Capítulo XI

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Alma não era capaz de manter suas pernas paradas. Balançava-as a todo instante, em um compasso descoordenado e nervoso, cantarolando em um murmúrio uma canção qualquer. Leon, em um leve incômodo disfarçado, passou a encará-la. Repousou com calma a mão sobre uma das pernas da pintora, dando um sorriso acalentado ao vê-la o encarando de volta.

"Fique tranquila, Alma. Respire fundo, conte até três..." Ele sussurrou ao ouvido da moça, a fim de não perturbar os outros pacientes. Após pensar por um breve instante ele ergueu as sobrancelhas, seu corpo se inclinando ainda mais em direção a ela. "Não entendo ainda por que você resistiu à ideia de vir a este hospital... Qual é o problema, Alma?"

"Só queria poder evitar minha irmã, Leon. Apenas isso." Ela respondeu de forma direta, cerrando os olhos e recostando a cabeça contra a parede.

"Bem, preciso confessar que não entendo como pode ser tão ruim receber ajuda da própria irmã."

"Ah, deve ser fácil demais para você, Leon, dizer essas palavras a respeito de minha irmã. Afinal, você não a conhece – por sorte não a conhece." Alma disse, pondo-se novamente em estado de alerta e vigiando a ampla sala de espera. "Além do mais, não é exatamente uma ajuda. Vou apenas me consultar com uma neurologista das melhores que se pode encontrar neste hospital, não é? É apenas disso que se trata. Na verdade, será como se ela nem fosse minha irmã por um momento, você verá." Ela disse, voltando logo a sacudir as pernas. Leon mais uma vez repousou ali sua mão.

"Você precisa se manter tranquila, Alma... Isso não a ajudará em nada! E quanto ao resultado... Bem, sei que isso também a assusta, mas tenho certeza de que não será nada assustador." Ele sorriu mais uma vez e encaixou timidamente uma pequena mecha do cabelo da pintora atrás de sua orelha. "Vai dar tudo certo. Confie em mim."

Logo Amália abriu a porta de seu consultório, um semblante sóbrio em seu rosto. Chamou pelo nome de Alma de uma forma um tanto quanto profissional, ela notou. Alma se dirigiu à sala de consultas da irmã e, percebendo um movimento indeciso de Leon, acenou para que ele a acompanhasse até o pequeno cômodo.

"Sentem-se, por favor." Amália indicou os assentos acolchoados em frente à sua mesa. "Diga para mim, qual é o problema que a aflige, Alma?" Ela insistia em manter uma distância no tratamento à irmã, os olhos fixados em uma pilha de papéis sobre a mesa. Alma e Leon já haviam se sentado em suas cadeiras, em extremo macias.

"Bem... Tenho sentido tremores em minhas mãos, Amália. Quero dizer, não aconteciam com muita frequência, mas isso tem mudado recentemente."

Os olhos de Amália se ergueram e se voltaram para Alma pela primeira vez, as sobrancelhas enrugadas ao ouvir as palavras da irmã.

"Mais algum sinal de que há algo errado?"
Alma se espantou consigo mesma ao notar que não gostava em nada das palavras escolhidas por Amália e da forma como ela as pronunciava. Como se o ambiente já não fosse frio o suficiente!

"Às vezes sinto dificuldades em dormir... Mas o que mais tem me incomodado são os tremores. Hoje senti isso de um modo mais intenso e... Bem, creio que desmaiei." Alma olhou para Leon, buscando uma forma de confirmação enquanto esfregava as mãos uma na outra. Era para aquecê-las do frio, tentou mentir para si mesma. Amália pensou por um instante, escreveu um punhado de palavras em um papel branco e soltou um suspiro discreto antes de prosseguir.

"Vou pedir que façam uma Eletroencefalografia em você. O que acontecerá é que você será monitorada de modo eletrofisiológico, e isso registrará a atividade elétrica em seu cérebro. Fique tranquila, porque dentre as opções essa é decerto a menos invasiva. Vão apenas colocar alguns eletrodos em seu couro cabeludo, e logo, logo poderemos saber do que se trata."

O verde nos teus olhosWhere stories live. Discover now