Capítulo XX

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Faltavam apenas 3 horas para o início da exposição na Galeria Arte Nativo. Alma já havia caminhado por seu apartamento de uma extremidade à outra, e o fato é que havia perdido as contas de quantas vezes o havia feito, os dedos finos nervosos e uma sensação fria em seu estômago.

Naquela tarde ela havia recebido uma mensagem de voz de Ananda. Disse que queria mais que tudo poder ajudar a amiga a se preparar para aquela noite tão importante, mas que estava tudo complicado além do normal para ela. E não, eu não estou na gandaia, juro, ela completou. Alma soltou um riso quando ouviu as últimas palavras de Ananda: agarre aquele tal de Leon e não o solte mais. Ah, e eu espero, do fundo da minha alma, que ele seja um daqueles gatos de tirar o fôlego! Ela já havia aprendido há muito a ignorar sua amiga quando fosse preciso.

Logo ela já estava pronta: o vestido leve de caimento desprendido devidamente em seu corpo, os cabelos soltos - como raramente estavam. Agora aguardava a chegada de Leon.

Quando Alma perguntou como poderia agradecê-lo, ele respondeu que havia uma coisa que ela poderia fazer por ele: permitir que ele fosse seu acompanhante na noite do coquetel.

E ela não contestou.

Às dezenove em ponto o som da campainha ressoou pelo apartamento sossegado. Alma caminhou em pequenos passos apressados em direção à porta. Finalmente Leon havia chegado. E Deus, como estava diferente! Tinha pela primeira vez seus cabelos em um tom de melaço alinhados, devido ao uso de algum gel. Um terno preto marcava seu corpo - não era elegante como os que Álvaro vestia, mas era aprumado. Tudo aquilo parecia evidenciar as covinhas proeminentes que apareciam quando ele sorria.

"Você se assustaria se pudesse ouvir como meu coração está acelerado nesse exato instante." Alma sorriu seu sorriso mais largo e mais transbordante de sentimentos.

Desde o dia em que Leon a contou sobre a exposição, Alma sentia como se houvesse voltado aos seus tempos de criança. A cada dia sentia uma felicidade e um ânimo intermináveis invadirem cada músculo de seu corpo, assim como quando ia ao shopping tomar sorvete com seu pai, ou quando sua mãe lhe dava de presente uma nova caixa de lápis de cor, contendo mais de 20 cores diferentes.

"Ainda tem muitas coisas boas para você vivenciar essa noite, Alma. Sua felicidade está apenas no começo." Leon falou ao esticar um braço para ela, para que os dois enfim partissem em direção à Galeria de Arte dos Drummond.

Alma nem se atentou para qualquer detalhe durante o caminho de ida, tamanha era sua ansiedade. Ao chegarem ao salão iluminado um homem alto, vestindo um terno em extremo sóbrio e com uma escuta em um de seus ouvidos, aproximou-se do carro. Leon logo entregou a ele dois bilhetes, e o homem acenou a cabeça com simpatia.

"Sejam bem-vindos, senhorita Moretti e senhor Hipólito. Irei manobrar o carro, se me derem permissão."

Alma nunca havia tido contato com tamanha opulência como a que emanava de todo aquele ambiente. Várias pessoas conversavam próximas a quadros pendurados nas paredes largas. Um garçom aproximou-se, oferecendo uma taça de vinho ou de champanhe a Alma. Ela apreciava seu vinho quando avistou à sua esquerda uma pintura sua.

Um pequeno casebre, as madeiras envelhecidas e cediças, minúsculo no meio de uma ampla clareira. Uma tormenta carregada tomando todo o ambiente. Todo o ímpeto e o furor da natureza. Tentou lembrar-se da jovem de vinte anos recém completados que havia executado todas aquelas pinceladas. Ela não se lembrava mais.

Um casal comendo canapés se aproximou da pintura, os olhares extasiados.

"Com licença, senhorita, sabe nos informar quem aqui pintou este quadro?"

O verde nos teus olhosOpowieści tętniące życiem. Odkryj je teraz