Capítulo 48: Noite de Festa, Madrugada de Desespero - Parte I

184 19 8
                                    

Freeda me arrumou como fazia há anos atrás. Durante o processo, contou-me sobre o seu casamento que ela mesma havia me dito ser arranjado naquela época. Hoje feliz ao lado do seu marido, ela se mostrou absolutamente contente com a decisão daqueles que o escolheram para si.

Eu sabia que Thranduil havia mudado a sua visão sobre casamentos quando me conheceu. No entanto, agora, eu admito que ele não estava totalmente errado. Às vezes nós precisamos mesmo planejar as nossas vidas e aceitar o que o destino nos reservou de bom grado. Esse caminho não costumava ser tão aventuroso ou radical, tampouco costuma trazer sensações de descobertas tão fortes quanto fazer as suas próprias escolhas e colher as consequências delas.

Me casar com Kirkel havia me mostrado a quão tola eu era em achar que o caminho da felicidade tinha a ver com deixar as emoções mais fortes falarem. Eu era feliz ao lado dele, mas acima de tudo, eu vivia em paz. Nosso relacionamento não era um campo minado e não parecia estar em constante guerra, ao contrário do meu ao lado do rei Thranduil.

No entanto, às vezes monótono demais, de uma maneira que me fazia sentir falta do fogo que irradiava meu coração acima dos sentimentos que tinha perante o elfo. E era justamente por isso que eu simplesmente não conseguia me desfazer de nenhum sentimento perante aqueles dois.

— Você está perfeita — meu marido elogia enquanto caminhamos até o jardim da cerimônia. — E este vestido? Deram-na no castelo? — notou.

— Freeda trouxe para mim — esclareci escondendo parte da verdade. — Foi feito por ela e a criada de Belle, Anglórien.

— As elfas são muito talentosas — sorriu ele sem tirar os olhos do nosso caminho. — E eu confesso que este reino é um dos lugares mais bonitos que eu já vi. Cada parte parece encantada e coberta de riquezas e plantas exóticas.

— Não se surpreenda, mas estou o conhecendo pela primeira vez — confesso.

Kirkel me encara.

— Imagino que o rei a precisasse esconder dos olhos dos seus súditos. Afinal, é uma humana — alfinetou ele.

— Exatamente — não quis dar mais pano para manga e começar uma discussão ali. Na verdade, eu estava evitando tocar nestes assuntos com Kirkel ao máximo que pudesse.

Quando nos encontramos ao lado dos convidados, pude notar o quanto as elfas convidadas pareciam completamente diferentes das humanas. A maioria delas vestiam-se com roupas modestas e que cobriam o busto, seus braços e até mesmo parte dos seus pescoços. Já as humanas, incluindo eu mesma, tínhamos o corpo mais à mostra. Era quase uma questão cultural, na verdade.

No entanto, o glamour das minhas vestimentas era inapropriadamente exagerado. A cor amarela mostarda fazia todos me encararem por onde eu ia, pois era vibrante no meio do vasto sóbrio das peças dos elfos. Os fios de ouro que adornavam o corpete do meu busto justo em desenhos de rosas e folhas brilhavam intensamente sob a luz amarelada das chamas que aqueciam quase inutilmente o salão ao ar livre.

Permaneci com um sorriso no rosto enquanto caminhávamos por entre os convidados cumprimentando a eles com um aceno. A maioria ali sabia quem era Kirkel, afinal, não era de hoje que ele fazia ótimos acordos com aquele reino e era um humano respeitável dentre os elfos. Porém, boa parte não me conhecia, apesar de quase ter me tornado a sua rainha.

Internamente eu gostaria de me esconder. A qualquer momento, Légolas poderia aparecer por ali e se encher de perguntas quando me vir ao lado do Grão-Senhor que alimenta as suas terras. Tinha a esperança de que tivesse mudado minha aparência o suficiente para que ele não me reconhecesse mais, porém, algo me dizia que ele era esperto o bastante para descobrir sem muitos esforços.

A Única Exceção Do ReiOnde as histórias ganham vida. Descobre agora