Fuga para Salvador

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- Nossa minha filha, mas parece que você viu um fantasma, está tão pálida... – Rosa comentou assim que colocou os olhos em Anahí. – Aconteceu alguma coisa?

- Não, mãe, está tudo bem... – Anahí disse de forma inquieta. – Tudo bem...



Mãe e filha estavam na cozinha de casa. Rosa terminava de embrulhar um bolo de milho que havia assado para levar a casa da irmã mais velha. Anahí entrou no cômodo atrás de um copo d'água. Sua cabeça não parava um segundo e toda aquela agitação secava sua boca. Por mais que tentasse não pensar naquilo, volta e meia Anahí voltava para o quarto de Robin e via a cena da mulher desconhecida secando o corpo feminino de Robin.


Corpo feminino de Robin. Se lhe falassem não iria acreditar. "Como Robin enganou a todos por tanto tempo?", "Como Robin possuía um corpo feminino?" divagava. Enganou a todos ou ela que não soube enxergar quem era o verdadeiro Robin, que na verdade era verdadeira? Seus pensamentos foram cortados pelas batidas na porta da sala. Dona Rosa se levantou para atender, mas Anahí foi mais ligeira e chegou antes na sala.


Ao abrir a porta se deparou com uma mulher de uns cinquenta e poucos anos. Pele bronzeada de sol. Cabelos de cor natural que possuiam um desgrenhar harmonioso. Ela usava um vestido florido e parecia alguém muito tranquila. Anahí reconheceu a mulher. Ela estava junto de Robin e da outra dama que auxiliava a médica a se vestir.


- Olá... – Antônia disse a Anahí. A presença da mulher parecia inervar a professora. Antônia abriu um sorriso suave para a jovem tentando acalmá-la. – Boa tarde. Meu nome é Antônia...

- Bo-Boa... Boa tarde. – Anahí balbuciou. – No que posso ajudar?

- Quem é, Anahí? – Dona Rosa questionou vindo da cozinha. Ela trazia o embrulho do bolo nas mãos. Já iria sair. Ao ver a mulher mais velha, Anahí observou uma reação diferenciada da mãe. Rosa sorriu. – Boa tarde.

- Boa tarde, senhora...

Rosa fitou Antônia de forma curiosa.

- Engraçado... Parece que já a vi antes, era como se fosse a sua pessoa, mas não é você..

Antônia riu e Anahí bronqueou a mulher.

- Mãe, isto não tem sentindo algum...

- Talvez tenha... - Antônia disse. – Faz muito tempo que não venho visitar a ilha, pode-se dizer que sou praticamente outra pessoa, afinal quem consegue ser o mesmo de vinte e tantos anos atrás? – A mulher gracejou e se explicou. – Sou nascida em Ursal... – Se explicou para a surpresa de Anahí. – O rosto da senhora também não me é estranho... Me chamo Antônia... – Estendeu a mão a Rosa. Rosa se surpreendeu ao tocar na mão de Antônia. Nunca havia sentido toque tão macio. – Minha família morava na colônia de pescadores de Guadalupe, eu trabalhava com meu pai vendendo peixes no mercado...

Rosa sorriu. Talvez fosse de lá que conhecesse Antônia. A velhice deixava suas lembranças tão apagadas na maioria das vezes.

- Vendendo peixes, com mãos tão macias?

- Macias, mas que já limparam muito camarão e marisco antes que o dia amanhecesse. – Disse sem esconder seu orgulho. Não tinha vergonha nenhuma de seu passado. – Há um bom tempo já não faço isso... Graças a Deus eu trabalho com algo que amo... Sou empresária e professora.

- Minha filha também é professora... – Rosa disse sem esconder sua felicidade. E então concluiu. – Espera... A senhora é empresária... Então é a senhora que está oferecendo o novo emprego a minha filha?

Os MonarcasWhere stories live. Discover now