Maria Eduarda

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Uma grande concentração de guardas recepcionava todos os que chegavam ao velório de Maria Elis. A solenidade póstuma organizada por Duque Juan Batista e seus filhos Juanito e Inácio fazia jus a grande mulher que estava sendo velada. A população fazia fila para dar adeus a sua La Madre. Muitos choravam como se fosse um membro próximo de sua família e rezavam pedindo luz a alma da rainha morta.

Madu chegou na entrada do Catedral de carro de aluguel. Com exceção de Inácio, ninguém sabia do seu retorno a Ursal. A princesa não quis alertar as pessoas pois sabia que iriam recepcioná-la com toda a pompa e estava impaciente para grandes cerimônias. Inácio também havia alertado que Madu deveria chegar discretamente. Ela não sabia o motivo certo, mas sabia que era sempre bom ouvir seu irmão mais novo. O tumulto no funeral não foi surpresa para Madu, ela sempre soube o quanto sua mãe era querida por todos que a rodeavam e não podia ser diferente, todos choravam a morte de Maria Elis.

Internamente, a princesa se condenava por não ter voltado antes e ter a oportunidade de ver sua mãe ainda com vida. Lamentava morar tão distante de Maria Elis pelo simples fato de ninguém entender sua sexualidade e seus anseios por liberdade. O que tranquilizava sua alma era a aceitação por parte de Maria Elis amando-a do jeito que era, nunca escondendo isso de ninguém.

De dentro do carro, a princesa suspirou em busca de força. O motorista não a reconheceu pois usava óculos de sol e um lenço negro que escondia seus cabelos. Após pagar o serviço e saltar do velho veículo, Madu seguiu para a entrada da Catedral. Seu plano era se aproximar como uma habitante qualquer. Não queria holofotes. Ela sentia seu corpo tremer, e o peito comprimindo como se uma mão forte a apertasse por dentro. A respiração saia pesada, não sabia se pela diferença climática ou pelos soluços que engolia.

No fundo, queria acreditar que tudo aquilo era apenas uma brincadeira de muito mal gosto do irmão, para que voltasse logo para casa. Quando entrasse no castelo, todos estariam rindo de sua cara de desespero que seria desfeita assim que vislumbrasse o sorriso de sua mãe. O sorriso mais lindo que já vira em sua vida. Infelizmente, os acontecimentos que a rodeavam pareciam ser mais do que real e fatídico, mesmo que a ficha ainda não tivesse caído, Madu precisava encarar tais fatos como verídicos. Mesmo contra a vontade, seu plano de não chamar atenção foi abortado. Um dos guardas que fazia a segurança pessoal de Maria Elis veio importuná-la.

- Senhorita, terei que impedir sua entrada na igreja. - O guarda avisou. - Não é permitido que a senhorita entre vestida assim...

Madu mediu sua roupa e não compreendeu qual era o problema. Usava uma calça de brim preta, boca de sino, como boa parte das jovens que conhecia usava, uma camisa também preta de gola fechada, sem mangas, e salto de plataforma.

- Desculpe, mas o que há de errado com minha roupa?

Dona Alzira, a chefe das beatas da cidade, estava na porta de igreja fiscalizando toda e qualquer movimentação assistia a cena. Madu se negava a sair da fila e o guarda queria retirá-la de qualquer forma. Dona Alzira se juntou aos dois e tomou o partido do homem, assim como a maioria da população. Todos queriam velar a falecida em paz. Quem era aquela "intrusa" que ousava criar confusão na despedida da rainha? A única pessoa que olhou no rosto da princesa e reconheceu Madu foi Marielle. Mari para todos. Uma menina que tinha uns oito anos de idade e vivia pedindo dinheiro pelas ruas. Volta e meia era encontrada ou levava um puxão de orelha de alguém.

- É uma ofensa sem tamanho senhorita! Onde já se viu, descomposta desse jeito, com os braços nus, querer entrar na nossa Catedral?! - Alzira dizia com o dedo em riste em direção a Madu. Ela conhecia muito bem aquela mulher. Era uma "rata de sacristia". Quando criança, ela, Fátima e Inácio viviam atazanando aquela insuportável figura que por sua vez atazanava Ursal inteira com suas palavras maledicentes. - La Madre deve estar se revirando no caixão com tamanha ofensa! Quem a senhorita pensa que é?!

Os MonarcasWhere stories live. Discover now