Mesmo temendo o marido, Carminda queria o filho. Seria algo bom para ela, ter de quem cuidar.
Mas com seis meses ela começou a sentir as dores. Era cedo demais. A criança nasceu morta.
Nessa mesma semana, Palmira descobriu que estava grávida.Mês após mês Antônio via a barriga de Palmira crescendo. Às vezes se pegava sorrindo ao imaginar que a criança era, na verdade, dele. Nesses dias, ele voltava ao quarto da esposa.
Mês após mês ele procurava Carminda, apenas nos dias que ela poderia engravidar. Era sempre bruto e mal. A insultava, dizia que estava podre por dentro, por isso não lhe dava um filho. E ela pensava, que ELE a havia estragado, meses antes, naquela tarde suja.
Finalmente nasceu o filho de Palmira. Ela a chamou de Ana Terra, como a personagem de um livro que uma vez Antônio lera para ela. Um segredo dela. Deles. Quando o patrão descobriu o nome, também se lembrou disso.
Carminda engravidou outra vez. E outra vez perdeu. A cada gestação perdida, pior ficava o tratamento do marido para com ela. Mais desesperada ela ficava por ter um filho. Mais debilitada ficava sua saúde.
Quando Ana Terra tinha quatro anos, ficou doente. Palmira estava de sete meses do segundo filho. E Carminda encarava os últimos dias de sua oitava gestação.
Numa tarde fatídica, em desespero, Palmira procurou Antônio. Implorou para que ajudasse sua filha que ardia em febre. O marido estava na cidade à mando do patrão já havia três dias e não havia quem a ajudasse com a criança, e ela naquelas condições...
Antônio nem da varanda desceu. Deixou - a falando sozinha e sem saber: os criados e outros funcionários da fazenda já a muito eram proibidos de ajudar com um copo d'água que fosse, a família de Palmira.Enquanto dentro da casa grande a parteira se esforçava para ao menos a criança vir ao mundo viva (porque a vida de Carminda já estava à minutos de findar).
Ao voltar para casa, desesperada, Palmira foi tirar água do poço para banhar a filha, e tentar baixar a febre. O balde era pesado demais, e a barriga à fez perder o equilíbrio.
Palmira caiu dentro do poço no mesmo momento em que a filha de Antônio dava seu primeiro choro, saindo do corpo sem vida de sua mãe.
VOCÊ ESTÁ LENDO
A Domadora de Cavalos
Historical FictionAna Lua e Ana Terra. Seus nomes não são coincidência. Algo no passado de ambas, algo que aconteceu antes mesmo delas nascerem, traçou seus destinos cruzados. Mas se o passado guarda histórias cruéis, o presente lhes reserva muitas surpresas... Deve...