Criando Intrigas

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Camille desperta confusa. A cama é muito macia, os lençóis são sedosos e o ar tem cheiro bom, de limpo. Nada comparado à pocilga que divide com mais quatro mulheres. Os quartos de A Glamourosa só são usados com os clientes. Camille e as outras prostitutas dormem numa espécie de depósito. Quando não estão trabalhando com os homens, então limpando a casa, fazendo comida, lavando roupas... Não foi sempre assim. Antes de Consuelo cuidar da casa elas tinham pretas para fazer o serviço doméstico, dormiam nos quartos, comiam bem... É verdade que recebiam menos dinheiro, mas pelo menos não trabalhavam feito negras.

Camille abriu os olhos e viu que não dormia sozinha. Antônio estava babando ao seu lado. Dormindo de bruços, seu braço esquerdo sobre a barriga de Camille. Com uma expressão de nojo, ela tira o braço do homem de cima de si e se levanta.
Observa o quarto: simples e ao mesmo tempo sombrio. Móveis escuros, cortinas pesadas e um tapete muito antigo. Pega o robe que está encima de uma cadeira ao lado da cama, se cobre e sai para o corredor.

Anda vagarosamente observando os candeeiros nas paredes. Passa tocando as maçanetas de várias portas sem abrir nenhuma. Ao chegar ao primeiro espaço aberto, a sala de visitas, ela encontra uma moça loira sentada numa poltrona. Esta segura um livro aberto entre as mãos enquanto olha pela janela aberta.

"Quero tomar café." Declara à estranha, tirando-a de seu devaneio.

"O quê? Como é?" Pergunta a loira, confusa.

"Eu disse que quero tomar café. Desjejum. Você é retardada ou surda?"

A desconhecida encara Camille por um minuto. Avalia sua expressão, sua postura e então seus trajes. "Acho que está me confundindo" - tenta a diplomacia - "eu não trabalho nesta casa, eu sou a..."

"Pouco importa quem você é. Se não é você quem cozinha, então encontre quem é. Estou com fome." Interrompe Camille.

"Ouça aqui..."

"Faça o que ela disse" - Ana Lua é interrompida mais uma vez, agora por uma rouca voz masculina.
Camille olha por cima dos ombros e vê Antônio só de calças atrás de si. A visão do peito coberto de pêlos negros e grisalhos lhe embrulha o estômago, mas ela se recompõe quase que imediatamente e sorri para o homem.

"Levante - se daí e providencie café para nós." Exige o homem.

"Pai. Acabei de chegar... É a primeira vez que nos vemos em anos... Sou eu. Ana!" Tenta dialogar a chocada jovem. Atônita, acredita que não foi reconhecida. Que está havendo alguma confusão.

"Eu sei quem você é. Providencie café para minha puta. Se eu tiver que mandar de novo, você vai dormir com os empregados."

Ana Lua encara o pai e depois Camille que lhe sorri com escárnio e desdém. Acena com a cabeça e sai apressada do cômodo.

Camille nota um brilho lacrimoso em seus olhos e seu sorriso aumenta ainda mais. Em seguida sente o braço envolvido pela mão pesada de Antônio.

"Tome cuidado, puta." - sussurra em seu ouvido - "Teus privilégios tem limites nessa casa. Não dê uma de louca." Completa apertando seu braço até que ela se encolha sutilmente de dor.

"Isso quer dizer que posso ficar? Achei que me mandaria embora logo pela manhã."

Antônio solta a jovem e dando a volta no cômodo, senta na poltrona em que Ana estava. "Não tenho porquê mandá-la embora. Parece que tê-la aqui tornará as coisas um pouco mais suportáveis nesse período. Talvez até divertidas, visto que és louca apesar de muito bonita. Além do mais, eu a prometi ensinar a montar, não prometi?"

"Sim, verdade. Prometeu." Concorda Camille, ainda em dúvida se tinha sido insultada ou elogiada.

Em seguida, aparece Tininha com uma bandeja. Nela, duas xícaras, um bule pequeno fumegando, uma mantegueira e um cestinho de torradas. Antônio faz sinal para que ela saia e ele mesmo serve café nas duas xícaras enquanto a escrava sai sob o olhar de nojo de Camille.

"Sou um homem de palavra." Retoma o raciocínio da conversa. Se recosta na poltrona e faz sinal para que a jovem se aproxime e sente no seu colo, dando dois tapinhas na própria coxa.

Camille segura a institiva careta de nojo e sorri para Antônio, enquanto se aproxima vagarosamente, fazendo charme. "Apenas sorria, Camille. Apenas sorria."

A Domadora de CavalosWhere stories live. Discover now