Capítulo 30: Nós Queremos Guerra

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Boa Leitura ♥

A vida que se passava diante meus olhos estava tão seca e embaçada que nada mais parecia ter sentido. Minha carne doía cada em cada pedaço e tivera tempos em que eu esquecia de respirar. Em minha mente, o turbilhão de sons e vozes angustiantes se repetiam de novo e de novo, junto com uma trilha sonora da última música que eu cantarolava instantes antes de tudo acontecer.

Estava quieta em um canto sob as ruínas de Vale numa casa invadida por mais algumas pessoas, e enquanto acariciava os cabelos da minha irmã mais nova que dormia sobre minhas pernas, e em meu ombro servindo de travesseiro para a irmã do meio, remoía sobre todos os acontecimentos nos últimos tempos. Eu nunca havia sofrido tanto em minha vida, mesmo miserável. Percebi que depois de conhecer Thranduil as coisas só pioraram, me levando quase a loucura e insanidade mental.

O filme dos meus dias começou a me atormentar desde o exato momento em que coloquei os pés naquela desgraçada floresta. Vivi tantas coisas absurdas que até mesmo o mais forte dos mortais poderia enlouquecer diante do meu inferno pessoal. Entretanto, eu ainda tinha dentro de mim algum resquício de vida, apesar da vontade quase insustentável que havia se apoderado do meu corpo de partir para o acaso após morte.

Contudo eu deveria permanecer firme para dar apoio às minhas irmãs. O mundo – o nosso, pelo menos – havia desmoronado em cima de nossas cabeças de uma hora para outra e elas precisavam de proteção. Sem mim ficariam à deriva, propensas a parar em mãos maldosas que tirariam de si suas purezas.

Os anões eram uma esperança ainda incerta, mas confiava em Bard para nos livrar da miséria de uma forma ou de outra. Eu sabia que poderia contar com ele e Kirkel para me reerguer, mesmo estando à beira da vontade de morrer.

— Precisa dormir um pouco, Mel. - Jogando levemente um cobertor por cima de minhas irmãs e de mim, Kirkel aconselhou-me enquanto acariciava meus cabelos. Depositou um beijo em minha testa e se sentou em minha frente.

Meneei a cabeça concordando e fechei os olhos. Realmente tentei, mas os gemidos das pessoas feridas e da minha mente protestaram contra os meus esforços por quase toda a noite, até que o cansaço foi mais forte do que a minha própria dor e angústia.

Adormeci vencida pela exaustão física e mental.

Os sons dos pés calçados em armaduras e a agitação alfinetaram meus ouvidos assim que o dia clareou.

Abri os olhos pesados e cheios de sono. Senti os músculos do meu corpo inteiro protestar a mínima menção de fazer algum esforço.

Acomodei Matilda no braço de Mirph e levantei-me seguindo até meu noivo, que não percebeu a minha chegada e silenciosamente me posicionei alguns passos atrás dele.

Do outro lado da janela os guerreiros de armaduras douradas me deixou inquieta e tudo piorou quando percebi a que reino aquele exército pertencia, mas não comparou a perturbação causada quando Thranduil surgiu por entre seus soldados, grandioso e tão imponente em sua armadura real, ele exalava confiança a quem o olhasse apenas em seu modo de cavalgar, e sensação de vitória apenas com sua face tranquilamente soberba e seu peito estufado cheio de si.

Meus pés tentaram me forçar a ir até ele e meu corpo estremeceu em vergonha ou exaustão – não sei dizer -. Vê-lo novamente me levou a questionar a que ponto eu poderia deixar a minha sanidade dominar os meus desejos.

"Vamos, Melrise. Ele é apenas um elfo. Rude, mas ainda assim... não passa de alguém detestável e cheio de amargura". Disse a mim mesma antes da ânsia agitar o meu estômago vazio e meu corpo suar frio, começando pelas mãos e subindo até a cabeça, me causando uma tontura irritante.

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