanto o rapaz ae calça. Repara na camisa fina amarrotada e com alguma sujeira. Também repara que seus cabelos castanhos claros são um pouco mais longos que o usual dos homens da região. Exceto é claro, pelo caboclo Josué e seus cabelos negros de descendência indígena.
O cabelo do desconhecido permite apenas que algumas mechas lhe caiam pela testa até os olhos. E mesmo não sendo cacheados, de alguma forma lhe lembra Maneco.

Ana Terra fica subitamente desconfortável com o rumo que seus pensamentos tomam e os consequentes sentimentos que brotam-lhe no peito.

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⏰ Last updated: Jun 08, 2020 ⏰

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A Domadora de CavalosWhere stories live. Discover now