Robin

50 4 4
                                    

Um roupão de tecido grosso e felpudo cobria o corpo de Robin enquanto a doutora ouvia Heloísa preparar seu banho. Antônia fazia companhia a sua filha. Ela mesmo havia encontrado o roupão no guarda roupa de Robin e jogou sobre sua menina. Leão tentava amenizar o estrago feito pela amiga recolhendo os cacos de vidro com uma vassoura. 


 

O quarto ainda estava muito bagunçando quando Leão terminou de varrer, o intuito do grandalhão não era fazer uma faxina, mas apenas minimizar o perigo de alguém se ferir com cacos de vidro. Robin estava com cortezinhos nas mãos e nos pés. Por sorte não se machucou gravemente. Após a varrida pelo quarto, Antônia pediu para Leão lhe arranjar um pano qualquer e água morna para limpar os ferimentos.



Os cortes da mulher eram superficiais, mas era bom limpar. Providenciada a água morna e um pano limpo, Leão se retirou para deixar as mulheres mais à vontade. Não era a primeira vez que Leão via Robin nua, eles eram amigos longa data e partilhavam de grande intimidade, entretanto Leão sentiu que naquele instante Robin apenas precisava das duas mulheres que a criou. Aquele era um momento que as três se bastavam.



- Qualquer coisa estarei na sala, tia Tônia...

- Tudo bem, meu menino, vá... Qualquer coisa lhe chamo...



Leão encostou a porta. Ao chegar na sala abaixou o volume do som que estava ligado a toda altura. Antônia havia deixando a música para tentar abafar o barulho do quebra-quebra. Agora, com os ânimos mais calmos, não era mais necessário uma música tão barulhenta. No lugar das canções tocadas pelo aparelho eletrônico, Robin ouvia a suave voz de sua "tia Tônia" cantarolando docemente uma música que ela conhecia bem.



- Vai minha tristeza e diz a ela /Que sem ela não pode ser/ Diz-lhe numa prece que ela regresse/ Porque eu não posso mais sofrer...



Ao ouvir aquela bossa, um sentimento de nostalgia misturado com acolhimento tomou todo o coração da doutora. Ainda era uma garota de doze, treze anos quando a bossa nova estourou nas rádios brasileiras. Robin havia perdido as contas de quantas vezes na vida se juntou a Heloisa, na cozinha da casa de dona Maria Helena, para ajudar a mãe preparar o almoço ou o jantar e ao fundo o radinho de válvula, que a dona da casa fornecia para a distração dos empregados, tocava algum sucesso de João Gilberto, Tom Jobim, Vinicius de Moraes e tantos outros nomes que marcariam para sempre a história da música.



Quantas vezes não ouviu sua tia Tônia (que nada mais era que sua mãe também e apenas a chamava de tia para facilitar a identificação) cantarolando "bim bom" enquanto colocava sua irmã Julinha, com seus seis anos, para dormir nas dependências dos empregados do casarão? As vezes ouvia bossa escondida quando dona Maria Helena, a patroa de suas mães, realizava um de seus jantares abarrotadas de nomes importantes da sociedade soteropolitana. Festas que varavam a noite e na manhã seguinte dona Maria Helena acordava com sintomas do que ela gostava de chamar de ressaca moral. Robin passava a noite escondida, observando toda a movimentação do jantar e os rapazinhos que sempre acompanhavam a patroa da mãe até seu quarto. 

Ao lembrar da patroa de suas mães, Robin não pode deixar de sorrir. Dona Maria Helena Pedreira Esteves era uma mulher muito renomada. Herdeira de um homem muito rico, Maria Helena foi uma das mulheres mais importantes e também mais humildes que Robin conheceu na vida. Apesar de ser dona de uma pomposa conta bancária, Maria Helena era uma pessoa muito simples, acessível e caridosa. Tudo que Robin, Antônia e Heloísa possuíam deviam aquela mulher. 

Os MonarcasDove le storie prendono vita. Scoprilo ora