O Caminho Mais Longo

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Ela tentava ler "Orgulho e Preconceito" enquanto lutava internamente para afastar a ansiedade. Ana Lua sentia os solavancos da "Maria Fumaça" e ouvia seus "toc toc toc" rítmicos e suaves. A linha de trem não era nova, mas poucas pessoas as usavam para viajar pela região. Era mais rápido viajar à cavalo ou de carroça. O trajeto era bem mais curto que na locomotiva que cortava vários municípios da capital ao interior. Sem falar que o último ponto de parada ainda era longe da maioria das fazendas. Só compensava usar o meio de transporte à carvão para transportar cargas em grande quantidade (sacas de café, gado, madeira...).

Ana Lua tentava se distrair e aproveitar a viagem. Não havia escolhido o trajeto mais longo à toa... Precisava se acalmar. Manter a compostura, mesmo com as lembranças ruins e o instinto gritando que aconteceriam coisas ainda mais ruins. Ela torturava à si mesma com esses pensamentos e não conseguia evitar.

Já havia sofrido outras vezes com a mesma sensação: tremia muito, lhe faltava o ar, ficava confusa e desorientada, sem apetite, com insônia... Ela se sentia um grande nervo exposto. Como se tudo a atingisse de forma intensa demais. As vezes, não havia nada para ferí-la. Mas estava tão sensível, que o próprio ar lhe parecia áspero. Com a ajuda de Priscila, ela enfrentava a situação da melhor forma possível. Era apavorada com a idéia de ser diagnosticada com histeria. Não queria que a chamassem de louca. Ela não era louca. Aquilo acontecia as vezes, mas não o tempo todo. Ela realmente não tinha muito controle daquilo, mas eram crises que iam e vinham. Ela não poderia perder sua parca dignidade por causa de momentos ruins. Então Priscila a ajudava com plantas medicinais que a mãe havia lhe ensinado à usar. Chás, emplastros, banhos... Outras Ana mastigava para ajudá-la à relaxar. Essas plantas eram cultivadas em canteiros escondidos entre as flores dos jardins da escola. Nada mais escondido que o óbvio.
Era trabalhoso, mas se esse era o preço que Ana pagaria para ter o controle de sua vida, então seria assim.

Sua cabeça era uma bagunça, mas ainda era SUA. E Ana Lua a dominaria. Era ela quem mandava em seus sentimentos e não o contrário. Estava decidida a não se permitir dominar. Sabia que perderia muitas batalhas, sofreria muitas recaídas... Mas toda guerra enfrenta baixas. E Ana Lua não havia nascido para desistir. Sofrendo ou não, precisava seguir em frente e enfrentar o que estivesse a aguardando.

Tornou a encarar o livro, Mr Darcy e Sta Bennet se encontraram novamente, em mais um baile. Eles à irritava profundamente às vezes, mas não havia muito o que fazer quanto à isso: Ana tinha uma queda por orgulhosos...

A Domadora de CavalosWhere stories live. Discover now