Os Monarcas

Fátima

As palavras da princesa fizeram quase todos os presentes entrar em uma espécie de catatonia sincronizada. Ninguém esperava que a situação tomaria aquele rumo. Como Maria Eduarda poderia estar à frente de Ursal? Todos a consideravam uma menina aventureira, e por vezes desmiolada, como poderiam deixar o reino nas mãos daquela inconsequente que teve a ideia estapafúrdia de aparecer no velório da mãe usando calças? Aquilo era uma loucura!
 

Maria Eduarda, altiva estava e assim se manteve diante de todos. Ninguém esperava aquela postura dela. A jovem apresentou uma seriedade e convicção que muitos puderam perceber a semelhança entre a princesa e a saudosa Rainha, Maria Elis, que ia além das características físicas. Maria Eduarda possuía o espírito de liderança e muitos outros aspectos que a fazia parecer com sua mãe, mais do que poderiam supor.
 

- Isso é um absurdo, absurdo. – Juanito disse exasperado, com a possível perda do trono. Seu pai lhe estrangularia caso perdessem a corrida rumo ao poder. Isso não poderia acontecer ou sua vida seria um inferno. Não poderia permitir que uma mulher mandasse e desmandasse em seu lugar. Ainda mais a inconsequente de sua irmã Maria Eduarda.  – Maria Eduarda, você está longe daqui há muitos anos. Todos sabemos que sua vida está longe do que se espera de uma rainha.
 

- Pois é, meu irmão. Talvez seja a hora de voltar definitivamente para casa.
 

Após a declaração de Maria Eduarda, o burburinho instalou-se de vez na sala de reuniões do Palácio. A grande maioria dos conselheiros estava em choque com a decisão que a princesa havia tomado. Os únicos que pareciam felizes com o pronunciamento da futura rainha era seu irmão Inácio, Fátima que estava apenas na sala para servir bebidas aos convidados e Anahí. A professora não entendia muito bem porque Madu a convidou para presenciar aquele momento tão importante, mas estava muito feliz por estar ali. Não conseguia tirar o sorriso do rosto. A chama da esperança, de dias melhores e de um governo mais  justo parecia se acender em seu peito.
 

Alguns conselheiros entreolhavam-se enquanto Juan Batista mal respirava. O viúvo analisava mentalmente todo o desastre que se sucederia em seus planos, caso sua filha resolvesse realmente ficar e requerer para si o trono. Sabia que nunca teria Madu como aliada. Inácio mantinha-se ao lado da irmã, reafirmando o apoio a toda e qualquer decisão que a mais velha tomasse. O jovem príncipe tinha plena consciência da capacidade da mais velha para governar, o que lhe faltasse em experiência o tempo lhe daria.

- Acredito que sua decisão seja um pouco precipitada, o que é próprio da idade. - Exclamou o senhor Neves, o conselheiro responsável pela mobilidade urbana, algo que era quase nulo em Ursal. Neves tomou a atenção de todos para si. - O Governo de uma nação, mesmo que pequena como a nossa requer muita responsabilidade e não apenas boas intenções. Sua decisão deve ser meticulosamente analisada por nós, os conselheiros da Rainha.
 

Madu ficou extremamente incomodada com o discurso prolixo do conselheiro. Por mais que tenha usado subterfúgios como o eufemismo para abrandar suas palavras, claramente o homem menosprezava sua postura como liderança. A princesa respirou fundo e pensou em rebater, quando foi cortada mais uma vez por outro cavalheiro, esse parecia ser mais novo, a princesa não o conhecia. Madu olhou para Inácio contrariada, mas manteve-se calada a espera do que o jovem teria a dizer, assim responderia a todos a altura e de uma vez só.
 

- Perdão por lhe interromper, princesa. - O gesto educado, fez com que Madu atentasse para sua fala de forma mais receptiva. Ao menos esse era ciente de sua interrupção. - Eu acredito que vossa alteza não me conheça, há pouco tempo a falecida vossa majestade, sua mãe, me concedeu o cargo de secretário real da rainha, eu trabalhei diretamente com o senhor Eugênio cuidando de compromissos e da agenda pessoal e pública da senhora sua mãe. Me chamo Augusto, eu conheci bastante da senhora Maria Elis, eu acredito que ela teria um conselho a dar a todos em uma situação como essa. Vossa alteza permite que eu fale?